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Alexia: Olá pessoal! Hoje temos um convidado para lá de especial, que é Marco Antônio. Marco, o meu pai.
Marco: Eu!
Alexia: Vocês já devem ter escutado os últimos episódios que falamos sobre a política, as eleições no Brasil, né? Que acabaram de acontecer e todos já sabem que o Bolsonaro ganhou, mas hoje não vamos falar sobre isso. Vamos falar sobre um tema mais leve. E como vocês sabem, nós estávamos em Portugal, porque agora nós estamos na Espanha. Mas o meu pai foi encontrar conosco em Portugal e você voltou a Lisboa depois de 30 anos, né?
Marco: Mais ou menos 30 anos que eu fui em Portugal, num momento em que Portugal claro que não pertencia à União Europeia, era somente Portugal. Era um Portugal mais simples, um Portugal que me encantou. Fiquei apaixonado por Portugal e não estava na moda Portugal, ninguém falava sobre Portugal. Chegando aqui eu tive vários e vários Espantos com o povo, com a comida... Isso aí é banal.
Alexia: Mas calma, calma, calma. Senão você vai direto e a gente não tem uma conversa. Bom, eu foi a minha primeira vez em Portugal, né? Eu sou portuguesa, como você bem sabe graças a você que eu tenho a minha cidadania portuguesa. E minha mãe era Portuguesa e você que convenceu ela a me dar, né?
Mas calma, calma, calma. But, hold up, hold on, wait a minute.
Marco: Exatamente. Na época, na maior Inocência ela dizia: Mas para quê? Eu falava: No futuro a gente não sabe como vai ser o mundo, Alexia pode querer estudar e etc.
Alexia: E ela tinha aquilo: eu sou brasileira.
Marco: É, eu sou brasileira. Mas Aninha você é filha de português, neta de português, tem toda a família em Portugal, você tem direito a uma dupla cidadania. Então não é que você vai deixar de ser brasileira. Ah, bom. Aí ela se convenceu.
Alexia: E aí graças a isso eu também tenho.
Marco: Ela tirou para ela, para Alexia e é por isso que então Alexia hoje tem essa dupla nacionalidade que ela se orgulha tanto e deve se orgulhar, porque Portugal é um país maravilhoso. Fico espantado cada vez mais com essa terrinha tão charmosa, tão bonita.
Alexia: Que é o apelido que a gente dá para Portugal. A gente fala que Portugal é a terrinha.
Marco: Terrinha. Eu vou voltar para a terrinha, eu vou voltar para Portugal.
Alexia: É.
Marco: Eu vou à terrinha. É bem carinhoso.
Alexia: É muito carinhoso, é nem um pouco preconceituoso.
Marco: Não, ao contrário.
Alexia: Nada. Mas é, então, quando você foi a Lisboa? Porque você conheceu Lisboa, Sintra, Cascais. Você ficou naquele miolo.
Marco: Fiquei. Eu só quero dizer o seguinte, no primeiro dia eu cheguei de noite e eu então entrei no hotel, e acordei no dia seguinte louco para ver Portugal. Era um hotel na Avenida Liberdade, eu abri o terraço e vi uma coisa linda na minha frente. Telhados, casas não muito altas, nenhum edifício, ou seja, eles preservaram a cidade com a graça de Deus. Eu fiquei impressionado com aquilo. Não era um paliteiro de edifícios mordernosos. Era um Portugal, uma Lisboa linda que eu via de lá.
Alexia: E essa impressão ficou até hoje, depois de 30 anos você voltando?
Marco: Ficou. A luz de Portugal, as cores de Lisboa continuam as mesmas. Tem muito turista na rua, tem muita novidade, mas tem uma raiz portuguesa que não se modificou, Graças a Deus.
Alexia: E qual a maior diferença que você sente entre os portugueses e os brasileiros? Porque que vocês devem saber, está tendo uma grande imigração de brasileiros para Portugal. Uma grande imigração. Então todos os dias entram brasileiros em Portugal procurando uma nova vida, procurando emprego, procurando tudo. Enfim, tem muita gente que gosta e tem muita gente que não gosta em relação aos portugueses. E tem brasileiros que chegam humildes e tem brasileiros que chegam com nariz em pé, né? E acaba tendo um choque cultural ali no meio, porque apesar da língua ser a mesma as culturas são diferentes. Brasileiro tem uma forma de ser e o português tem outra forma de ser. O que você sente que a maior diferença entre os portugueses e os brasileiros?
Marco: Eu não sei filhota, responder essa pergunta assim.
Alexia: Só uma coisa, filhota é um apelido que meu pai me dá que é filha, mas um jeito mais carinhoso, que é filhota.
Marco: Mas eu prefiro dizer o seguinte, é outro país. Fala-se a mesma língua, a gente tem a mesma herança cultural ocidental, mas é um outro país. Então os brasileiros que chegam devem entender isso, que não é um anexo do Brasil. Portugal é Portugal. Pesquise se há mais de mil e poucos anos e tem muita história, muita cultura. E a cultura deles entrelaçou com a do Brasil como descobrimento e depois com o povoamento do Brasil.
Alexia: O que quer dizer entrelaçou?
Marco: Entrelaçou quer dizer se misturou de uma forma muito forte.
Alexia: Sim, claro. Até porque nós éramos colônia de Portugal.
Marco: Exatamente, no momento em que o rei português dom João sexto colocou o pé no Brasil e declarou que lá era a sede do império de Portugal, Brasil e Algarves, o Brasil deixou de ser colônia.
Alexia: Exatamente
Marco: Virou império.
Alexia: Obrigada Dom João, eu acho. Não sei se é obrigada ou não, mas...
Marco: Exatamente. Agora então, resumindo, o brasileiro mudar os tempos, tem internet, as pessoas estão mais... Como se diz? Muda o estilo do trabalho. Por exemplo, o avô da Ana Maria, aninha, a mãe da Alexia e minha mulher, chegou no Rio de Janeiro.
Alexia: Não, o avô da Alexia.
Marco: O avô da Alexia, é.
Alexia: Você confundiu. Ou seja, o pai da minha mãe…
Marco: Exatamente. Ele chegou e ele contou que foi trabalhar num lugar aonde e limpavam bar ou lavava, fazia alguns pequenos serviços pela dormida e pela comida.
Alexia: Ou seja, ele chegou com uma mão na frente outra atrás. Essa é uma ótima expressão. Ou seja, não tinha nada. Com uma mão na frente e outra atrás. E pediu emprego, né? Pediu emprego e o que ele pediu em troca do trabalho, ele pediu um lugar para dormir e comer. Era simplesmente isso.
Marco: Exatamente. Daí o meu sogro mostrou a fibra da qual ele era feito e em alguns anos ele já importava e exportava do Brasil para Portugal e coisas daqui para lá vinham e etc. E depois de algum tempo ele era um grande importador, comprou uma casa linda… Enfim, ele venceu na vida a custa de muito sacrifício e trabalho.
Alexia: É isso que está acontecendo hoje com os brasileiros que vão procurar Portugal. Então o que eu acho da maior diferença entre os portugueses e os brasileiros é o jeito de lidar. Os brasileiros, como a gente sempre falou aqui no Carioca Connection, nós somos muito amigáveis, muito calorosos. Nós somos muito curiosos e nós queremos saber muito um do outro e nós já ficamos amigos de primeira. Eu senti isso no português também, mas de uma forma um pouco mais distanciada.
Marco: Eu senti de bem perto, o chofer de Uber...
Alexia: Calma. Chofer é como meu pai chama motorista. Por que chofer é uma palavra francesa e é como as pessoas mais velhas, perdão, chamam motorista. Então chofer de táxi, chofer de Uber, chofer de ônibus é motorista.
Marco: O motorista do Uber falou para mim: Então, você tá gostando de Portugal? De uma forma muito simpática. E eu falei: estou, claro. E ele falou: muito dos seus compatriotas estão vindo para cá. Mas o senhor não se preocupe não que eles são muito bem-vindos, nós portugueses os acarinhamos muito.
Alexia: Ou seja, acarinhar quer dizer nós nos tratamos muito bem.
Marco: Muito bem. Em resumo, um calor muito próximo de um trabalhador, um homem já nos seus 60 anos, que estava dirigindo um carro no meio da noite para ganhar o seu salário e foi muito simpático conosco, brasileiros. Eu me sentir acolhido.
Alexia: Sim, então vamos terminar esse episódio. Sim, é rápido isso aqui pai, não é uma conversa de 3 horas. Vamos terminar esse episódio com o resumo. Visita em Portugal.
Marco: Rápido?
Alexia: Sim, vão amanhã. Marque a próxima viagem de vocês para Portugal. Um: não tenha medo do português que você já fala. Se você chegar falando português todos vão entender, não vai ter problema. Confiem na gente.
Marco: Concordo. É só falar de uma forma mais natural, mais pausados em gíria que eles entendem perfeitamente a nós e nós a eles.
Alexia: Então é isso gente. A gente se vê no próximo episódio.