Listen on:
Foster: Olá, olá Alexia.
Alexia: Oi Foster. Tudo bem?
Foster: Tudo. E você?
Alexia: Também.
Foster: Também? Eu estou ouvindo na sua voz que não está tudo bem, não.
Alexia: Eu acho que todo mundo viu, bom, quem gosta da cultura brasileira, né, e acompanha as notícias do Brasil, e eu sinceramente acho que saiu em todas as notícias do mundo, o Museu Nacional do Brasil, né, que fica no Rio de Janeiro, pegou fogo.
Foster: Sim. E ‘pegou fogo’ quer dizer que foi um incêndio.
Alexia: Sim. Foi um incêndio.
Foster: É. Então, do que a gente falar…
Alexia: Antes da gente falar.
Foster: Antes da gente falar, viu gente que eu estou sofrendo hoje. Não sei porquê. Antes da gente falar sobre o fogo, o incêndio, vamos falar um pouco sobre a Quinta da Boa Vista, as suas experiências lá, o que que é.
Alexia: Primeiro, uma coisa que eu sempre te corrijo: não é ‘ecsperiências’.
Foster: Experiência. É.
Alexia: Isso. O X é sempre um problema pra você.
Foster: Dá tanta raiva. Tá bom, a gente pode gravar um episódio sobre o X.
Alexia: Sim, é... Bom, mas falando sobre o Museu, né? Nacional. O Museu Nacional, na verdade, ele... foi onde a família... é, imperial, né, morou entre 1808 e 182. E, entre 1822 e 1889, era a casa da Constituição Republicana, então assim, tudo o que aconteceu no Brasil durante os anos de 1808 e 1892 foi lá.
Foster: Então começou como uma casa, né? De uma casa imperial.
Alexia: É. O lugar foi doado por um comerciante muito muito rico que morava no Rio de Janeiro, para a família imperial. E era uma casa antiga e que foram construindo pra formar um palácio, né?
Foster: Sim, mas é uma região...palácio, não é somente uma casa. Tem... como é que fala, terra.
Alexia: Terreno.
Foster: O terreno é muito bonito e muito grande também.
Alexia: Sim e fica no lugar chamado Quinta da Boa Vista. Então, pra explicar o que é quinta, eu vou ter que trazer pro português de Portugal, né? Uma quinta é um terreno grande, então, onde normalmente você tem uma casa muito grande e de família rica. Então se você tem uma quinta, quer dizer que você tem um... Não é uma fazenda, é um espaço grande de construção e de terreno.**
Foster: Então uma quinta seria mais tipo, um espaço grande, que tem casa e tem a ver com os ricos, né? Fazenda é mais tipo, tem animais…
Alexia: É rural. Fazenda é rural. Você claro que pode ser rico e ter uma fazenda, mas nesse sentido agora…
Foster: É, fazenda é mais um farm, né? Então, fazenda, sítio é a mesma coisa?
Alexia: É, eu diria que sítio é um pouco mais parecido com quinta.
Foster: Nossa. Confusão, enfim. É uma Quinta da Boa Vista.
Alexia: É e o nome Boa Vista é porque ficava no topo de um morro onde a família imperial conseguia ver muito da cidade…
Foster: Realmente tinha uma boa vista.
Alexia: Sim, então faz sentido.
Foster: Faz todo o sentido.
Alexia: Bom, sobre a minha história sobre esse lugar, desde pequena, desde pequena mesmo, era o programa de domingo ir com os meus pais, para o zoológico e depois visitar o Museu Nacional.
Foster: Ah, o zoológico fica lá também.
Alexia: Do lado! O zoológico era parte da quinta e daí depois…
Foster: Ah, não sabia.
Alexia: ...foi transformado em zoológico. Então é tudo no mesmo lugar. Então quando você tá aprendendo o que é macaco, o que é girafa e etc, você vai no zoológico…
Foster: Como você tá aprendendo o que é macaco…
Alexia: Mas é verdade!
Foster: Você sai da sua casa e você vê um miquinho…
Alexia: Mico. Mas gorila não. E a gente tinha um gorila lá. Enfim, hoje em dia não sou a favor de zoológico mais. Mas de qualquer forma…
Foster: É outro assunto.
Alexia: É.
Foster: Que Alexia adora animais. Ela adora... Você adora ir pra um zoológico também.
Alexia: Vamos deixar isso pra outro assunto, senão a gente vai sair muito do que eu tenho pra falar. Então, desde pequena, era ir pro zoológico e depois visitar o Museu.
Foster: Todo domingo?
Alexia: Não, mas uma vez por mês, num domingo a gente ia fazer. Porque o lugar era muito grande e cheio de coisas pra crianças, então era um lugar muito gostoso de ir visitar.
Foster: É, foi um lugar pra passear, né?
Alexia: Sim e junto com meu colégio, cada ano que a gente estudava História, Antropologia, Biologia, a gente ia visitar uma parte do Museu. Então eu fui no museu, pelo menos vinte vezes na minha vida, com certeza. Contando as minhas idas com o colégio e com os meus pais. E eu tava conversando com o meu pai sobre isso e meu pai falou ‘Alexia, você não vai lembrar, mas desde que a gente já ia, há vinte anos atrás, mais ou menos, você conseguia ver fio solto, as pessoas não tinham o menor cuidado. Tocavam na múmia, tocavam nas coisas, então assim, nunca teve um cuidado.’
Foster: Pessoas tocavam na múmia? Nossa Senhora. O brasileiro gosta de tocar coisas, né?
Alexia: Eu acho que…
Foster: É, isso foi uma piada ruim, mas o brasileiro é muito íntimo.
Alexia: É íntimo mas eu isso acho falta de educação.
Foster: É, não tem nada a ver. Bom, vamos lá. O que aconteceu?
Alexia: E o Museu Nacional era a referência da América Latina. América do Sul, América Latina. Lá você tinha mais de 200 anos de história do que que é América Latina. Metade das nossas descobertas antropológicas das nossas terras estavam lá. E aí lendo sobre o que que aconteceu e me informando mais, eu vi que o último presidente que visitou o Museu Nacional... olha o nome: Museu Nacional, não é o museu do Rio de Janeiro. É Museu Nacional, foi Juscelino Kubitschek.
Foster: É, quer dizer que o presidente do Brasil não se importa nem um pouco.
Alexia: É, então se o governo brasileiro não se importa com o Museu Nacional, era uma tragédia anunciada, certo? Claro que eu não fiquei lendo arquivos, e lendo notícias sobre o Museu Nacional durante anos porque, não é porque não me interesse, mas sinceramente, não tava no meu dia a dia.
Foster: É, eu não leio sobre o museu, sei lá…
Alexia: Sim, só quem faz parte desse mercado, né, desse setor quem realmente acompanha. E aí o Museu Nacional pegou fogo no domingo, às 7 e pouca da noite, do Rio de Janeiro e tudo, praticamente, tudo foi perdido. Então sobrou um metereorito *Meteorito*, que é um pedacinho de meteoro, que se você olhar uma foto, que tá em todos os lugares, tá tudo destruído em volta e o meteorito no meio.
Foster: Metereo... Nossa, que palavra…
Alexia: Meteorito. (o correto é meteorito) E parece que é o coração do museu, que ficou ali. É uma imagem muito forte, se você olhar.
Foster: Nossa, mas não sobrou mais nenhuma coisa?
Não sobrou mais nenhuma coisa? Nothing was left over?
Alexia: Bom, tem a Luzia, né? Luzia foi o crânio achado, se não me engano em Minas Gerais, eu posso estar falando uma besteira enorme agora…
Foster: É, eu lembro.
Alexia: É, que é a mulher mais antiga da América Latina. Então provavelmente é uma das primeiras habitantes da América Latina. E a Luzia, que é o nome dela, estava guardada dentro de uma caixa de aço, com refrigeração e etc, etc.
Foster: De aço quer dizer o quê?
Alexia: Ai, aquela coisa bem forte, que se levar uma pancada não quebra.
Foster: Steel?
Alexia: Talvez.
Foster: É. Bom, uma matéria bem forte.
Alexia: É, com proteção e etc. Um dos bombeiros na hora do incêndio escutou o diretor do museu falar lá que existia a Luzia lá, pra tentar salvar. E o bombeiro foi diretamente onde tava. Só que tinham vários escombros em cima. Escombros são quando pega fogo e a estrutura desaba, então são pedaços de madeira, de parede, etc. Isso são os escombros.
Foster: É, escombros eu falaria tipo, é, pode ser tipo scaffolding, or remnants or debris. Debris é a palavra que eu estava procurando.
Alexia: E nesse lugar onde a Luzia estava guardada, tava cheio de escombros e com fogo muito forte. Então ele foi tentar abrir e o aço tava pegando fogo. Ele machucou a mão e teve que sair imediatamente logo depois. Porque tava impossível. Aí ontem, parece que acharam o crânio da Luzia perdido.
Foster: É.
Alexia: Mas assim, toda a parte egípcia foi perdida. Tudo, tudo virou fumaça. Não tem mais nada. Toda parte de insetos também, foi perdida. Dinossauros, a preguiça gigante…
Foster: Dinossauros?
Alexia: Também foi perdida. Eu morria de medo daquela preguiça.
Foster: Bom, parece muito fofo pra mim. Mas não vi fotos, nenhuma coisa assim. Mas é uma coisa muito triste, me dá muita tristeza. O que eu estou lendo sobre o que aconteceu, é que o Brasil inteiro está com raiva, está muito triste, óbvio, mas também parece que tem essa conversa, tipo, o Brasil tem falta de respeito pra cultura, assim, pelas ciências…
Alexia: É, o que eu sinto é o seguinte: se ninguém tomar conta do nosso passado, quem vai tomar conta do nosso futuro? É nesse sentido, sabe?
Foster: Bonito isso.
Alexia: Mas é verdade. Mas é verdade. É, ninguém tá nem aí pro nosso passado. É muito difícil isso. E você em alguém agora, com as Eleições presidenciais, que vem aí em Outubro, daqui um mês, praticamente. Cê olha o plano, né, de Economia, o plano de Cultura. Acho que tem três que realmente defendem um plano cultural mais forte.
Foster: É, mas eu não sei se é uma coisa somente brasileira, né? Acho que quase todos os países do mundo sofrem com, como financiar cultura, arte.**
Alexia: É, o Museu Nacional, além de ter sido museu, ele também foi a casa, né, da Família Imperial do Brasil. E lá tinham todas as pinturas daquela época. A cama de Dom João, onde ele sentava, tinha tudo, tudo isso. E hoje em dia, quem toma conta é a UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro, ou seja, federal, Governo, né? Então toda verba vem direto do Governo.
Foster: Pra verba?
Alexia: Verba.
Foster: Verba quer dizer grana e grana quer dizer dim dim, dinheiro.
Alexia: O Museu pediu, acho, 580 mil reais pra conseguir ficar de portas abertas. Negaram. Negaram, negaram, negaram. Enfim, assim, vocês podem ler todos esses detalhes em qualquer lugar, é, BBC, CNN, Fox News, Globo, qualquer lugar vai dar tudo.
Foster: É, eu li que o incêndio só durou uma hora só.
Alexia: E destruiu tudo.
Foster: É, o prédio, o edifício inteiro já foi…
Alexia: S im. E aí, chegando lá, os bombeiros foram direto pros hidrantes, perto.
Foster: Quem é João Beiros?
Alexia: Bombeiros.
Foster: Ah, os bombeiros. É, só uma coisa, a Alexia adora Bombeiros.
Alexia: Amo. Eu acho eles o máximo. São heróis, são tudo. Adoro. Não tenho o menor problema.
Foster: Então Alexia está muito triste com a notícia e talvez você está assistindo um pouco mais de Chicago Fire do que é normal.
Alexia: Os bombeiros foram direto pros hidrantes. Como é que é isso em inglês? Sim, foram direto pros hidrantes, abriram, não tinha água.
Foster: É, não tinha água. É uma falta de infraestrutura.
Alexia: Infraestrutura.
Foster: Infraestrutura, é. Eu li uma coisa que muitas pessoas estão fazendo homenagem e coisa assim, e uma frase que eu li hoje, é que alguém escreveu ‘Uma sociedade sem cultura e sem pesquisa está fracassada’.
Alexia: Com certeza.**
Foster: Eu acho que é o sentimento da maioria do Brasil tem.
Alexia: É, o meu sentimento é esse e aquilo que eu falei. Se ninguém toma conta do nosso passado, não vão tomar conta do nosso futuro. Então, pra vocês que estão indo visitar o Rio de Janeiro, eu posso mandar uma de museus que ainda existem, que ainda não pegaram fogo, porque eu acho que, sinceramente, daqui há pouco, vai começar a desabar, um atrás do outro, como por exemplo, o Museu do Ipiranga, em São Paulo, que é outra pedra preciosa que nós temos, está fechada desde 2013, fechada entre aspas.
Foster: É, o Museu da Língua Portuguesa o ano passado pegou fogo. É uma coisa muito triste. E se ninguém toma conta do nosso passado... Mas a gente vai tomar conta do nosso futuro. E futuramente a gente vai ter episódios mais, com mais felicidade.
Alexia: Sim. Última coisa, ninguém sabe ainda o que começou o fogo.
Foster: É, se foi acidente…
Alexia: Eu sinceramente, do fundo do meu coração, espero que não tenha sido criminoso. Eu não acho que tenha sido. Eu acho que foi um acidente, que foi falta de manutenção. O que não deixa de ser criminoso, né? Mas, de qualquer forma, não acho que ninguém entrou lá e tacou fogo. Então nós não sabemos ainda que que aconteceu e acho que vai demorar pra alguém descobrir, que agora tão mandando especialistas de sei lá onde. Agora eles querem gastar dinheiro, né? Depois que foi perdido eles gastam dinheiro, enfim. Então é isso gente. Hoje foi um episódio falando um pouquinho sobre minha experiência com o Museu Nacional, com a Quinta da Boa Vista. Não foi um episódio muito feliz, mas eu acho importante falar sobre isso.**
do fundo do meu coração - from the bottom of my heart
Foster: Não, mas no próximo episódio a gente vai falar sobre, sei lá, praia, brasileiro usando sunga, açaí, alguma coisa um pouco mais divertido.
Alexia: Sim. Se vão ao Brasil, por favor visitem os Museus, principalmente o Museu Imperial de Petrópolis. É o mais bonito de todos.
Foster: Vale a pena, muito.
Alexia: Vale muito a pena.
Foster: Vale... É que aqui em Portugal, não falam ‘vale a pena’, fala ‘merece a pena’. Estou sempre escutando ‘merece a pena’.
Alexia: Eu não acho que seja isso. Mas tudo bem, isso a gente vai deixar pro próximo episódio.
Foster: Eu acho que você não percebe essas coisas. porque você fala o português. Nossa Senhora. Bom, até o próximo episódio gente.
Alexia: Tchau.