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Alexia: Olá, olá pessoal! Bem-vindos a mais um episódio aqui do Carioca Connection. Meu nome é Alexia e eu tô super bem acompanhada do...
Foster: Foster! Oi, gente! Olá, pessoal! Olá, Alexia! Como que você está hoje?
Alexia: Eu estou bem. Sol tá lá fora, não tá tão quente, não tá tão frio, tá uma delícia. Espero que todos estejam bem também. E como você está, Foster?
Foster: Eu estou muito bem.
Alexia: Ótimo. Então, hoje eu venho com mais uma aula de história. Hora da historinha, hora da historinha.
Foster: O que é isso?
Alexia: Nada.
Foster: Ah, não sabia se isso foi uma coisa comum. Não. Ou é uma coisa da Alexia.
Alexia: Sim.
Foster: Tá, aula de historinha.
Alexia: Sim. Hoje nós vamos falar sobre mais uma expressão popular brasileira que eu escutei muito, muito, de uma forma boa e de uma forma ruim. Então, a expressão é Maria vai com as outras.
Foster: Maria vai com as outras. Alexia, quando você falou eu escutei muito isso quer dizer o que? Você não escuta mais?
Alexia: Não, faz tempo que alguém não me chama de Maria vai com as outras ou chama alguém de Maria vai com as outras Faz muito tempo Tá, só pra eu...
Foster: Mas ainda é uma frase comum Super!
Alexia: Muito comum muito comum. Bom, gente, para explicar que que a Maria vai com as outras, eu preciso explicar um pouquinho sobre a família real brasileira.
Foster: Tá, antes disso, Alexia, rapidinho, a expressão é a Maria, só Maria. Isso. Maria vai com as outras. É isso. Pode falar pra mim mais uma vez?
Alexia: Maria vai com as outras.
Foster: Maria vai com as outras. Tá.
Alexia: Okie dokie. Então, a expressão vem do início do século XIX com a chegada da família real portuguesa no Brasil.
Foster: Puuu!
Alexia: Ei!
Foster: Tô brincando, amor.
Alexia: Tá tudo bem. Águas passadas. Bom, a família real portuguesa chegou no Rio de Janeiro.
E junto com, né, todo mundo com a corte portuguesa, etc., chegou a Maria, que era a Rainha Maria, mãe do João VI, se não me engano. E a Rainha Maria, ela era chamada de Maria Alouca, tá? Porque ela tinha alguns problemas mentais, ela tinha provavelmente uma insanidade mental que se agravou com a morte de um dos filhos durante a Revolução Francesa.
Foster: Então, peraí, agora eu estou sentindo mal que eu ri, porque é Maria a Louca. Tá, mas ela realmente era louca. Bom. Tipo, com problemas, com dificuldades mentais sérias.
Alexia: Parece que sim.
Foster: E ficou pior quando o filho dela morreu na Revolução Francesa?
Alexia: Exatamente. Enfim, então Maria, a Louca, como era chamada popularmente no Brasil, em Portugal, ela era a rainha na época, início do século XIX, e ela era tratada de uma forma muito peculiar, Ou seja, muito diferente e ao mesmo tempo singular. De uma forma muito peculiar.
Que existia um lugar chamado Bica da Rainha. A Bica da Rainha fica até hoje em dia no bairro do Cosme Velho. O que é uma bica? Uma bica é uma fonte de água. Então, nós temos que lembrar que tanto no Brasil quanto em várias outras cidades da Europa durante essa época, água potável, água de bebê, de lavar roupa, de tomar banho e etc, vinham de fontes, ou seja, de bicas que eram espalhadas pelas cidades, onde você ia lá com balde, com o seu cavalo, o burrinho e etc, pegava a água e levava pra casa.
Foster: Tá, só pra ver se eu entendi. Bica de água ou bica d'água?
Alexia: Bica d'água.
Foster: Bica d'água é basicamente uma fonte de água. Isso, potável. Potável, que pode beber.
Alexia: Exatamente.
Foster: Bica também pode significar outras coisas. Um pico é do passarinho.
Alexia: Sim.
Foster: Né? Mas, se não me engano, bica também tem...
Alexia: É torneira, por exemplo.
Foster: É...
Alexia: É...
Foster: Mas não tem, tipo, conotações sexuais?
Alexia: Não, que eu conheça.
Foster: Tá, talvez eu estou viajando. Tá.
Alexia: Não que eu saiba.
Foster: Então temos bica d'água e também...
Alexia: Foster, bica d'água.
Foster: Bica d'água.
Alexia: Pronto. Na escrita é o D apóstrofe água.
Foster: Então, tudo junto.
Alexia: Exatamente.
Foster: D'água. Exato. Bica d'água. Também você falou Cosme Velho, que é um bairro no Rio.
Alexia: É um bairro no Rio de Janeiro. E existia essa bica no Cosme Velho, o qual a rainha sempre ia, porque era a bica da rainha. Certo?
Foster: Entendi.
Alexia: E aí, virou popularmente chamado de Bica da Rainha, porque era a bica que ela ia, ok? E as pessoas diziam, sei lá quem, que a água que vinha dessa bica especificamente, melhorava os problemas mentais que ela tinha. Então, sempre quando ela bebia daquela água, por alguma questão, ela ficava mais calma, melhor e etc. Obviamente isso não acontecia, mas eu acho que era muito mais acreditar que aquilo fazia bem e aí funcionava de certa forma. Sim.
Foster: Ou alguém estava colocando água na água.
Alexia: Duvido.
Foster: Pode ser também.
Alexia: Enfim, então...
Foster: Mas, só uma coisa, esse negócio de água que cura. Não estou dizendo que é mal, mas existe muito no Brasil, com as águas térmicas e... Águas termais.
Alexia: Termais.
Foster: Mas a água pode curar. É uma ideia muito forte no Brasil.
Alexia: Bom, a água termal realmente faz muito bem para várias questões, não só no Brasil, mas em lugares vulcânicos. Se você perguntar pra qualquer pessoa, você vai ver. Água normal, potável, eu não acho que cure nada. Mas enfim...
Foster: Não, mas é necessário. É um dos elementos fundamentais do mundo.
Alexia: Bom, isso vem da água benta, né? É.
Foster: Tá.
Alexia: Água benta, você sabe o que que é?
Foster: Sim, a água da igreja que eles botam na sua cara.
Alexia: Porque não é na cara.
Foster: É...
Alexia: É a água benção... Enfim.
Foster: É, desculpa.
Alexia: Então a Maria ia lá na bica da rainha tomar água e ela sempre estava acompanhada das suas damas da corte.
Foster: E dama quer dizer pessoa importante, mas não é rainha, é basicamente amiga da rainha.
Alexia: Sim, exatamente. E o povo que assistia a rainha indo lá sempre, falava, ah, olha lá, a Maria tá indo, vai com as outras. Ou seja, as outras eram as damas da corte. Então, a Maria vai com as outras. A Maria sempre tá seguindo as outras.
Foster: Ela nunca tava sozinha.
Alexia: Não, sempre tava com a corte de damas dela.
Foster: Então, um grupo de meninas com ela. Exato.
Alexia: E... Essa expressão, Maria vai com as outras, significa que a pessoa não tem opinião própria e sempre segue a vontade dos outros. Então, eu lembro da minha querida mãe falando, Alexia, deixa de ser Maria vai com as outras. Se uma pessoa pular do penhasco, você vai pular junto? Não! Pensa! Era assim. Então, faz muito tempo que eu não escuto essa expressão. Mas isso era principalmente na época de colégio, sabe, quando a gente está crescendo. E as meninas e os meninos têm muita influência uns nos outros. A gente começa a achar que a opinião do outro é mais importante do que a nossa. E acaba sendo Maria vai com as outras.
Foster: Ah, eu sinto muito, amor.
Alexia: Todo mundo passou por isso.
Foster: Tá. Então, Maria vai com as outras. Se eu entendi bem, quer dizer que você está dizendo que uma pessoa não pode pensar e formar suas próprias opiniões, pensamentos, ideias. Exatamente. Basicamente isso?
Alexia: Isso. E infelizmente a gente vê um crescer disso muito, muito hoje em dia, né? com as redes sociais e as pessoas colocando atrizes, artistas, etc. Como Youtubers, como heróis, como as pessoas mais importantes e o que eles dizem, né? Significa regra, é uma lei, né? E acaba sendo que o fã clube dessas pessoas, todo mundo pensa igual.
Foster: Sim.
Alexia: De políticos e etc. Então, todo mundo é mais ou menos Maria vai com as outras nesse sentido. Não tem uma opinião própria.
Foster: É, eu diria que... não necessariamente é um problema, mas é uma coisa que quase todo mundo tem. Tipo, pensar o pensamento totalmente original é muito raro hoje em dia.
Alexia: É muito raro e eu tenho um exemplo muito fresh pra te dar, muito recente, bom, você Você sabe que eu comprei um livro. Esse fim de semana, um livro que eu tava querendo muito ler de uma autora brasileira, já há um tempo. E eu posso dizer que foi um dos piores livros que eu já li na minha vida. E eu já li muito, tenho lido cada vez mais hoje em dia, mas eu fiquei em choque com o que eu li, completamente chocada.
Foster: Você não vai falar o nome do livro?
Alexia: Não. Tá.
E eu fui no Goodreads, pra quem quiser descobrir o nome do livro, me segue no Goodreads, fui ver no Goodreads, cheio de gente dando 5 estrelas, 4 estrelas, eu falei, não é possível, mais de 100 mil reviews, todo mundo com 4 estrelas, 5 estrelas, e as reviews, todo mundo falando a mesma coisa, que mágico, que incrível. literatura não sei o que, a nova literatura brasileira. Eu falei assim, gente, Machado de Assis deve estar se revirando nesse momento. E aí eu fui e cliquei no pessoal que deu uma estrela. Falei, achei meu pessoal aqui. Todo mundo aqui tem pensar.
Aí eu li uma review específica falando aparentemente hoje em dia é contra a lei não gostar de livro ripado, que tem hype, que está na moda. Então, você não gostar de algo que seja ripado, você é contra a corrente. Você tem mal gosto. Mas eu vejo de outra forma, todo mundo que diz que gosta desse livro, Tá indo com todo mundo. É um bando de Maria vai com as outras.
Ninguém ali tem... Eu não entendo essas coisas. Então, resumindo...
Foster: É justo dizer que você comprou um livro só porque todo mundo estava falando que o livro é muito bom.
Alexia: Já há dois anos isso, né?
Foster: Mas você achou que o livro foi horrível.
Alexia: Gente, pior que eu já li.
Foster: Sem nexo. Isso me dá tanta alegria, amor, que demonstra que você realmente demonstra, demonstra. Nossa, é uma palavra muito difícil para mim. Mas quer dizer que você está pensando para você mesmo. Porque você não é Maria vai com as outras.
Alexia: Eu não sou gado.
Foster: Você é Alexia.
Alexia: Exatamente, eu não sou gado. Ninguém tá ali me mandando pra onde que eu vou.
Foster: Sou gado?
Alexia: Gado. Gado é um grupo de vaca. Né? É um gado. Ou seja, você tem lá, sei lá, um liderzinho, né? E o gado segue. Sim. Então é Maria vai com as outras. Enfim. É isso.
Foster: Sim.
Alexia: Ou seja, quem quiser descobrir o nome do livro, me segue no Goodreads, eu estou lá e tirando isso, gente, eu não vou falar, vou falar para o nosso pessoal do CC Club, com certeza numa live class, mas é isso.
Foster: Sim, eu estava pensando exatamente isso, que a gente tem uma live class no CC Club hoje e imagino que a Alexia vai dar um discurso sobre porque esse livro foi tão horrível. Mais alguma coisa por hoje, Alexia?
Alexia: Não, não sejam Maria vai com as outras. Tenham opiniões próprias.
Foster: Exatamente. Obrigado pessoal e até o próximo episódio. Tchau!