Listen on:
Alexia: Oi, oi, pessoal. Bem-vindos ao clima natalino. Um episódio especial de Natal, Feliz Natal.
Marco: Feliz Natal a todos.
Alexia: E como vocês já viram, eu estou aqui com o meu pai, Marco. Convidei ele de novo para vir gravar mais um episodiozinho aqui porque, gente, Natal… A gente comemora Natal aqui em casa. Eu, pessoalmente, adoro Natal. Eu gosto mais das decorações de Natal do que do Natal em si. E da comida, que é sempre muito boa.
Marco: Sim, é o famoso espírito de Natal, né? Que é muito importante. Todo mundo alegre, um pouco sentimental, mas faz parte.
Alexia: Espírito natalino.
Marco: Espírito natalino.
Alexia: Pai, olhando pelo lado da religião, você pode descrever ou explicar o que é o Natal?
Marco: O Natal é o nascimento de Jesus. É o acontecimento mais importante para as pessoas que acreditam na história da humanidade. E certamente, o mais importante para a igreja católica. Eu sou católico. E igrejas cristãs espalhadas pelo mundo, é o nascimento do salvador, aquele que veio se sacrificar pelos nossos pecados.
Alexia: Tá. Eu não vou entrar em discussão religiosa, porque a gente não está aqui pra isso nem nada, mas você se considera uma pessoa religiosa?
Marco: Sim, não é o fato de ir à igreja, etc. É o fato de me sentir deeply, lá dentro, religioso. Eu tenho um especial carinho pela Virgem Santíssima, peço sempre para ela. Enfim, tenho uma relação toda particular.
Alexia: Virgem Santíssima é Nossa Senhora?
Marco: Nossa Senhora. Maria, mãe de Jesus.
Alexia: Exatamente. Tá. Uma coisa que a gente quase não faz, mas eu acho que é porque a gente nunca… Pelo menos eu, pessoalmente, nunca achei uma igreja que eu me conectasse com o padre, que eu me conectasse. A não ser uma vez, quando eu e o Foster estávamos no Alentejo, que a gente conheceu o padre Rogério lá no Alentejo, e que é um padre super moderno, da nossa idade e que eu gosto muito disso. Mas eu lembro que, durante o Natal, quando os meus avós ainda eram vivos, aquela coisa toda, eles convidavam o padre para ir jantar, não convidavam? Para ir fazer a ceia ou coisa parecida.
Marco: Filha, eu e tua mãe convidávamos.
Alexia: O padre Lemos…
Marco: O padre Lemos…
Alexia: Sim, que me batizou.
Marco: Exatamente. Te batizou, fez o nosso casamento, o meu e da sua mãe, e que nos acompanhou sempre como esse padre iluminado que a gente tem como refúgio seguro para telefonar e falar, “Padre Lemos, eu preciso muito falar com o senhor.”
Alexia: E como é que vocês se conheceram?
Marco: O padre Lemos? Meu Deus!
Alexia: A mamãe vai te puxar o pé à noite.
Marco: Sim, sim. Eu não sei bem como é que nós nos conhecemos, mas foi por volta do… Um ano antes do casamento nosso, que foi em 1983. Depois, em 89, a Alexia nasceu, ele batizou a Alexia. E nós sempre convidávamos o padre Lemos para almoçar aos domingos. Ele, antes de comer, ele fazia uma oração e falava, “Perdoai, Senhor, o pecado da gula.”
Alexia: Mas é normal no Brasil? Porque eu sei da nossa família, né? Mas era normal convidar padre para ir no Natal, em casa?
Marco: No interior.
Alexia: No interior, né? Uma coisa bem de interior mesmo.
Marco: É. Em cidade grande se perdeu isso lamentavelmente. Depois as pessoas iam na igreja na noite de Natal. E depois foi se perdendo também esse hábito, e o Natal passou a ser muito mais uma festa com whisky, enfim, do que um espírito religioso, mas…
Alexia: Eu admito que as missas de Natal são sempre muito cheias.
Marco: Sim.
Alexia: Você quase não consegue escutar o que o padre fala. Você acaba encontrando pessoas que você não quer encontrar no dia do Natal, então para mim, ir à missa é chato. Eu vou ser muito sincera.
Marco: Sim. É por isso que eu ia um dia antes, um dia depois e fazia minhas orações particulares nessa relação particular que eu tenho com a religião. E durante um tempo nós íamos, eu e sua mãe, íamos no Convento das Clarissas lá no Rio, que eram as freiras que ficavam enclausuradas…
Alexia: Reclusas. “Enclausuradas…” Reclusas.
Marco: Reclusas. Então era muito bonito.
Alexia: Vamos aos pouquinhos, o que é reclusa?
Marco: Reclusa são religiosas…
Alexia: Freiras, no caso.
Marco: Que se fecham para o mundo e vivem apenas o convento, apenas dedicadas à meditação, às orações…
Alexia: E só tem uma ou duas que tem a permissão de sair para pagar conta, fazer farmácia e etc, e ver pessoas também de fora que normalmente são as chefes, digamos assim.
Marco: Sim, isso agora, porque antigamente as mercadorias eram entregues através de uma barra de ferro e uma freira é que recebia as pessoas. Então ela via pessoas de fora, eventualmente via um padre que ia de tanto em tanto tempo para fazer uma missa, mas elas ficavam reclusas, elas cortavam os laços com a vida comum e se dedicavam somente à vida religiosa.
Alexia: Eu provavelmente seria igual a noviça rebelde.
Marco: Mas com certeza absoluta. Aliás, muito mais rebelde do que noviça, Alexia.
Alexia: Pai, aproveitando a frase do padre Lemos da gula, o que se come… Porque assim, lá no Brasil a gente é um país católico, né? Em sua maioria, mas tem todas as regiões misturadas e tal. Mas dia 24 é véspera de Natal e dia 25 é o Natal. Só que o que a gente faz no Brasil é, passa o Natal do dia 24 para o dia 25. Então a gente se encontra na casa de algum familiar no dia 24 à noite e passa meia-noite lá comendo, conversando, trocando presente, etc. E todo mundo vai dormir às 2-3h da manhã, né?
Marco: É.
Alexia: E daí, dia 25 acorda, e aí vai pra casa da outra parte da família para ter o almoço de Natal.
Marco: Exatamente.
Alexia: E o que se come na ceia de natal?
Marco: É um festival baseado no peru, né? O peru é o prato principal, mas tem, enfim…
Alexia: Você sabe porque é o peru? Eu não sei.
Marco: Filha, eu também não sei, se perde no tempo. Coitado dos perus, né?
Alexia: Pois é. Eu não sei de onde vem, no Thanksgiving é peru.
Marco: No Thanksgiving é o peru porque a história dos primeiros que chegaram lá nos Estados Unidos foi de dividir a comida deles com os índios. E era o peru, então é por isso que tem. Então porque nós somos o peru, eu não sei.
Alexia: E aqui em Portugal é o bacalhau.
Marco: Aqui em Portugal é o bacalhau. Agora, a mesa de Natal de uma família portuguesa ou brasileira é muito farta, são vários e vários pratos, e também várias e várias sobremesas, o que é uma perdição.
Alexia: Então nós temos normalmente o peru no Brasil, com fios de ovos, que é um negócio feito de ovos, obviamente, mas é docinho. É pra comer junto com a comida salgada, não é uma sobremesa, é pra comer junto. Normalmente uma salada, normalmente um arroz ou algo para acompanhar, tipo batata...
Marco: Sim, arroz de passas, tudo. E o recheio do peru é muito importante. Geralmente ele é feito com nozes, com uma série de coisas. Enfim, é uma mesa muito farta.
Alexia: Muito farta. E aí, no almoço do dia 25, normalmente come-se o que sobrou do dia 24.
o que sobrou - what is left
Marco: Sim. O que é mais gostoso ainda.
Alexia: Eu também acho. Então pai, Natal aqui em Portugal, nós tivemos a experiência de passar com os nossos primos, né? Em 2019. Obviamente, ano passado a gente não pôde fazer, e esse ano nós também não vamos continuar fazendo por causa de tudo que está acontecendo. Ninguém quer aglomerar nesse momento. E você sentiu alguma grande diferença do Natal português para o Natal brasileiro?
Marco: Não…
Alexia: Na comida, sim.
Marco: Na comida, sim, é óbvio. Os pratos portugueses são todos diferentes dos brasileiros, óbvio. As sobremesas são diferentes. Agora, no espírito de Natal, nota-se aqui uma tradição maior do espírito religioso, né? E no Brasil é um pouco mais festeiro, vamos dizer assim.
Alexia: O que é normal. Tudo no Brasil é mais festa…
Marco: Eu não estou comparando positivamente, eu não estou dizendo…
Alexia: É assim, é cultural.
Marco: Exatamente.
Alexia: E uma coisa que eu senti diferença, foi a história de dormir no Natal. Então quando as pessoas são convidadas para passar o Natal, normalmente você é convidado para dormir na casa da pessoa também. Porque como o Natal vai até muito tarde, todo mundo bebeu, comeu muito e etc, a família acaba ficando nos quartos de hóspedes ou onde der. Enquanto no Brasil, cada um pega o seu carro ou pega o Uber e volta pra casa, né? E aqui tem isso…
Marco: Aqui tem muito esse assunto de família, né? Então uma festa, um acontecimento, principalmente o Natal, as famílias se reúnem mesmo.
Alexia: Agora, pai, eu tenho uma pergunta.
Marco: Diga.
Alexia: Por que a Páscoa não é tão levada a sério quanto o Natal?
Marco: Filha, o Natal é mais importante, que é o nascimento de Jesus, né? Depois os acontecimentos vêm em ordem decrescente de importância. Agora, eu não sei…
Alexia: Não é engraçado?
Marco: É.
Alexia: Eu acho…
Marco: Sim.
Alexia: Para mim, a Páscoa tinha que ser tão importante quanto o Natal, religiosamente.
Marco: Sim, a Páscoa, no Brasil, por exemplo, na missa, eles distribuem aquelas palmas, né? Todo mundo segue com a sua palminha.
Alexia: O que é uma ‘palma’?
Marco: ‘Palma’ é a palma da palmeira…
Alexia: É tipo um galho com as folhas…
Marco: É uma folhinha… E aí você leva aquela palma para casa, geralmente pequena, palminha e coloca com muito carinho na mesa, num canto assim, que é uma coisa abençoada, vamos dizer. E que dá sorte também, essas coisas.
Alexia: Sim. Então olha, gente, depois dessa pequena explicação sobre o Natal e os nossos pontos de vista sobre o Natal e etc, a gente quer desejar um ótimo Natal para quem comemora, para quem não comemora também, boas festas, né? Porque temos pessoas de todas as religiões, de todos os lugares do mundo. Então boas festas…
Marco: Sim, um lindo Natal significa um congraçamento muito grande, né? Que todo mundo dê um abraço no outro, um beijo, e que sejam todos muito felizes.
Alexia: Sim. Então boas festas para todo mundo, e é isso. Até o próximo episódio. Tchau!
Marco: Tchau.