Listen on:
Foster: Olá pessoal e sejam bem vindos à mais um episódio do Carioca Connection. Hoje eu estou aqui com Marco Antônio, o pai da Alexia. Marco, seja bem vindo.
Marco: Muito obrigado. Hello, hello.
Foster: Então Marco, hoje a gente vai falar sobre um assunto polêmico, pelo menos aqui nesta casa, e é a hiperconectividade. O que você entende com essa palavra.
Marco: Eu era… É uma palavra meio difusa pra mim e hoje, depois de pensar bastante, de escutar inclusive um podcast que você me sugeriu, eu cheguei a uma conclusão trágica. Nós estamos cercados, nós estamos completamente reféns de um mundo aonde se quiserem, e querem, nos manipulam. Não digo nos manipulam da forma que vocês estão entendendo, mas nos conduzem, nos… Nós somos, de boa vontade, escravos virtuais. Nós adoramos ser escravos virtuais e nós somos, sei lá quem, domina esses meios, Facebook, Youtube, o celular, a informação que você dá no banco. Enfim, nós estamos ferrados, a gente tá completamente amarrados à essa hiperconectividade.
Foster: Tá bom, deixa eu clarificar um pouco, só pra começar. Eu sou um pouco radical com essas coisas que eu realmente acredito que quase todos nós estamos viciados no celular, nas mídias sociais, nas redes sociais e a internet, essas coisas, nossas telas, nossos aparelhos. E eu passo muito tempo tentando convencer a Alexia e o Marco tipo, “você também está viciado no celular” e ninguém me escuta. Então eu recomendei pro Marco Antônio escutar um podcast que se chama Vozes do CBN né, que é um canal do Brasil e eu recomendo muito o podcast, não somente esse episódio, mas o podcast é muito bom, a qualidade da produção é muito boa, mas o que você aprendeu nesse podcast? Ou me dá o antes e o depois, porque parece que ninguém entendeu a minha discussão, porque eu fiquei tão radical com esse assunto e depois de escutar parece que você entende um pouco mais o que você estava tentando dizer.
Marco: Entendi. Ouvindo esse episódio veio a tona tudo o que eu intuía, mas eu não tinha entendido. Não é a inocência de falar “ah, as crianças devem usar menos o celular, sai da frente da televisão.” Isso é o jardim de infância do que tá acontecendo, é uma tragédia o que tá acontecendo. E por outro lado, também existe uma parte boa da internet, ótima, que é a informação, informação boa. É difícil falar pouco sobre isso, mas eu ser bem sério, existe a parte boa da internet, de pesquisa, de eu e o Foster estarmos falando sobre um país, por exemplo, a China, e eu então colocar aqui no Google “quantos habitantes tem a China, qual é a capital da china.” Existe uma parte boa da internet.
Foster: É, eu não tenho nenhum problema com a internet, com tecnologia, não é uma discussão anti-tecnologia né? É tipo, essas tecnologias já tem a gente. Você falou como refém, como escravos digitais né, ou virtuais, são palavras fortes.
Marco: São, e são pequenas ainda pro que eu quero exprimir. Nós somos, acho que a palavra correta seria prisioneiros de um sistema gigantesco do qual nós não temos a mínima condição de reagir. Nós temos uma que é entendermos isso e usarmos de forma mais inteligente esses poderosos meios que estão na palma da minha mão agora. Aqui se estivessem vendo, to com meu celular na mão. Eu escuto muita música por aqui, eu tenho muita coisa boa por aqui, mas eu tenho também a noção de que não só a internet, tudo, o mundo computadorizado e globalizado pro mal, que eu to falando pro mal, ele simplesmente torna você uma vítima, queira você ou não. Então, rapidamente, uma criança, ela deve ser, segundo um psiquiatra desse episódio que eu escutei...
Foster: Uhun.
Marco: Um psiquiatra do bem, um cara que fala coisas corretas, não é psiquiatra da modinha que… Enfim.
Foster: Não, não é. É uma cientista.
Marco: É um sujeito firme, direito, ele falou o seguinte, “até os 2 anos de idade, não se deve colocar uma criança na frente de uma tela, de nada, porque...
Foster: Nenhuma.
Marco: Nenhuma, nem televisão, porque se não a criança não vai aprender. Ele fala o seguinte, que depois esses joguinhos que tem nas telas, vamos chamar assim.
Foster: Tablete, iphone.
Marco: Eles não tem fim, eles não terminam nunca. E a criança não tem aquele caminhãozinho, aquele bonequinho, aquele montinho de areia aonde ela faz alguma coisa e tem um fim, depois ela pára e vai tomar banho. Não, aquilo continua, continua, continua, continua, atrapalha o aprendizado da criança, aí vem a tragédia, Foster. Por outro lado, nós temos que educar nossas crianças pra saberem dominar esses aparelhos pra um, se protegerem, dois, ganharem dinheiro. No mundo quem não tiver, não dominar isso, é uma pessoa que mora em Marte. E terceiro, nós temos que preservar a vida social das nossas crianças, elas somente arranjaram amiguinhos, namorados, namorada, etc, se elas forem conectadas nesse mundo. Então, olha a tragédia, ao mesmo tempo explicar pra elas, dar limites pra elas, e ao mesmo tempo permitir que elas dominem a tecnologia que, se hoje é importante, no futuro do mundo será vital. Agora, os casos que esse Vox apresenta de um menino de, sei lá, 10 anos de idade… Se me perdoem eu vou ser escatológico, mas é necessário, que ele ficou 53 horas jogando um joguinho que eu sei lá o que que é, e ele não comia, ele mastigava o sanduíche e agora desculpem, mas eu tenho que falar pra vocês entenderem a monstruosidade, ele fazia cocô nas calças e jogava a cueca pela janela.
Foster: Eu estou rindo porque, Marco, pode falar qualquer coisa aqui no Carioca Connection, já falei muito muito pior do que cocô.
Marco: Não, não, mas eu to dizendo, mas é uma coisa muito nojenta, me chocou.
Foster: É, impressionante.
Marco: Uma criança fazendo cocô nas calças, jogando a cueca pela janela pra não parar de jogar um joguinho. Esse garoto foi levado pra esse psiquiatra, eu não sei o que o psiquiatra fez com ele, mas é um tratamento de choque. São pessoas… É o extremo né, é o alcoolismo dessa virtualidade exagerada.
Foster: Então, Marco você já está entrando tipo nos extremos que obviamente tem crianças que realmente estão, são viciados nesses jogos, nessa tecnologia, mas também é difícil pra nós né? Por exemplo, eu e a Alexia, a gente trabalha na internet, a gente ganha dinheiro na internet, então passamos quase o dia inteiro na frente de uma tela. Então é muito muito difícil e não sei a solução.
Marco: Mas Foster, eu vou fazer um diagnóstico meu, seu e da Alexia.
Foster: Por favor.
Marco: Nós não estamos doentes, embora... Nós não estamos doentes, nós nos controlamos. Não é controlar, sair da internet, nós sabemos utilizar a internet, agora…
Foster: Posso te parar rapidinho?
Marco: Claro.
Foster: Quanto tempo, eu te perguntei isso a semana passada, “Marco, quanto tempo você passa, por semana, no seu celular?” Você chutou, sei lá, foi tipo “ah, talvez 2 horas por dia.” E foi mais ou menos 4, né? Isso é normal. Eu acho que em média é quase 40 horas na frente do celular, ficando com o celular todos os dias, então não sei se eu aceito totalmente que não estamos doentes, não estamos doentes, doentes, mas já somos vítimas.
Marco: Foster, eu vou dividir a vítima em dois, duas coisas importantes. Vítimas, vamos dizer, dentro desse aspecto total que você falou, mas a vítima que eu usei é dentro do aspecto da humanidade, você não tira um documento sem você dar todos os seus dados pra um computador. Você não abre uma conta no banco, você não faz nada, e aqui na internet eles usam descaradamente, eu vou usar uma palavra em português que eu adoro, despudoradamente, sem nenhum pudor você, eles te sugam. Eu, um dia, procurando na internet um hotel barato na Espanha.
Foster: Uhun.
Marco: Eu olhei “hotel barato na Espanha,” esse aqui parece ser bom, esse aqui parece ser bom, pra um dia quem sabe, tal, e desliguei. No dia seguinte eu recebi 25 ofertas de hotel na Espanha e aluguel de carro, etc tal. Eles te usam, eles te espremem, eles te sugam, então é nesse ponto que eu to falando vítima. Agora nós, vocês trabalham com o computador e vocês dominam o computador. Você pode dizer o seguinte, “Marco eu trabalho numa pedreira e eu não consigo sair da pedreira antes de 7h da noite.” Ou seja, você trabalha muito na pedreira, você trabalha muito no computador, mas você domina o computador, então você tem...
Foster: Às vezes, às vezes eu tento. Mas às vezes me domina também.
Marco: Sim, mas você tem a consciência, Foster. Ter a consciência que ninguém tem, eu não to me colocando numa posição elitista privilegiada, mas de repente caiu a ficha pra mim.
Foster: É, posso te perguntar duas coisas?
Marco: Claro.
Foster: Primeiramente a palavra que você usou, você falou “descaradamente” e daí você falou que tem uma palavra em português que você adora, que não entendi.
Marco: “Despudoradamente” é sem pudor.
Foster: “Pudor” quer dizer o que?
Marco: “Pudor” quer dizer o seguinte, eu tenho pudor em entrar numa sala pelado, uma sala de visitas… É sem pudor, sem dó nem piedade, sem vergonha do que tá fazendo.
Foster: Exatamente. Entendi.
Marco: Quando eu cheguei à essa conclusão eu pensei, então as eleições e a política são influenciadas. Total, mas como existem dois lados, então as coisas se contrabalançam. Ninguém vai ganhar uma eleição pelo computador, porque o outro lado usa também dos mesmos métodos, pelo menos isso. Agora, o massacre que você sofre aqui, to falando por mim agora em Foster, eu sei que eu não to falando por você.
Foster: Sim às vezes o Marco Antônio esquece que é um podcast, então é só áudio, mas você está apontando pro celular.
Marco: Sim, o que eu recebo aqui no Google de notícias tendenciosas, mentirosas, é uma coisa inacreditável. To falando agora por mim, particularmente.
Foster: Não, foi um processo...
Marco: Todo dia tem uma notícia exagerada, que eu chamo de bad news.
Foster: Bad news. É, fake news é bad news pro Marco Antônio, mas posso falar Marco...
Marco: Sim.
Foster: Que foi um processo pra você entender o Google, como a internet funciona, mas eu acho que hoje em dia você está bem atualizado, digamos. E agora que você entende essas coisas, você tem alguma, sei lá, você vai mudar algo na sua vida, em relação ao seu uso da tecnologia?
Marco: Já mudou, já mudei.
Foster: Por exemplo?
Marco: Quando eu acordo, a primeira coisa que eu vejo é olhar a hora no celular.
Foster: Uhun.
Marco: Então eu já entrei no celular 8 da manhã. Isso daí antigamente eu nem pensava, era automático, agora eu penso. As notícias, que eu lia 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 jornais por dia, não jornal o inteiro, as manchetes, etc, agora eu to restringindo, agora eu leio 2, 3. E estou aprendendo uma coisa chamada “não dê importância às silly news,” que são o seguinte... Outro dia eu li uma coisa assim, o nome de uma artista famosa, eu não lembro agora, “fulana de tal, não estava se sentindo bem, mas agora está.” É o máximo de silly news que você pode imaginar na sua vida, isso aí existe 290 mil por dia, e você fica naquilo. E daí Foster, tem uma coisa que eu percebi mais aterradora ainda, é que a internet, ela é como se fosse um ópio né?
Foster: Como assim? Que que é um ópio?
Marco: Um ópio é…
Foster: Ah, eu acho que entendi.
Marco: O ópio é uma droga…
Foster: É uma coisa que consome tudo.
Marco: Mas ela deu vazão a que essa vontade de nós nos drogarmos aparecesse de forma inacreditável, então... Tem uma coisa aqui na internet que chama-se perrengue chique.
Foster: A gente vai gravar um episódio inteiro sobre perrengue chique.
Marco: Então as pessoas em Mykonos, centenas, milhares de pessoas, todas vendo o pôr do sol Mykonos na Grécia, que é a coisa mais linda do mundo, mas elas não estão vendo, elas estão colocando o celular pra ver. Então, o que que isso significa? Que elas estão elas dizendo, “eu estou aqui, olha Mariazinha como é legal eu estar aqui, não vendo o pôr do sol de Mykonos.”
Foster: Exatamente. Eu vou deixar o episódio sobre perrengue chique pra você e a Alexia, porque eu não aguento mais o perrengue chique. Mas Marco, eu fico muito feliz de que escutando você hoje, você parece quase eu falando, tipo de “nossa, estamos drogados, viciados com essas coisas, eles estão nos manipulando.” Parece quase tipo teorias...
Marco: Teoria conspiratória.
Foster: Exatamente, essa foi a frase que eu estou procurando. Mas ainda estou otimista, né?
Marco: Sim, porque do momento que você tem, na psiquiatria... Eu fiz análise muitos anos. No momento que você tem noção do que está se passando com você, você já quase que ganhou a batalha.
Foster: Primeiro passo.
Marco: É, mas quase que já ganhou a batalha. E segundo, nós não somos, eu, Foster, Alexia, ludistas. Ludismo eram as pessoas na Inglaterra que, quando chegou a revolução industrial, que as máquinas passaram a fazer o trabalho dos homens, os ludistas quebravam as máquinas. Ou seja, quebravam...
Foster: É, a gente tem uma palavra muito parecida em inglês que seria Luddite.
Marco: É, então nós não somos anti-tecnologia, ao contrário, acabei de gravar um episódio onde a tecnologia salvou minha visão.
Foster: É.
Marco: Tá certo? O que nós estamos falando é de nós, o nosso uso e principalmente como nós permitimos que eles nos usem.
Foster: Exatamente.
Marco: Nós somos vítimas conscientes.
Foster: Exatamente. Então a gente já tomou o primeiro passo e vamos atualizando e a gente vai dar notícia, sei lá, daqui a 6 meses, como a gente está em relação a todas essas coisas.
Marco: Uma coisinha, Pedro Dória é um grande especialista no assunto, um jornalista brasileiro, ele fez um curso na Califórnia especializado, ele é jornalista experimentado. Ele diz uma frase que eu digo pra vocês, “tudo o que vocês escreverem na internet, tudo, jamais se apagará.” Então take care, cuidado. Não se exponham.
Foster: É um ponto debatível, mas eu acho que é um bom lugar pra terminar. Então Marco, com este episódio bizarro a gente vai deixar nossos ouvintes pra pensar nisso e até a próxima.
Marco: Até a próxima crazy people, nice to speak with you.
Foster: Tchau tchau.