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Alexia : Olá pessoal, sejam bem-vindos a mais um novo episódio do Carioca Connection. E hoje estamos aqui com o único, o incrível, o máximo... Marco Antonio.
Marco: Sou eu.
Alexia : Vocês não podem ver a cara dele agora, mas ele adorou. Bom, hoje vamos falar sobre a infância do meu pai. Não a infância, mas época jovial do meu pai. Meu pai, como vocês sabem, tem 73 anos. Ele cresceu em São Paulo, morou em São Paulo praticamente a vida inteira, ele só se mudou para o Rio por causa da minha mãe, então foi muito depois. E ele tem curiosidades para contar sobre o grupo de amigo dele quando ele era adolescente até 20 e poucos anos.
Marco: Basicamente era o seguinte, tinha um bar de esquina, nas Perdizes.
Alexia : Explique o que é Perdizes.
Marco: Perdizes é um bairro de São Paulo que faz divisa com Pacaembu.
Alexia : O que é Pacaembu, de novo?
Marco: Pacaembu é um bairro. Eu estudava no Colégio Batista Brasileiro.
Alexia : Pacaembu também, para quem escutou episódio sobre Tom Jobim e Pelé, Pacaembu estádio onde o papai assistir o Pelé jogar e etc. Então só para fazer um link.
Marco: Claro, o estádio do Pacaembu ficava no bairro do Pacaembu. Perdizes do lado. Meu colégio, Batista Brasileiro, ficava ali do ladinho em Perdizes. Então eu saía da aula e ia para esse lugar que era chamado a turma. A turma eram pessoas que se reuniam num bar.
Alexia : The gang. A turma.
Marco: E ficar bom lá sem fazer nada, mas era muito divertido. A gente era feliz.
Alexia: Era uma época sem telefone celular, sem internet e sem nada. E o pessoal ia se encontrar.
Marco: Exatamente. E eu ia até para turma, mas a maior parte das pessoas da turma tinha um carro. E tinham carros maravilhosos, todos eles eram fascinados por corridas de automóvel.
Alexia : Você é fascinado por carro até hoje.
Marco: É, eu sou fascinado por carro, mas eles pilotavam bem.
Alexia: Pilotar quer dizer dirigiam absurdamente bem. Você pilota um carro.
Marco: Todos. Incrível que quando eu conto essa história até eu mesmo me surpreendo. Dessa turma de 30 a 40 rapazes que se reuniam para fazer nada na vida e ficar que nem os bobos na esquina. Aí chegava um deles, dos nossos com carro novo, todo mundo ficava do lado, via e etc. De lado essa turma saíram um, dois, três pilotos de Fórmula 1. O que é um absurdo de coincidência. O Emerson Fittipaldi, que foi bicampeão mundial de Fórmula 1. Bicampeão mundial, ou seja, ele está no Olimpo. O irmão dele, Wilsinho Fittipaldi, que foi piloto de Fórmula 1 chegou a pilotar pela Porsche. Um Porsche incrível que tinha 1000 cavalos de potência, Wilsinho dominou aquilo. E o José Carlos Paci, que o apelido era Moco, era meu amigão do peito, me pegava em casa para a gente ir ao colégio e tudo. Foi também um piloto de Fórmula 1 que pilotou pela Ferrari, carro de protótipo. E fazia tempos maravilhosos.
Alexia : Carro de protótipo?
Marco: Se chama protótipo, que eram corridas tipo Lemann, Nurburgring. E ele era um excepcional piloto, todo mundo adorava o Moco.
Alexia : Isso foi em que ano pai?
Marco: Eu não tenho memória filha.
Alexia : Imagina, você tinha quantos anos?
Marco: Eu tinha uns 20 a 25 anos, mais ou menos. E o pessoal começou a ir para Europa, Wilsinho e o Emerson primeiro. O Moco, logo depois. E brilharam lá fora, voltaram Campeões do mundo e etc. E o Moco...
Alexia : O Moco é quem mesmo?
Marco: José Carlos Paci, que era chamado pela família de Carlinhos.
Alexia: E porque esse apelido Moco?
Marco: Eu prefiro não contar. Era uma brincadeira que se fazia com ele, mas enfim. Deixa para lá.
Alexia: Ele realmente não quer contar. Ele está balançando a cabeça e não vai contar.
Marco: Ele teve um acidente muito grave, um acidente fatal onde ele perdeu a vida de avião. E ele foi então considerado, embora sem ganhar um título mundial, um dos grandes pilotos da Fórmula 1. Ele era absolutamente incrível, ele pilotava... A tocada dele era muito forte.**
Alexia: Mas deixa eu, para eu entender também. Eu nasci, eu acho que no ano que o Ayrton Senna morreu, em 89.
Marco: Foi.
Alexia: O Ayrton Senna é da mesma época que eles?
Marco: Não. Ayrton Senna é a segunda geração. Eles abriram o caminho e depois foram os outros. O Piquet que foi Tricampeão mundial e o Senna que foi Tricampeão mundial, também feras, ídolos. O Senna até hoje é considerado um cult.
Alexia: Ele é o Pelé da Fórmula 1?
Marco: Sim, é. Existe muita gente boa Alexia. Eu sei o seguinte, quem pilota um carro da Fórmula 1 é mais ou menos estar perto de Deus. Por que é inacreditável. Então numa turma das Perdizes, no meio do nada, de gente que bate a papo e gostava de automóveis, surgiram três campeões de Fórmula 1. O que eu considero um acaso, uma coisa inacreditável que isso tenha ocorrido.
Alexia: A gente gravou esse episódio porque no episódio anterior a gente estava falando sobre coisas que meu pai fica impressionado de hoje em dia e o que ele sente mais falta de antigamente. Ele me deu uma resposta ridícula o que é da água do chuveiro.
Marco: Da inocência.
Alexia: Calma. Quando a gente terminou Episódio antigo, ele virou e falou: Será que o pessoal vai se interessar por essa história? Porque eu acho que ele ficou com muita saudade dessa época, ficou nostálgico e quis contar para vocês. É um episódio curto para falar de como o acaso existe e enfim, você pode ter amigos que não são conhecidos, mas o papai teve três amigos absurdamente conhecidos e cresceu nesse meio. E você viajava para Santos com um deles, né?
Marco: Viajava. Um deles que pilotava muito bem, dirigia muito bem. Então ele falava para mim, segura que eu vou dar uma acelerada. Ia eu com a mão no teto do carro.**
Alexia: A duzentos e pouco por hora.
Marco: Mas eles tinham absoluta, é um dom que eles têm. Eles tinham absoluta certeza do que eles estavam fazendo e aquela curva que chegava e eu falava: Não vai dar. Falava alto não vai dar. E dava.
Alexia : Mas você também teve um acidente de carro, né pai?
Marco: Tive. Tive um acidente de carro e não estava dirigindo. Um amigo comprou um DKW, era um carro antigo e muito gostosinho que eu tenho na minha memória. Ele comprou um DKW assustou no meio de uma curva, voltando da praia do litoral norte de São Paulo para São Paulo. Ele se assustou e o carro rolou numa ribanceira no único…
Alexia : Pera aí, o que é ribanceira?
Marco: Ribanceira é um barranco.
Alexia : O que é barranco?
Marco: Barranco é um declive. É o único lugar onde ele poderia ter rolado, porque acabava em Mato. Os outros declives acabavam no precipício, em nada.
Alexia : Em nada.
Marco: Morte certa. Não ele capotou o carro, eu tive uma luxação no braço. Ninguém se feriu e foi um susto muito grande, eu voltei para São Paulo com o braço doendo de ônibus.
Alexia : Não foi nem de ambulância?
Marco: Que ambulância? Chegou lá um guarda, polícia rodoviária e falou assim: você está bem, garoto? Eu falei: tô, tá doendo braço. Ele falou: vai passar um ônibus e eu vou parar ele para você. Ele parou o ônibus e me colocou dentro.
Alexia : E o motorista que estava dirigindo?
Marco: Cada um ficou por si. Ele ficou lá cuidando do carro: Meu Deus o que aconteceu? Os dois amigos que estavam no banco de trás também falaram: poxa, você não deveria ter feito isso, vê se dirige direito. Enfim, ficou aquele papo. Ele parou o ônibus para eles também, o guarda parou o ônibus para eles. Para mim um ônibus que ia para Campinas, cheguei em Campinas sem mala e sem dinheiro. Campinas é uma cidade perto de São Paulo.
Alexia : Mas fica o quê? A 2 horas e pouca, 2 horas e meia de São Paulo?
Marco: Não, no máximo uma hora e pouquinho. É perto. Eu cheguei para companhia de ônibus, o caso é esse. Eu sofri um acidente e me arrumaram um lugar nesse ônibus, eu preciso ir para São Paulo e não tenho dinheiro. Eu peço ajuda para vocês. Eles disseram: não, fica tranquilo garoto, a gente vai te colocar no ônibus aí e você vai para São Paulo. Eu cheguei em casa com braço doendo muito e depois então.
Alexia: Coisas da vida.
Marco: Coisas da vida, mas o garoto que estava dirigindo fez uma bobagem grande. Ele se assustou com as pedrinhas que bateram embaixo do carro e ele puxou a direção muito forte, carro entrou em pêndulo e saiu capotando.
Alexia: A gente não está aqui para julgar, né?
Marco: Eu estou aqui para dizer que eu passei por isso e que...
Alexia: Eu ia completar. Mas você que estava lá tem todo direito do mundo.
Marco: Graças a Deus deu tudo certo, ninguém se machucou. O carro foi recuperado, só que ninguém mais andava com esse amigo.
Alexia: E ele não era um dos três amigos que ficaram famosos.
Marco: Não, pelo contrário, ele era o cara que não poderia trocar nem a Roda do carro do pessoal que ficou famoso. Porque ele era um perna de pau, ele era um cara roda presa. Qual que é a garota de 9 anos de idade dirigir melhor que ele.
Alexia: Bom, com esse desabafo a gente termina o episódio. Espero vocês no próximo. Tchau tchau.