Listen on:
Foster: Então, eu tenho duas perguntas para finalizar.
Marco Antonio: Pois, não.
Foster: A primeira pergunta... eu tenho vários alunos. Você já falou da ditadura. Eu tenho vários alunos meus que falam que eles viveram melhor durante a ditadura comparado com hoje em dia. O que você acha disso? A gente tem um cachorro aqui!
Marco Antonio: É, tem um cachorro aqui chamado Ketchup que deu uma opiniãozinha aqui também! É uma questão, honestamente, pessoal. Seus alunos provavelmente são de classe média ou classe média alta, então realmente eles viveram... 20 anos atrás o Brasil era outro, era tudo mais fácil, todos os índices de criminalidade, etc., eram mais baixos de uma forma natural. Existia uma ordem no país. Deixa eu dizer aqui bem mal: existia uma vida que se casava, se tinha filhos, se trabalhava, as coisas iam relativamente bem, a economia ia relativamente bem. Mas para falar mal, na época do Mussolini na Itália, no Fascismo em 1930, também se dizia, tinha um ditado lá que dizia o seguinte: "Ah, no Fascismo os três chegavam no horário", ou seja, as coisas funcionavam. Funcionavam, mas liberdade zero. Então tem que ver particularmente o que essas pessoas estão falando. Por exemplo, quando eu tinha 12 ou 14 anos de idade, São Paulo tinha 2 milhões de habitantes. Hoje, São Paulo tem 20 milhões de habitantes. Então certamente a vida era melhor quando eu era garoto.
Quando eu era garoto. When I was a boy.
Foster: É, isso é uma loucura.
Marco Antonio: Porque São Paulo e Rio viraram dois pesadelos urbanísticos e sociais inacreditáveis. É muita gente, a favelização é total! E falta o básico ABC. Falta saneamento básico, esgoto.
Alexia: Saúde, educação.
Marco Antonio: Saúde, etc. e tal. Então antes era realmente melhor, mas será que por causa da revolução?! Acredito que não. Acredito que era mais fácil porque tinha menos gente. A criminalidade não existia como hoje, por exemplo, em que você vê bandos armados com fuzil de guerra, granada, etc. e tal. Eu não sei explicar. Os bandidos usavam revólver, quando muito. Hoje em dia, são bandos armados, paramilitares, é um negócio terrível o que se passa hoje e sem evolução da polícia, enfim, tem uma clima também aqui de esquerda que diz que bandido é vítima, não é algoz.
Uma granada. A grenade.
Alexia: A pessoa esfaqueia o outro na rua, mas não é bandido. É a vítima da sociedade.
Marco Antonio: Vítima da sociedade. Tem isso aqui no Brasil. Tem aqui a famosa lei que diz que antes de 18 anos, a pessoa é imputável. Ou seja, ela não é responsável por um crime. Então um cara de 17 anos mata outro com oito tiros na cabeça e tr
ês meses depois ele está livre porque...
Foster: Isso ainda existe?
Alexia: Sim.
Marco Antonio: Existe. Ainda existe e outra coisa: você não pode sequer ter a folha corrida dele, quando você vai fazer lá, esse crime desaparece. Você não consegue saber se..
Foster: Ele é cidadão normal.
Marco Antonio: É, um cidadão normal, etc. e tal. Então uma lei feita, calculo eu, com a melhor das intenções, causa os piores resultados. Então acredito que é isso que eles estejam falando. O Brasil piorou muito de lá para cá. Mas, eu não acredito que foi...
Com a melhor das intenções. With the best intentions.
Foster: As causas não são necessariamente...
Marco Antonio: As causas podem ser diferentes. E sempre lembrando do nicho onde eles viviam, na classe média, na classe média alta, mais pobre, como é que era o negócio. Porque isso faz muita diferença.
Foster: Tá. Isso foi uma resposta excelente. Obrigado. E a última pergunta: pensando num futuro, tipo em 10 ou 20 anos no futuro, você é otimista ou petimista... é, pessimista!
Alexia: Petimista foi ótimo!
Foster: Pessimista para o país? Pensando na sua filha.
Marco Antonio: Foster, uma coisa é meu desejo. Meu desejo é que a minha filha possa viver num Brasil dez vezes melhor - e tem tudo para isso. Certo? Não sei se motivado pelo momento atual e também por um pouco de cansaço, de ter visto tanta gente falando que é amiga do povo, que agora vai mudar, que etc. e etc., que eu já perdi bastante esperança. Então, às vezes eu penso que isso daqui não vai mudar não, que vai ser mais ou menos a mesma coisa nesses próximos anos aí, vai entrar um outro presidente, e daí o Brasil continua crescendo demograficamente muito, o mundo está mudando para pior no geral em tudo, isso aqui eu estou falando é uma grande bobagem porque amanhã inventam um negócio, o petróleo sobe, as commodities sobem, de repente, o Brasil descobre uma jazida de gás e tem uma energia barata e o Brasil vai para a frente, meio sem querer querendo! É dificílimo fazer previsão. Então, resumindo, eu rezo que sim. Principalmente por vocês dois, que vão ficar, a nova geração. Agora, honestamente, eu acho que a coisa vai ficar por aí, um pouquinho melhor ou um pouquinho pior, mas é por aí. Como é que eu resolveria isso? Com uma coisa chamada educação. Educação de massa, de qualidade, dez alunos por classe, duas professoras por classe. Realmente ensinando você muda o Brasil em duas gerações. O Brasil vira um país maravilhoso, basta olhar o exemplo da Coreia do Sul, que fez isso; da Finlândia, que já era um país desenvolvido, mas que fez isso; a Holanda, que chegou à conclusão que ela estava isolada do mundo porque ninguém fala holandês, então eles fizeram num espaço de dez anos, um plano de ensinar inglês e hoje metade da população holandesa fala perfeitamente inglês e com isso - ou mais talvez - se inseriram no mundo. Eu estou falando do inglês porque o inglês é a língua...
A Holanda. The Netherlands.
Alexia: Mundial.
Marco Antonio: É, universal, né? A língua do computador, a língua do futuro, inclusive. Então eu acho que com a educação o Brasil consegue dar uma virada legal. Mas, tem que ter alguém que toque isso no peito e com competência.
Foster: Tá, eu acho isso... como professor, eu acho isso ótimo e também eu concordo totalmente. Mais alguma coisa que você quer adicionar?
Marco Antonio: Não, não. Porque a política é um assunto muito chato. Não, é insuportável! A gente fala muito e a opinião do outro sujeito é completamente diferente. Se eles colocarem...
Alexia: É, hoje em dia, está muito polarizado, né, você não consegue nem dar a opinião, por exemplo, você sair com a camisa vermelha na rua já quer dizer que você é a favor do PT, do Partido dos Trabalhadores, da presidente que está sofrendo o impeachment. E aí tem gente que vai e sai te xingando na rua ou se você falar que é contra o Governo atual, vai virar e falar: "Então você não é a favor dos mais pobres, você não quer cuidar deles". É uma loucura generalizada!
Foster: Até a gente pediu uma pizza ontem à noite e eu fui xingado! As coisas são radicais.
Alexia: Eu pedi uma pizza ontem e me falaram que eu tinha que ser mais bem educada já que eu nasci num bairro de classe média. Eu não entendo essas coisas, eu realmente não entendo.
Marco Antonio: A polarização é geral e basicamente está se dividindo o Brasil em fascista e comunista, o que é uma inverdade. E se xinga mesmo, chama o cara de tudo, cospe, aliás, a última moda agora é cuspir nas pessoas.
Alexia: Eu estou rindo porque foi uma situação ridícula na Congresso... na Câmara agora, que teve na votação pelo impeachment dos deputados, enfim, mas isso é um outro papo.
Marco Antonio: Agora, o que eu acho é que toda essa polarização, esse extremismo tem um nome: chama-se internet. Porque antigamente essa opinião era dada nos botequins, batendo um papo na esquina, etc. e tal. Hoje um cara senta no computador e manda bala, xingando o outro de tudo e o outro xinga o outro de tudo! E esse clima, não sei se isso é bom ou ruim, pelo menos, o papo de botequim saiu para papo...
Alexia: Mas ao mesmo tempo a internet deu a chance de a gente ver o que realmente acontece.
Marco Antonio: Exatamente.
Alexia: Quem é quem, a cara de quem é quem.
Marco Antonio: Sem querer fazer nenhum tipo de comentário pessoal, mas, por exemplo, o Chico Buarque de Holanda é ídolo da esquerda brasileira.
Alexia: Vamos só diferenciar uma coisa. O Chico cantor é uma pessoa, o Chico pessoalmente é outra. Eu sou apaixonada pelo Chico cantor, ele como pessoa é comunista!
Marco Antonio: Não, eu sei, mas ele falou uma coisa engraçada.
Alexia: Eu estou concordando com você... não?
Marco Antonio: Não, não, estou só dizendo, ele falou uma coisa engraçada, independente do que ele seja, antes da Internet ele era assim o ídolo do Brasil e continua sendo um ídolo do Brasil, mas só que ele não sabia quantas pessoas não gostavam dele pelo fator político. Então ele falou na televisão outro dia, ele falou assim: "Eu levei um susto porque o que eu fui xingado na internet! Eu falei 'Gente, eu achava que todo mundo gostava de mim!'". Então é isso daí. Cada vez mais as pessoas separam o artista do homem político, da opinião política. Tem novela que cai de audiência porque a atriz é a favor do PT. É uma loucura, uma loucura!
Alexia: É um boicote, né?
Marco Antonio: É um 'politicamente correto' dos dois lados virando assim tipo uma guerra. Aqui no Brasil o pessoal chama de Fla-Flu. Fla-Flu é quando se encontram dois times de futebol, o Flamengo e o Fluminense, então é um clima assim de guerra, de muita disputa, a gente chama Fla-Flu. O Brasil virou um Fla-Flu. Só que os times no campo não estão jogando. É um Fla-Flu com estádio vazio.
Alexia: Eu acho que foi bom esse, né? Deu para dar uma imaginada geral no atual esquema do Brasil.
Foster: Com certeza, foi ótimo!
Marco Antonio: Eu peço desculpas porque esse assunto é chato! Eu falei aqui, tive que me forçar para falar porque o meu saco está na rua! Eu não aguento mais. Eu queria que o Brasil funcionasse, só isso estava bom, sabe, que as coisas dessem certo no nosso país, não precisa ser assim com dois arco-íris no céu, que as coisas funcionassem, os aposentados fossem pagos, houvesse uma demanda crescente de trabalho.
Alexia: Que as escolas dessem merenda.
Marco Antonio: Que as escolas fossem boas, que as universidades realmente tivessem um padrão elevado, enfim, eu queria que o Brasil funcionasse.
Alexia: É, pai, mas é muito mais importante a Copa e as Olimpíadas do que outra coisa!
Marco Antonio: Aí vem o 'Pão e Circo' do PT que jogou aqui a Copa do Mundo, onde nós tomamos de 7 a 1 da Alemanha.
Alexia: Um beijo para os alemães!
Foster: Tá, eu acho que a Copa do Mundo e as Olimpíadas, a gente vai ter que fazer outro podcast totalmente.
Alexia: Vamos!
Marco Antonio: Vamos, mas enfim, só para dizer que construíram um monte de estádios super faturados, todo mundo roubou muito e hoje são elefantes brancos olhando para o nada e nós olhando para eles. Então, tudo propaganda. Propaganda e marketing do PT, que o povo na cabeça deles gosta de futebol, samba e não sei o quê. E a gente relevando. Eu acho que não é por aí e eles estão começando a entender que não é por aí mesmo. Eles estão apavorados, jamais poderiam imaginar o Lula à beira da prisão ou a Dilma indo... a presidente indo até a ONU para falar que...
Alexia: Está sofrendo um golpe!
Marco Antonio: Está sofrendo um golpe no Brasil.
Alexia: Na ONU, nos Estados Unidos, gente.
Marco Antonio: Graças a Deus não falou isso, mas depois falou para jornal. Em resumo: eu me perdi um pouco aqui. Eu não gosto muito de falar de política, não. A rejeição que eu sinto, eu acho é que todo brasileiro tem. É isso aí, minha gente! Vamos cortar que...
Foster: Não, esse foi uma resposta ótima, uma resposta longa, para uma pergunta curta. Mas, eu acho que isso queria dizer que você é mais pessimista do que otimista, né?
Marco Antonio: Mais. Eu sou otimista no desejo e pessimista na realidade.
Foster: Tá, eu também. Então, muito obrigado.
Alexia: Tirando isso tudo, continuem visitando o Brasil. Eu juro que vocês vão gostar, o lugar é lindo, o povo é ótimo!
Foster: Não, o Rio é ótimo!
Alexia: Vocês não vão ter problema algum. E desculpem pelo meu cachorro que está aqui do lado reclamand. E é isso, gente! Um beijo grande!
Foster: Tchau, tchau!
Marco Antonio: Tchau, tchau! Bye bye!
Foster: Obrigado!