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Alexia: Então olha muito obrigado por estarem aqui no Carioca Connection… com a gente, na verdade comigo só dessa vez o Foster não está participando, ele está trabalhando lá da sala e eu estou aqui com o Buddy, com o nosso cãozinho…
Daniel: Ele vai participar também.
Alexia: Ele vai… se algum cão latir do lado de fora… pronto ele vai participar de alguma forma.
Daniel: Já vi que ele participou algumas vezes, nos podcasts aí… tem que participar faz parte da família.
Alexia: Principalmente quando ele era menorzinho e ele não entendia que tinha que ficar ao lado de fora enquanto a gente estava do lado de dentro. Então era raspar na porta, aquela coisa toda, mas…
Daniel: É assim mesmo.
Alexia: Bom, então, vocês estão aonde aqui em Portugal?
Iaiá: Estamos morando em Aveiro, a Veneza portuguesa.
Daniel: A Veneza portuguesa, agora fez um ano… dia 15, né, foi dia 15, já agora faz um ano.
Iaiá: Um ano aqui… junto com a pandemia.
Alexia: Pois é, isso que eu ia falar… mas vocês foram direto para Aveiro, ou não?
Iaiá: Não, fomos direto para Lisboa, ficamos uma noite… ficamos uma ou duas noites lá e aí viemos para ficar na casa do meu irmão… que o meu irmão mora na Gafanha.
Alexia: Aha… e aí pronto… e aí se apaixonaram por Portugal e nunca mais saíram.
Daniel: Meio que estava fora dos planos, entendeu Alexia… a gente estava com um outro projeto… o que é que acontece a gente no momento estava na Croácia a gente estava há 7 meses lá… e a gente…
Iaiá: Conseguimos lá uma residência…
Daniel: Aí depois que a gente conseguiu a residência… a gente pegou a residência para vir para Portugal… porque a gente na verdade não tinha planos de parar mesmo para morar em algum país… a gente tava viajando, né… então assim… e aí tudo aconteceu quando a gente tava no meio da viagem… depois de vários países e tal que a gente visitou…
Iaiá: A pandemia nos pegou na Romênia.
Daniel: Aí a gente estava na Romênia… no interior da Roménia… e aí tudo fechou e a gente falou “não, vamos voltar para a Croácia, porque a gente já tem um pouco de estrutura lá… e a gente conhece algumas pessoas e tal”... vamos para lá… e ficamos assim, vamos dizer, preso né… a gente ficou preso lá, e assim pensando, poxa, podia voltar para Portugal porque já que a gente tem que esperar mais tempo eu acho que vai ser longo… o tempo… a gente vai ter a família por perto… uma comida que é mais parecida com a brasileira…
Alexia: Sim… a língua né, que nessas horas também conta muito… muito… imagina, lidar na pandemia com croata… não dá, não tem como…
Daniel: É complicado… imagina na Romênia, né… no interior. Assim, por algumas horas eu diria… a gente não consegue voltar pra Croácia… ia ficar na Romênia, no interior da Romênia… ia ficar muito tempo vivendo lá, no interior da Romênia.
Alexia: Então peraí… vamos explicar um pouco, porque vocês estavam viajando por esses lugares todos… o que é que vocês fazem… quem são vocês… porque senão o pessoal vai ficar assim espera aí Portugal, Romênia, Croácia… que que é isso? Explica aí.
Iaiá: Na verdade nós vivemos uma vida vamos dizer assim… normal né. Vamos dizer normal… nós trabalhávamos lá… eu era professora… Daniel era professor também… de música… eu era professora de língua portuguesa… e aí a gente decidiu que a gente tinha que mudar nossa vida… porque… como estava tudo muito já certo, encaminhado… muito estável…
Daniel: Muito estável na verdade…
Iaiá: Eu era efetiva do estado, já era concursada… Daniel também já tinha uma escola de música bem fechada… bem formada e já era sucesso vamos dizer assim né… nós já tínhamos alcançado o nosso sucesso.
Daniel: O sucesso nesse sentido né Alexia… de estar bem profissionalmente… com uma vida estável… então a gente pensou assim “ah estamos a chegando aí aos 40 anos…” na época a gente estava chegando aí aos 40 anos.
Iaiá: Na época…
Daniel: Eu acho que vai ser a última chance da gente fazer uma loucura assim, na vida né…que a gente ainda está com muita energia e tal…
Iaiá: A gente ainda tinha muita vontade né.
Daniel: E aí, ao contrário do que acontece com muita gente… a gente resolveu sair do Brasil porque estava na verdade com uma situação estável e Ok…
Iaiá: Porque sabe quando você pensa na sua vida… e você pensa…
Alexia: O que que eu fiz?
Iaiá: Caramba, é só isso mesmo? E agora é só esperar… aposentar… e é isso?
Alexia: É verdadeiro FOMO, né. Fear of missing out… é exatamente isso… tipo… será que é só isso a minha vida… essa vidinha entre aspas… no Espírito Santo… com a mesma coisa todos os dias… por mais que vocês sejam felizes… e realmente… eu era feliz no Rio também, eu era feliz lá... mas eu queria mais… eu queria experimentar o mundo, eu queria conhecer… eu queria vir para a Europa… experimentar a Europa… só que a pandemia veio, obviamente né… e… e aí não deu nem para ir para a Espanha… assim, nem botar o pezinho ali… mas… eu entendo perfeitamente o que vocês estão falando… porque quarenta anos hoje em dia gente são os novos trinta… assim como os trinta são os novos vinte… então assim… a gente ainda tem muito tempo para viver… Graças a Deus…
Iaiá: Por favor!
Alexia: E vocês são do Espírito Santo mesmo?
Daniel: Mais ou menos…
Iaiá: Mais ou menos… de coração a gente é do Espírito Santo.
Daniel: Eu sou mineiro. Por acaso a gente nem se apresentou né… eu sou o Daniel… ela é a Iaiá…
Iaiá: Meu nome é Aislan… mas todo mundo acaba esquecendo, não consegue falar… então ficou Iaiá.
Alexia: Peraí, fala seu nome de novo inteiro…
Iaiá: Aislan.
Alexia: Aislan, ok.. Bom com o meu sotaque carioca, vai ser Aislan… tá… então Iaiá fica muito mais fácil mesmo…
Daniel: E… onde que eu estava mesmo?
Iaiá: Na verdade ele nasceu em Minas, e eu nasci em São Paulo.
Alexia: Onde?
Daniel: Conselheiro Lafaiete.
Iaiá: E eu sou de São José dos Campos.
Alexia: Ok, ih, ó! Já é a segunda pessoa aqui que veio falar com a gente de São José.
Iaiá: Pois é, ó… de São José para o mundo!
Alexia: Eu já fui para São José… eu já fui bastante pra São José até… há muito tempo atrás… nem lembro qual era a época, mas eu lembro que São José era super bem desenvolvida… é uma cidade grande com muita indústria né… eu se não me engano Petrobras é de lá… ou alguma coisa assim…
Iaiá: Eu não tenho certeza, mas é uma cidade industrial e assim tem muita gente… que assim… como é que eu posso dizer… bairros gigantes de pessoas que trabalhavam só para aquela empresa, para aquela indústria. Mas assim não me recordo porque eu só nasci lá mesmo.
Daniel: É, a gente passou uma vez por lá assim mais ou menos… a gente não conhece.
Alexia: E aí você isso saiu de São José e foi para Minas… é isso.
Iaiá: É no caso eu nasci eu nasci lá… mas aí meu pai trabalhava na Andrade Gutierrez… então nós tínhamos que mudar de cidade, de estado… assim de 2 em 2 anos, de 4 em 4 anos… e aí moramos no Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Minas… aí depois de Minas nós fomos para o Espírito Santo…. Eu conheci Daniel no Espírito Santo.
Alexia: É porque o seu sotaque não é interior de São Paulo, não é São José. Por isso que eu fiquei assim ué.
Daniel: É, a gente praticamente é capixaba, porque eu também não tenho sotaque mineiro… é bem capixaba… meio Rio de Janeiro sem o S puxando.
Alexia: Exato, exato… eu adoro sotaque capixaba, para mim isso é muito bom de ensinar aos alunos porque é uma coisa muito mais neutra do que o meu, do que o do interior de São Paulo… até o mineiro também.
Iaiá: Nordestino também… mais neutro, né.
Daniel: É verdade.
Alexia: E aí, peraí, e aí Daniel, você saiu de Conselheiro Lafaiete e foi para o Espírito Santo também novinho ou depois?
Daniel: Não… eu fui para Juiz de Fora sim por um tempo… minha família é de Juiz de Fora… pertinho lá do Rio né… e aí fomos para o Espírito Santo, eu devia ter uns 6 anos de idade então quer dizer… a minha vida quase toda foi no Espírito Santo.
Iaiá: É como eu digo também, do meu caso né… eu sou do Espírito Santo porque minha cultura, minha formação sabe como pessoa e identidade no mundo é do Espírito Santo.
Daniel: A gente defende a moqueca capixaba, sabe…
Alexia: Levanta a bandeira… bandeira do estado. E é de Vitória mesmo… vocês moravam em Vitória?
Iaiá: Nós moramos a maior parte da nossa infância e adolescência na Serra e depois que nós fomos morar em Vila Velha. Nosso coração é Vilha Velense.
Daniel: A gente ama muito Vila Velha.
Iaiá: Canela Verde.
Alexia: Eu nunca fui… eu nunca fui para o Espírito Santo. É um lugar que muita gente diz que é muito mais calmo do que o Rio de Janeiro… sempre que eu falo eu comparo com o Rio né... muito mais calmo que o Rio… praias maravilhosas… comida muito boa… e as pessoas são muito simpáticas então assim…
Daniel: É, é isso aí. A gente ficava falando que o Espírito Santo é tipo o Rio de Janeiro só que tipo caçulinha assim…
Alexia: Só que deu certo, só que deu certo…
Daniel: É tranquilo, é mais tranquilo.
Iaiá: Ainda comeu pouco feijão, vamos dizer assim… pouca feijoada.
Alexia: Entendi, é um wanne be Rio, wanna be Rio… é isso.
Iaiá: Tem até umas praias assim… muito parecidas com montanhas, igual o Pão de Açúcar… nós temos Pão de Açucar… um pãozinho sabe.. um brioche.
Alexia: Gente, olha só, tem Cristo em Poços de Caldas, que é a cidade do meu pai. Então assim, eu acredito que tenha Pão de Açúcar e Cristo em todos os lugares do Brasil. Então tá tudo certo.
Daniel: Exatamente.
Alexia: E aí, vocês já se conhecendo, vocês sempre gostavam de viajar, de se mudar, de explorar?
Iaiá: É, olha que interessante… eu conto essa história… vou contar rapidinho… Pelo amor de Deus… de quando eu tinha 2 anos de idade.
Daniel: Quando eu nasci… é uma história rápida… quando eu nasci.
Alexia: É uma sessão de terapia, digamos assim.
Iaiá: Quando eu era mais nova, eu e minha irmã a gente brincava muito sobre viajar… A gente assistia esses filmes sobre mulheres bem sucedidas, coisas assim… e eu falava não, eu vou morar sozinha, eu vou ser secretária e eu vou viajar o mundo. E aí a gente fez uma lista de lugares que a gente tinha vontade de conhecer… e sempre que a gente viajada de um estado, de uma cidade para a outra a gente ficava meio que competindo para ver quem ficava na janela, para ver as coisas e eu sempre pensava assim nossa, mas o que que tem depois dessa montanha. O que que acontece do outro lado ali… e do mar… o que acontece depois desse mar desse oceano… aquilo era como se fosse mesmo uma gasolina mesmo pra mim sabe. E eu tinha interesse de conhecer as coisas que eu não conhecia… e aí foi amadurecendo com o tempo. Claro que a nossa infância e adolescência foi uma infância e adolescência muito… não vou dizer que foi pobre, mas foi uma infância de muita privação, muita necessidade. Foi uma época que o dinheiro desvalorizava muito rápido e que mudava também a moeda né. Era cruzeiro era cruzado, era cruzado novo, cruzeiro velho, cruzeiro antigo…
Alexia: E teve a era Collor também, que foi uma loucura.
Daniel: Muita crise assim e a gente não tinha perspectiva nenhuma assim… de viajar, de sair… nem de sair do estado sabe… a gente não pensava nisso… a gente pensava em… até mesmo na adolescência… um dia a gente vai casar… vai morar em algum lugar… e vai ser isso. A gente não tinha esse pensamento. A gente começou a viajar mesmo em 2010… a gente já tinha 30 anos de idade, então a gente saiu e aí a gente viu que realmente aquilo que a gente gostava… a gente começou a viajar muito assim… com muita frequência… para muitos lugares, até a gente chegar nessa decisão aos 40 anos, de falar assim “ah vamos largar tudo e vamos viver na estrada”.
Iaiá: Foi o período que popularizou as passagens aéreas, que popularizou as viagens… então todo mundo já tinha mais acesso… e aí eu senti… a gente sentiu…
Daniel: Essa melhora… então agora sim a gente pode pensar nisso.. tinha uma coisa dentro da gente obviamente…
Iaiá: Claro…
Alexia: Claro, tinha um bichinho dentro… vamos explorar o mundo… e quando vocês falam sobre popularizar, é importante a gente explicar aqui… que é o parcelamento do brasileiro que todo mundo adora parcelar passagem, né? Isso é uma coisa que não existe praticamente aqui na Europa… nos Estados Unidos.. Então quando eu falo que o brasileiro gosta de parcelar nem que seja uns R$ 50… vai parcelar… vai estar lá parcelando. Parcelamento é muito importante… e é uma coisa que eu desaprendi a fazer morando aqui em Portugal. Eu não tenho cartão de crédito ou só tem cartão de débito e é isso. Eu não faço mais nada… claro que assim eu tenho cartão de crédito da nossa empresa que aí é outra história né… você paga pelas coisas da empresa. Mas eu, Alexia, pessoalmente se eu não tenho dinheiro naquele mês eu não tenho… pronto, acabou! Eu não vou parcelar nada. Não, eu não tô falando sobre preciso comprar uma TV e não posso… claro que você pode parcelar… mas o Brasil é tudo, tudo você vai parcelar…
Iaiá: Você vai comprar uma roupa e você vai parcelar.
Daniel: E engraçado, por que por exemplo, aqui em Portugal, na Europa central… aqui a gente não parcela né… não tem nem essa opção se eu não me engano… e em outros países da Europa, mas do leste europeu, não tem nem cartão… não aceita cartão, sabe? É só dinheiro…
Alexia: Sério?
Daniel: É sério… a gente passou muito aperto por conta disso… a gente só tinha um cartão, que era um cartão internacional brasileiro… o nosso trabalho é todo no Brasil praticamente… e a gente usava aquele cartão brasileiro para comprar passagem… comprar em site.
Alexia: Usar as milhas… isso é muito interessante porque eu tenho uma aluna… uma antiga aluna, na verdade, aqui do Carioca Connection, a Amanda… Amanda se você tiver escutando “Oi”... ela… ela começou a viajar, logo antes de estourar a pandemia ela começou a viajar… logo antes de estourar a pandemia… ela saiu da Califórnia foi para América do Sul se eu não me engano… ela foi para Panamá… uma coisa assim, eu não lembro direito. E aí ela começou a ir para o interior, interior do Brasil… onde ninguém consegue falar inglês porque não chega lá né. Interior, interior mesmo… assim as cidadezinhas que não tem turismo. E ela começou a explorar isso… ela já falava português, então não foi tão difícil para ela. Mas ela virava para mim falava “Alexia, ninguém aceita cartão aqui… aqui, aqui é tudo dinheiro… não tem cartão”... claro que não, não tem infraestrutura, não tem nem maquininha, não tem nada… dinheiro é que as pessoas conhecem. É exatamente isso…
Iaiá: Mas é interessante que essas… esses países que a gente tá falando era a capital…
Daniel: Era capital da Bulgária, sabe? Sofia, Sarajevo… Então não tinha, era dinheiro… a gente tinha que ter dinheiro de alguma forma. E aí o que a gente fazia era tocar.
Alexia: Então, então vamos mudar a história agora para isso, porque que vocês começaram a viajar pela Europa? Que que deu assim? Qual é o projeto de vocês… que uma coisa é “ah, vou tirar um ano sabático e vou explorar”... é isso ou não?
Iaiá: É e não é.
Daniel: A gente saiu até com uma coisa muito bem planejada assim “ah vamos começar na Europa… porque a gente já conhecia aqui… já sabia que ia ter uma segurança maior para a gente ir aprendendo a viver aquela nova vida.
Alexia: Aqui.. em Portugal?
Daniel: Por acaso a gente desceu em Portugal mesmo, a gente começou em Portugal.
Iaiá: Mas não era pra ser Portugal.
Daniel: É, vários planos assim, foram desandando no meio do processo.
Iaiá: A gente ia comprar passagem por outro país, só que a passagem mais barata que tinha na época que a gente comprou, no período que a gente comprou… era Portugal-Porto. Era a passagem mais barata que tinha.. Então foi isso.
Daniel: E aí a gente veio para cá por conta disso acredito… por causa da questão da segurança… e pô, se a gente precisar dormir na rua, eu acho que vai ser mais tranquilo. Pra gente aprender mesmo… aprender num lugar mais seguro, mais tranquilo… do que aprender tipo “ah vamos direto para a África”, sabe? Tipo… era muito arriscado.
Iaiá: É porque a gente não conhecia, nunca teve contato com o continente todo né. E o continente que a gente tinha mais segurança de começar era ou América do Sul né… o continente americano vamos dizer assim… e a Europa.
Daniel: E a gente já tinha acabado de fazer muitas viagens pela América do Sul. Então a gente falou ah… “vamos para Europa agora que aí vai dar tudo certo”... aí depois a gente vai para Ásia e tudo mais e vai tentando…
Iaiá: Era mais uma forma de adaptação, a gente veio para cá inicialmente para se adaptar a esse novo estilo de vida…
Daniel: E fomos surpreendidos.
Alexia: Sim… e aí foi quando vocês criaram o Instagram Mundonautas ou não?
Iaiá: O Mundonautas por incrível que pareça… o Mundonautas foi depois que a gente transformou o canal em Mundonautas… porque o canal não era Mundonautas.
Daniel: É que o canal que existia é o meu canal Harmonia Fácil… era outro canal. Então esse assim que traz mais oportunidades para gente, no sentido de trabalho e tudo mais. Com o início da viagem a gente foi meio que começando a postar as coisas no Instagram… “ah vou fazer um canal no YouTube também”... Mundonautas… na época se chamava Histórias que Ninguém Quer Ouvir.
Alexia: Adorei!
Daniel: Porque, tipo, a gente queria mostrar pras pessoas e ninguém nunca queria ver os vídeos… nunca queria assistir.
Alexia: É igual aquela coisa do Instagram que é “olha muita gente me perguntou esse vestido é de não sei onde…” e ninguém perguntou… ninguém quer saber da onde é… ninguém perguntou… é mais fácil falar “olha ninguém perguntou mas tá aqui, tá aqui a história” vocês podem assistir ou não.
Iaiá: Eu brinco com Daniel quando eu quero contar uma coisa para ele eu falo assim “olha eu quero te contar uma coisa eu sei que você não quer ouvir… mas eu vou contar”.
Daniel: É mais ou menos esse o espírito. Aí a gente criou o Instagram e YouTube nesse espírito. Depois como a gente embarcou mesmo na idéia de tocar muito na rua para pegar aquela grana e investir na viagem… sempre pegando dinheiro de tocar na rua e as coisas foram dando certo como a gente queria que era pegar carona… fazer couchsurf… workaway… tudo isso a gente queria viver… de experiência…tudo, todo o tipo de coisa.
Iaiá: Dormir na rua… dormir na barraca…
Daniel: E aí ele falou, vamos mudar o nome… alguma coisa mais positiva, que tem a ver com que a gente tá fazendo. Porque o outro era um nome engraçado mas ele é meio negativo né…Histórias que ninguém… pô então não quero ouvir mesmo. Então virou Mundonautas Musicando. E aí a gente foi postando no Instagram muito e depois a gente pegou os vídeos do Instagram e foi fazendo no YouTube.
Alexia: Legal… então, então… gente que história! Porque eu acho incrível a coragem que vocês tiveram para fazer isso… porque eu jamais teria. Eu sou eu sou assim “vamos se mudar para Rússia?” vamos… eu não tem o menor problema. Mas eu não me vejo fazendo o que vocês fizeram sabe… tipo de dormir na rua e etc… por experiência, por necessidade, ou coisa parecida… eu… eu não sei eu acho que eu ficaria desesperada. Então assim, eu fico impressionada e admiro muito a coragem que vocês tiveram, porque não é para todo mundo. Vocês sabem disso, né? Não é para todo mundo.
Iaiá: É, a verdade é que você conhecer uma nova cultura… já não é para todo mundo. Porque existe essa coisa do choque cultural… que muitas vezes… isso a gente vai falar mais para frente, mas, muitas vezes a gente se reconhece melhor quando a gente tá olhando de fora. A gente se entende melhor quando a gente tá olhando de fora… e aí quando… quando você entende que você tá numa outra cultura e que você não tem mais o seu chão, né, os seus amigos, o seu teto… você começa a se reinventar… e você começa a criar uma nova perspectiva.
Alexia: Sim, eu concordo plenamente assim… por mais que eu tenha vindo aqui para Portugal, já com uma estrutura, porque eu sou cidadã portuguesa também… meu pai conseguiu a residência por mim… o Foster tá com residência também… eu senti isso… por mais que seja Portugal, praticamente a mesma língua… é uma outra cultura. A gente praticamente não tem amigos aqui por causa da pandemia… a gente não conseguiu chegar ao tempo de fazer amigos, sabe? Então assim, por mais que a gente vá para o Coworking e fale com as pessoas é diferente… a gente tá falando como se fossem colegas, sabe? Não amigos de sair… e ainda não dá né… porque Portugal é lockdown, não lockdown… aí pode a vacina, não pode a vacina… a gente nunca sabe o dia de amanhã aqui… e eu sinto muito isso também… porque é uma coisa que eu e o Foster a gente conversa muito… ele tomou a vacina agora essa semana e aí ele olhou para mim falou “que que você tá querendo mais depois que a gente tome a vacina e volte ao normal e etc”... aí eu falei “eu quero conhecer o Porto, porque eu não conheço o Porto… eu conheço a minha região… o meu lugarzinho aqui de passear com o Buddy, etc. Mas o Porto em si, Portugal em si, a gente não conhece… então eu tô muito animada para essa nova fase assim de redescoberta minha… dele, de nós dois e da onde a gente mora.
Iaiá: E o Porto… é… vamos dizer que a cidade que a gente mais visitou.
Daniel: Mais visitou… e a gente sempre desde o início de tudo… a gente ama o Porto… sempre que dá a gente dá uma ida ao Porto. É maravilhoso.
Iaiá: Você vai amar!
Alexia: Eu amo, eu já amo… já na pandemia… então imagina sem pandemia. Eu amo.
Daniel: A nossa situação se assemelha muito no sentido de Portugal assim… com a de vocês… porque quando a gente chegou aqui tava meio que no auge ainda… assim né… tava no auge então a gente passou um ano de pandemia dentro de casa. A gente também não conhece muita gente… a gente trabalha em casa né… a gente trabalha online… então assim…
Alexia: É muito difícil… é muito difícil… e é muito engraçado que eu fiz dois amigos na fila da vacina que são da Turquia. Então assim… eu usei agora a vacina como maior evento social que eu tive num ano e meio. Foi exatamente isso. Eu me senti entrando num show, sabe? A fila do Rock in Rio foi exatamente… o que eu tive. Mas… mas isso é muito legal porque agora… Iaiá e Daniel de agora… o que que vocês querem para o futuro? Vocês vão continuar em Portugal ou querem se jogar no mundo de novo? Quais são os próximos passos imaginando o mundo dando certo de novo? Abrindo as fronteiras,etc.
Iaiá: É, o nosso caso é que a gente ainda tá esperando a bendita residência temporária. Que a gente deu início… a gente fez todo o processo e tal…
Daniel: Estamos no meio do processo, né… de residência. A gente tá meio que esperando isso mais com a intenção cair no mundo de novo, só que com mais facilidades né. Na medida que você tem uma residência europeia… você consegue… é mais tranquilo. Então tem isso daí…
Iaiá: Tem lugares que a gente quer ficar mais tempo também… entender melhor a cultura… aqui dentro do espaço Schengen. E aí vamos ver se vai dar.
Daniel: O nosso, o nosso plano é voltar pra estrada sim… o quanto antes assim…
Alexia: E quando vocês falam voltar pra estrada… a maioria das viagens de vocês é por carro… é tipo um trailer? Ou é avião?
Daniel: É ônibus.
Alexia: Ah é ônibus… ok, ok. É o ônibus.
Daniel: Aí algumas situações… carona assim… que agora eu acho que vai ser menos provável… muito menos provável, né….
Iaiá: Por causa do pós, né… o pós pandemia. Vai ser bem complicado.
Daniel: Muita coisa vai mudar também. No sentido de couchsurfing também… acho que não vai acontecer mais…
Iaiá: No sentido de muita coisa relacionada ao mochileiro… vai mudar muita coisa.
Alexia: Vai…eu acho que vocês deviam investir no trailer e rodar a Europa.
Daniel: Seria maravilhoso mesmo.
Iaiá: Eu já fico cantando a pedra aqui para ele.
Daniel: A gente adora, a gente fica olhando assim, aí vê uma vanzinha, um motorhome… seria muito bom… a gente tem isso em mente né… mas daí tudo depende dessa documentação toda e tem a carta de condução que a gente precisa trocar depois aqui… então tem toda essa…
Alexia: Eu troquei agora né.
Daniel: É, eu vi, eu acompanhei nos stories.
Alexia: Gente, olha a burocracia é… quando junta Brasil e Portugal… um dependente do outro… é insuportável… então depois eu dou as dicas para vocês como é que faz…
Iaiá: Por favor ajuda nóis.
Daniel: Isso é um documento importantíssimo… principalmente pra quem gosta de viajar né.
Alexia: Agora nessas viagens de vocês antes de pandemia, vocês encontraram muitos brasileiros nesses lugares mais afastados ou não…
Iaiá: Sim, e foi impressionante assim… o contato que a gente teve com os brasileiros, parecia que a gente era já da família.
Daniel: A conexão era muito rápida.
Iaiá: A conexão era assim… ah então me passa seu facebook, me passa seu instagram… vamos sair, vamos beber!
Daniel: É porque como a gente tocava na rua… então, por exemplo, tava no centro de Sarajevo tocando na rua e aí de repente vinha um casal dançando forró… ué como assim?
Iaiá: Já virava amigo…
Daniel: E aí gente, tudo bem? Estamos viajando aqui pelos Balcãs… caramba… brasileiro… a gente ficava ainda muito surpreso assim, quando via… mas acontecia… em hostel muitas vezes…
Alexia: Eu acho impressionante, porque mineiro tem em todos os lugares… não existe… mineiro tem todos os lugares mesmo…
Daniel: Olha eu aqui.
Alexia: Exato, então já começa por aí…
Iaiá: E Minas é um país.
Alexia: Exato, e eu quando eu tava numa cidadezinha que ninguém vai lá nos Estados Unidos… na Carolina do Sul daqui a pouco o Foster me cutuca e fala “aquele cara tá falando português” eu falei “claro que não, óbvio que não”... ele reconheceu antes de mim porque eu já tava tão assim “OK, inglês, inglês, inglês, inglês…” eu não escutei o português assim… não não me chamou atenção. Aí ele “Alexia, ele está falando português”. Aí ele cutucou o menino e falou “Você é brasileiro?” e o menino “eu sou, vocês também?” meio que… que incrível… que que vocês estão fazendo aqui? Cara, a gente estava no Festival da Maçã… então assim… é um Festival da Maçã no interior dos Estados Unidos que ninguém vai… ninguém vai e a gente encontra brasileiro lá.
Daniel: Encontra… estamos em todos os lugares do mundo.
Iaiá: É, teve até uma situação que a gente foi fazer um workaway na Croácia, e aí fomos para uma cidadezinha do interior que se chama Netrepicie… na divisa com a Eslovênia. era uma coisa muito impressionante assim. Era uma cidadezinha mesmo… era uma rua só. E aí a nossa worker… como é que a gente chama… nossa patroa… o que que é?
Alexia: Boss, nossa chefe, né?
Iaiá: E aí ela foi e falou “olha tem uma brasileira que mora na cidade do lado”… e aí eu falei “o que?”. Não… nós vamos encontrar com ela. Ela era do Rio de Janeiro, casada com um croata… tinha um filhinho e estava morando na cidadezinha mesmo bem perto. Eu falei “gente não é possível”.
Alexia: É incrível, eu acho isso incrível… isso quando eu e o Foster ficamos no Alentejo aqui em Portugal mesmo, por dois meses assim numa aldeia… descobriram que eu era brasileira e ele era americano, e aí virou a falação da aldeia né… tem dois internacionais aqui… aí daqui a pouco chegam pra gente e falam “olha tem outro brasileiro aqui na aldeia também” aí eu “ah é?”... não achei muito estranho porque brasileiro aqui em Portugal principalmente tem em todo lugar… mas era o padre da aldeia… isso que eu achei o máximo. E aí o padre convidou a gente para jantar. O cara da nossa cidade… tá, tipo… no máximo 40 e poucos anos. Nossa geração… a gente saiu para jantar, fomos lá na casa dele… escutamos música ele era apaixonado pela Elis Regina sabe… então assim ai que bom… eu tô em casa eu me senti eu tô em casa.
Iaiá: Mas é impressionante isso… essa conexão que a gente tem com os brasileiros fora da nossa da nossa terra… como a gente se conecta com tanta facilidade.
Daniel: É até mais forte.
Alexia: Eu não sei se é uma coisa do Foster em si, mas por exemplo quando ele vê outra americano ele fala “ah, he is american”... pronto é assim não tem muito interesse sabe… mais um… Ok. Agora se for da Carolina do Sul… sim… se for do sul dos Estados Unidos aí já tem uma conexão maior. Poxa, já tem outra pessoa do sul aqui. Com a gente não… é brasileiro de qualquer lugar. Isso que eu acho muito engraçada de ver… seja do Acre, do Rio… qualquer lugar… ”ah é brasileiro? Tá bom, vamos lá para casa”.
Iaiá: Sou amigo de todo mundo… quero ser amigo de todo o mundo.
Daniel: Em relação a isso… a gente estava na Albânia, no interior da Albânia… sempre no interior né… e a gente tocando na rua e descobrindo como é que era fazer aquilo naquele país tão fechado, diferente né. Olha, veio vindo um casal assim, com filho no colo que eu falei “são brasileiros”... a gente tocando aqui e eu de olho neles… eles estão vindo… e o cara… o casal do Rio de Janeiro… o cara é jogador de futebol na Albânia, de um time ali da região.
Iaiá: Famoso.
Daniel: Nesse dia a gente conheceu… aí gente conversou muito com ele e tal… no dia seguinte a gente jantou na casa deles. Churrascão… “vocês vão comer comida brasileira”. Tinha muito tempo que a gente não comia.
Alexia: Ai que delícia… e eu acho que quanto mais interior, mais família as pessoas viram, né. Então assim, você encontrar no interior da Albânia.. gente eu nem sei colocar no mapa isso para ser bem sincera sabe. É impressionante… é impressionante. E aí em Aveiro, tem muitos brasileiros também não tem?
Iaiá: Tem muitos… muitos brasileiros.
Daniel: Não tanto quanto Braga assim eu diria, mas aqui tem muitos.
Alexia: Pois é, Braga é capital brasileira aqui de Portugal.
Daniel: Bragasil, né.
Iaiá: Mas aqui a gente conheceu muitos brasileiros, mas a gente… acho que por conta também da pandemia a gente não conseguiu se conectar muito…
Daniel: Sempre menos… ah legal… prazer e tal…
Iaiá: Não pode pegar na mão, não pode abraçar… como a gente tem costume de cumprimentar as pessoas dessa forma…
Daniel: É muito estranho isso né… você encontra brasileiro, ah, prazer, tudo bem? Bem de longe…
Alexia: É, você quer, você faz aquilo tipo, de de dar um abraço ou então apertar a mão… e aí você dá dois passos para trás de novo.
Daniel: Fica sem saber o que fazer, muito triste isso.
Iaiá: E aí que acaba não tendo essa conexão com outros brasileiros né. E aí a gente até conheceu muitos brasileiros aqui… muitos… vamos dizer assim… uns 10 no máximo…
Daniel: Ah, na fila do supermercado, na lavanderia… não é nada de amizade assim… ah pô, legal… prazer… boa sorte aí.
Alexia: É, eu não sei… às vezes eu fico vendo que por exemplo… a comunidade internacional de Portugal é muito mais ligada do que a comunidade brasileira em si. Então deixa eu tentar explicar… por exemplo eu conheci esses turcos na fila da vacina… a gente tá marcando de sair, de se encontrar no parque… de sair para passear com o Buddy… porque eles adoram cachorro… estão morrendo de saudade de cachorro deles lá na Turquia, etc, etc. Enquanto o brasileiro… “vamos se encontrar?” “Vamos, semana que vem depois a gente vê…” eu não sei, pelo menos eu sinto isso dos brasileiros daqui. Pode ser uma questão da pandemia… pode ser isso tudo, mas desde 2019 quando a gente chegou, eu sinto meio que isso. Meio que deixa eu te conhecer um pouco melhor… antes de a gente sair em si. Talvez seja uma coisa do Porto que é uma cidade grande entre aspas… que as pessoas são um pouco mais fechadas… já moram aqui há muito tempo… já se acostumaram com jeito português de ser… e que a comunidade internacional por todo mundo tá realmente muito fora da sua cidade… das suas culturas e etc meio que se juntam. Talvez seja isso.
Iaiá: É… Eu acho que tem um pouco da questão da pandemia, mas também tem um pouco… falando assim mais abertamente… eu acho que o brasileiro quando ele vem para cá, ele vem com um foco né… que é trabalhar… é estabelecer moradia… é pagar as contas e viver uma vida de trabalho… e vamos dizer assim… trabalho volta para casa descansa… volta para o trabalho. Eu acho que o brasileiro quando ele vem para cá ele não tá muito focado em morar mesmo… como vivia no Brasil… tipo de sair, de passear, de conhecer as pessoas, de ter mais amizades e tal… então eu acho isso até um pouco triste porque… se vem para morar, porque não viver como se vivia no Brasil né… com os amigos e tal e tudo. Eu não sei, isso é só uma suposição então…
Alexia: Não, mas olha eu tô perguntando isso para todo mundo que eu tô falando aqui no Carioca Connection. E cada um mora num lugar diferente e tem pontos de vistas diferentes… então tem pessoas que realmente… não quer nem chegar perto da comunidade brasileira porque quer experimentar aquele país que tá vivendo. As amizades daquele país seja americana, seja romeno, seja da onde for e tudo bem… não tem o menor problema sabe? Contanto que você seja feliz… não tem que forçar amizade com ninguém só porque é brasileiro né. Também tem isso… mas assim, eu e o Foster a gente sente falta… eu acho que a gente esperava ter mais… obviamente, de novo a pandemia aconteceu mas a gente esperava ter mais e não aconteceu e agora ele tá frustrado… um não aguenta mais olhar para a cara do outro… aí a gente pegou um cãozinho que é o Buddy… que mudou nossa vida completamente… e agora somos muito felizes com isso. Mas é…
a vida é difícil quando você mora fora… a vida é muito difícil. E aí me leva para outra pergunta… o que que vocês acharam de mais difícil nesse tempo morando fora? O que vocês tiveram mais dificuldade de adaptação?
Iaiá: Eu acho que a saudade que eu tenho da minha família é muito grande, dos meus amigos. Quando a gente falava com os nossos amigos e com a nossa família logo no começo… nossa, chorava e todo mundo chorando… aquela coisa toda. E também eu acho que… a comida né… a culinária…
Daniel: É porque assim, a gente ia trocando muito de país né, então meio que com o tempo a gente foi se adaptando meio que rapidamente… aprendendo a se adaptar aquela coisa da cultura ali… que no início é um choque muito grande… então a gente demorava… “ah, mas que saudade da comida brasileira, que não sei o que…”... aquele mesmo papo de sempre… a gente falou “não”... a gente tem que ir um pouco… se desconectar um pouco para poder focar em conhecer a cultura e se abrir para aquilo… e entender… procurar entender… fazer amizades daquele país. Então a gente foi lidando com essas dificuldades assim… seja da comida, da língua, do jeito das pessoas né, a gente procurava sempre entender.
Iaiá: Eu acho que quando você tá longe dos amigos e da família e tudo mais… você tenta compensar com alguma coisa. Você compensa… é a vida né… é harmonização… é a compensação o tempo inteiro. Então por mais que a gente tivesse longe tinha tinha como se comunicar… tinha como ver né… não podia tocar… mas pode ver… pode falar. Então isso acaba reconfortando mais e deixando a gente mais tranquilos em relação à família. Mas eu acho também que como a gente viveu muito tempo em contato com outras pessoas em hostel… em workaway… em couchsurfing… eu acho que isso tudo ajudava a gente a não sentir tanto tanto peso dessa falta.
Daniel: A gente estava sempre muito em movimento… fazendo muita coisa sempre. Então a cabeça já… já se libertava um pouco disso.
Alexia: Com certeza… a minha pior fase foi ano passado quando o Foster teve que voltar para Estados Unidos e a gente tinha maior incerteza do mundo que que ia acontecer em relação à pandemia, em relação ao nosso relacionamento… porque a gente estava há 7 meses separado… então assim quando a gente vai voltar a se ver de novo… sabe? E assim eu morro de saudade dos meus amigos no Brasil… morro! Eu acho que fazem… acho que quatro anos que eu não vejo uma das minhas melhores amigas e três anos que eu não vejo uma outra delas… que ela veio para cá… é, 2, 2 anos que eu não uma delas. E assim… por exemplo, na pandemia você sair com o Buddy para passear era o que me salvava, sabe? Tipo… eu preciso sair na rua para passear por mais que tivesse lockdown você podia fazer isso pela lei. Então isso salvava, do tipo, eu preciso manter minha mente também funcionando… porque ficar dentro de casa o dia inteiro não dá… não tem como. Então isso eu eu meio que faço muita conexão para as pessoas que quando viajam pela primeira vez sozinhas ou não. Porque a solidão pode ser muito complicada na hora que você viaja… por mais que você queira se aventurar… conhecer novas culturas, etc… tem aquele seu porto seguro… do seu país, da sua cidade, que você tá acostumado… você já conhece o cara da padaria… você já conhece o garçom do bar que você vai sempre… você já conhece… você já sabe para quem ligar caso acontecer alguma coisa. E quando você se aventura para férias ou não… para trabalho ou não… para outro país, a solidão é uma coisa muito complicada. Então… ainda bem que vocês tinham vocês dois né.
Daniel: Isso que eu ia dizer… a gente fica imaginando isso… nossa já pensou… fulano de tal… viajar sozinho por tanto tempo… deve ser uma solidão danada. Que até às vezes nós dois juntos… a gente sente uma solidão. Em dupla assim sabe?
Iaiá: É a solidão de estar em contato com outra pessoa… né… com outras pessoas também. Por mais que a gente seja um casal que a gente já tá há muito tempo junto… a gente não vivia 24 horas juntos… a gente tinha um trabalho, a gente ficava o dia inteiro fora… só se encontrava no almoço… ou às vezes nem no almoço. Se encontrava à noite. À noite é comer, tomar um banho e dormir. Então a gente não tinha… era um casal… vivia junto… partilhava momentos… mas eram momentos muito curtos… específicos… e às vezes até muito atarefados e corridos. E aí quando a gente se viu juntos 24 horas… sem mais ninguém… sem mais ninguém acompanhando a gente… e sem contato com mais ninguém… por exemplo na pandemia né… a gente ainda conseguiu lidar melhor né. Porque eu dava o tempo dele… ele me dava meu tempo…
Alexia: É isso.
Iaiá: Ele queria ir lá tocar a música dele… ele lá num canto e eu ia desenhar num outro. A gente faz isso muito em casa também… ele vai lá para varanda, que ele adora ir lá na varanda… e eu fico aqui editando meus vídeos, jogando meu joguinho…
Alexia: Aqui em casa também… O Foster vem aqui para esse quarto que a gente está gravando agora e aí ele fica tocando o violão dele… que tá aqui na parede… fica tocando violão dele… eu fico lá na sala com Netflix, com livro, com qualquer outra coisa… e é isso. Porque a gente sabe que a fama do brasileiro, a fama do Brasil é ser um povo muito caloroso e que necessita de conexão humana, né. E é verdade… a gente precisa da conexão humana… a gente precisa sair… precisa ver as outras pessoas e tal… e isso eu não sei como é que é por exemplo,na Romênia, na Croácia… como é que as pessoas lidavam com isso. Como é que era?
Iaiá: Pois é, na Croácia… a gente amou ficar o tempo que a gente ficou lá… porque a gente… primeiro a gente ficou em Zagreb… foi muito legal. A gente ficou em um Airbnb partilhado com a dona, a dona morava na casa e a gente dormia na sala. E depois a gente foi para Netretici… fizemos o workaway…
Daniel: Vários lugares da Croácia.
Iaiá: E depois… depois de lá a gente foi para… Rieka… nossa até fugiu o nome… a gente morou lá durante 7 ou 8 meses.
Daniel: Rieka, o lugar que a gente mais morou. E assim a gente se surpreendeu muito com a receptividade do público lá… porque a gente lá no leste europeu a gente, eu costumo dizer que a gente era exótico.
Alexia: Isso que eu ia falar, exótico né.
Daniel: E a gente só tocava música em português… só música brasileira. Então as pessoas paravam para assistir a gente… caramba… tipo assim encantadas, sabe?
Iaiá: A nossa host falava que eu tinha um tom de pele… porque a gente estava no período de verão né… então a gente ia muito no lago que tinha… que fica na divisa com a Eslovênia… tinha um lago lá muito bonito… um riozinho… umas quedinhas de água. E a gente ficava lá e tomava sol, então eu fui ficando mais morena né… e ela falava “você é a princesa brasileira” você tem uma cor muito linda… olha o seu cabelo…
Daniel: Gente como vocês são diferentes e tal né. E a gente foi muito bem recebido… em geral assim sabe… em todos os países lá, a gente se sentiu muito bem acolhido…
Iaiá: Auto estima lá em cima.
Alexia: Pois é, mas é.
Daniel: Maravilha. A propósito voltando para aquela coisa do orgulho… porque a gente tava muito desiludido com o Brasil no momento em que viemos para Europa… que a gente saiu para viajar. Tava um caos né… ainda está.
Alexia: Isso que eu ia falar né… ainda está.
Daniel: Muito no fundo do poço… eu costumo dizer assim que é “game over”… tem que reiniciar o Brasil.. porque já…
Alexia: Tem que passar para o próximo mundo… tem que passar para a próxima fase. E a gente tem que fazer por nós mesmos… porque o Brasil tá parado, tá estagnado lá.
Daniel: Aí viemos e aí a gente se deu conta assim do valor que tem a cultura brasileira, a música brasileira, e a gente ficou… a gente se deu conta mesmo, sabe Alexia? Tipo assim, caramba, como a música brasileira é legal… como é bom… como as pessoas gostam da dança do Brasil, do samba… da língua.
Iaiá: E eu quero dizer ainda mais assim… eu quero parabenizar os artistas… principalmente por difundir tão positivamente a nossa cultura na Europa, nas Américas, em todos os lugares. Porque o momento que eu me senti mais… que eu senti mais orgulho do Brasil e de ser brasileira, foi lá na Croácia, com o povo lá querendo falar português… os croatas tentando falar português. Tendo academia de capoeira… gente, era a coisa mais linda… dava vontade de chorar. Eu chorei várias vezes né.
Alexia: Eu tô arrepiada tá… escutando você falar isso.
Daniel: A gente estava tocando na rua e aí veio um mestre de capoeira de lá… falando português com a gente e a gente “como assim?”... e ele falava super bem português… croata… “eu tenho academia de capoeira e tem muitos brasileiros lá”… muita gente lá falava português por conta da cultura, da filosofia da capoeira. Além de aprender capoeira eles aprendiam a falar português. A gente foi visitar… a gente tocou com eles todos… com os instrumentos de capoeira, foi maravilhoso, emocionante mesmo.
Iaiá: Foi lindo, foi emocionante. E foi o momento que eu pensei assim “caramba, eu não teria isso esse momento se não tivesse vindo esse grupo de brasileiros que difundiu tão lindamente, tão positivamente a nossa cultura brasileira né”... o MPB… que a gente tocava na rua e o pessoal parava e ficava assistindo… batendo palma… e falava assim “ah, toca aquela, toca aquela”. Como que sabem…
Daniel: Conhecem, conhecem, é impressionante.
Alexia: Isso é tão… é tão lindo de escutar. Eu tenho um grupo de alunos da Alemanha… uma é italiana, os outros dois são alemães… e por diferentes razões eles amam o Brasil e querem continuar falando português. E a última aula que a gente teve com eles foi sobre música… sobre a nova MPB sobre antiga MPB… que eu pessoalmente conheço muito mais da antiga do que a nova. A nova ainda tô meio perdida com a quantidade de gente que tá aparecendo. Então, por exemplo, claro que eu conheço o Gilsons né que são os netos do Gilberto Gil… mas assim… muito especificamente, só porque tem nome que eu consigo reconhecer. E é muito interessante saber porque por exemplo… eles conhecem a Marisa Monte… eles conhecem o Rubel que é da nova MPB… mesmo sem eu ter falado sobre. E eu assim “mas como é que vocês conhecem isso tudo, sabe?” porque por mais que a gente saiba que o Brasil é um país grande… é muito famoso por causa do futebol, do Pelé, da cultura, do carnaval etc… são coisas muito específicas que eles sabem. Eu sempre fico muito impressionada com isso.
Daniel: Inclusive tem um aluno meu… que assim, quando a gente foi para a França… a gente ficou muito assim… em casa de amigo, de aluno e de inscrito do meu canal. Então tipo assim, tinha um escrito do meu canal e ele falou “ah, eu moro aqui em Paris, quando vocês vierem para Paris na França pode ficar na minha casa.”
Alexia: Ai que delícia.
Daniel: E ele… assim fala português melhor do que eu… entendeu? Então isso me impressionou muito… porque a gente chegou na casa dele ele falava assim muito bem o português… ele falou “vou te mostrar umas coisas aqui da música brasileira…” e é impressionante o quanto que eu não sabia em relação a ele. Ele sabia muito mais que eu. Sobre samba… ele falando de vários compositores de samba que eu não conhecia. Na sala dele tinha umas coisas de carnaval.
Iaiá: Vários instrumentos brasileiros.
Daniel: Várias coisas assim… e ele apaixonadíssimo pela música brasileira especificamente. Na França muita gente é apaixonada com a música brasileira… muito mesmo.
Iaiá: Seu Jorge é sucessão lá.
Alexia: Sim, eu fico impressionada… o Seu Jorge aqui em Portugal, na Espanha, na Itália e na França assim… são esses quatro países que ele faz muito sucesso. Eu não imaginava.
Iaiá: Tem aquela Bel Gil… Bel Gilberto…
Daniel: Bebel Gilberto.
Iaiá: E ela fez muito sucesso aqui também.
Daniel: Mas tem muito, muito… é impressionante… a gente ficou impressionado assim… especialmente na França.
Iaiá: E apaixonado… e mais orgulhoso ainda. Eu sinto muito orgulho, muito mais orgulho hoje do que quando eu morava… tinha moradia no Brasil.
Daniel: É a gente não tinha muita noção né, eu acho.
Alexia: Eu acho que é isso também, uma forma de a gente viajar e falar que é brasileiro… eu falo com orgulho tá, eu nunca falo ah… eu sou brasileira eu sou brasileira e portuguesa aqui… mas eu sou brasileira… sou nascida lá… meu é completamente carioca… eu sou sangue brasileiro.
Iaiá: Vocé é do país Rio de Janeiro.
Alexia: Exato, eu sou do país Rio de Janeiro. E nessas horas que eu vejo o quão o Brasil faz parte de mim, e o quanto que é importante… foi importante e continua sendo importante para o meu crescimento como mulher, como brasileira, como ser humano, ter feito parte de uma cultura tão incrível…. tão miscigenada. O Brasil é completamente uma mistura de tudo e de todos… com muito orgulho graças a Deus. E assim, existem os seus problemas, os seus preconceitos, racismo… existe isso tudo no Brasil como em qualquer outro lugar do mundo. A gente não escapa disso, infelizmente, é uma doença. Mas assim, uma coisa que eu sinto falta do Rio, é você poder andar na rua e ver todas as pessoas de todos os gêneros e de todas as cores e ver aquele colorido maravilhoso… que tinha no Rio. Eu não sei como é que é no Espírito Santo… no Rio de Janeiro era assim igual. E aqui aqui em Portugal aqui no Porto é muito mais branco do que negro, do que mulato, do que outra coisa. Então assim, eu fico com muita saudade de ver todo mundo vivendo, junto sabe? De de ver aquela mistura bonita de índio com branco, com loiro de olhos azuis, e o passaporte brasileiro no mercado negro é o que mais vale por qualquer um pode ser brasileiro.
Daniel: Exatamente, tá todo mundo lá… japonês, chinês, africano, peruano.
Alexia: E aí, para finalizar o nosso papo aqui, eu tenho duas perguntas: a primeira pergunta é, tirando os clichês digamos assim do Brasil por exemplo Salvador, São Paulo, Florianópolis, Rio de Janeiro… qual lugar que vocês indicam para as pessoas visitarem no Brasil? Qualquer lugar.
Iaiá: Olha eu vou indicar dois lugares que eu não fui, infelizmente, não fui… ainda…
Alexia: Ainda.
Iaiá: Mas eu vou, quando eu voltar pro Brasil… eu já falei com o Daniel. Quando a gente voltar… a gente vai ficar né… uns dias com a família e tudo… matando saudade… mas a gente vai ter que ir. É lá em Manaus, que é o meu sonho. E Lençóis Maranhenses.
Alexia: Nossa mas olha… anteontem a Adriana que mora na Inglaterra falou que a Atins, que fica lá no Maranhão, perto de Lençóis Maranhenses, é um musto go. Tem que ir…. tem que ir de qualquer forma, sim.
Iaiá: Agora um lugar da nossa da nossa terrinha… Rio Claro.
Daniel: Rio Claro e Caparaó… com certeza… muita gente não conhece o Caparaó do Espírito Santo… que é onde tem o melhor café do mundo.
Iaiá: Não é polêmica, é só um fato.
Alexia: Um fato, tá ótimo.
Daniel: É um lugar muito bonito no meio da natureza, com águas claras mesmo assim… cristalinas… e muitas cachoeiras. É um lugar pouco conhecido e fascinante. Caparaó no Espírito Santo.
Alexia: Eu tenho medo de dar… não que eu tenho medo… eu tenho assim… gente será que a gente fala para todo mundo ou guarda só para gente sabe.
Daniel: Fiquei pensando nisso agora Alexia, juro… fiquei pensando será que eu falo… será que eu divulgo?
Alexia: Mas é…. eu tenho medo, porque por exemplo, Fernando de Noronha já foi invadido, né? Antes era uma reserva… era não sei o que… hoje em dia gente… aquilo lá foi invadido. Enfim, enfim, aquelas coisas que acontecem no Brasil com turismo. A minha segunda pergunta é… eu tô gostando de perguntar isso para muita gente, porque as diferentes histórias e a maneira como é que as pessoas imigraram ou querem voltar para o Brasil ou querem continuar viajando ou querem mudar de país de onde estão agora… difere muito, né? Então depende muito da sua personalidade… de como é que você foi criado… e o porquê que te levou a morar fora. Então assim, a Alexia que existia há 10 anos atrás que queria viajar, mas queria viajar só por viajar, assim turismo, não é a Alexia de hoje em dia. A Alexia de hoje em dia quer continuar explorando o mundo, mas ela quer morar nos lugares. Ela não quer simplesmente ficar viajando e voltar. Então assim, quem são Daniel e Iaiá antigamente? Quem eram, na verdade… e quem são hoje em dia? Existe uma diferença ou não?
Iaiá: Nossa, gritante. Uma diferença muito grande. A primeira vez que a gente veio aqui para a Europa, foi muito interessante porque a gente queria fazer turismo né. Aí eu quero ir… aí a gente ia para um lugar… a gente corria para outro lugar e usava o metrô. Então você não vê mais nada né. É metrô… você não vê nada… e você chega lá no lugar você tira foto, foto, foto… missão cumprida. Agora tô com fome, vamos comer… aí entrava no metrô…
Alexia: E horário né… horário.
Iaiá: Aí teve uma vez… a gente estava na primeira viagem ainda… né… a gente já tinha visitado alguns lugares… mas a gente tinha passado num lugar e eu falei assim “ah Daniel, eu queria tanto sentar, ficar aqui…”.
Daniel: Ficar aqui parado sem fazer nada…
Iaiá: “Ficar aqui, tomar um cafézinho… olhar pro ambiente… ficar só… sabe aquele momento de contemplação… ficar aqui contemplando…” e a gente não fez… a gente não fez isso. Aí foi…
Daniel: Traumático.
Iaiá: Foi traumático quase. E aí… depois quando a gente voltou… numa segunda ou terceira vez né… que a gente voltou, que a gente começou a fazer as coisas… mais do nosso jeito… porque a gente também tava acompanhada a gente não tava sozinho. Eu tinha que fazer o que o grupo queria fazer… não podia fazer o que a gente queria fazer.
Daniel: Era muito diferente.
Alexia: Eu odeio viajar em grupo… mas eu odeio… assim… se for um grupo que todo mundo sabe fazer cada coisa e depois se encontra para jantar por exemplo… tá ótimo. Porque existem gostos diferentes personalidades diferentes… e não tem que ficar um seguindo o outro… eu tenho por favor disso… pavor, pavor.
Iaiá: Pois é, aí dessa vez a gente começou a fazer mais as coisas que a gente queria fazer. E ponto turístico… a gente começou a perder os pontos turísticos, sabe? “Ah, tem a London Eye… vamos na London Eye?”... ai não vamos não…
Daniel: Tem uma situação que marca muito isso, é o seguinte… a gente uma vez viajou para Ouro Preto… e a gente falou “ah temos que ir pra Ouro Preto e vamos visitar da Mariana também”… porque é uma regra vamos dizer assim né… e a gente foi muitas vezes a Ouro Preto… e a gente nunca foi a Mariana. Porque aí a gente tava se libertando dessa necessidade de ter que cumprir com aquela obrigação, vamos dizer assim… pô… não tenho nada contra Mariana, não é isso. Mas é porque tava tão bom em Ouro Preto, com amigos…. no hostel… fazendo coisas, indo para um lado indo para outro… indo pra cachoeira… mas e agora a gente vai ter que ir lá em Mariana… e a gente “ah não, mas poxa, a gente pode continuar aqui”. Então ele foi se libertando sabe Alexia, dessas coisas tipo a gente tem que ir visitar o lugar… e muitas vezes depois dessas viagens a gente assim “nossa foi tão legal daquela vez que a gente foi na padaria né….” tipo coisas super simples.
Alexia: E coisas que você vai descobrindo por exemplo… Ok, você já sabe mais ou menos o tipo de comida que você quer ou gosta de comer e etc… mas não necessariamente um restaurante em si. Então nessas andadas né… que você dá pela cidade… porque eu amo andar… eu gosto de andar e descobrir pra mim é andando. Ok pegar metrô quando é… metrô… desculpa… quando é mais longe né. Quando assim você vai perder muito tempo… mas assim, andar eu andei já pelo Porto inteiro. Eu subo e desço todas as ruas daqui. Lisboa eu confesso que eu fico exausta depois. Porque é muito morro gente… é uma loucura aquilo. Tem que ir realmente muito bem preparado fisicamente. Mas você vai descobrindo os restaurantezinhos, as padarias, o senhorzinho que vende o doce ali da esquina… sabe? Você vai descobrindo essas coisas que às vezes nem quem mora aqui ou no lugar sabe. E você faz a sua viagem, você faz as suas memórias… e não as memórias que o Instagram falou. Eu acho essa a diferença assim.
Iaiá: Eu vou contar um “causo”… eu sou contadora de causo… eu devia ser mineira.
Alexia: Você é brasileira Iaiá… você é brasileira.
Iaiá: Mas eu morei em Minas muito tempo também. Mas é interessante assim… uma vez… logo quando a gente veio para cá para uma nova etapa da nossa vida… logo que a gente foi para cá, a gente conheceu duas brasileiras no hostel. E aí “fala mais, vamos sair, vamos sair, vamos sair…” aí “vamos sair”... ah aí eu tenho que ir para tal lugar, eu tenho que ver tal coisa… porque amanhã a gente vai embora. Ah então tá bom, então vocês vão e a gente se encontra em tal lugar. Aí nos encontramos com elas… ela falou “ah eu quero comer um negócio no mercado”... “eu quero comer um negócio no mercado…” acho que era um polvo a lagareiro, uma coisa assim.
Daniel: É, em Lisboa.
Iaiá: Em Lisboa. Aí ela “não, porque eu quero comer um negócio no mercado que não sei o que…” e aí a gente falou “ó, a gente não vai comer no mercado não, porque no mercado é muito caro…”.A gente foi no Pingo Doce, compramos lá um bacalhau com natas e estava maravilhoso. E aí encontramos com ela e vieram três perninhas desse tamanho assim de polvo… com duas batatinhas. Eu acho que ela pagou uns 15 euros.
Daniel: Foi super caro assim…aí a gente viu a decepção no olhar dela, sabe? Porque a gente estava perto assim, meio que assistindo aquele momento.
Iaiá: Aí ela pegou o prato e perguntou pro rapaz “é esse o prato mesmo de quinze euros?” Aí ele falou assim “é esse mesmo”. Aí ela tal, comeu e tal… toda decepcionada. E aí fomos de novo no supermercado e compramos duas garrafas de vinho né… e ela falou assim “como é que a gente vai abrir… vocês são doidos… como é que a gente vai abrir essa garrafa… que era garrafa de rolha”... e aí eu falei assim “minha filha, tudo tem jeito nessa vida”. Eu arrumei copo, arrumei abridor, fiz amizade com o cara…
Daniel: Aí a gente almoçou de frente ali pro Tejo.
Iaiá: Compramos umas batatinhas.
Daniel: E ela tava com a gente também tomando vinho na hora… aí ela parou e falou “nossa gente…”
Iaiá: “Esse momento aqui foi muito mais inesquecível para mim… da gente aqui sentado em frente ao Tejo, almoçando, tomando vinho…”
Daniel: Super chique né, vamos dizer assim.
Iaiá: Num copo de plástico… copos descartáveis.
Daniel: E ela falou “me arrependi de ter comprado aquilo…”
Iaiá: “Esse momento foi muito mais inesquecível do que eu comer o negócio lá, caríssimo”. E aí isso também me marcou, muito porque a gente tava tão empolgado em tá junto com as pessoas… independente se o vinho custava 10 euros ou 20 euros… o vinho custava 1 euro e meio… a gente tomou um vinho de um euro e meio num copo de plástico e ela amou… e para ela foi experiência mais inesquecível.
Daniel: Ela até chorou na hora. Foi um momento assim… muito especial pra ela.
Iaiá: Muito especial pra gente… pra mim também.
Daniel: Ela falou assim “mudou a minha vida”. Assim como a gente teve momentos que a gente começou a entender o que que era viajar né... Foi pra ela aquele momento.
Iaiá: A gente ouvindo o pessoal tocando música… um show ao vivo pra gente ali, sabe. E aí esses momentos pra mim são muito mais inesquecíveis do que eu… sei lá… subir a torre Eiffel, ou então…
Daniel: Que também é legal né… as vezes…
Alexia: Não gente, olha sem julgamento quem quiser faz o que quiser…não tem o menor problema. Eu quando for a Paris eu vou querer ir em todos os museus e pronto, sabe.
Daniel: Super roots lá na Grécia… aí chega no hotel… só durmo na acrópole… eu não quero nem saber… e foi super divertido sabe… foi um dia mágico… também foi legal.
Alexia: Eu tenho os meus momentos super turistas que eu não tenho o menor problema… agora não arrasto ninguém comigo. “Foster, você quer assistir a troca da guarda no Palácio de Buckingham?”... “Não, pelo amor de Deus.”... eu vou, eu vou lá… tô lá assistindo e depois eu te encontro e tudo bem. Não é um julgamento… eu acho que o que é importante aqui é cada um fazer a experiência de acordo com a sua personalidade… e não porque viu que é legal…. que sabe tipo assim, é uma coisa forçada… cada um faz o que quer.
Iaiá: É ter a consciência de que é bom para mim pode não ser para o outro. Mas o importante é você ter sua experiência… é você tá de bem com você mesmo né. Você ter um aprendizado para você mesmo. É o seu aprendizado, ninguém aprende por você. É a sua experiência… então… foi só um momento que eu quis partilhar porque às vezes a gente também cria muita expectativa para coisas, pra momentos e a gente se decepciona. Então às vezes a gente precisa meio que se desprender de certos… de certas obrigatoriedades né… e entender que a vida é um momento… não é planejamento. A gente até pode planejar, mas o planejamento às vezes cai por terra.
Alexia: Exato, exato... eu antes de conhecer o Foster eu era muito planejadinha… eu trabalhava num lugar que exigia a logística de mim… exigia o planejamento senão ia tudo por água abaixo no trabalho. Só que acabei levando para minha vida pessoal. E aí quando eu conheci o Foster, o Foster assim “Alexia, é porque tudo é cronometrado…” sabe, “porque a gente tem que fazer exatamente tudo certinho do jeito que é?” e foi difícil para mim… pra eu me desprender disso na minha parte pessoal e continuar na minha parte profissional. É muito difícil… e hoje em dia é assim “ah vamos sair para andar?”... “vamos”... aí viu um lugarzinho para sentar… sentou… encontrou gente na rua ou não e tá tudo certo e vambora né… e vamos em frente, e vamos em frente. Olha gente eu queria agradecer muito vocês aqui… Daniel última pergunta para você… quem quiser ter aula com você como é que faz?
Daniel: Olha tem o meu canal do YouTube, é o Harmonia Fácil. Lá eu dou dicas de violão, falo de harmonia. Nasceu como um canal só de harmonia que virou um canal de dicas de música, de violão. E você pode mandar mensagem para o Instagram “Harmonia Fácil Oficial”, pode mandar direct. Eu sempre tô lá de olho em todas as mensagens. Tem o link lá né… da bio que tem todos os cursos também que eu ofereço… e é isso aí.
Alexia: Ótimo, ótimo. Eu acho que você vai ter um novo aluno, que tá sentado lá na sala… eu acho…
Daniel: Eu to aqui olhando aquele violão atrás ali… to tentando pensar qual é.
Alexia: Então, daqui a pouco ele vem aqui falar com você. Bom gente muito obrigada, espero que vocês tenham gostado… e até a próxima.