Transcription
Alexia: Bruna, obrigada por você estar aqui.
Bruna: Eu amei essa ideia que você convidou a galera.
Alexia: Sim. E foi muito engraçado, porque eu postei no meu Instagram pessoal e surgiu tanta gente. Eu assim, “Eu nunca fiz tanto sucesso como eu fiz…”
Bruna: Que engajamento!
Alexia: Exato. Queria isso para vida, um dia de blogueirinha, total.
Bruna: Amo, gente. Meu sonho é ser blogueira, inclusive. Mas eu não tenho esse tipo de paciência.
Alexia: Não. Tem que ter muita força de vontade, porque é difícil.
Bruna: E pouca autocrítica.
Alexia: Pois é, total. Coisa que eu tenho total.
Bruna: Eu não consigo. Eu fico me achando ridícula o tempo todo. Então não ia conseguir ter essa vida de blogueira. Admiro quem consegue.
Alexia: Eu acho que uma semana de blogueira, mas aquela blogueira mesmo, sabe? Tipo Chiara Ferragni. Ir para todos os lugares de graça, fazer tudo de graça, ter tratamento de princesa, eu tô feliz.
Bruna: Como é que era aquele programa que tinha do Netinho? Era Dia de Princesa?
Alexia: Ai, verdade, nossa! Mas isso faz muito tempo mesmo.
Bruna: Muito tempo mesmo. Acho que a geração Z não tenha essa referência.
Alexia: Não. Aliás, a gente tá ficando muito velha, caraca. Eu fico vendo o Tik Tok, etc, assim, é muito difícil acompanhar as novas tendências.
Bruna: Eu não tenho o menor talento para Tik Tok, eu acho muito complicado, não acontece. Dancinha é uma coisa que eu não vou estar fazendo.
Alexia: Mas olha, meu Tik Tok é ótimo, tá? É política…
Bruna: Aí tudo bem.
Alexia: Em geral, nada de dancinha. Não tem nada de dancinha.
Bruna: Inclusive, sabe quem tem um Tik Tok maravilhoso? O Victoria and Albert Museum.
Alexia: Ah sério?
Bruna: O Tik Tok deles é incrível. Eles fizeram um vídeo há pouco tempo atrás, que era só de bunda de escultura que eles tem na coleção. Tem uma música, não lembro qual é a música que toca. Mas é maravilhoso, super recomendo se você quiser estar tendo um momento descontraído cultural ao mesmo tempo, Tik Tok do Victoria and Albert é tudo.
Alexia: Eu vou ver, com certeza, eu amo essas coisas.
Bruna: É muito bom.
Alexia: Cara, antes de a gente conversar de verdade, eu fui parar no Tik Tok de Mendocino que fica lá no meio da Califórnia, de uma mulher que faz parte de um museu histórico, digamos assim e que, assim, tem, por exemplo, o Sheriff's book que bota quem é que foi preso, quem é que não foi naquela época, de 1914.
Bruna: Ah….
Alexia: Foi em 1920, tem toda a história por trás. Daí tem o diário de uma mulher que morava na cidade onde eles estão. Assim, diário de anos e cada dia ela lê uma parte. Eu fico perdida, maravilhada nessas histórias. Eu te mando depois
Bruna: Eu quero. Eu amo essas coisas. Tipo, eu trabalho em museu, né? Então é óbvio que eu amo essas coisas.
Alexia: Exato. Aproveitando a deixa, Bruna, me conta onde você está agora, o que você faz da vida e como é que você foi parar aí? Então vai.
Bruna: Então, estou em Londres, tô aqui tem 4 anos e meio quase, 4 anos e poucos meses, alguns meses. Como eu vim parar aqui? Então, eu mudei em 2017 e, na época, eu estava trabalhando e tal, não estava amando. E um belo dia…
Alexia: Lá no Rio?
Bruna: Lá no Rio. Eu estava morando no Rio na época, quer dizer, eu morei minha vida inteira…. Morava no Rio e estava trabalhando, mas sabe quando você não está assim, sentindo… “O que eu estou fazendo aqui? Não quero mais.” E aí eu tinha… Meu pai tem um primo que mora aqui há 700 anos e uma vez a gente falou com ele no Skype, uma coisa assim e aí ele falou, “Ah, mas porque você não muda pra cá então?” Aí eu, “Ah…” E meio que deixei, sabe assim?
Alexia: Sim.
Bruna: E aí isso foi assim, num domingo. E aí eu estava no trabalho na quinta-feira, quarta ou quinta-feira seguinte, muito de saco cheio. Eu estava sozinha, não tinha ninguém lá. Eu tava tipo…
Alexia: Triste.
Bruna: Eu tava meio assim, tipo, “O que eu vou fazer?” E aí eu comecei a pensar. Eu lembro que eu peguei o telefone e liguei pro meu pai e falei, “Pai, eu acho que eu vou.” Foi bem assim. Ele, “Tá, então fala lá com o meu primo, vê se rola de repente ficar na casa dele.” Aí eu falei com ele logo no domingo seguinte. E aí eu comprei a passagem, foi assim. Comprei a passagem para um mês depois, foi como aconteceu. Aí eu mudei e cá estou.
Alexia: Pois é. Então vamos lá, porque você estava odiando o antigo trabalho no Rio, você não tem então nenhuma conexão com a Inglaterra em si, a não ser o seu primo que morava aí já há anos.
Bruna: É, eu tinha esse primo que morava aqui. Eu já tinha vindo aqui, eu já conhecia. Em 2014 eu tinha uma amiga que fazia mestrado aqui, tinha vindo do Rio para fazer mestrado, e aí eu vim visitar, passei uma semana, duas, sei lá, com ela. Me apaixonei completamente, eu estava assim, “Gente, eu amo esse lugar.”
Alexia: Londres é um máximo.
Bruna: É um máximo. Eu estava assim, amando, completamente apaixonada. E aí eu voltei pro Rio de viagem e meio que botei na cabeça que um dia eu ia morar aqui, mas assim, sem nenhuma perspectiva de que isso pudesse se tornar realidade em nenhum momento próximo pelo menos, sabe? Mas assim, além disso, eu não tinha nenhuma grande conexão com o país ou com Londres especificamente. Apenas amava, assim. E eu falei, “Eu vou.”
Alexia: Não tinha o que perder, né? Se não der certo, eu volto. É tipo isso.
Bruna: Mas eu acho que era uma coisa, tipo, era uma época que sei lá, sabe quando você entra naqueles momentos, “Eu tô meio sem perspectiva”? Você não achava nenhum trabalho maneiro. É aquela coisa, né? O Brasil, do Rio principalmente, paga pouco. E trabalha demais. Sabe? E você meio que tava sem muito foco também. E eu sempre quis trabalhar em museu, sempre quis trabalhar em cultulra. Eu já trabalhava com arte no Brasil. Nessa época, eu trabalhava numa marca de moda. Mas sempre trabalhei com arte, trabalhei com artista, como assistente, etc. E fazer isso no Rio é muito difícil.
Alexia: Muito, porque não tem, né? Assim, tem…
Bruna: Não tem.
Alexia: Mas não tem. É aquilo, existem os artistas, mas não tem.
Bruna: Falta uma estrutura.
Alexia: Exato. A parte cultural do Rio… São Paulo, sinceramente eu não sei, pode ser até melhor, claro…
Bruna: É, São Paulo acho que é muito melhor. É difícil também, eu acho que é difícil entrar para trabalhar num museu, sabe? A não ser que seja terceirizado, talvez. A maioria dos museus, pelo menos era assim, né? Você tem que ser concursado e aí tem todo esse rolê, e é difícil. Aqui os museus são públicos também. Você não tem essa… a contratação não é tão burocrática.
Alexia: Sim, sim. E você se formou em que para estar trabalhando com cultura?
Bruna: Então eu fiz design, mas desenho industrial, né? A minha concentração era em moda que eu gostava… Eu gosto de moda, assim, eu gosto da pesquisa de moda, mas quando eu comecei a trabalhar com moda, eu vi que eu não gostava disso. Mas desde a faculdade eu comecei a trabalhar com um artista, com assistente dele, e trabalhei por alguns anos, acho que uns 4 ou 5 anos como assistente. E também fiz uns cursos no Parque Lage, e depois eu cheguei a fazer, acho que uns 2 anos talvez de uma graduação de Arte Visuais na UERJ. E acabei não terminando por causa de trabalho e etc. Mas foi assim que eu fui entrando nessa área, sabe? E aí, quando eu vim pra cá, eu comecei a procurar trabalho em museu, que também não é fácil.
Alexia: Isso que eu ia perguntar, não foi fácil?
Bruna: Foi muito difícil. Mas assim, na época eu achava muito difícil, né? Hoje em dia, sei lá, não foi tão difícil assim. Mas eu acho que é porque eu tive muito foco, sabe? Quando eu mudei pra cá, primeiro eu trabalhei… Os primeiros meses, “Eu preciso de dinheiro.” Os primeiros meses eu trabalhei num restaurante, dois ou três meses. Depois eu consegui um trabalho numa empresa que fazia pesquisa de mercado nos Estados Unidos. Então era eu o dia inteiro, todos os dias, ligando para lojas dos mais diversos segmentos nos Estados Unidos para pedir informação sobre como cada produto estava vendendo, se vendia bem, qual era a tendência que as pessoas buscavam. Tinha muita gente desligando na minha cara todos os dias, era muito gostoso.
Alexia: Eu imagino, porque você está ligando lá para os Estados Unidos e, tipo, “Olha, você pode parar tudo que você está fazendo para me passar essas informações?”
Bruna: Aí você liga pra umas lojas que a pessoa não tem tempo, sabe? Umas lojas tipo Foot Locker, sabe? Tipo, Nacis, a galera, tipo, “O que?”
Alexia: Estão lá desesperados tentando organizar estoque, fazendo tudo, é óbvio.
Bruna: É, e assim, tendo que inventar um papo com a pessoa, sabe? Porque tinha umas coisas que eu tinha mais noção, tipo, ligar pra alguém pra saber como um tênis da Nike está vendendo, sabe? Mas tinha umas paradas, uns produtos que a gente fazia, tipo trailer, tipo moto Harley-Davidson. Tipo, lavadora de roupa. É meio que, aspirador de pó, eu não sei. Tem que inventar um papo com um brother que a vida inteira dele é trailer, entendeu? E é um cara assim, do sul dos Estados Unidos, no meio do nada e tem que botar com papo com o cara, e ele querer falar pra você…
Alexia: Sim.
Bruna: Como que ele tá vendendo, quanto dinheiro ele tá ganhando, entendeu?
Alexia: E outra, ele já acha isso muito estranho, ter que compartilhar esse tipo de informação. “Por que você quer saber quanto que eu to vendendo, quanto que eu to ganhando.” Sabe?
Bruna: Era uma coisa muito doida. Por mais que você saiba que é não pessoal, ele só não quer falar com você. Às vezes eu ficava muito chateada que a pessoa desligava na minha cara, sabe? E eu também já trabalhei nisso durante um ano, mas chegou um ponto que eu não lembro exatamente… Eu mandava tanto currículo que, às vezes, me ligavam e eu não sabia nem que vaga era aquela mais, não sei. E aí me chamaram para uma entrevista para trabalhar no Museum of London, mas era terceirizado, casual, eles te chamam quando precisa. E aí eu diminuí minhas horas no meu trabalho e comecei a trabalhar lá, quando eles me chamavam eu ia…
Alexia: Se inserindo aos poucos, né?
Bruna: Foi aos poucos, porque eu meio que entendi assim, “Olha, é o que eu quero fazer? Não.” Porque era assim, para aquela galera, o trabalho era ficar recepcionando as pessoas que vinham no museu, dar informação, fazer aquela, meio que patrulhar as galerias, ver se a galera não está roubando nada, mexendo nas coisas, comendo Mcdonalds no meio da galeria, sabe?
Alexia: Que aliás, deve ter muita gente sem noção, você deve ter visto muita coisa.
Bruna: Muita gente sem noção. As pessoas são… pessoas. É muito difícil. E obviamente assim, não era o trabalho que eu mais queria, não era o meu sonho, mas era maneiro, e eu estava num ambiente que eu gostava, eu amava o Museum of London, né? Quando eu tinha vindo a London pela primeira vez, eu tinha ido lá e achei maravilhoso. Inclusive, não é um museu tão conhecido assim, eu acho, do grande público, mas é maravilhoso. Se alguém estiver vindo a Londres também, Museum of London, super sugestão.
Alexia: Isso é uma coisa que, por exemplo, eu já fui duas vezes a Londres e nunca fui no Museum of London. Eu fico nos mais turísticos que eu quero…
Bruna: É, tipo V&A, British Museum que todo mundo vai. Mas esse museu, assim, eu acho ele muito underrated, sabe? As pessoas não conhecem e ele tem duas sedes. E a outra que é pequena assim, menos gente ainda conhece, mas também é muito maneira. Mas enfim, não era o trabalho que eu mais queria, o trabalho em si, mas eu estava trabalhando no museu que era o que eu queria. E para mim, já estar lá, já era mais fácil. Se você já está dentro, né? Para você depois se inscrever numa outra vaga, mudar de área, enfim. E aí depois de lá, teve uma época que eles não estavam chamando muita gente, teve uma época depois de Natal, que não tem ninguém de férias, sabe? E aí a pessoa da agência que era responsável pela gente me ofereceu de trabalhar na British Library, que é onde eu trabalho hoje. Também nesse mesmo esquema, mas aí era mais fixo, na verdade, era todo dia e enfim. Mas também terceirizado. E eu falei, “Show, vamos lá.”
Alexia: E nunca mais saiu.
Bruna: E nunca mais saí, porque eu comecei a trabalhar lá e eu fiquei alguns meses, eu acho, comecei em março. E aí em agosto ou setembro, mais ou menos essa época assim, abriu uma vaga que a vaga que eu me inscrevi, que é o meu trabalho agora. E aí era uma vaga interna e aí eu me inscrevi. Aí eu fiz entrevista e tudo, e passei. E aí eles me ofereceram um trabalho, aí eu passei a ser permanente, né? Tipo funcionária mesmo.
Alexia: Sim, sim.
Bruna: Graças a Deus.
Alexia: Que bom. E nessa época, assim, entre você mudar de emprego e etc, você estava na casa do seu primo ou você já tinha conseguido apartamento?
Bruna: Não, eu já tinha saído. Eu fiquei lá uns dois meses mais ou menos.
Alexia: Então foi rápido para você conseguir.
Bruna: Eu mudei em maio… Até você tirar as documentações, né? As coisas todas. Mas levou algumas semanas, então eu comecei a trabalhar já em junho. E aí, uma vez que eu estava trabalhando, eu já consegui juntar um dinheiro para poder alugar um lugar.
Alexia: Sim, sim. E Bruna, como é que foi a questão do inglês? Você já foi pra aí com o inglês fluente ou foi adaptando, digamos assim?
Bruna: Já. Porque eu estudei na escola americana quando eu era criança. Minha mãe sempre falou inglês em casa. Graças a Deus ela fez isso, inclusive, então assim, não foi um problema. Foi bem tranquilo nesse ponto. Apesar de que ingleses nem sempre são muito fáceis de entender, por mais fluente que você seja.
Alexia: Não, não mesmo.
Bruna: É muito difícil, às vezes, as pessoas… Hoje em dia é mais tranquilo, mas no começo, nos primeiros meses, as pessoas às vezes falavam comigo e aí eu…
Alexia: Você travava.
Bruna: Eu pedia para repetir umas três vezes, era meio constrangedor. Mas no geral, não tive tanto problema, mas eu acho que é uma coisa também que eu dei sorte, porque eu acho que é complicado para muita gente.
Alexia: É, porque por mais que Londres seja uma cidade exatamente internacional, muito internacional, você escuta mais outras línguas do que o próprio inglês nas ruas, tem essa questão da língua, né? Ainda mais você que tem que lidar com o público ou tinha que lidar com o público e etc. Eu fiquei imaginando se você passou algum tipo de perrengue ou não. Eu, toda vez que vou para os Estados Unidos, para o sul da Carolina do Sul, para entender a família do Foster e dos amigos da família do Foster eu ficou assim, “Meu Deus.” Mas que bom então que a língua não foi nenhum tipo de problema. Claro que existem perrengues na vida, mas não foi um processo assim, decisivo pra você, né?
Bruna: Não, não foi. Não foi um obstáculo a mais, entendeu? Foi uma coisa que ajudou muito. Inclusive, acho que se eu não tivesse essa “vantagem” da língua, provavelmente eu não teria tido aquele trabalho de ficar ligando para os Estados Unidos o dia inteiro e ficar sofrendo com o povo desligando na minha cara. Mas era muito engraçado esses caras assim. Eu lembro que teve um cara que eu falei uma vez, e aí ele perguntando, “Mas de onde você está ligando?” Porque a gente não falava que a gente estava ligando de Londres, né? Assim, de cara, a não ser que a pessoa perguntasse, a gente não mentia. Eu falava, “Ah, eu tô ligando de Londres.” Aí ele, tipo… Ele falou, tipo “London, England?” Daí eu, “É.” Aí ele assim, “Mas o que você está fazendo aí? Porque você está morando aí?” Aí eu falei, “Ah, sei lá, quis uma coisa diferente, mudar um pouco. Aqui é legal.” E aí ele falando assim, “Ah, não sei. Pra mim, você só soa como uma americana que está presa no Reino Unido. Volta pra casa.” Aí eu falei assim, “Será que eu conto? Eu conto ou eu deixo?” Aí eu falei, “Não, deixa pra lá.” Aí eu só ria e ele, “Volta pra casa.” Aí eu… É, Scott, eu acho que a gente não vai ter essa conversa nesse momento. Mas ele era muito engraçado.
Alexia: Sim. Eles queriam te ajudar do tipo, “Eu pago sua passagem.”
Bruna: Eles queriam, eles “Volta. O que você está fazendo aí? Volte para o melhor país do mundo.” Mas era legal, a gente tem umas histórias maneiras nesse lugar.
Alexia: Agora, é engraçado você falar sobre a língua não foi um empecilho, não foi uma dificuldade. O que que foi pra você, na verdade? Qual foi sua maior dificuldade quando você chegou em Londres e falou, “Ok, essa é minha nova casa.”
Bruna: Cara, eu acho que leva um tempo. Acho que pra qualquer pessoa que muda pra outro país, acho que leva um tempo pra você entender que você mora em outro país.
Alexia: Total.
Bruna: Eu acho que leva um tempo. Porque o primeiro mês e tal pelo menos, você tá assim, “Tô de férias, tô viajando."
Alexia: Tô descobrindo os restaurantes, to descobrindo as coisas.
Bruna: É, conhecendo os museus, indo ali, vendo as lojas. Aí você começa a gastar um dinheiro que você não devia estar gastando, porque apesar de você saber, você sabe que você mudou pra um lugar, mas você sente que você está de férias, você não entende ainda que essa é sua vida agora, né? Leva um pouco. Então acho que talvez no começo eu acho que eu tive muito…
Alexia: Deslumbre.
Bruna: Esse deslumbre um pouco de tipo, sei lá, não queria ter que, “Ah, agora eu tenho que sentar e procurar um trabalho.” Sabe? Nas primeiras semanas assim, “Não, só quero passear, aproveitar e conhecer.” Mas acho que uma coisa que certamente foi uma dificuldade. Assim, eu morava com meus pais no Rio, como a maioria das pessoas da nossa idade que moram no Rio de Janeiro, com 20 e poucos anos você mora com os seus pais. Inclusive, saudades. Se você tiver pensando em morar sozinho, não recomendo. Fica em casa, é melhor. É muito romantizada essa ideia de “Vamos morar sozinho, dividir um apartamento.” Mas assim, eu acho que, pra mim, a maior dificuldade foi ter que fazer as coisas, porque eu não sabia fazer nada, né? Eu não sei como que, sei lá, lava as coisas, sabe?
Alexia: As coisas mais básicas, tipo, como é que a melhor forma de lavar o banheiro? Como é que mantém a casa limpa? Eu até agora não sei.
Bruna: Eu não sei também. E é horrível, porque você limpa e dois segundos depois está sujo de novo. A poeira vem de algum lugar que eu não sei de onde é, e você está o tempo inteiro limpando. E assim, eu não tinha noção disso antes, sabe? E eu já tive que ligar pra minha mãe daqui, graças a Deus o WhatsApp existe, pra perguntar, “Mãe, quanto tempo eu tenho que deixar o ovo fervendo pra fazer?” Eu não sei. Eu não sabia cozinhar, não sabia limpar, não sabia fazer nada. Então assim, completamente, coitada, mimada e perdida na vida. Então assim, isso foi uma dificuldade, óbvio. Mas eu não sei, eu acho que os desafios são sempre muitos assim. Obviamente a língua ajuda para você se virar, porque quando você está na rua e você tem que pegar, sei lá, entender o metrô de Londres ou tem que pedir uma informação pra alguém, entender a pessoa e se fazer entender já ajuda metade do caminho, né?
Alexia: Com certeza.
Bruna: Mas eu acho que isso foi, assim, essas pequenas coisas do dia a dia foram um desafio grande pra mim. E assim, procurar trabalho nunca é fácil, é sempre…
Alexia: Eu acho que isso é em qualquer lugar do mundo, em qualquer língua sempre vai ser um desespero. No Brasil principalmente, a gente poderia estar lá e ia ser um desespero conseguir trabalho hoje em dia. Mas eu concordo plenamente com você que, tipo, quando eu cheguei aqui no Porto, os primeiros meses foi, “Ah, eu tô em Portugal, eu tô na Europa. Olha que máximo! Olha esse cafezinho, olha esses doces.” Sabe? Demorou um tempinho pra cair na realidade do tipo, “Eu estou morando aqui, essa é minha nova casa. Será que eu já vejo aqui como casa?” Você já vê Londres como casa?
Bruna: Já. Eu esqueço… Eu não sei se acontece com você, mas comigo acontece o tempo todo. Não o tempo todo, mas assim, vez ou outra eu tô assim num ônibus e aí… Porque, às vezes, quando eu venho do trabalho, eu pego um ônibus para estação de Waterloo quando eu quero um caminho mais romântico, vir de trem pra cá. Eu pego um ônibus que atravessa a ponte de Waterloo e você vê a escada do parlamento, né? E aí eu olho e fico, “Gente, eu moro em Londres.”
Alexia: Isso não é incrível?
Bruna: Eu esqueço que eu estou do outro lado do mundo. Eu esqueço que eu estou em outro país, sabe? Mas eu acho que isso, eu já me sinto muito em casa. E é muito estranho assim. E acho que talvez por causa da facilidade da língua também, você não sente tanta dificuldade, você não se sente tão estrangeiro assim, né?
Alexia: Sim.
Bruna: Porque não é um desafio pra você ter que interagir com as pessoas e o cara no metrô falando aquelas coisas que ninguém entende, sabe?
Alexia: Mas aquilo lá é muito difícil mesmo. Eu lembro da última vez, foi há três anos atrás que eu estava aí, eu fui e voltei em 3 dias. Pra eu pegar o metrô, eu falei, “Gente, como assim? Pra onde eu vou?” Sabe? “Eu só quero ver, sei lá, quero andar no Buckingham, eu não quero ir pra nenhum lugar específico.” Ou assim, “Eu quero ir só pra lá.” Eu não sabia, eu não consegui me entender, eu tive que pedir ajuda.
Bruna: Nos momentos de melhor orgulho são quando turistas me pedem informação na rua e eu sei a resposta, eu acho tão maravilhoso. “Ah, mas que linha que eu pego…” “Não, você não vai pegar essa aqui não, porque essa aqui não vai dar certo. Vai pegar essa para o outro lado, é melhor. Aí você troca para tal e…” E aí eu assim, “Gente, eu sou muito local.”
Alexia: Mas é engraçado, porque agora o Porto está começando a receber turistas de volta, por causa da pandemia, né? E aí, outro dia eu fui lá pra Baixa, tipo, pro centrinho mesmo. Eu fui pra terapia, só que a minha terapeuta fica na Baixa. E aí eu vejo franceses, alemães, ingleses, assim, todo mundo de volta aqui. E aí um casal de franceses me parou assim na rua e falou, “Do you speak English?” Eu assim, “Sim.” Primeiro, francês falando inglês, eu tô chocada, né? Começa por aí.
Bruna: Nossa!
Alexia: Mas eu acho que é só porque é fora da França.
Bruna: Provavelmente. Por que que mundo é esse?
Alexia: “Você pode me ajudar onde é que chega em tal lugar?” Eu, “Claro, você pega tal rua, desce…” Abri o Google Maps, mostrei onde é que era. Aí eu cheguei na terapia e falei, “Meu Deus, eu sou daqui, sabe? Eu finalmente consigo dar direções.”
Bruna: Exatamente. É um momento de um orgulho tremendo. Quando você só sabe chegar no lugar.
Alexia: Você teve um click quando você falou, “Ok, Londres é minha casa”? Porque, às vezes, demora pra realizar isso. Tem pessoas que sabem exatamente quando que esse sentimento chegou ou se foi uma coisa orgânica, que nunca teve um click, foi uma coisa que foi acontecendo.
Bruna: Eu não sei se teve um click. Eu não sei se talvez, porque eu já tinha essa vontade de vir pra cá antes, quando eu vim lá em 2014 visitar minha amiga e depois eu disse, “Ah não, vou.” Eu não sei se teve esse click ou se já foi uma coisa muito rápida.
Alexia: Uhun.
Bruna: Não sei dizer. Porque eu lembro, naquela época quando eu vim, em 2014, eu lembro de algumas semanas depois, de eu voltar pra casa de sonhar com Londres, sonhar com os lugares. E tipo, sonhar que eu estou andando e sonhar com o caminho, e saber o caminho, sabe? Eu lembro que eu acordei e fui checar se o caminho estava certo. E estava certo.
Alexia: Estava certo.
Bruna: É, não sei, acho que foi bem natural assim. Porque eu acho que, conforme você vai aprendendo as coisas e entendendo como as coisas funcionam, você vai aos poucos se sentindo mais e mais confortável assim, né? Com o lugar. Mas não sei se teve um momento assim, desse click, mas eu não lembro.
Alexia: Para algumas pessoas, por exemplo, é quando começou a fazer amigos, quando começou a fazer parte de uma comunidade. Seja tipo, entrou para academia, sabe? E aí se sente parte daquilo.
Bruna: É.
Alexia: Pra mim foi, eu moro aqui numa rua que fica como se fosse no antigo centro do Porto, então parece Copacabana, tem três farmácias, tem três supermercados, tem muito. O que não é normal pro Porto, as coisas ficam mais longes assim. Então, por exemplo, todo mundo me conhece na rua. O cara da padaria, o cara do restaurante, as meninas do mercadinho. Tipo assim, todo mundo sabe quem eu sou. Então, pra mim, me bateu esse click nesse momento do tipo, “Ok, eu tô em casa, sabe? Eu faço parte disso aqui. As pessoas já sabem meu nome.” Então assim, é incrível isso.
Bruna: Assim, aqui eu tenho… Eu duvido que as pessoas saibam o meu nome no mercado, mas tem um café e um mercado aqui perto que eu vou todo dia praticamente e eles me conhecem. No café, eles sabem o que eu vou beber, então já tem esse… Você sente que você é parte desse espaço, desse bairro.
Alexia: Sim.
Bruna: É, não sei. Mas eu não sei se eu tive esse click assim, esse momento de perceber que eu me sinto em casa. Acho que fui aos poucos me acomodando assim, sabe?
Alexia: E o Rio, Brasil é só pra visitar a família e passar férias, né? Não é…
Bruna: É.
Alexia: Você respondeu tão rápido…
Bruna: É. Mas tem uma coisa, mas eu não sei se aí acontece muito, mas aqui as pessoas perguntam muito assim, “Ah, você pensa em voltar para o Brasil? Você acha que você voltaria?” E o que eu sempre falo é que assim, eu acho o Brasil incrível. E eu acho que principalmente o Rio, óbvio, é o único lugar que eu morei e eu não posso falar de outra cidade, mas eu acho que o Rio tem um lifestyle muito maravilhoso, sabe? E é uma cidade incrivelmente linda. E assim, eu morei no Rio 27 anos da minha vida, e eu ainda me surpreendia às vezes porque a luz tá diferente, porque o céu tá diferente e você assim, “Meu Deus do céu, que lugar lindo.”
Alexia: Mas é verdade. É verdade.
Bruna: Mas eu falo, se eu tivesse no Brasil a qualidade de vida que eu tenho aqui, eu não pensaria duas vezes em mudar, porque eu acho que é maravilhoso, entendeu? Se eu tivesse a qualidade de vida que eu tenho aqui, se eu tivesse serviços públicos com a qualidade minimamente parecida com a que eu tenho aqui, eu não pensaria duas vezes, eu não sairia do Brasil jamais.
Alexia: Sim.
Bruna: Mas no momento, eu não vejo isso acontecendo, então assim, eu não acho viável voltar para o Brasil. Apesar de que eu acho que eu gostaria de talvez passar mais tempo no Brasil de férias. Eu poderia ir mais frequentemente, porque é muito longe, é desnecessariamente longe e é muito caro.
Alexia: É muito caro. E assim, independentemente de você estar ganhando em libra, em euro ou coisa parecida, é uma viagem cara e é emocionalmente desgastante, porque é muito… São quantas horas daí? 12?
Bruna: 12.
Alexia: É muito longe.
Bruna: É muito longe e eu não gosto de andar de avião.
Alexia: Eu também não.
Bruna: Então precisa de um Dramin.
Alexia: É, exato. Tipo, pra sair daqui do Porto pra ir pros Estados Unidos são o que, 5 horas, 6 horas de dia. Então você já viaja de dia, coisa que eu tenho pavor, porque eu nem consigo dormir com Dramin. O Foster, aliás, está indo pra lá agora, mas é exatamente isso, é desgastante. Eu fico com muita pena, porque assim, tudo bem, meu pai está aqui no Porto comigo, eu trouxe ele comigo, mas tem uma parte da minha família que eu adoraria estar mais perto, sabe? E você acaba perdendo tudo, você acaba perdendo o nascimento de novos primos, aniversário, casamento, etc. E eu acabo sendo a prima que mora fora e nunca vai a nada, porque é muito caro sempre, eu não tenho esse dinheiro.
Bruna: É muito difícil porque… E ter tempo porque, pra quem trabalha, você tem um número de dias de férias que você pode tirar no ano, né? Então, assim, eu não posso ir e ficar dois meses no Rio. Você vai, você pode ficar duas semanas. Às vezes é melhor ir na época de Natal, porque normalmente tem um recesso de Natal, então você consegue ficar mais tempo, mas é muito difícil. Eu fico com muita inveja das pessoas que eu conheço aqui que a família está na Itália, tá na Suécia, tá ali… E aí fica assim, “Ai, mas a Itália é tão longe.” Ai eu falo assim, “Menos.”
Alexia: Tá a um Ryanair de distância, tão simples.
Bruna: É só uma passagem, é um vôo de 2h. E custa 50 libras. Menos…
Alexia: E outra, se quiser fazer aventura, dá pra ir de carro, sabe?
Bruna: Exato. Você pode literalmente pegar um trem daqui, pega um Eurostar, vai pra Paris e vai pegando trem até você chegar. Meu sonho é ter um trem pro Brasil, porque eu odeio andar de avião.
Alexia: Imagina?
Bruna: Se tem o Eurotúnel, por que não?
Alexia: E navio? Aquela né, e navio a la Titanic?
Bruna: Sem problema, né? É o aspecto Titanic que fica pesado. Mas é muito longa a viagem também.
Alexia: É muito engraçado, porque eu sou que nem você com avião e agora a gente tem o Buddy, que é o meu cachorrinho. E assim, a gente quer levar ele pros Estados Unidos, por exemplo, inverno. Eu sou doida para passar inverno nos Estados Unidos, porque aqui é insuportável o inverno e nos Estados Unidos, convenhamos que tem toda aquela qualidade americana de ser.
Bruna: Todo aquele momento filme da sessão da tarde.
Alexia: Exato. E aí a gente está meio que programando, “Tá, então fevereiro/março mais ou menos, que são os piores meses aqui do Porto, a gente pode ir.” Só que eu entro em pânico com ele andando de avião. E aí eu descobri que tem um navio que sai daí de Londres que é o Queen Mary 2, eu acho. E que os cães podem ir, e assim, eles são super bem tratados, tem um cara só pros cachorros, tem hora do playtime, pode ver os donos. Dura assim, uma semana para atravessar águas internacionais e você chega em Nova Iorque. E eu tentando convencer o Foster disso, “Pelo amor de Deus.”
Bruna: E ele olhando pra você falando, “Não.”
Alexia: Desesperado falando, “Não.” Eu assim, “Eu vou.” Então eu vou…
Bruna: Mas assim, esses cachorros são mais bem tratados nesse navio que os cachorros da rainha, né?
Alexia: São. É impressionante, depois eu te mando o link que fala sobre isso, porque eu já pesquisei tudo, né? Eu já pesquisei tudo.
Bruna: Na realidade, ela já está com a passagem marcada, o Foster que não sabe ainda.
Alexia: Tem que reservar com dois anos de antecedência, ou seja… Hi, I want one.
Bruna: Gente, navio, menor condição. Menor condição.
Alexia: É muito complicado você ter uma vida internacional. Isso que eu acho.
Bruna: É muito difícil. Em janeiro de 2020, aqui a louca que estava viajando, eu fui pra Berlim e eu estava num museu, esqueci o nome do museu, mas um museu da Alemanha. Eu estava no museu e aí tinha um pôster que era assim do Zeppelin. Lembra do Zeppelin?
Alexia: Sim, claro.
Bruna: E aí tinha um pôster assim… Não sei se era Berlim, mas enfim, Alemanha - América do Sul em 3 dias. Aí eu pensei, “Eu entrar num balão, basicamente, para atravessar um oceano e ficar lá 3 dias? Não tem a menor condição. Nem muito dopada. Nem com Dramin na veia isso vai acontecer.”
Alexia: Eu fico vendo o pessoal indo de balão lá na Turquia, sei lá onde, assim, “Gente, por que as pessoas se colocam nessa situação? Eu não tenho a menor condição de fazer isso.” Eu acho lindo, tá ótimo, eu vejo da terra. Agora, me botar lá dentro junto com fogo, não dá.
Bruna: Gente, é lindo. Você está no chão, é lindo ficar vendo os balões subindo. Mas assim, o pânico de estar entrando numa cestinha daquela não tem a menor condição.
Alexia: Não, não tem.
Bruna: Menor condição.
Alexia: Então assim, a última vez que você foi pro Brasil foi quando? Óbvio, estamos no meio da pandemia e temos que contar com isso, ok. Mas foi quando?
Bruna: 2018 para 19. Fui passar o Natal e voltei com o maior bronze da história da Inglaterra. Maravilhosa, em pleno janeiro, deixando todo mundo com inveja, foi muito bom.
Alexia: E aí os seus pais conseguiram ir pra aí nesse meio tempo?
Bruna: Não. Completamente abandonada, largada à minha própria sorte.
Alexia: É muito difícil, Bruna, super entendo, cara.
Bruna: Mas é difícil as pessoas se organizarem, né? Mas enfim, eu vim em 2017 e aí eu fiquei um ano, aí 2018 para 19 eu fui para o Brasil e aí depois de 2019 todos sabemos o que aconteceu, o que nós estamos vivendo no momento.
Alexia: Sim.
Bruna: Mas não rolou. Mas vamos ver se a gente consegue ir agora.
Alexia: É isso, porque assim, viajar internacionalmente no meio da pandemia eu não sei como é que as pessoas estão conseguindo lidar com o emocional e etc, não faço ideia.
Bruna: Não sei também.
Alexia: Eu também não sei.
Bruna: Eu não sei, eu acho muito… Porque assim, eu sei que tem gente viajando agora, mas não sei como é que está o esquema de viajar. Assim, você tem que estar com uma máscara dentro do avião? Eu ia ficar doida com uma máscara na minha cara, não vai estar acontecendo. Eles servem as coisas? Pode beber água? Eles servem comida?
Alexia: Pode, agora pode. Antigamente, ano passado, nem a TV ligava, você não podia tocar nas coisas. Não tinha comida, o que tinha era um biscoitinho que te davam, sabe? E aí tudo com luva, aquela história inteira. Agora não, agora já servem refeição, já pode assistir filme e etc. O que você tem que fazer, pelo menos para os Estados Unidos, que é o que eu sei, é o… Óbvio, que o ideal é você estar vacinado, convenhamos, e fazer um teste antígeno que tem validade de 48 horas. Então você pode fazer um dia antes ou no dia do vôo, mostrar, e aí você pode embarcar. É isso.
Bruna: Entendi. Ah, melhor.
Alexia: Sim.
Bruna: Mas aqui eu acho que ainda está meio complicado, porque pelo menos assim, se eu fosse pro Brasil, mas para voltar…
Alexia: 15 dias no hotel.
Bruna: Tem que ficar no hotel, tem esse rolê. E assim, não sei se eu quero.
Alexia: Bruna, que eu não entendo, porque assim, você tem um apartamento aí, porque você tem que ficar num hotel? Porque o governo está exigindo isso das pessoas?
Bruna: Não sei. Eu não sei se eles não querem que as pessoas circulem quando saem do avião, não sei dizer, mas eu espero que acabe isso agora, né?
Alexia: É. Vamos ver.
Bruna: Espero que melhore.
Alexia: Vamos ver.
Bruna: Mas ainda tenho medo.
Alexia: Vai dar tudo certo, com certeza você vai ver seus pais daqui a pouco, vamos torcer pra isso pelo menos pro Natal, alguma coisa vai acontecer.
Bruna: Sim. Cruzando os dedos aqui até do pé…
Alexia: Sim.
Bruna: Pra poder, porque eu quero ir.
Alexia: Claro, óbvio. Saudade existe, né? Saudade é uma palavra tão linda, mas um sentimento muito trágico às vezes.
Bruna: Sim. É muito difícil viver do outro lado da poça. É muito complicado. É bom, mas tem os desafios.
Alexia: Sim, com certeza. Agora eu tenho uma pergunta que eu estou fazendo para todo mundo que está passando por aqui, que é… Tem algum lugar no Brasil, no Rio, onde você indique que você ame muito que poucos gringos conhecem?
Bruna: Ah, poucos gringos conhecem…
Alexia: Olha, vou te dar exemplos. Já teve Lençóis Maranhenses, Chapada Diamantina, teve Barra Grande, teve um lugar no sul que eu esqueci o nome agora. Então assim, Ibitipoca em Minas.
Bruna: Vamos pensar. Um lugar no Brazil que gringos talvez não conheçam muito.
Alexia: Que você tenha viajado e falado, “Nossa, esse lugar é o máximo, não sei porque mais pessoas não vem.” Por exemplo, Penedo, muita gente adora Penedo.
Bruna: Penedo.
Alexia: Uhun.
Bruna: Fiz uma viagem de escola para Penedo.
Alexia: Eu amo Penedo.
Bruna: Que doideira aquela viagem.
Alexia: Petrópolis, Teresópolis…
Bruna: Petrópolis! Petrópolis não é muito conhecido, tá bom. Petrópolis, amo Petrópolis. Cresci em Petrópolis, praticamente. A gente sempre teve fazenda em Petrópolis, eu acho maravilhoso. E um lugar que não é muito conhecido nem dos brasileiros, na realidade, é o estado do Espírito Santo que ninguém sabe o que tem lá.
Alexia: É verdade.
Bruna: Mas meu pai é do Espírito Santo. Na verdade, meus pais se mudaram para o Espírito Santo agora, eles moravam no Rio até poucos meses atrás, mas eles se mudaram para o Espírito Santo. É um estado muito legal, muita coisa maneira, muita praia maravilhosa, muita comida boa, boa mesmo e tem muitas surpresas no estado. É um estado que tem uma colonização europeia muito forte, né? Mais até, proporcionalmente, no caso, mais até do que os estados do sul, acho que o Espírito Santo tem 75% da população italiana, uma coisa assim…
Alexia: Uau.
Bruna: Sim, é surreal. E tem cidades que só falam alemão, por exemplo, eles falam Pomerano, eu acho. Mas eles tem essas colônias assim, sabe? Essas cidadezinhas, tem umas cidades que é obrigatório as crianças aprenderem italiano na escola, por exemplo.
Alexia: Eu não sabia de nada disso.
Bruna: É muito maneiro, é muito doido. É um estado muito… Que não é o que você espera, né? Em certos aspectos, é um estado que se aproxima mais a essa cultura do sul do que você esperaria que fosse um estado que está entre o Rio de Janeiro e a Bahia.
Alexia: Pois é.
Bruna: Que ninguém nunca sabe muito bem o que tem lá. Mas o estado é um estado muito rico, na realidade. Mas tem praias maravilhosas e as montanhas são muito legais também. Eles tem umas pousadas lindas, tem uns chalezinhos, parecem aqueles chalezinhos alemãs, é bem frio.
Alexia: O que me dá impressão do Espírito Santo é que eles gostam, assim, de ficarem mais quietos, digamos assim, porque isso evita muita coisa, né? Isso evita Vitória virar um Rio de Janeiro do jeito que está hoje.
Bruna: Exato.
Alexia: Então assim, por um lado eu gosto que o Espírito Santo pouca gente conheça e, por outro, tipo assim, a gente precisa conhecer melhor.
Bruna: Exatmente. Mas no Espírito Santo tem uma… Agora eu não sei… Meu pai é de Castelo, né? Não sei se é em Castelo, eu não sou do Espírito Santo, eu não sei qual é a cidade exatamente. Mas eles tem uns esportes radicais assim, umas rampas de asa delta, de parapente, e aí vem uma galera. Quem pratica esses esportes normalmente conhece esses lugares do Espírito Santo, mas é aparentemente super badalado.
Alexia: Que máximo.
Bruna: Muito lugar para acampar, tem uma paisagem interessante. Então acho que é um lugar que eu recomendaria às pessoas, não apenas os gringos, mas aos locais também a conhecerem.
Alexia: Selo de qualidade Bruna Lago.
Bruna: Selo de qualidade Bruna Lago dos lugares que você pode conhecer no Brazil.
Alexia: Brazil, exatamente.
Bruna: O Espírito Santo é ótimo. Até Vitória é legal, assim, legalzinha.
Alexia: Uhun.
Bruna: É uma capital assim, que é um estado realmente muito pequeno, né? O Espírito Santo. Eu não sei qual é a população, mas deve ser… A população da cidade do Rio de Janeiro deve ser a população do estado do Espírito Santo.
Alexia: Com certeza.
Bruna: Mas eu acho que Vitória que é a capital deve ter uns 300 mil habitantes, alguma coisa assim, eu não tenho certeza. Mas não chega perto de 1 milhão. Então é bem pequeno, então é outro ritmo de vida, né? Eu acho mais tranquilo.
Alexia: Eu amo, eu amo esse ritmo. Eu sinto falta, às vezes, de uma coisa tipo Londres, sabe? De ter muita coisa acontecendo mas, para morar, nesse momento da minha vida, eu quero calmaria então Porto está perfeito para mim nesse sentido.
Bruna: Aqui onde eu moro em Londres eu estou perto do centro, mas é um bairro muito tranquilo assim, não tem… É um bairro que tem tudo, mas é silencioso, calmo.
Alexia: Sei.
Bruna: E tem um monte de parque e tal. Então é bom esse ritmo mais lento assim. Eu não sei se eu conseguiria viver num centro de Londres, eu acho que eu ficaria desesperada.
Alexia: Sim, eu acho que é aquela coisa, né? Você sempre estar com a mente ativa, porque sempre tem muita coisa acontecendo, e você não consegue descansar.
Bruna: Você não relaxa. Principalmente sendo carioca que você está sempre em estado de alerta na sua vida.
Alexia: É insuportável, mas bom… Resumidamente, a gente ama o Rio, é verdade isso.
Bruna: Sim.
Alexia: A gente torce pro melhor do Rio e Brasil, em geral, não é à toa que nós temos orgulho em falar que somos brasileiras, que somos cariocas. Agora, a gente entende a realidade do nosso estado, da nossa cidade, né? Não estamos aqui pra falar que tipo, “Ah, é lindo, você tem que ir.” Não…
Bruna: Não é 100% perfeito. Mas isso também traz um charme.
Alexia: É o nosso boy lixo.
Bruna: Exatamente. Rio de Janeiro é o nosso boy lixo, disse tudo. É lindo, é maravilhoso, tem todo um lifestyle, todo um charme, todo um papo, uma lábia, mas você sofre na mão dele.
Alexia: Pois é, exatamente. Então é isso. Bruna, obrigada por você ter vindo aqui.
Bruna: Amei.
Alexia: Espero que você tenha gostado.
Bruna: Eu espero que tenha sido proveitoso.
Alexia: Com certeza.
Bruna: Espero que nossos ouvintes estejam felizes.
Alexia: Sim. Vão gostar.
Bruna: Com o nosso momento, com esse meu momento rádio. Minha estreia nas ondas sonoras das internets, das interwebs.
Alexia: Sim. Cara, podcast, pra mim, é perfeito porque, tudo bem que eu estou gravando a gente agora, mas a nossa feição, o nosso rosto não vai aparecer, então a gente se solta completamente. O que eu amo, porque se a gente estivesse pensando na aparência, eu ia ficar um pouco mais desesperada.
Bruna: Entedeu? Por isso não dá pra ser blogueira, mas dá pra ser influencer vocal.
Alexia: É isso. E só por fotos escolhidas à dedo, então…
Bruna: Exatamente.
Alexia: Obrigada, Bruna. E até a próxima.
Bruna: Amei, obrigada você. Até mais