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Alexia: Bia, faz muito tempo que eu não te vejo. Eu acho que a última vez que a gente sentou pra conversar foi no nosso último trabalho juntas mesmo. E assim, do nada, você foi parar na Espanha, e eu não peguei essa parte da mudança nem nada. Como é que você foi parar aí, me explica?
Beatriz: Tudo bem. Primeiro dizer que você também foi parar em Portugal, para mim, do nada, então estamos quites. Um belo dia você estava em Porto. Mas eu sempre tive vontade mesmo de sair do Brasil, principalmente do Rio, nunca… Gosto de ser brasileira, mas nunca me identifiquei, nunca me senti em casa assim no Rio. Eu sou muito calorenta, então já começa por aí como um ponto, tipo, para ver que meu ódio… não é ódio vai, meu desgosto não era pelo Brasil, era pelo Rio.
Nunca fui de ter paciência para ir pra praia sempre, então não era algo que as coisas do Rio me cativassem para viver ali para sempre. E aí, quando eu conheci o Rafael, que é com quem eu sou casada hoje em dia, eu falava, “Ah, eu tenho muita vontade de sair do Brasil um dia.” E ele é programador, o que torna também tudo mais fácil. Aí ele, “Ah, eu não tenho vontade de sair. Tipo, um dia sim, mas não tão cedo.” Ele nunca tinha viajado pra fora. Eu tinha viajado uma única vez, em 2013, para o Japão. E aí, isso que eu to falando é 2017, que a gente está.
Alexia: Uhun.
Beatriz: E aí quando foi 2017, a gente pegou umas férias para fazer uma eurotripzinha. Ele ia viajar pela primeira vez para fora do país e eu para a Europa. E aí, quando a gente voltou, ele falou “Tá, ok, eu quero sair do país. Agora eu quero sair do país, agora eu vi...”
Alexia: “Eu entendi.”
Beatriz: “Tudo fez sentido, por isso que você quer sair do país." E aí ele voltou fazendo, os dois juntos, fazendo uma planilha de lugares para onde a gente poderia planejar ir. A gente colocou Amsterdã, porque é onde o irmão dele mora, a gente colocou Portugal também. A gente colocou Espanha, que a gente não tinha visitado em 2017, mas por eu ter uma paixão, mesmo sem conhecer, e principalmente pelo idioma. A gente colocou Bruxelas, porque a gente visitou, porque um amigo mora lá. E botou Canadá também, e botou acho que Curitiba, para caso a gente não conseguisse sair do Brasil, pelo menos sair do Rio.
E a gente começou a colocar na planilha idioma, custo de vida, salário mínimo, quanto tempo e qual a forma de conseguir uma cidadania, escola, saúde, porque a gente pensa em um dia ter filhos. Então a gente foi colocando isso e, no final, para somar e ver qual ficava com a melhor nota pra gente avaliar. E no final ficou, os que melhor pontuação tiveram acho que foi Portugal, Espanha e acho que Curitiba também ficou com uma nota boa, porque a gente cortaria muitos passos que sair pra Europa dificultam, ainda mais sem ter cidadania.
Alexia: É isso que eu ia perguntar, vocês não tinham cidadania?
Beatriz: Não, a gente não tinha, a gente continua não tendo ainda. E a diferença da Espanha, desses países que a gente citou, é o único que você, para conseguir cidadania, só é necessário dois anos morar, pelo menos para brasileiro e para alguns países. Para esse acordo que tem com o Brasil, são dois anos. Todos os demais da lista eram cinco. E vamos lá, Amsterdã, eu não me via, depois de cinco anos, fazendo prova de holandês para tentar cidadania.
Alexia: Não… É.
Beatriz: Para algumas pessoas sim, mas para mim eu não via como uma possibilidade. Ainda mais num lugar onde todo mundo fala inglês então eu não ia precisar tanto assim do holandês. Então a gente meio que foi descartando isso. Portugal, são cinco anos mas, vamos lá né, pra gente fazer a prova de idiomas seria patético. E espanhol, dois anos meio que ganhou a gente também. E aí ele começou a aplicar, buscar vagas, porque para programador, graças a Deus, realmente tem uma busca bem grande. E aí ele fez uns três processos seletivos ao mesmo tempo. E aí, quando passou pro primeiro, tipo, a gente já...
Alexia: Vamos!
Beatriz: É, e isso foi em 2018, a gente decidiu, “vamos sair” final de 2017 e estava aqui… E se mudou pra cá em outubro de 18. E aí como a gente casou, aí vim junto facilmente com o visto de cônjuge e tal, e cá estamos.
Alexia: E aí vocês foram direto para Barcelona?
Beatriz: Direto para Barcelona, porque a empresa era uma empresa de Uganda, só que ela tinha aberto o cérebro aqui de tecnologia, abriu um cérebro aqui, porque é muito mais fácil achar talentos que queiram ir pra Barcelona do que pra Uganda. Então eles tinham aberto… Tanto que não tinha nada de trabalho aqui mesmo, eles só tinham em… Era cérebro mesmo, não funciona mais nada da empresa aqui.
Alexia: Legal.
Beatriz: Resumindo bastante, era tipo um moto táxi de Uganda. Como se fosse um Uber de motos em Uganda.
Alexia: Sim, sim. E é engraçado, porque muita gente não faz o planejamento que você e o Rafa fizeram. E assim, é incrível, né? Vocês fizeram uma planilha botando onde que podia ir, a quantidade de dinheiro que seria gasto e, assim, é curioso vocês terem colocado Curitiba. Por que Curitiba? Porque assim, eu nunca escutei ninguém falar, “Eu quero me mudar pra Curitiba.” É a primeira vez. Às vezes é São Paulo, até Brasília, sabe? Alguma coisa assim. Belo Horizonte. Agora, Curitiba… Nada contra, tá gente? É só porque é curioso.
Beatriz: Eu não lembro quando foi, no ano, em qual momento, se foi 2017 mesmo ou se foi 16, eu não lembro agora. Acho que foi final de 16, a gente viajou para Curitiba e a gente gostou muito de Curitiba. E do custo lá, das coisas que a gente viu para comer, mercado que a gente entrou pra comprar umas besteirinhas. Uber, a gente achou muito barato lá. O clima a gente achou gostoso. E o Rafa conhecia um cara que tinha trabalhado com ele que tinha se mudado para Curitiba do Rio. E ,na época, obviamente isso em 2016, o valor que ele estava pagando num apartamento, sei lá, de dois ou três quartos é o mesmo que ele pagava num apartamento na Lapa de um quarto. Então a gente viu que o custo em Curitiba era mais baixo.
E o Rafa conseguiria talvez… ele, na época que a gente fez a planilha, ele estava trabalhando remoto para uma empresa de São Paulo. Então, se a gente fosse… Continuasse remoto para São Paulo em Curitiba, o dinheiro renderia bem mais do que rendia no Rio. Fora que a gente se sentiu muito seguro em Curitiba, que era uma coisa que causava muito estresse na gente no Rio. Então era tipo, tá, a gente tem mais segurança, a gente tem um clima mais gostoso também. Óbvio que no verão é um calor insuportável, mas existe um inverno bom. Então era meio que tipo, foi o que eu te disse, no início, o plano era sair do Brasil, mas se isso não funciona, pelo menos me tira do Rio. Vamos juntos sair do Rio. Eu tinha vontade de, numa época da minha vida, São Paulo também. Mas não tinha mais essa paixão por São Paulo que eu tinha antes de conhecer o Rafael assim, eu fui perdendo assim.
Alexia: Eu lembro de você postando no Instagram, “Eu quero ver neve, eu vou ver neve, eu vou caçar neve, eu tô atrás de neve.” Aí você viajava pra um lugar de neve e não tinha neve. E aí era assim, tipo, sempre uma missão atrás da neve. Então só para as pessoas que estiverem escutando a gente entenderem, a paixão dela por tempo frio é esse. Então, realmente, o Rio de Janeiro não faz o menor sentido na vida.
Beatriz: Não faz, gente. Eu nasci no lugar errado, certeza. Aquele, “Eu nasci na época errada.” Eu sou, “Eu nasci no lugar errado.”
Alexia: Você e meu pai. Meu pai fala a mesma coisa, “Eu devia ter nascido na Sibéria.” Meu pai fala isso. “Eu não aguento calor, que não sei o que.”
Beatriz: Hoje, eu posso dizer que eu conheci a neve, mas eu acho que eu não moraria num lugar com neve por toda a preguiça e o rolê que exige uma neve, né? Tipo…
Alexia: É muita manutenção.
Beatriz: Você sair de casa e estar nevando. Você, tipo, com muita chuva já dá uma preguiça de sair de casa. Com neve, mais. Fui feita realmente para dias mais frios.
Alexia: E você no Rio, onde é que você morava? Onde é que você nasceu no Rio?
Beatriz: Hospital, eu nasci em Botafogo, mas eu morava em Vila Isabel, Maracanã, pertinho do Maracanã mesmo, o estádio
Alexia: Sim.
Beatriz: Depois fui pro Méier, mas voltei pra lá.
Alexia: Então, pras pessoas entenderem, não fica nem perto da praia. Você não pega nem aquela brisa da praia, você já está numa estufa, né? Vila Isabel, Méier, etc, já é uma estufazinha de calor, então realmente...
Beatriz: Nossa, quando eu estudava no Méier, eu lembro muito nitidamente eu indo de All Star, esperando o ônibus no ponto de ônibus, eu sentia que o All Star virava um micro-ondas. Aquela sola de borracha absorvia todo o calor da Dias da Cruz, que era a Avenida principal do Méier. E nossa, eu ia sentindo o calor vindo pelo meu pé. Nossa! Eu sofria, foram dias difíceis. E em comparação, Barcelona, na verdade, não é nem tão frio, nem tão quente, né? Fica naquele meio termo.
Beatriz: É, o calor é meio parecido com o calor da Zona Sul do Rio, que por ser muito perto do mar, né? E a gente também mora perto da praia...
Alexia: No inverno, tá? No inverno.
Beatriz: Não, no verão é o verão do Rio, que a sensação térmica... A gente hoje tá com 36 graus, a sensação térmica. Se você parar pra pensar, realmente está no nível do calor da Zona Sul, sabe?
Alexia: Sim, é verdade.
Beatriz: Que não chega… Eu nunca fui pra Madrid, não sei se você já foi, mas...
Alexia: Não. O Foster morou lá por dois anos.
Beatriz: E falam que lá o verão é horrível.
Alexia: Aliás, ele conhece muito… Não, ele diz que o verão é horrível, mas ele fazia muito o Camino de Santiago. Então assim, ele meio que escapava do fervor da cidade, digamos assim. Entendeu?
Beatriz: Ah tá, porque todo mundo que eu conheço que morou lá ou já foi, fala que o verão lá é insuportável, porque é muito quente. Imagino que deve ser ou pro lado do Méier, ou comparando tipo com Brasília, esses lugares assim do Brasil que são muito no centrão do continente, então não tem muita circulação de ar e tal, não é úmido e tal. Imagino que deva ser mais assim. Mas aqui, pelo menos, você sua, sabe?
Alexia: Sei, sei.
Beatriz: Dá uma sensação de troca de calor no corpo. Não sei como é aí, mas quando você mora num lugar que tem estações definidas, você não sofre por um verão que dura 3-4 meses no máximo.
Alexia: Eu amo. Eu amo morar num lugar onde tem coisas definidas. Por exemplo, hoje está quente pro Porto, hoje tá tipo 30 graus, e eu saí na rua, eu estou desesperada já com esse calor. Eu desacostumei completamente. Mas assim, o Porto tem uma coisa muito boa, e tem uma coisa muito ruim. Portugal é muito bom de morar, porque é um país que você tem inverno, você tem verão, você tem primavera e tem outono. Só que o Porto, no inverno chove, simplesmente chove, sabe? É frio e chove.
Beatriz: É a estação da chuva.
Alexia: Exato. Então assim, fevereiro é horrível, março é insuportável. Chove, chove, chove… Então é uma coisa que a gente, assim, “Tá bom, o Porto a gente ama aqui, mas talvez o Algarve seja melhor sabe, pra passar o inverno.” A gente fica pensando nisso. O verão aqui é super tranquilo. As casas, elas não estão nem preparadas para o inverno nem para o verão, então ou são muito quentes ou são muito frias. Então a gente botou ar condicionado, que aí serve como aquecedor e ar condicionado em si. Então a gente foi se adaptando, né? Porque eu acho que, assim como você, quando eu cheguei aqui, eu falei assim, “E agora?” Sabe? “Como é que a gente faz?” Exato, “E agora... E o inverno, como é que a gente não passa frio?” Sabe? Esse tipo de coisa.
Beatriz: Eu não sei se isso aconteceu com você, mas eu descobri na prática que quando você mora num lugar com estações definidas, você deve se ligar muito na posição da janela do seu apartamento, da direção do apartamento. Porque eu não sabia disso, e a gente foi visitar apartamento aqui, era época de inverno, e a gente amou o que pegava o sol no apartamento. E aí, tipo, não pegava muito sol no apartamento assim, pegava vai. E quando chegou o verão, e o sol vinha todo na gente, eu “Pera aí, no inverno não vinha.” Sabe. No Brasil, pelo menos no Rio…
Alexia: Ou pega sol ou não pega. Acabou.
Beatriz: Você só procura assim, “Ah, é sol da manhã ou sol da tarde?” Essa é a pergunta que você faz. Aqui é, “Em que estação é sol da manhã e em que estação é sol da tarde?” Tanto que no idealista, que é o lugar de buscar imóveis aqui, eles dizem orientação sul, orientação sudeste, orientação norte. E eu ficava, “Pra que eu preciso saber disso?”
Alexia: Aí eu, muito engraçado, eu peguei uma bússola pra tentar entender, porque aqui, o apartamento onde a gente tá, é como se fosse cumprido. E aí de um lado tem os quartos e do outro tem a sala, só que tem janelão pros dois lados. Então independente da estação, vai estar batendo sol, ou de um lado ou de outro. Só que é muito engraçado, porque quando a gente estava falando com os donos, né, do apartamento que aliás são uns amores, eles “Não, porque a orientação sul e a orientação norte…” E eu olhando assim pra cara deles, e eu assim, “Mas bate sol?” Era só isso que eu quero saber. “Bate sol? Eu vou conseguir secar minhas roupas?” Ai ele, “Bate.” Eu, “Tá bom.”
Beatriz: Eu ficava assim, “Gente, mas o sol nasce sempre do leste, então assim, não é sempre o mesmo leste? Quando chegar o inverno muda o leste?”
Alexia: O mundo roda, mas o que que acontece?
Beatriz: E aí no outro apartamento, que foi o primeiro que a gente morou, o inverno, eu que sou a pessoa que se definiu como a pessoa que ama o inverno, pela primeira vez na vida senti dor no dedo de congelar, sabe? E eu saio pra rua pensando, "Gente, que frio é esse? Barcelona não é tão frio.” Não estava tão frio.
Alexia: É, em casa que é mais frio, exatamente.
Beatriz: É porque no inverno não batia sol nenhum no apartamento, nenhum. Então, tipo, eu pensei que no verão seria ótimo não bater sol, mas no verão batia. E aí como não batia sol nenhum, não esquentava nenhuma das paredes, e a gente só tinha o split que também servia de aquecedor na sala. Então todos os outros cômodos da casa não tinham aquecedor. A gente comprava aqueles de tomada pequenininhos, que tipo, saía da sala pro banheiro, congelava. Saía da cozinha, um pequeno corredor congelante, sabe?
Alexia: É igualzinho aqui. É ridículo, porque… Ai gente… Bom, a gente botou um aquecedor no banheiro agora, que é tipo um ar condicionado, só que é só aquecedor mesmo, então isso já serve. Mas assim, a sala fica quentinha quando a gente coloca o aquecedor lá. Aí vai pra cozinha pegar água, casaco, meia, não sei o que. Aí volta pra sala, aí você começa a espirrar, né? Porque você tem aquela diferença de temperatura.
Beatriz: Você começa a achar que está ficando febril, porque o seu corpo está enlouquecendo.
Alexia: E aí, no quarto, você tem aquela manta térmica, a manta elétrica, que você liga antes para aquecer a cama e desliga, porque você não quer morrer com choque, né? Eletrocutado. Então assim, é o diário de brasileiro se mudando pra Europa, é exatamente isso.
Beatriz: É. É tipo, conselhos que eu gostaria que alguém tivesse me dado. Busquem a melhor orientação da cidade que você está.
Alexia: Vai na Decathlon, compre roupas térmicas a dois euros e pronto, você vai estar bem.
Beatriz: Nesse apartamento daqui já é, tipo, no inverno, o sol bate até na TV, é bom baixar o toldo, porque o sol vem na cara assim, delícia. Quando chega verão, não bate nada praticamente, porque ele fica bem longo em cima do prédio. Então bate obviamente sol, é claro, mas no inverno vem um sol e no verão não. Então essa é a orientação, tipo, marca essa que eu quero. Se algum dia eu for sair daqui, memoriza essa orientação e foca nela.
Alexia: E você falando em sair dai, me explica, você já está com a cidadania? Você aplicou para ter?
Beatriz: A gente está aqui vai fazer três anos agora em outubro. E desde que a gente fez dois, a gente podia aplicar. Aí quando a gente fez dois, a gente se candidatou para as provas. Aí fizemos a de idiomas e uma de conhecimentos gerais, que nada mais é do que um grande, tipo, Detran de prova de carros, porque você ganha todo o material de graça para estudar. De graça não, né, porque a prova não é tão barata assim. Você ganha todo o material e você tem simulados por aplicativo e online. E todas as perguntas que estão no simulado são perguntas que podem cair na prova. Nenhuma pergunta que está na prova não estava nesse simulado.
Alexia: Ah que bom.
Beatriz: Então se você fizer ele todo, com certeza você vai ter visto todas as perguntas. Óbvio que tem mais do que vai cair, mas pelo menos você sabe que não vai ter uma surpresa ali, se você estudar direitinho.
Alexia: Sim.
Beatriz: E aí a gente leva para a de idiomas que tem a parte escrita, leva quase dois meses e meio pra vir o resultado. Aí a gente recebeu em maio e passamos. E aí agora a gente está no processo de reunir documentos, porque precisa de antecedentes criminais do Brasil, que precisa estar apostilado.
Alexia: Sim.
Beatriz: E aí eu pedi pra minha mãe emitir, pedi pra minha mãe levar no cartório, pra minha mãe mandar por correio. Tem como fazer por aqui se você não tem ninguém no Brasil pra fazer.
Alexia: Sim, vai no consulado. Mas assim, é insuportável, é um saco.
Beatriz: É, o consulado aqui até que ele é ok, o problema é que, eu não sei como é que é o daí, porque o Porto também é um pouco menor que Lisboa assim, então não é tão grande quanto Barcelona, né? Mas…
Alexia: O daqui, a fila dá volta na esquina. Como o de Lisboa já não tem horário pra nada, o pessoal vem pra cá. Então coitados, eles ficam desesperados, vem pra cá, ficam em hostel, ficam em Airbnb, etc, para conseguirem dar conta. Eu não sei porque o Brasil ainda não abre mais um consulado em outro lugar, porque só tem brasileiro aqui agora praticamente.
Beatriz: Pois é, tem mais brasilieiro que português, eu acho, em Portugal.
Alexia: É.
Beatriz: Não duvido se isso for verdade.
Alexia: Pois é, mas...
Beatriz: Tá quase chegando. E agora, principalmente por causa do... A gente foi com cita, que cita é.... Eu virei quem eu mais temia, a pessoa que mistura palavras em português e em espanhol, e não sabe quando tá confundindo. Mas sempre teve que marcar horário aqui pra consulado. Mas dependendo do que era, dava pra ir direto. Depois de Covid, tudo é com horário.
Alexia: Sim.
Beatriz: Então está ainda mais organizado assim, de estar vazio quando chega. O problema é que você tem que fazer a solicitação, e aí eles vão mandar para o Brasil, para o Brasil apostilar, e o Brasil mandar de volta pra cá. Então acaba saindo até mais caro, né, porque eles incluem o envio.
Alexia: Sim.
Beatriz: Então vale muito mais a pena se você conhece alguém no Brasil que já faz tudo por lá e manda. E o resto é tudo coisa que, quando a gente mudou, eu já tive essa preocupação em trazer tudo apostilado. Então a gente tem a nossa certidão de nascimento apostilada, a de casamento apostilada. O problema é que os antecedentes criminais, a gente até tinha, mas ele é válido por, acho que três meses.
Alexia: É muito pouco, realmente... Eu lembro que eu tive que fazer isso pro meu pai também, do antecedentes criminais. Mas por algum acordo entre Brasil e Portugal, esse era um dos únicos que não precisava ser apostilado, mas o resto tudo precisava. É porque também tem isso, né? Portugal e Brasil são mais íntimos do que Espanha e Brasil. Então tem algumas coisinhas que são um pouquinho diferentes.
Beatriz: E é engraçado, porque Portugal, ele é mais íntimo, mas aí ele obriga ter cinco anos para conseguir a cidadania.
Alexia: É, depende de caso para caso. Tipo, por exemplo, para o meu pai que é meu dependente e veio como união familiar, ele… Então, por exemplo, o Foster, ele é residente. A residência dele é válida por dois anos e, depois de dois anos, tem que renovar. A do meu pai já é válida por quatro direto, porque ele veio como união familiar de mim, então ele é minha única família, digamos assim. Enquanto o Foster não é dependente de ninguém, sabe? E aí quando ele tiver com quatro anos, aí ele pode pedir a cidadania. Então depende muito de caso para caso. No seu caso, seria igual a do Foster, de dois em dois anos e aí depois pedir. Então...
Beatriz: Com cinco, né?
Alexia: É, é.
Beatriz: É, a gente renovou…. A residência também é por dois anos e a gente renovou a nossa residência. Então a nossa residência já está válida aqui até 2023. Só que como a gente, antes disso, se Deus quiser, vai ter saído a cidadania…
Alexia: Ah vai...
Beatriz: Não vai precisar disso. Mas a gente tá com a residência válida até 23.
Alexia: Então ótimo. E Barcelona é casa pra vocês, né?
Beatriz: É casa?
Alexia: É casa, vocês consideram casa?
vocês consideram casa? - do you consider it home?
Beatriz: Eu me sinto muito, tipo, o idioma me abraça, eu amo espanhol, sempre amei. Eu sou uma daquelas que aprendeu inglês porque…
Alexia: Por necessidade.
Beatriz: O mundo obriga, é. Tipo, a minha irmã é sempre muito boa em inglês, inclusive ela dá aula de inglês. Não dá mais, mas ela dava aula de inglês. E em casa de ferreiro, espeto é de pau. Com eu não gostando do inglês e a minha irmã sendo o contrário, ela não gostando do espanhol. Então ela sabe falar o portunhol, sabe?
Alexia: Sim.
Beatriz: Até porque espanhol não é necessidade, né? É bom saber, mas não é tão necessário quanto o inglês. E aí quando a gente veio pra cá, eu ficava, “Ai, meu lugar, eu nasci pra falar espanhol, gente. Eu amo espanhol.” Português é muito melhor, é. Principalmente do Brasil, é. Mas espanhol é muito maravilhoso. E cara, Barcelona é muito, eu visualizo muito como um Rio melhorado, sabe? Tem a praia, tem a cidade com tudo, tem o centrão com tudo, tem montanha, tem verde, vai ter tudo que tem no Rio assim. Vai ter a parte antiga que quando você anda pelo Gótico, você se sente andando pela Lapa. Vai ter, fora de uma pandemia obviamente, vai ter tudo que você imaginar para curtir show ou bar, essas coisas. Então eu sinto muito um Rio melhorado. O que eu gostava no Rio tem aqui, sabe?
Alexia: Sim. E em relação a cidade ter abraçado vocês, vocês se sentiram abraçados pelos espanhóis, pela comunidade em si, como é que foi isso?
Beatriz: Nossa, aqui é… Eu não sei se você for pra outra cidade da Espanha, porque já fica mais de espanhol mesmo. Como Barcelona é gente do mundo inteiro, principalmente muito russo e muito, sei lá... tem muito russo aqui. Muito russo, muito chinês. Então… Inclusive, todos os restaurantes japoneses que a gente vai aqui são de chineses, eu acho isso muito louco. Não sei se aí também é, mas todos os restaurantes japoneses são de chineses.
Alexia: Não, aqui os chineses… Tem muito chinês também, eles abrem a loja dos chineses mesmo.
Beatriz: Aqui também tem, é.
Alexia: É isso, é exatamente isso. É como se fosse...
Beatriz: Aqui a gente fala que vai no chino.
Alexia: É isso, é como se fosse a Rua da Alfândega numa loja só, é exatamente isso.
Beatriz: Eu brinco que se algum dia o Rafa terminar comigo, eu acho um novo no chino, porque tudo que você imaginar tem no chino.
Alexia: É isso.
Beatriz: Eu fiquei tão triste quando um dia eu fui lá e não tinha o que eu precisava. Eu fiquei, tipo, “Como?”
Alexia: Mas olha só, em dois dias chegam. Pelo menos aqui é assim, “O que que a menina precisa?” Aí eles anotam e em dois dia chega, é isso.
Beatriz: Ele falou, “O que você precisa? Eu consigo pra você, semana que vem tá aqui.” Aí eu, “Ih, caraca! Gente, calma.” É muito louco isso. Mas é muito engraçado porque a gente fala, “Ah, de onde vocês são?” “Ah, Brasil.” “Obrigado.“ Eu amo
Alexia: Que fofos.
Beatriz: Eu fiz um curso aqui e aí o professor chegou e falou… Aí eu, “Ah, Brasil.” Aí ele, “Bom dia.” Aí eu, quase que eu falei, “Moço, mas você tá roubando.” Porque tipo, aqui também fala catalão né, e ‘bom dia’ em catalão é ‘bom dia.’ Aí quase que eu falei, “Moço, mas você tá falando catalão. Tenta uma outra palavra aí.”
Alexia: Vamos para uma coisa mais difícil, ‘bom dia’ todo mundo sabe.
Beatriz: É, vamos pra tipo, ‘boa noite’ já é diferente, vai. Agora um ‘bom dia.’
Alexia: Você entende catalão?
Beatriz: Não. Eu entendo algumas coisas, principalmente já em mercado, porque ler texto em catalão já dá pra pegar, mas desenvolver uma conversa, não.
Alexia: É, eu também não. Eu sou a típica que fala portunhol mesmo, assim. Me joga na Espanha, eu vou estar falando espanhol depois de um mês, mas antes disso é, “Vem cá, como se diz isso?” É exatamente isso. Aí eu me comunico perfeitamente bem, se eles gostam ou não é outro problema. É engraçado.
Beatriz: Eu acho impressionante. Um amigo nosso que mora Portugal veio pra cá no ano passado, retrasado, sei lá, e aí... A gente perde a noção do tempo com a pandemia, né? Tudo virou um grande ano gigante. Mas ele, quando veio... E aí ele falava em português, ele não tentava um portunhol, ele só falava, “Posso sentar aqui? Tem gente sentado aqui?” E eu, tipo...
Alexia: E gesticulando, né? Que nem um bom brasileiro.
Beatriz: E aí o garçom falava, “Pode sentar, tá livre e tal.” Aí eu, “Para de falar português. Tenta pelo menos o espanhol...”
Alexia: Faz um esforço.
Beatriz: Aí ele tipo, “Ah, eles entendem.“
Alexia: É a mesma coisa do que ir pro Brasil e começar a falar espanhol com a gente. A gente vai gostar? Não, óbvio que não. Pelo menos tenta, mostra ali um esforço.
Beatriz: Manda um portunholzinho, né gente?
Alexia: Exato.
Beatriz: O Rafael era esse, ele chegou na cara e coragem. Ele tinha o espanhol muito, tipo, não era ruim, mas também não era bom. Era tipo bem aquele ‘vou aprender na marra, sei o básico.’ E aí quando ele não sabia, ele pegava a palavra e botava com sotaque. E eu achava isso muito maravilhoso que eu ficava, “Nossa, eu queria ter essa coragem.” Porque como eu tinha uma noção melhor, quando eu não sabia a palavra eu travava, sabe? Eu ficava, “Ai, eu tenho que ter essa cara de pau de mandar um portunhol quando eu não souber a palavra.”
Alexia: Cara, eu mandei portunhol total no Chile. Chile é impossível você entender. Mesmo o espanhol deles é muito difícil, eles falam muito rápido, cheio de gíria. A Argentina, a gente já está super acostumado, então foi super okay de entender, mas o meu preferido foi o uruguaio, o espanhol uruguaio. Que pra mim, assim, eu amo o Uruguai, eu sou apaixonada pelo Uruguai, adoro os uruguaios, adoro tudo sobre eles, então eu acho que eu me senti mais confortável. E dentro do espanhol, nem eles às vezes se entendem, né? como é que se fala ‘camisa’ depende de cada lugar, cada região. Então até entre eles... Igual Portugal, Brasil e os países africanos, é exatamente a mesma coisa.
Beatriz: Sim. Quando a gente chegou, o Rafa trabalhava com um venezuelano. E a gente saiu com esse venezuelano e a mulher dele, e aí gente falou, “Quais são as palavras que são, tipo... Certas na Venezuela e aqui são erradas? Só pra saber se a gente conhece esse espanhol e não correr o risco.” E aí ele começou a falar umas palavras que agora eu não vou lembrar da maioria. Ele foi falando e a gente, “Ah, essa daí eu achava que podia falar...” E a gente foi pegando pra fugir disso, porque…
Alexia: É, mas é exatamente isso. Até aqui em Portugal, tá? Eu to descobrindo várias palavras que eu, assim, “Sério que isso significa isso?”
Beatriz: E você tá aí desde…
Alexia: 2019.
Beatriz: Ah, você se mudou então depois de mim.
Alexia: Sim.
Beatriz: Eu achava que você tinha se mudado antes.
Alexia: Não, não. A minha família toda por parte de mãe é daqui. Então assim, a adaptação foi super simples em relação a língua, porque tem muita gente que sofre mesmo, e eu super entendo, porque pode ser complicado. Mas assim, em relação à língua, a forma de lidar, nunca sentimos nada. Ainda não sofremos nada em relação a preconceito, xenofobia, etc. Não tivemos nenhum caso, graças a Deus. Nem eu, nem o Foster, nem meu pai, ninguém assim. Mas Portugal é um país difícil, por ser pequeno também, né? As coisas são muito específicas do jeito que os portugueses gostam que seja. Eles tem todo o direito pra isso, mas ao mesmo tempo fica um pouco difícil de estar aberto a novas culturas. Então assim, os portugueses adoram as lojas de chinês, mas se o chinês quiser comprar um apartamento em dinheiro vivo, eles já reclamam do tipo, “Ah, são eles que estão fazendo o mercado imobiliário explodir.” Sabe? Então assim, até que ponto que você gosta dos imigrantes?
Beatriz: Sim.
Alexia: Então existe uma diferença. E agora com a pandemia, melhorou um pouco, porque eu acho que aqui todo mundo teve que realmente viver e se entender no coletivismo e no civismo e mostrar “Olha, estamos juntos nessa.” Mas assim, muita gente perdeu o emprego, muita gente tá mal economicamente. Os apartamentos estão muito caros para todos os cantos, então assim, tem que ver como é que vai ser pro ano que vem. Vamos ver.
Beatriz: Aqui eles fizeram... A gente mudou, inclusive, uns dos motivos que a gente conseguiu mudar foi esse. Que eles aqui lançaram, sei lá, vai lançar agora uma lei que fez todos os imóveis meio que entrarem numa tabela, sabe? Para aluguel. Então, tipo, você pra saber o preço que você estava pagando, se era justo ou não, eles chamam de preço index. Então, sei lá, de que ano é o imóvel? Quantos metros quadrados ele tem? Ele é mobiliado ou não é? Ele tem elevador ou não tem? Ele tem garagem ou não tem? Aí você ia marcando essas coisas e dizia que o preço ideal para este imóvel era entre tanto e tanto, e podia baixar até tanto, que ainda estaria menos da média, mas poderia ser aceito. E podia aumentar até tanto, mas iria ser considerado que estava aumentando da média mas ainda era aceito. Tanto que o que a gente morava antes, a gente pagava 1200. Quando a gente anunciou que ia sair e saiu, passou uns dois meses, eu achei ele no idealista, eu procurei e ele estava por 900.
Alexia: Sim.
Beatriz: Então, olha, foram 300 euros a menos. E o reajuste só seria em renovação de contrato. No meio do contrato você não poderia obrigar o proprietário a abaixar.
Alexia: Sim.
Beatriz: Então faltavam três anos para o nosso contrato vencer, sabe? E aí a gente achou um outro apartamento pelo mesmo preço, só que com um quarto a mais, uma varanda grande, lavanderia. Lavanderia… Vocês aí também não sabem o que é. A gente quando vem pra Europa, é outra dica né, outra coisa que a gente aprende a valorizar do Brasil, o tanque. O tanque é o item que a gente não dá o valor que ele merece quando a gente tá no Brasil.
Alexia: Eu não sei como é aí mas, por exemplo, o ralo no banheiro pra lavar o banheiro, não tem ralo para lavar o banheiro.
Beatriz: Terceiro item que a gente não valoriza do Brasil e deveria.
Alexia: O banheiro fica uma piscina depois de lavar. E pra secar demora horas. Às vezes, eu desisto, eu tô falando sério.
Beatriz: Eu lavava assim, tipo, eu não jogava água no chão mais. Eu fazia o ‘passar pano’ mesmo.
Alexia: É.
Beatriz: Não tinha mais aquele ‘jogar água para esfregar’ porque não dava, eu não conseguia secar aquilo. E no outro apartamento só tinha um banheiro, então não podia nem usar o banheiro enquanto ele estava secando. Era evento mensal, o ‘limpar mesmo’ assim, com vontade o banheiro.
Alexia: Exatamente, exatamente.
Beatriz: “Hoje vai ser dia de limpar o banheiro, faz xixi logo.”
Alexia: Não pode usar. É, vai no restaurante na esquina pra fazer o xixi, tá? Não quero saber, compra uma água e vai. E depois de limpo, só no outro dia pra dar valor a limpeza, também não pode fazer nada.
Beatriz: Hoje parou de beber água pra não dar vontade de fazer xixi. Cortou o líquido…
Alexia: Exatamente. Agora, como é a comunidade brasileira aí? Vocês tem amigos brasileiros? Vocês se acharam no meio? Como é que é?
Beatriz: 95% dos meus amigos são brasileiros. Até porque eu cheguei a fazer esse curso aqui, que é de onde eu tenho meus 5% de amigos daqui. E eu trabalhei aqui só por 3 meses, que foi até o início desse ano, final do ano passado. Só que a empresa era de Granada, então eu não conheço ninguém aqui.
Alexia: Eu amo Granada.
Beatriz: E era todo mundo mais velho que eu, então não ficou ninguém amigo assim. Mas de resto, é tudo principalmente paulista. A gente brinca que carioca aqui é minoria. Mas nossa, é muito brasileiro.
Alexia: É?
Beatriz: Brasileiro é um negócio que é tipo gremlin, né? Molhou, multiplicou. Você vai andando na rua, é só português que você vai ouvindo, gente. É impressionante. Mas é, a comunidade é bem grande. Restaurante também, mercado brasiliro aqui também tem uns três. Então é bem…
Alexia: Ah que bom.
Beatriz: Barcelona é bem servida de brasileiros. A gente, às vezes, até queria ter mais amigo gringo, sabe? Pra fazer uma troca de idiomas maior. Porque o Rafa tem, né? Porque ele trabalha em inglês e cheio de espanhol, e gente de outros lugares na empresa, mas eu, brasileiro.
Alexia: E desde que vocês se mudaram, vocês voltaram pro Brasil pra visitar ou não?
Beatriz: Eu, sim, uma vez. O Rafa ainda não pisou no Brasil. Mas o meu não foi nem ‘parti para o Brasil visitar.’ Quando a gente chegou aqui, a empresa deu um bololô ali. Era uma empresa nova também, que nem eu falei, tinha acabado de abrir aqui, então eles estavam meio que não sabiam o que fazer para procedimentos que precisavam para financiar vistos e essas coisas assim, era com uma empresa de advocacia. E aí eles meio que não mencionaram que o Rafa era casado. E aí, depois quando mencionaram, falaram, “Ah, quando o dele ficar pronto faz o seu.”
E aí quando o dele ficou pronto, eles falaram que devia ter feito junto. E aí já tinha passado meus 3 meses de turista. Aí eu tive que voltar para o Brasil para poder ter o carimbo de saída, e voltar com o visto, que aí eles também, pelo menos, pagaram minha passagem pra ir, meio que assumiram o erro assim, de que eu não fiz. E aí eu voltei para o Brasil, fiquei acho que duas ou três semanas, acho que três semanas. E aí fui até sozinha nessa época, porque o Rafa até foi pra África à trabalho. E aí fiquei no Brasil. Foi bom, só que só estava 6 meses fora, sabe?
Alexia: Nem deu tempo de sentir saudade.
Beatriz: É. A renovação foi tipo, “Tô aqui galera. Oi de novo, já deu saudade?” Pra família, óbvio que dá, mas pra amigo não deu esse negócio que nem tá hoje em dia que já faz mais de dois anos que eu não fui de novo, sabe?
Alexia: É, eu não vejo meus amigos, acho que há três… Dependendo de alguns, três, dois ou quatro anos. É tipo isso.
Beatriz: Você não foi ainda?
Alexia: Não. E eu não tenho vontade, por enquanto também de ir. Porque todas as vezes que eu penso em ir pro Brasil, eu lembro quanto tempo vai demorar para essa pandemia acabar lá, a segurança. Aí eu fico assim, “Tá bom, então vou chegar no Brasil, vou chegar no Galeão, mas eu morro de medo de chegar no Galeão. Então tem que ir pro Santos Dumont.” E aí, sabe? Eu ainda tenho um pouco de trauma em relação a segurança, em relação a essas coisas.
Beatriz: Sim. Quando eu fui, eu estava há só 6 meses fora, eu já senti esse do celular, do pegar o ônibus. Nossa, eu fiz quase tudo de Uber. Eu me choquei com o preço do metrô, tem noção? Eram 6 meses... Porque também, quando eu estava no Brasil, eu estava usando Bilhete Único.
Alexia: Ah bom.
Beatriz: Então eu não pagava o meu metrô assim, de chegar no guichezinho e comprar uma unitária já tinha um tempo. Então quando eu cheguei estava acho que R$4, sei lá… Acho que estava mais de R$4. Estava R$4,20 ou R$4,10, aí eu, “Gente do céu, com R$10 eu só consigo comprar dois bilhetes.” Sabe? Ai eu, “Gente, tá valendo mais a pena pegar um Uber, porque por R$7 eu sou deixada na porta do lugar.” Que era o mínimo né, eu não sei quanto é que tá agora. “Com R$7 reais, que é o mínimo, eu chego no lugar. Do metrô, eu tenho que pegar o ônibus até o metro, do metro, depois quando chegar lá, tem que andar até o lugar, por quase 5 reais, não.” E eu nem estava ganhando em euro, era tipo, só estava valendo muito mais a pena mesmo, estava surreal.
Alexia: É.
Beatriz: Mas agora em dezembro a gente vai.
Alexia: Ah, que bom.
Beatriz: Porque em março desse ano eu perdi meu vô pro Covid, então eu estou meio nessa de “Não, não vou aceitar passar esse primeiro Natal sem meu avô, longe da minha mãe e da minha avó.”
Alexia: Sim.
Beatriz: Agora também eu estou mais tranquila que nós dois estamos vacinados completamente. Então até dezembro, a gente já vai estar os dois também muito tempo imunizados, caso descubram que precisa de uma terceira dose, também já vai ter dado tempo de tomar uma terceira dose, então… Meus amigos também que eu quero ver, já estarão todos 100% vacinados.
Alexia: Pois é.
Beatriz: Então já vou mais tranquilinha, assim. Não vou, obviamente, pra Praça São Salvador, mas para ir em casa de amigos vê-los, que eu sei que estão respeitando a quarentena e estarão vacinados, eu vou 100% tranquila de vê-los.
Alexia: Que bom, que bom. E sinto muito pelo seu avô, realmente. É muito difícil isso.
Beatriz: É...
Alexia: Assim, a quantidade de gente que a gente soube que aconteceu a mesma coisa é muito surreal isso, sabe? E eu nem gosto de ficar falando muito sobre, porque ainda não acabou, então assim… Isso que me dá mais aflição do Brasil, sabe? Tipo, aqui em Portugal, a gente vê uma luz no final do caminho, sabe? Já está com 70% da população vacinada, estamos indo. Aí na Espanha também, mas no Brasil não, então eu fico muito nervosa por eles, por todo mundo.
Beatriz: O que me deu um quentinho no coração foi quando a galera da nossa faixa etária vacinou. Eu pensei, “Caraca, se chegou nos 30…” E aí depois, eu conheço gente também dos 20 e poucos assim, de trabalho, que era estagiário e tal. Quando eu vi uma amiga minha de 23 vacinando eu falei, “Graças a Deus.”
Alexia: Chegou.
Beatriz: Chegando nos 20, sabe? 20 de verdade, não na casa dos 20. Aí eu, “Ai, está andando, está chegando.” Então foi dando uma acalmada, sabe?
Alexia: É. Eu amei, né? A gente abre o Instagram, todo mundo tirando foto. Que aliás, eu não tive cara de tirar foto aqui porque, gente, as enfermeiras lá todas trabalhando que nem desesperadas e tal. Eu não consigo pegar uma câmera para tirar foto. Depois eu tirei em casa assim, feliz e contente.
Beatriz: Na primeira eu tirei foto só. O Rafa entrou filmando. Aí ele, “Porque você não filmou?” Aí eu, “Eu não tive esse…” Mas na segunda, eu filmei.
Alexia: Mas é muito de brasileiro, você não vê português fazendo. Eu não sei espanhol, mas aqui, primeiro que não pode filmar na rua, né? Você não pode filmar os outros por causa da proteção de dados, não sei o que...
Beatriz: Ah é? Nem sabia.
Alexia: Por exemplo, vamos supor que eu more numa casa, tá? E aí eu tenho uma câmera na minha casa para proteção. Se alguém quiser invadir minha casa e tal. Só que essa câmera também aponta a rua. E aí vamos supor que uma pessoa assalta um carro, tá? Quebra o carro, assalta o carro e minha câmera pegou. A polícia não pode usar essa câmera, não pode usar essa imagem, porque está filmando a rua.
Beatriz: Essa pessoa não assinou.
Alexia: Não pode. E eu acho isso o maior absurdo do mundo, porque tipo assim...
Beatriz: Desfoca, gente.
Alexia: Como assim, sabe? Então não pode, não pode filmar nada. Então eu também fico meio assim em relação a Portugal, do tipo, será que eu fazendo stories na rua… posso?
Beatriz: O daqui, o cara até… O Rafa foi filmar e a mulher disse que ele não podia filmar. Fotografar podia, filmar não. E eu, quando fui fazer a primeira, eu cheguei e falei, “Ah, eu posso?” Ai ela, “Você quer tirar foto? Claro, fica à vontade.”
Alexia: Ah que fofa.
Beatriz: Foi super… E eu cheguei, eu estava sorrindo tanto para a primeira dose, que ela chegou e falou, “Gente, olha como ela veio feliz.” Aí eu, “Não vou estar feliz? To esperando isso há maior tempão.” Aí eu falei, “Eu posso tirar foto? Aí ela, “Claro, fica à vontade.” Aí ela esperou eu botar… Eu fui rápida também, mas ela esperou e falou, “Posso?” Eu falei, “Pode.”
Alexia: Que fofa.
Beatriz: Mas no vídeo, a pessoa já foi mais grossa assim, já foi mais seca sabe? Já devia estar cansada.
Alexia: No puede.
Beatriz: Não, mas ela nem falou ‘não pode’ não, ela me viu pegando, eu fiz assim, “Vou?” Ela não disse que sim nem que não, só... Foi, fez o trabalho dela, nem comentou de eu estar feliz, só foi meio robótica, sabe?
Alexia: Sim, eu imagino.
Beatriz: Mas funcionou.
Alexia: Bom, o importante é que estamos vacinadas com primeira e segunda dose, felizes e contentes. Agora, Bia…
Beatriz: Graças a Deus!
Alexia: Pra gente encerrar o nosso papo, infelizmente, eu estou pedindo pra todo mundo dar uma dica de um lugar no Brasil que você ama e que adoraria que os gringos, os internacionais fossem visitar. Então, por exemplo, já passou aqui Ibitipoca, Chapada Diamantina, Lençóis Maranhenses, Barra Grande, Penedo, já falaram de Penedo também. Então assim…
Beatriz: Ai, Penedo é incrível.
Alexia: Penedo é um máximo, é um máximo. Tem algum lugar...
Beatriz: Ai, comam truta em Penedo.
Alexia: Verdade, tinha esquecido disso.
Beatriz: A truta de Penedo é maravilhosa, gente.
Alexia: É verdade.
Beatriz: Ai, eu acho que eu vou dar a dica então de Curitiba, porque… Eu juro pra você que eu não sou a louca de Curitiba, é que você foi citando muitos lugares do nordeste. Mas assim, tudo bem, eu sei que alguns lugares que você citou não são mas, tipo, eu pensei em falar de Aracaju, porque eu fui para Aracaju uma vez e eu fiquei apaixonada, mas você já deu tantos lugares do nordeste...
Alexia: Pode dar dois.
Beatriz: Que eu pensei em baixar mais.
Alexia: Então fala de Curitiba e fala de Aracaju, pode falar dos dois, porque ainda não teve Aracaju também.
Beatriz: Ah, Aracaju eu passei só um final de semana, tipo, uns três dias eu acho que eu passei. Mas foi, a comida pra mim, a comida inteira lá pra cima é maravilhosa, mas a comida e as feirinhas que tem típicas assim de Aracaju são maravilhosas. Fora que o povo, tipo, o pessoal da cidade é muito fofo, assim, de abraçar. E de Curitiba, os parques que tem são lindos e, tipo, com as capivaras. E pra você chegar e fazer um simples passeio de chegar e deitar num parque lendo um livro ou simplesmente fazer um piquenique ali e relaxar vendo capivaras e patinhos, é tipo, é muito relaxante, cara. E eles tem muitos japoneses em Curitiba, né? Então tem uns parques que tem umas construções assim japonesas que eu acho muito, acho que vale muito a pena a ida e o passeio. Curitiba tem uns passeios legais.
Alexia: Adorei. Eu nunca fui para Curitiba e nunca fui para Aracaju. Eu já tenho tanto lugar depois de ter gravado com tanta gente, tipo assim, que eu jamais imaginei. Ontem mesmo, uma das meninas falou Toque-Toque Pequeno, que é uma praia em São Paulo, eu nunca escutei falar nesse lugar.
Beatriz: Nossa!
Alexia: Eu botei depois no Google e é incrível, é linda. Toque-Toque Pequeno e Toque-Toque Grande, se não me engano. O nome em si já é maravilhoso, né?
Beatriz: Eu fico falando com o Rafa que a gente tem que, tipo, um dia, fora da pandemia, quando a gente for pro Brasil, for pegando tipo o mês para conhecer o Brasil. Porque ganhando em euro as coisas ficam um pouco mais possíveis de viajar pelo Brasil.
Alexia: Sim.
Beatriz: Em euro, em dólar, que seja.
Alexia: E olha lá. Exato.
Beatriz: E olha lá, e fica pau a pau com viajar por aqui. Mas quando a gente estava lá, era tipo de outra realidade, né? Eu agora tenho parentes em Florianópolis, que a gente fala que quando for pro Brasil tem que ir visitar. Que a gente já foi e também é um lugar incrível para ir. Minha irmã está morando em Manaus, então também queremos conhecer Manaus. Então é muito lugar que a gente quer ir, que vai ser possível na realidade de agora, porque antes era quase o preço de fazer uma viagem para a Europa. Então, o que você vai fazer? Você vai para a Europa ou você vai para o seu próprio país que está perto.
fica pau a pau - a slang meaning 'it's equivalent' parents - relatives
Alexia: É, isso é uma mentalidade que nós, brasileiros, temos muito, né? De tipo, o que que vale mais? Viajar na Europa, que máximo, outra língua, etc.. Ou então...
Beatriz: Eu acho que se fosse mais barato, eu com certeza iria preferir viajar pelo meu país. O problema é que acaba saindo o mesmo valor e eu vou pegar sei lá quantos mil dias de férias, eu vou querer ir pra um lugar longe, não pra um lugar perto.
Alexia: Sim, é isso. Para fazer valer o dinheiro.
Beatriz: É igual aqui. É tipo, quando a gente, aqui dentro da Europa, tem muitas férias pra pegar, dá uma dorzinha no coração pensar que vai para Portugal passar 10-15 dias. Não, melhor eu ir pra algum lugar que é mais longe passar tantos dias.
Alexia: Pra Rússia. Já tem tanto russo aí. Aproveita, faz amizade e vai pra Rússia. Vai pra lá, para aqueles lugares lá.
Beatriz: Exato.
Alexia: Bom Bia, obrigada por você ter vindo. Espero que você tenha gostado.
Beatriz: Obrigada pelo convite.
Alexia: Eu acho que assim, o principal de tudo foi, amei falar com você. Você tem casa aqui quando vocês quiserem vir, a cama está aqui atrás.
Beatriz: Obrigada, digo o mesmo.
Alexia: Eu quero muito conhecer a Espanha, de verdade, porque eu só conheço tipo, Granada, Marbella e tal. Ainda não fui aí, aqui pra cima, digamos assim, né? Para Barcelona, Madrid, então eu preciso ir para esses lugares ainda.
Beatriz: Com certeza vocês tem um quarto aqui também quando vieram e vocês vão se apaixonar por Barcelona.
Alexia: Eu não tenho dúvidas disso, e é um perigo que eu corro. Então assim, vamos ver. Então obrigada e a gente se fala.
Beatriz: Obrigada você.
obrigada você - you're welcome Outras maneiras muito comuns de dizer 'you're welcome': - de nada - eu que agradeço