Foster: Olá, olá, olá Alexia. Tudo bom?
Alexia: Oi Foster. Tudo, e com você?
Foster: Tudo ótimo. Então Alexia, sobre o que vamos falar hoje?
Alexia: Acho que a gente vai falar sobre sotaques.
Foster: É, interessante. Como eu me considero linguista... Bom, eu sou professor de inglês e eu gosto de idiomas, então os sotaques é uma coisa super, super interessante pra mim.
Alexia: Os sotaques são coisas muito interessantes pra mim.
Foster: Como assim?
Alexia: Porque você falou o sotaques, os sotaques é uma coisa muito interessante. Não, são mais de um sotaque...
Foster: Tá, tá, tá. Eu estava falando sobre o sotaque, no geral. Mas, bom, eu acho que a gente pode começar com o sotaque carioca né?
Alexia: Sim. Bom, eu tenho vários alunos, né, hoje em dia, e sempre quando eu vou começar uma aula a primeira vez com alguém, eu deixo bem claro que eu tenho sotaque carioca. Porque às vezes as pessoas amam e as vezes as pessoas odeiam, então existe uma grande diferença com o sotaque carioca pro paulista, por exemplo.
Foster: Sim. Posso falar alguma coisa, rapidinho?
Alexia: Claro. Posso falar uma coisa.
Foster: Uma coisa. Bom, eu já sei que a Alexia vai ficar firme comigo hoje, nossa. Mas bom, eu acho que a maioria dos alunos que estão estudando português, qualquer língua, eles tem um problema de, sei lá, perceber a diferença entre a pronúncia e o sotaque. Então, eu sei que muitos dos seus alunos, eles ficam muito preocupados, eles ficam muitos preocupados, né?
Alexia: Eles ficam muito preocupados.
Foster: Isso. Com seu sotaque, porque é carioca, mas a pronúncia realmente é o jeito físico que a gente produz sons com nossas bocas, etc. E eu acho que 95% dos sons, no português brasileiro, são iguais, né?
Alexia: É, sim.
Foster: Então eu acho que o sotaque não é a coisa mais importante, é mais como um bônus, é mais, sei lá. Faz sentido isso?
Alexia: Eu acho que faz, mas eu não diria que, por exemplo, não sei. Em relação ao português, existe uma grande diferença também entre o sotaque de português de Portugal e o sotaque brasileiro, e o sotaque de Moçambique, e enfim. Então, eu acho que no Português é uma das coisas mais importantes, porque mostra exatamente qual tipo de português você quer escutar. Então se você quer o português europeu, o português da América do Sul, o português da Africa... então não sei se eu concordo 100% com você.
Foster: Sim, sim. Eu concordo que entre países, até entre no Brasil, são super diferentes. Mas, por exemplo, se eu falar com, se eu conversar com um português de Portugal, é bem difícil para mim, mas se eu falar com paulista, mineiro, baiano, eu sempre consigo entender tudo.
Alexia: Sim. Você talvez terá um pouco mais dificuldade com os, o pessoal do norte, norte mesmo, tipo do... do campo, porque é muito mais rápido, é muito mais diferente, alguma palavras são um pouco diferente, mas aí é uma questão de acostumar os ouvidos. É simplesmente isso, mas não é uma língua diferente, é só sotaque diferente mesmo.
Foster: Isso, isso. Então Alexia, pode descrever pra mim, o que que é o sotaque carioca? O que que tem de diferente?
Alexia: O sotaque carioca, toda vez que eu falar alguma palavra com “s”, eu vou estar falando com “x”.
Foster: Exatamente. Eu vou extar falando.
Alexia: Por exemplo, estar.
Foster: Exatamente.
Alexia: Estar eu sempre vou falar extar. É quase star.
Foster: Star, star.
Alexia: É. E também muitas vezes palavras com “o”, eu pronuncio com “u”.
Foster: Por exemplo?
Alexia: Colégio.
Foster: Colégio.
Alexia: Muitas pessoas falam “colégio”.
Foster: Colégio.
Alexia: É.
Foster: Também “bunito”.
Alexia: Bunito.
Foster: Você não fala “bonito”, você fala “bunito”.
Alexia: Não. É muito bunito. Exatamente.E ao mesmo tempo dizem, eu sinceramente não sei se é verdade, dizem que o português carioca é o mais parecido com o português de Portugal, por causa desses sons.
Foster: Sim. Também tem conexões históricas, que acho que faz sentido.
Alexia: Sim, sim. Mas aí Portugal tem conexão histórica com o Brasil inteiro.
Foster: É, é, eu sei, mas linguisticamente eu acho um pouco mais forte com carioquês e o português de Portugal.
Alexia: Sim. E aí é isso que eu falo pra todos os alunos que tão começando comigo, porque eu não consigo fingir outro sotaque brasileiro. Claro que quando eu to dando aula eu mostro a diferença, por exemplo, “olha, você pode falar mexmo ou mesmo, tanto faz, você pega um, escolhe como você quer falar, e vai tá correto. Mas você vai me escutar a falar sempre mexmo”.
Foster: Mexmo. É, você fala assim mexmo.
Alexia: Eu falo assim "mexmo."
Foster: Bom, então pra mim as coisas, as duas coisas mais importantes com o sotaque carioca, é esse negócio de puxar os “s”, é muito chiado né?
Alexia: Sim. E o “R”.
Foster: E o “R”. Que o “r”, sei lá, o “r”...
Alexia: É com a garganta.
Foster: ...Paulista é mais parecido com o “r” americano. Porta, amor.
Alexia: Depende de onde você tá em São Paulo. Por exemplo, o sotaque do meu pai é o mais neutro possível, né, ele não puxa nem pra um lado nem pro outro. Ele é o perfeito falante de português que não tem nenhum sotaque. E é verdade isso...
Foster: Ele é, ele é. Ele é muito fácil de entender.
Alexia: É, ele é a melhor pessoa do mundo pra se aprender uma língua. Então quem quiser ter aula com meu pai, só mandar um email. Mas é verdade. Então, “porque” dele, que o meu vem direto da garganta, o dele vai ser “porque”, é o “r” mais parecido com espanhol, né, “porque”, “perro”, “porque”.
Foster: Sim, mas não fala com dois r’s em espanhol, não.
Alexia: Não, mas é, mas é praticamente o mesmo movimento que você faz com a língua, só que você não fica tanto tempo. Você fica menos tempo.
Foster: Sim.
Alexia: E aí, e aí tem sotaques que são mais do interior de Minas, mais do interior de São Paulo, que é o “porrque”.
Foster: “Porrque”, por que amor? Por que, meu amor?
Alexia: Porrque amorr, porrque você tá assim? E isso é da minha família. Minha família de Minas toda fala assim.
Foster: Tá. Pode me dar um exemplo de um sotaque mineiro?
Alexia: O amorr é uma dorr. Não, to brincando, só que o mineiro é, por exemplo, a Silvinha falando com a gente “mas vocês vão comer só isso? Como assim vocês vão comer só isso, é uma belezinha, vem cá comer mais bonitinho, como assim?”.
Foster: Sim. Eles falam muito bonitinho.
Alexia: Tudo inho. Pãozinho de queijo.
Foste: Eu acho muito fofo. Mas por exemplo, quando eu estava em Minas, eu acho que eu demorei uns dias pra realmente pegar o sotaque, mas do nada eu estava falando como eles. Tipo, falando “o amor”.
Alexia: Eu também. Eu também, eu tenho uma, eu falo que eu sou muito falsa em relação a sotaque, porque se eu passar um mês em Minas, eu vou ficar com o sotaque mineiro. Não igual a eles, mas eu vou pegar algumas coisas.
Foster: É, mas eu discordo com você Alexia, que você não é falsa, você é verdadeira. Porque eu sempre falo pros meus alunos que estão aprendendo inglês, que eles sempre me fazem perguntas... eles fazem perguntas pra mim, sobre o sotaque, tipo perguntando “Qual é o melhor sotaque pra aprender?” e pra mim a resposta é, sempre é, depende com quem você está falando, né.
Alexia: Sim, sim. É, e eu também acho que, por exemplo, nos Estados Unidos tem uma grande diferença entre o sotaque do sul e o resto dos Estados Unidos, né, eu acho que é isso que é o mais diferente de todos. No Brasil não, tem o sotaque do nordeste, tem o sotaque do sudeste, tem o sotaque sul, que é completamente diferente, tem o sotaque do centro-oeste, tem muito sotaque aqui dentro.
Foster: Sim, sim. Mas eu acho que nos Estados Unidos tem essa variedade também, tem muita variedade.
Alexia: Mas você acha que é tão diferente quanto é aqui?
Foster: Eu acho, porque, o sotaque da Nova York por exemplo.
Alexia: De Nova York.
Foster: De Nova York, não tem nada a ver com o sotaque de Brooklyn, que não tem nada a ver com o sotaque do meu estado, que não tem nada a ver com o sotaque da Califórnia. Bem...
Alexia: Qual a diferença entre o sotaque de Nova York com o de Brooklyn?
Foster: É... é bem difícil descrever isso, mas tem a ver com os “r’s” os “o”, tipo, eu sei que em alguns lugares em Brooklyn, também em New Jersey, eles falam tipo, “cup of coffee” cup of coffee, entendeu?
Alexia: Não, amor, porque cortou tudo e eu só voltei a te escutar agora. Então volta.
Foster: Bom, enfim, eu estava falando que o som do “o” nos sotaques do nordeste dos Estados Unidos, tem muita, muita variedade.
Alexia: Cup of coffee, cup of coffee. Ah, agora entendi.
Foster: É, enfim, eu acho que se você está preocupado com, com o sotaque que você está aprendendo, é aprender, falar português com alguém, provavelmente você vai pegar o sotaque dele, e daí você vai mudando aos poucos né.
Alexia: Sim. E você vai se adaptando porque as vezes um sotaque funciona melhor pra você do que um outro. E contanto que esteja correto, que você não esteja matando a língua portuguesa, tá tudo certo.
Foster: Exatamente. Então fica, fique à vontade e só falar.
Alexia: Exatamente. Fica à vontade e só falar. Bom, eu acho que é isso. Se alguém tiver mais alguma pergunta sobre as diferenças de sotaques, é só deixar um comentário aqui ou mandar email pra gente.
Foster: Exatamente. Obrigado Alexia, até já já.
Alexia: Obrigada Foster. Beijo, tchau!
Foster: Tchau!