Foster: Então, Alexia! A gente vai falar sobre o que hoje?
Alexia: Sobre o Rio de Janeiro!
Foster: Sobre o Rio de Janeiro.
Alexia: Mas de uma forma diferente…
mas de uma forma diferente - but in a different way
Foster: De uma forma diferente.
Alexia: Cê tá repetindo tudo o que eu tô falando?
Foster: Tô não mas eu sempre acho que é uma boa forma de falar português. Gente! Português é muito fácil! É só repetir! Tipo: “tabom?” - “e aí, tabom?”; “beleza, cara?” - “beleza!”. Exatame… Exatamente, cara! Muito fácil! Português é fácil. Mas, infelizmente, a vida no Rio de Janeiro hoje em dia, não é tão fácil.
Alexia: Eu resolvi gravar esse episódio falando um pouco sobre o que que tá acontecendo no Rio porque muitos dos meus alunos tão me perguntando. E...
Foster: Sim, também é a única pergunta que eu recebo recibo.
Alexia: Recebo.
Foster: Recebo. Nossa! Espanhol, está…
Alexia: Você sempre tem essa desculpa, para! Parou! Parou!
Foster: É porque daqui a pouco… Tá! É, tipo, o Rio é perigoso? O que está acontecendo no Rio?
Alexia: É… Não! Então, a gente já recebia essas perguntas, né? Mas só que a resposta sempre era: “não, o Rio é igual a qualquer outra grande cidade você pode ir, tem que ter cuidado por onde anda e lógico não ficar mostrando seu iPhone X, seu iPhone 6, seu iPhone S ou qualquer outro eletrônico pra todo mundo.”
Foster: É, então. Pra mim o Rio sempre foi e ainda é pra mim é mais ou menos como qualquer cidade do mundo. É tipo: have a good head on your shoulders, não ir num bairro e num lugar que você não deve ir, sempre fica com falantes nativos da língua, ser um viajante normal e sempre foi tranquilo comigo. Mas, a última vez que eu estava no Rio foi...
Alexia: Um ano atrás?
Foster: É, acho que tipo nove meses. E todos os meus amigos brasileiros estão falando: “o Rio mudou, um pouco”.
Alexia: É, o Rio mudou completamente.
Foster: Agora as coisas são um pouco mais feias.
Alexia: É, o Rio mudou completamente então, eu vou falar como uma moradora tá? Vou falar como uma pessoa que vive no Rio de Janeiro.
morador - someone who lives in a place, a resident of a city or place.
Foster: Tá.
Alexia: Eu moro em Copacabana. Copacabana é o bairro mais turístico…
Foster: Copacabaaaanaaaa! Vamos dançar samba!
Alexia: Princesinha do mar!
Foster: Tomar caipirinha! É assim?
Alexia: Não.
Foster: Bom, era assim quando eu estava lá.
Alexia: E Copacabana é um dos bairros mais lotados do Rio de Janeiro. Então você vê…
Foster: Lotado quer dizer cheio de gente, né?
Alexia: Isso. Completamente lotado!
Foster: Posso falar uma coisa, rapidamente?
Alexia: Pode!
Foster: Eu estou tentando dar um aspeto um pouco mais light pra um episódio pesado. Que quando um brasileiro quer dizer lotado que quando um lugar está cheio de gente, eles fazem - aqui é um podcast então não pode ver - mas eles fazem uma coisa com a mão…
Alexia: Igual quando a gente imita italiano, né, que é aquela mãozinha só que abrindo e fechando.
Foster: Pensa em um italiano falando: “a pizza está tão boa, allora!”. É a mesma coisa!
Alexia: Só que abrindo e fechando a mão.
Foster: Tá, vamos colocar link.
Alexia: A gente sempre fala que vai colocar e não coloca nada.
Foster: É, segue em frente! Pra frente, amor!
Alexia: Bom, eu fui pros Estados Unidos ano passado, como todos vocês já sabem e passei três meses. Quando eu voltei, eu já senti uma grande diferença. Eu voltei em novembro do ano passado. E eu sempre senti uma situação muito densa, muito pesada e eu não entendia o porque.
Foster: Tá, eu posso te parar um pouco?
Alexia: Pode.
Foster: Primeiramente você estava passando por um momento de transição na sua vida, nos Estados Unidos, e também o seu pai, seus amigos, estavam falando muitas coisas ruins sobre o Rio. Que é normal quando você está viajando nos Estados Unidos. Tipo: “Ah, é um saco aqui no Rio, as coisas não funcionam!”. Você acha que era um pouco disso ou não tinha nada a ver?
Alexia: Não eu acho que as coisas…
Foster: Ou que realmente a cidade mudou?
Alexia: Não, eu acho que as coisas não funcionavam, não funcionam e tá cada vez pior. Então assim, o Rio ele nunca teve excelência em serviço, ele nunca foi uma cidade em excelência. Jamais! E não vai ser! Porque é uma coisa cultural nossa!
Foster: Às vezes tem serviço excelente, amor.
Alexia: Enfim…
Foster: Depende do serviço!
Alexia: Enfim, a situação atual…
Foster: Serviço na praia é excelente!
Alexia: Claro! Óbvio! Na praia é o único lugar que você consegue ser atendido e te tratam super bem!
Foster: Nossa a gente nunca…
Alexia: Deixa eu falar o que que tá acontecendo?
Foster: Tá, pode falar!
Alexia: E eu achava que quando eu voltei dos Estados Unidos era uma coisa que eu tava mal acostumada, digamos assim. Ah, eu desacostumei ao Rio, eu desacostumei a cidade grande.E aí eu me dei um tempo tipo de duas semanas que é o normal né, pra quando você volta. O que acontece é o seguinte: a polícia do Rio de Janeiro, a polícia carioca, perdeu o controle da cidade. Simplesmente perdeu. Não vou ficar falando que é por causa disso ou daquilo. Perdeu. Não é o meu papel falar o porque. É… E o que que aconteceu: o tráfico, né, os criminosos voltaram…
Foster: Mas, quando você fala tráfico você se refere à narcotraficantes?
Alexia: Tráfico de drogas, enfim… Quando eu me refiro ao tráfico, eu me refiro aos criminosos.
Foster: Tá, mas é uma situação bem complicado. Se você está falando que…
Alexia: Situação complicada.
Foster: Complicada. Que a polícia perdeu o controle da cidade mas…
Alexia: Sim.
Foster: … os criminosos…
Alexia: Bandidos.
Foster: Bandidos. Né? Tem uma frase em português que é “bandido bom…”
Alexia: Não tem uma frase em português! As pessoas começaram a falar isso, o que eu discordo que…
Foster: “Bandido bom…
Alexia & Foster ...é bandido morto”.
Alexia: É um absurdo falarem isso!
Foster: Não mas é tipo eu vi uma pesquisa no O Globo que 75% dos brasileiros concordam com isso.
Alexia: Eu sei. E eu não concordo.
Foster: Tabom.
Alexia: Enfim.
Foster: Pode seguir! Foster parou!
Alexia: Essa frase é muito forte, né?
Foster: Essa frase?
Alexia: É, é muito forte.
Foster: É uma merda! Eu acho que a gente pensa mais ou menos a mesma coisa nos Estados Unidos. Pelo menos no meu estado… É bem diferente.
Alexia: Enfim, aí a gente entra numa outra discussão que eu acho que não cabe.
Foster: Sobre a criminalidade que não tem nada com isso. Tá, como está o Rio hoje em dia? É perigoso demais pra um gringo, turista que está querendo visitar?
Alexia: Então, vamos lá! Você vai chegar pelo Galeão. Galeão é o aeroporto internacional do Rio de Janeiro, né? E aí dependendo do lugar na cidade que você for, ou você segue pela Linha Amarela ou pela Linha Vermelha. A Linha Amarela vai te levar pra Barra, Recreio… E a Linha Vermelha te leva pra Zona Sul e Centro da Cidade, que é onde eu moro.
Foster: Sim. Para quem não conhece o Rio geograficamente a Zona Sul é a parte que você vai conhecer. Ipanema, Copacabana...
Alexia: Sim!
Foster: É, o Centro.
Alexia: Sim!
Foster: Enfim…
Alexia: Acho que a cada dois dias se não todos os dias, você corre o risco de ser assaltado de dentro do carro, de ter arrastão: que é quando vem um grupo enorme de pessoas fazendo um arrastão, ou seja, roubando todos os carros, roubando tudo.
Foster: É. Invadindo, tipo...
Alexia: É. Então por exemplo, eu conheço uma pessoa que tava voltando pro aeroporto, tava voltando pra casa, junto com os dois filhos, e gente! Eu juro para vocês. Não é uma coisa que acontece uma em cada dez pessoas. Acontece com quase todo mundo todos os dias. E começaram, ela tava dentro de um Uber e começaram a tacar pedra em cima do carro. Porque queriam assaltar o carro e não só o carro, queriam levar o carro. Então ela teria sido sequestrada junto com as crianças e o motorista ou ela teria sido deixada no meio da Linha Vermelha. Por sorte o motorista conseguiu escapar disso. Então assim! Isso é um exemplo em mil que eu tenho...
Foster: Sim.
Alexia: ...do que acontece.
Foster: Sim.
Alexia: Você tá andando na rua, o ideal é que você não saia mais de bolsa. É que você não saia mais com nada, nem com o seu celular. Porque não é só o assalto: “Ah, perdi o meu celular! Tudo bem, compro outro.”. Não, normalmente os bandidos têm arma ou faca. Então, mesmo você entregando tudo aquilo que você tem, eles podem te machucar.
Foster: Sim, tá. Posso te parar?
Alexia: Pode.
Foster: Tá, só pra defender a minha cidade um pouco que bom… Primeiramente como gringo, como turista, nunca tive nenhum problema de seguridade.
Alexia: De segurança.
Foster: Segurança! Seguridade! Nossa, espanhol de novo. É… No Rio. Mas, qual a porcentagem dos seus amigos dos seus conhecidos, já tem, sei lá, assaltados?
Alexia: É, eu por exemplo nunca fui assaltada.
Foster: Sim!
Alexia: Então… Mas eu sou um ponto fora da curva porque eu sinceramente acho que foi sorte até hoje. Mas, vamos supor, de dez amigos que eu tenho, oito já foram assaltados.
Foster: Sim, e pode ser tipo…
Alexia: E eu tenho uma amiga que foi assaltada quatro vezes em menos de seis meses. A Bruna…
Foster: Sim. Então pode ser entre 60 e 80% da população, da classe medial? Do, sei lá. Da classe média?
classe média - middle class
Alexia: Eu acho que não é só a classe média.
Foster: É. Mas vai ser assaltado no Rio.
Alexia: É.
Foster: Mas eu acho que comparado com, por exemplo, em Charleston, onde meus pais nasceram, todos os meus amigos que moram lá que estudaram lá já foi assaltado. Mais ou menos a mesma porcentagem.
Alexia: Foster, não é. Não é. Você sabe que é completamente diferente.
Foster: Meu irmão foi roubado quatro vezes!
Alexia: Mas você sabe que o Rio é, está sendo uma situação diferente. É uma situação muito complicada agora. Por exemplo, em Charleston, nos Estados Unidos, você confia na polícia, de uma certa forma. Você tem medo dos policiais. No Rio não! Você não confia nos policiais. Eles estão juntos na maioria das vezes.
Foster: Não, eu sempre tenho medo dos policiais em qualquer lugar.
Alexia: Exatamente! Eu tenho medo porque eu não sei se eles são policiais ou se são bandidos. Então…
Foster: É! Mas o negócio de ter uma arma na sua cabeça já aconteceu com a maioria dos meus amigos no meu estado também.
Alexia: Sim. Mas aí você entra no quesito de: nos Estados Unidos a arma é liberada. Então, se eu quiser comprar eu posso, digamos assim.
Foster: Você não pode! Você é imigrante, eu posso!
Alexia: Não, você entendeu o que que eu quis dizer. Aliás eu posso! Mercado negro conseguiria comprar.
Foster: Tá.
Alexia: Enfim…
Foster: Tabom.
Alexia: Então teve o Carnaval, que foi quando tudo estourou. Por exemplo, tinham blocos de carnaval acontecendo na Zona Sul com vários turistas e além de roubarem, eles apanhavam. Apanhar é quando alguém bate em alguém. E isso começou a ter muita revolta social e muita revolta da população. Então, o que que aconteceu: foi resolvido fazer uma intervenção militar no Rio de Janeiro. Ou seja, quem está tomando conta do Rio de Janeiro hoje em dia é o Exército Nacional, é o Exército do Brasil.
Foster: Sim.
Alexia: E… E aí entra um outro quesito: porque eu tô a favor da intervenção. Vai resolver alguma coisa? Não sei. Não faço ideia…
Foster: Tá. Amor?
Alexia: Ahm?
Foster: Você acha que a gente deve parar por hoje e gravar mais um episódio sobre a intervação… Inter… Pode falar?
Alexia: Intervenção.
Foster: Intervanção.
Alexia: Intervenção.
Foster: Intervenção. É, policial.
Alexia: Militar.
Foster: Militar! Porque já é muita coisa!
Alexia: Tá, então vamos resumir! O Rio tá numa situação complicada, tá acontecendo muita coisa, e a gente fala no próximo episódio qual está sendo o resultado de toda a criminalidade.
Foster: E o que pode acontecer.
Alexia: E o que pode acontecer!
Foster: Sim. Exatamente! O Rio ainda é uma cidade maravilhosa!
Alexia: Não me entendam mal! Eu amo o Rio! É a minha cidade. Mas pra viver não!
Não me entendam mal! - Don't misunderstand me! Don't take it the wrong way!
Foster: É a nossa cidade! “É noix!”. Tá!
Alexia: Então tá bom!
Foster: Até a próxima!