Listen on:
Foster: É sério amor, a gente tá gravando um episódio do Carioca Connection.
Alexia: Eu to mostrando pro Foster a minha música preferida da pessoa que nós vamos falar hoje aqui no Carioca Connection.
Foster: Quem é?
Alexia: Wilson Simonal.
Foster: Wilson Simonal
Alexia: Sim, Wilson Simonal. Posso organizar aqui meu microfone?
Foster: Sim, sim.
Alexia: Muito obrigada. Bom, Wilson Simonal foi uma das pessoas mais importantes pro Brasil em vários sentidos.
Foster: Sim, antes da gente começar, Alexia, eu quero falar que você ganhou esta vez, porque eu acho que a maioria dos ouvintes já sabe que eu adoro a música brasileiro, música brasileira, desculpa.
Alexia: Eu já ia te corrigir.
Foster: E eu nunca ouvi falar sobre Wilson Simonal na minha vida.
Alexia: Pois é, o Brasil tem muito disso, tem muitos cantores, tem muitos artistas que são muito importantes pra gente, mas que a gente simplesmente não fala sobre, e não conta sobre, e eu vou ser muito sincera, eu só lembrei de falar sobre o Simonal por causa do filme que foi lançado esse ano.
Foster: É, mas a tradeção.
Alexia: Tradição.
Foster: Tradição da música brasileira, da cultura brasileira é tão tão rica e tão diversa, tão imensa.
Alexia: Sim.
Foster: É uma coisa, você pode passar uma vida inteira e você ainda vai descobrir novos artistas, coisas novas. É incrível.
Alexia: É incrível. Bom, então vamos lá. Vai ser um episódio longo e cheio de história, então como a gente fala em inglês, bear with me.
Foster: Aguenta aí cara.
Alexia: Aguenta aí.
Foster: É, mas tudo bem, a gente pode dividir em dois episódio e a gente fala muito sobre ele, mas onde quer você quer começar amor?
Alexia: Do começo?
Foster: Faz sentido.
Alexia: Bom, então eu vou começar contando um pouquinho de como que o Wilson Simonal se formou, como é que ele chegou a virar um dos principais cantores negros do Brasil e porque que ele tomou essa fama toda, e principalmente porque que ele acabou a vida dele com a carreira horrível e com a fama lá embaixo e etc. Então, dias de glória, dias de luta.
Foster: Que é uma referência ao Charlie Brown Jr.?
Alexia: Charlie Brown Jr., exatamente.
Foster: Isso.
Alexia: Que a gente vai falar sobre ele um dia aqui também.
Foster: Dias de luta, dias de glória, histórias nossas histórias...
Alexia: Dias de luta, dias de glória.
Foster: Mas só pra deixar bem claro, pra você e nossos ouvintes, eu não sei quase nada sobre o Wilson, então eu estou aqui aprendendo também.
Alexia: A gente não fala "sobre o Wilson." Sobre o Simonal.
Foster: Simonal.
Alexia: É. Nós nos referimos à ele como o Simonal. Tá?
Foster: Perfeito, então vamos lá.
Alexia: Então vamos lá, vamos começar do começo. Ele começou a vida dele com os Dry Boys.
Foster: Que é o nome do grupo?
Alexia: O grupo, exatamente, que eles estavam cantando em inglês com mais três amigos imitando as bandas americanas.
Foster: Uhun.
Alexia: Eu sinceramente não sabia disso, e quando eu comecei a fazer minha pesquisa, eu procurei em todos os lugares da internet dessa internet, e não achei um vídeo dos Dry Boys.
Foster: Eu imagino que eu posso achar.
Alexia: Talvez.
Foster: Que agora eu estou muito interessado ouvir o inglês dele pra ver se é bom ou não.
Alexia: Bom, e ele na época era comparado ao Harry Belafonte.
Foster: Harry Belafonte?
Alexia: É, que era o rei do calypso americano.
Foster: Uhun.
Alexia: E calypso pra quem aqui não sabe, porque muitos de vocês não são americanos, é um estilo de música afro-caribenho que surgiu em Trindade e Tobago no século 19.
Foster: É.
Alexia: Tá?
Foster: Música do Caribe.
Alexia: Sim, então é esse tipo de música...
[Música]
Alexia: Como eu botei agora.
Foster: Exatamente assim, amor.
Alexia: Bom, ele conseguiu contrato com a rádio nacional carioca e foi aí que ele deu o primeiro passo sério na carreira dele.
Foster: E só pra clarificar um pouco, ele é carioca né?
Alexia: Ele é.
Foster: Nasceu no Rio.
Alexia: Sim. Bom, um belo dia ele se tornou crooner da boate Drink.
Foster: Que quer dizer crooner?
Alexia: Pelo o que eu entendi, ele era o principal cantor da noite, sabe aquele cantor que fica no bar ou na boate cantando sempre?
Foster: Uhun.
Alexia: Era ele.
Foster: E vocês falam crooner?
Alexia: Então, eu não falo crooner, mas na minha pesquisa estava escrito crooner, porque era como eles se referiam aos cantores daquela época.
Foster: Tá bom. Entendi.
Alexia: É isso. Por que, em inglês é o que?
Foster: Não sei, eu diria host, sei lá.
Alexia: Bom, e foi aí que ele conseguiu contrato com a gravadora Odeon, que era uma das maiores gravadoras da época.
Foster: É.
Alexia: E que existe até hoje, a Odeon, e ela foi fundada em 1903, então você imagina a quantidade de artista que existe dentro dessa gravadora até hoje.
Foster: É, é uma das grandes.
Alexia: Exatamente. Bom, só em 64 e em 65 ele começou a fazer pocket shows.
Foster: Que quer dizer?
Alexia: Pequenos shows.
Foster: Vocês falam pocket shows?
Alexia: Sim.
Foster: Por que? São shows que podem caber na sua bolsa?
Alexia: Pensa, pocket book. Pocket shows são pequenos.
Foster: É, eu esqueci que você falou pocket book também.
Alexia: Sim.
Foster: Que seria um paperback.
Alexia: Exatamente.
Foster: É, tá bom.
Alexia: Faz sentido né?
Foster: Não muito, mas é outro assunto.
Alexia: E ele começou a fazer pocket shows no Beco das Garrafas, que é uma travessa em Copacabana, na Rua Duvivier, e que na época dos anos 50 e 60, tinha um conjunto de casas noturnas nessa rua. Hoje em dia não, hoje em dia você vai lá na Rua Duvivier só tem casa residencial, às vezes com barzinho em baixo e tal, mas naquela época era onde realmente existiam várias casas noturnas.
Foster: Então, quando você fala a expressão "casas de noturnas."
Alexia: Casas noturnas.
Foster: Isso quer dizer?
Alexia: Isso quer dizer boate, isso quer dizer bar com música, isso quer dizer….
Foster: Ah, quer dizer boate, bar. Eu estava pensando que estava mais, tipo, prostituição.
Alexia: Não. Bom, não sei, pode tá inserido inserido também, mas por exemplo, meu pai fala muito casa noturna, meu pai foi dono de casa noturna. Então, se você conversar com ele, ele vai falar "não… porque as minhas casas noturnas..."
Foster: É. Não é uma expressão que você usaria muito hoje em dia.
Alexia: Não, e "noturna" quer dizer noite.
Foster: Sim, sim.
Alexia: Não, mas estou explicando aqui pras pessoas que estão escutando também.
Foster: É, a gente tem uma palavra bem parecida em inglês.
Alexia: Qual é?
Foster: Nocturnal.
Alexia: Sim.
Foster: Mas nunca utilizaramos...
Alexia: Que que você quer dizer?
Foster: A gente nunca usaria essa palavra normalmente.
Alexia: Pronto, ótimo. Bom, gente, deixa eu só falar uma coisa aqui, eu to falando os pontos principais, tá? Da carreira dele, porque se não vai ser, vão ser 40 episódios sobre o Wilson Simonal.
Foster: Tudo bem.
Alexia: Em 65, em 1965, ele se muda pra São Paulo, porque ele assinou um contrato pra apresentar um programa chamado Spotlight na TV Tupi. E aí tá uma curiosidade, na TV Tupi foi onde meu pai começou como ator, lá no iniciozinho da TV Tupi, e ele o primeiro ator mirim, o primeiro ator criança da TV brasileira.
Foster: Ator mirim?
ator mirim - child actor
Alexia: Sim.
Foster: Isso quer dizer ator criança?
Alexia: Sim.
Foster: E seu pai fazia o que? Tipo, comerciais?
Alexia: Ele era o filho da novela da época, né então, ele fazia novela e ele fazia os comerciais também.
Foster: É, eu acho que a gente já falou sobre isso num outro episódio, mas nossa, seria tão legal ver esses episódios com o seu pai.
Alexia: Sim. Eu acho, eu posso tá enganada, mas eu acho que a TV Tupi pegou fogo e perdeu.
Foster: É, é o que o seu pai falou.
Alexia: É, exatamente, perdeu, enfim. Mas voltando aqui ao Simonal e não ao meu pai. Quando o Simonal se mudou pra São Paulo e começou a fazer esse show, que se chamava Show em Si...Monal. Entendeu?
Foster: Entendi.
Alexia: Show em Si...Monal.
Foster: É um jogo de palavras.
Alexia: É. E um outro que era Vamos Simbora.
Foster: Uhun, vamos simbora!
Alexia: E esses dois últimos foram na Record, que era a maior emissora do país na época, maior do que a Globo, maior do que a TV Tupi.
Foster: Uhun, que ainda é importante hoje em dia.
Alexia: Muito importante. Foi quando começou a ficar realmente conhecido. Então isso só aconteceu em 1960, 1970 tá? Foi quando ele começou a ter esses três programas de TV, um seguido do outro em duas emissoras grandes do país e foi quando as pessoas começaram realmente a conhecer o Simonal. Porque gente, lembra, naquela época se você não tivesse um networking muito forte, você não conseguiria virar um artista grande, então ele ganhou esses três programas e foi dessa forma que as pessoas começaram a reconhecer.
Foster: Também lembra que nessa época foi um boom da música brasileira, tinha muita coisa acontecendo, então muitas pessoas lá.
Alexia: Muitas pessoas. E tem uma parte do filme, que o filme mostra bastante, que ele foi fazer um show, se não me engano no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro.
Foster: Uhun.
Alexia: Existe o Maracanã e Maracanãzinho. Eu posso estar enganada do lugar, mas de qualquer forma, ele chegou nesse lugar e começou a cantar essa música "Meu Limão Meu Limoeiro," que eu comecei a mostrar no começo desse episódio.
Foster: Uhun, como se chama a música?
Alexia: Meu Limão Meu Limoeiro.
Foster: Limoeiro?
Alexia: É, que é a árvore do limão.
Foster: Limoeiro.
Alexia: Sim.
Foster: Lemon tree.
Alexia: Sim
Foster: Nossa, não sabia.
Alexia: E aí, eu preciso assistir o filme e relembrar, mas pelo o que eu entendi, ele deixou a plateia cantando "meu limão, meu limoeiro..." Todo mundo cantando ao mesmo tempo. Ele saiu do palco e o pessoal continuou cantando. Aí ele foi pra um bar, bebeu alguma coisa, e quando ele voltou o pessoal ainda tava cantando e continuou o show. Eu posso estar enganada em relação como que aconteceu direitinho, mas existe esse fato também.
Foster: Mas é muito legal. Então nessa época ele já foi… Era famoso como artista, como cantor, como pessoa que aparecia na televisão.
Alexia: Sim, porque quem tinha… Naquela época, programa de auditório era muito importante né, no Brasil e no mundo.
Foster: É.
Alexia: Então Chacrinha veio de lá, que enfim, um dia a gente fala sobre o Chacrinha também, mas o Simonal ter um programa seguido do outro de auditório, sendo negro naquela época.
Foster: Um programa o que?
Alexia: Um programa seguido do outro.
Foster: Mas qual foi a palavra que você usou?
Alexia: Programa de auditório
Foster: De auditório?
Alexia: Sim.
Foster: De auditório.
Alexia: De auditório. Auditório é quando você tem plateia, é um auditório te assistindo.
Foster: Ah, é, tá. É um programa com plateia.
Alexia: Exatamente.
Foster: Entendi.