Listen on:
Alexia: Olá Marco.
Marco: Olá minha filha.
Alexia: Bem vindo de volta ao Carioca Connection.
Marco: Muito obrigado, um prazer sempre.
Alexia: Um prazer mais ou menos, porque hoje a gente acordou e falou “pai, você vai gravar episódio com a gente, tá pronto?”
Marco: Eu estou sempre pronto pro Carioca Connection, adoro.
Alexia: Bom, você fez bastante sucesso nos último episódios e por isso que a gente pensou em te chamar de novo pra você contar que que aconteceu com você na sexta-feira passada.
Marco: Eu fui operado...
Alexia: Calma. Calma, não fala assim de uma vez.
Marco: Tá bem, eu fui operado de uma catarata, que eu não vou perturbar vocês com detalhes, todo mundo adora contar com todos os detalhes a operação e tal.
Alexia: Mas é por isso que a gente tá aqui.
Marco: Não, mas há uma maneira mais charmosa de fazer, essa maneira é não aborrecer os ouvintes com detalhes chatos, que isso interessa só pra nós, os pacientes ou “utentes” como se fala aqui em Portugal.
Alexia: Bom, vamos começar do começo.
Marco: Ok.
Alexia: A gente chegou aqui em Portugal e aí achamos o querido Dr. Ruy né, que foi um anjo que caiu na Terra pra gente e o Dr. Ruy… A gente foi lá e viu que os transplantes dos seus olhos estavam completamente transparentes porque, pra quem não sabe, claro que todos vocês, meu pai tem as duas córneas transplantadas, então um dos grandes medos nossos seria que esses transplantes não estivessem bons e não fosse só a catarata né?
Marco: Exatamente. E o transplante foi feito em 1992 mais ou menos, um deles eu lembro, em Buenos Aires por um grande cirurgião. Esse cirurgião, Dr. Enrique Malbrán, era um dos grandes nomes dessa cirurgia de transplante em Buenos Aires, era conhecido no mundo inteiro, e eu fui até lá e fiz dois transplantes, o do olho esquerdo e do olho direito.
Alexia: Com anestesia local.
Marco: Com anestesia local que eu não queria ficar… Essa parte é uma parte que hoje em dia eu não teria mais coragem eu acho, porque você leva uma injeção no olho. Mas enfim, correu tudo bem, a qualidade das córneas transplantadas dele são excelentes, é por isso que elas duraram até hoje transparentes e o Dr. Ruy ficou impressionado.
Alexia: E o Dr. Ruy é aqui de Portugal e nós fomos lá, marcamos a cirurgia pra sexta-feira passada. E pra mim, quando alguém fala sobre cirurgia, é sempre aquela coisa, tem que ir pro hospital, tem que internar, tem que fazer cirurgia, fica mais 2 ou 3 dias no hospital dependendo, volta pra casa e tem uma recuperação. E com a catarata, é impressionante, porque é feito no consultório, numa sala específica, né, de cirurgia, eles fazem tudo lá, toda sexta-feira eles operam. Ah, uma coisa importante, “cirurgia” e “operação” são duas coisas diferentes. “Operação” é quando é algo grande, extremamente, como é que se diz? Complicado. E “cirurgia” são coisas pequenas né?
Marco: Filha querida, eu acho que não, eles se referem a “cirurgia” ou “operação” da mesma forma, não tem essa divisão semântica que você tá fazendo, mas enfim…
Alexia: Eu acho que tem, mas tudo bem.
Marco: Bom, ok. O importante é que as pessoas costumam falar “ah, operação de catarata demora 15 minutos” e simplificar um milagre da tecnologia que é o seguinte. Rapidamente. Antigamente, quando as pessoas faziam operação de catarata, elas ficavam numa cama de hospital com dois travesseiros pesados pra que a cabeça não mexesse, do lado de cada orelha e era um drama. E veio sendo um drama durante muito tempo até que a tecnologia, com a graça de Deus e dos cientistas, evoluiu tamanha, de tal forma que a cirurgia hoje ela é feita a laser. Basicamente é o seguinte, é feita uma pequena incisão no olho…
Alexia: Pera aí, calma. O que que é “incisão”?
Marco: “Incisão” é um cortezinho.
Alexia: Isso.
Marco: No olho. Então eles retiram uma coisa chamada cristalino, que eu não sei bem o que que é, mas é uma espécie de lente do olho humano, é onde as imagens se formam. Aquilo tá embaçado pela catarata, esse é o problema, tira a visão completamente do olho, é feito em dois segundos, não me pergunta como. E daí é colocado no lugar uma lente ultra, intraocular, ou seja, uma lente dentro do olho, uma pequena lente super especial que é medida exatamente pro seu olho, foi daí meu grande problema, que eles não conseguiam medir no começo porque….
Alexia: Não é, não foi nenhum grande problema pai. Foi super tranquilo, o Dr. Ruy tá super acostumado a fazer isso e fez manualmente, não teve problema algum.
Marco: Problema foi só pra mim que eu fiquei suando.
Alexia: Você que ficou ansioso com isso.
Marco: Mas enfim, é colocado então a lente, fecha-se a incisão e você então volta pra casa com cuidado...
Alexia: Não não não, calma. Aí quando você termina a cirurgia, você sai da sala de cirurgia e espera praticamente uma hora, uma hora e meia, porque uma coisa que meu pai não sabia é que ele levou um pouquinho de anestesia geral pra ficar calmo durante a operação. Ele tava completamente grogue, muito grogue. Ou seja, tava em Alfa.
Marco: Quando você deita na, como chama, na cama, poltrona...
Alexia: Na maca, na maca.
maca - stretcher
Marco: Não é maca não, é uma espécie de poltrona de primeira classe de avião, vamos chamar assim, que você fica deitado, a enfermeira, são 3 enfermeiras, uma delas te coloca, te dá uma anestesia, eu não sabia que era, uma injeção na veia, e eu falo...
Alexia: No braço.
Marco: No braço, “pra que que é isso?” ela falou assim “isso é pra não inchar muito o olho,” o que é uma bobagem, que eu tenho 73 anos, eu to apto a escutar que eu to tomando uma anestesia. Enfim, e deixa um canudinho aberto que é pra se precisar um pouco mais de anestesia, te coloca uma máscara no rosto, uma máscara tranquila, simples e com arzinho fluindo por baixo da máscara pra você se sentir bem. E daí então começa a operação e você não vê nada, você vê só uma luz branca de, claro, de operação na tua frente, no teu único olho né que tá aberto, e depois você então sai de lá meio grogue, graças a Deus tinha lá o Foster e a minha filha para me guiar pelos caminhos até o Dr. Ruy.
Alexia: Bom e aí depois de isso tudo, praticamente uma semana depois, ontem ou anteontem, você saiu de casa e viu pela primeira vez um céu azul, a real cor né, do céu.
Marco: Sim, o Porto, Portugal, mas o Porto em especial onde eu to morando, ele tem um azul, ele tem uma luz maravilhosa, é conhecido no mundo inteiro essa luz aqui de Portugal e do Porto, então o meu olho continuava, eu pingando colírios, etc, ele continuava um pouco embaçado porque ele tava inchado. E ontem pela primeira vez, ele desinchou e eu então saí na rua e percebi aquele azul maravilhoso, enfim, uma beleza maravilhosa e falei, “gente, pera aí, isso é porque eu estou enxergando.” Aí eu fechei o olho direito e fiquei emocionado com o olho esquerdo eu conseguia ver tudo, principalmente o céu azul, os edifícios recortados contra o céu azul, uma coisa linda linda linda, aí eu liguei pra minha filha.
Alexia: Então ótimo, então pai, muito obrigada por ter participado por esse episódio, eu espero que só fique melhorando a sua visão mais e mais né? Porque agora é só uma melhora, depois você vai colocar óculos com as novas lentes, então vai ser ótimo e provavelmente a gente vai ter mais episódio com você.
Marco: Tá, a última coisa que eu queria falar, é importante. É, se você vai fazer uma operação de catarata...
Alexia: Ou operação daquela miopia que hoje em dia tem laser e tal.
Marco: Sim, vá tranquilo. Realmente são 10 minutos e agradeça à todos os cientistas que durante mais de 150 anos trabalharam nisso pra gente.
Alexia: Tá ótimo, então muito obrigada e até a próxima
Marco: Bye bye.