Listen on:
Marco Antônio: Queria terminar com o verso. Importante: um poeta inglês, mas que diz o seguinte, ele fala assim: ‘vem amor, que um vento já desce das montanhas e as velas já estão prontas.
Foster: Estou vendo muita coisa saindo nas notícias americanas, falando que Bolsonaro o Trump brasileiro. Você concorda com isso? Eu acho que, como ele ganhou o poder através do Facebook, através dessas coisas, através de... falando muita besteira, né? Eu acho bem parecido com o Trump. Mas, honestamente, não sei.
Marco Antônio: É. Nesse sentido é. Eu conheço pouco o Trump, porque as notícias que tenho dele aqui, elas chegam pela imprensa brasileira, que pega as informações na CNN. Então elas chegam sempre com esse viés, de CNN. Então, para vocês terem uma ideia, eu fui dormir antes da Eleição, a Alexia, minha filha falou: ‘pai, que que será que vai acontecer amanhã?’
Eu falei, ‘Ah, minha filha, fique tranquila, a Hillary tá eleita.’ Ela falou ‘Porquê?’ Porque assistindo a GloboSat, que é um canal de TV brasileira importantíssimo, eles deram, os correspondentes de Nova Iorque deram, que uma universidade tinha dado 90% de chances da Hillary ganhar, a outra 97% e uma outra 100%. Eu falei ‘O homem tá eleito... A mulher tá eleita!’. E no dia seguinte eu acordo com o Trump vencedor. É, então a gente recebe a notícia com esse viés da CNN que é... Enfim, eu conheço pouco do Trump. Eu conheço via imprensa brasileira. O Bolsonaro fala muita besteira, ele fala muita bobagem.
Foster: Sobre a mulher, sobre homossexuais, sobre qualquer coisa que ele pode.
Marco Antônio: Sobre tudo. É impressionante! Pra mim, o impressionante é que isto aí, que seria fatal uma pessoa falar numa Eleição, antigamente, não pega mais. Tem uma expressão brasileira, me permito explicar pra vocês, que é muito engraçada.**
Foster: Sim, por favor.
Marco Antônio: Lançaram uma frigideira, uma vez, no Brasil, chamada Teflon. Que não gruda nada. Você pode fritar um bife, fazer qualquer coisa, ela frita o bife, mas não gruda. Então o Bolsonaro ficou sendo o candidato Teflon. Nada gruda nele.
Foster: Isso pra mim é exatamente o Trump. Pensa em qualquer outro candidato falando as coisas que ele fala, tipo, nada fica grudado, né?
Marco Antônio: Eu acho que isso também, tem uma coisa mais profunda, como se fosse, assim, uma correnteza mais profunda. É... Uma espécie de uma reação ao exagero do politicamente correto. Aonde você é chamado, se você for uma pessoa que tem um emprego, um carro, e mora num lugar, você é rico, você é fascista, você é isso, você é aquilo. Você é homofóbico, você... enfim. Acho que é um pouco... Lá no fundão, uma corrente forte também do seguinte: ‘Poxa, eu sou um cara que trabalho. Sou um sujeito decente, eu sou um cara legal e, de repente, eu sou a escória da humanidade. Por causa da cor da minha pele, por causa da minha... Do meu gênero…
Tem uma coisa mais profunda. There is something deeper.
Foster: Escória significa lixo, né?
Marco Antônio: É. Hoje em dia, homem branco é quase um palavrão. Eu diria que é um palavrão. O homem branco. É muito estranho isso.
Foster: Sim. Eu via a mesma coisa com o Trump que, eu acho que todo mundo está em busca de uma coisa autêntica, né? Ah, o Trump ele é... Perdão, mas ele é babaca. Ele sempre está falando besteira, mas ele fala o que ele pensa. E isso dá uma refrescada pras pessoas. E, eu acho que o mesmo movimento esse negócio, de... ‘Ah, pelo menos ele está falando o que ele pensa’. Tá acontecendo com o Bolsonaro também.
Marco Antônio: Sim, mas deixa eu falar uma coisa um pouco mais séria. O Brasil mata 65 mil pessoas por ano. É o maior índice de homicídio do mundo. O Brasil tem 200 milhões de habitantes…
o maior índice de homicídio do mundo - one of the highest homicide rates in the world
Foster: Sim, além dos países em guerra.
Marco Antônio: É, enfim... Em dez anos isso aí daí dá 650/700 mil mortos. É um absurdo, é um massacre, é um genocídio. E são crimes que existem, assaltos, violências, violência contra mulher, violência contra tudo. É incontável, eu não consigo ter um número pra dar pra vocês. E a impunidade dos assassinos, os raros que são presos, é uma coisa de abismar.
A pessoa é condenada a 30 anos de cadeia, que é o máximo que se pode condenar no Brasil, com 6 anos, ele tá livre pra voltar pra casa e daí por diante. A Maioridade Penal no Brasil é 18 anos. Tem um enorme número de crimes cruéis e hediondos cometidos por garotos, garotas de 17, 16 anos. Então o brasileiro está muito assustado, muito cansado, ele tá muito assaltado. De repente aparece alguém que fala ‘eu vou acabar com isso, eu vou abaixar a maioridade penal. Eu vou ser duro com os criminosos, vou aumentar as penas’ soa como música pra um povo assaltado. E antes que alguém de um país mais civilizado pense que existe…
Foster: De um país mais civili...
Marco Antônio: Pense que, são os pobres que estão em revolta contra os ricos, eu queria dizer que no Brasil, rico é menos de 1%. Classe média no Brasil, como vocês entendem nos Estados Unidos, talvez seja 5%, 8%. O restante, é uma classe média brasileira, deve ser no máximo 20% do país, e o restante é todo mundo de pobre pra miserável.
E a maior parte das pessoas assaltadas no Brasil são pobres ou miseráveis. Tem uma avenida no Rio de Janeiro chamada Avenida Brasil. A Avenida Brasil tem passarelas, que são pontes de concreto pra que você desça do ônibus no lugar, e atravesse a avenida do outro lado, sem correr o risco de ser atropelado. Tinha uma passarela lá, são várias passarelas, elas são conhecidas pelo número. Passarela 1, 2, 20, 25 e tal, tem uma passarela que eu não lembro o número, que era conhecida como a passarela dos assaltos.
Os coitados voltando do trabalho, tipo, 8 da noite, desciam do outro lado da avenida, atravessavam, eram assaltados no meio da passarela, pobres. Levavam o dinheiro do aluguel, ou espancavam, quando era um casal, enfim, havia muita violência. Então os pobre sofrem muito a violência. Eles são dominados quando moram no morro, pelas quadrilhas de traficantes, que são implacáveis.
Foster: Sim, a violência...
Marco Antônio: A violência é uma palavra muito fraca pra explicar. Crime é a palavra correta. Existe muito crime. Então se os brasileiros estão com muito medo em todos os níveis. E eles veem as pessoas sendo, os políticos, sequer chegam à prisão. A prisão do Lula, deve ser, em 500 anos de Brasil, a primeira prisão de um poderoso.
Foster: É.
Marco Antônio: Porque teve um juiz de primeira instância, o juiz Moro…
Foster: Sérgio Moro.
Marco Antônio: ...que levou o presidente à prisão. Porque se esse caso cair na mão de qualquer outro juiz do Supremo Tribunal Federal, ele estaria... não iria pra frente, estaria numa gaveta esse processo.**
Foster: É.
Marco Antônio: Então tudo isso gera uma revolta muito grande, que explica você pegar uma pessoa de fora do poder, engraçado que Bolsonaro é político há 20 e tantos anos, mas ele é encarado como...
Foster: É, há 30 anos, ele começou no ano 90, eu acho.
Marco Antônio: Exato. Mas ele é considerado uma pessoa fora do sistema.
Foster: É, é um outsider.
Marco Antônio: É um outsider.
Foster: Mas ele está no sistema faz 30 anos, pô.
Marco Antônio: Então, nessa eleição, existem dois candidatos contra o sistema. Um o Bolsonaro e o outro o João Amoedo, de um partido chamado NOVO. O João Amoedo é aquele liberal no estilo brasileiro, não o Liberal americano, liberal, é... Menos impostos, mais liberdade individual…**
Foster: Então, nesse sentido, o americano pensaria como neo-liberal.
Marco Antônio: Entendi.
Foster: Que é menos impostos, menos Estado, menos... Envolvimento com o Governo na sua vida.**
Marco Antônio: Exatamente, então, essa grande massa política brasileira, inclusive aí o segundo e terceiro escalão, esse grande núcleo de brasileiros que mandam no país, eles identificaram dois perigos: o João Amoedo e o Bolsonaro. O João Amoedo, com 2 ou 3% de votos, eles nem se preocuparam. E o Bolsonaro eles levaram um susto. Porquê? Qualquer um dos candidatos que entrassem, Haddad, o Alckmin, ou outro, ia compor com o sistema. A primeira coisa era soltar o Lula...
Foster: Alckmin foi quem? Perdão.
Marco Antônio: Alckmin é o atual governador de São Paulo.
Foster: Ah tá.
Marco Antônio: Fortíssimo, e que teve uma coisa como 6% dos votos ou 8%, uma coisa. Então o Bolsonaro é um fenômeno mesmo. É inacreditável o que aconteceu. Com a subida dele, todas as forças políticas e toda imprensa brasileira, toda, 100%... É, publicou notícias muito fortes contra o Bolsonaro. E é o que eu falei, destruiria qualquer um, com ele não colou. Eu não sei porquê.
Foster: É. Perfeito... Não é perfeito, mas eu entendi. Então Marco, então na verdade a gente vai acordar amanhã,as as Eleições vão acontecer, quem cê acha que vai ganhar?
Marco Antônio: É difícil responder, Foster, porque é…
Foster: Eu acho que não é difícil, não.
Marco Antônio: As pesquisas, não. As pesquisas indicam que o Bolsonaro deve ganhar com folga.
Foster: Com folga quer dizer facilmente?
Marco Antônio: É, facilmente. Com folga, facilmente, por larga margem de votos.
Foster: Como a Hillary, né?
Marco Antônio: É. Agora, eu, depois do Trump, eu fiquei meio ressabiado. Mas enfim, amanhã deve acordar o Brasil com um novo presidente.
Foster: Ressabiado quer dizer o quê?
Marco Antônio: Ressabiado é desconfiado.
Foster: Com um pouco de medo.
Marco Antônio: Um pouco de medo dessa... Mas parece, parece que tem umas pesquisas que são feitas por um site bastante atuante e, eles indicam 14% a mais, o que representa 13 milhões de votos a mais para o Bolsonaro. Então acredito que amanhã, a gente vai acordar com o Bolsonaro presidente. E eu desejo de todo o coração, que ao acabar a Eleição, pelo menos eu vou fazer isso, eu gostaria que quem morasse no Brasil, for brasileiro e estiver me escutando, acabou a Eleição, acabou a Eleição.
Ela foi uma Eleição democrática. Essa é a essência. O povo escolheu o presidente. Vamos respirar e esperar um vento bom pro Brasil. O Brasil está precisando de um vento bom. Eu tenho pra mim, que um homem público fica na história pela quantidade de felicidade que ele espalha pro seu país. Vamos esperar que esse homem, esse presidente, esse sistema novo que vai entrar, espalhe muita felicidade pelo Brasil. E que a gente possa respirar. Porque até agora não tá dando pra respirar. A gente tá muito agoniado. Muito tenso. então o Brasil precisa de um vento ao favor, pra voltar a ser um país mais alegre. O país já é alegre, mas que as pessoas tenham um pouco mais de esperança. A esperança no Brasil foi destruída.**
Foster: Exatamente.
Marco Antônio: Nesses últimos 20 anos quase que completamente. Quando eu era jovem, a gente discutia que o Brasil ia ser um dos cinco maiores países do mundo. Não em termos de Exército, ou um PIB, mas em termo de felicidade pro povo, de status.
Foster: Não, eu vi alguma coisa este ano. Até a gente gravou um podcast sobre os países mais felizes do mundo. O Brasil, número 1.
Marco Antônio: Pois é, então isso daí, você falando com as pessoas na rua, hoje lá no Brasil, chofer de táxi, o cara do supermercado, todo mundo tá muito pessimista. Ah, isso daqui não tem jeito. Vai demorar 50 anos pra melhorar, se é que vai melhorar. Então, uma lufada de boas notícias pros brasileiros…
Foster: Uma lufada quer dizer o quê?
Marco Antônio: Uma lufada é um vento, é uma rajada de vento.
Foster: Certo.
Marco Antônio: É... pro nosso país seria muito bom pras cabeças e mentes ficarem mais otimistas, mais felizes. Eu desejo, ardentemente, isso. Eu, quando tinha 18 anos, o Brasil era um país pobre, e que sofria. Eu hoje tenho 73 anos, eu passei por muitas emoções políticas e o Brasil continua sendo um país pobre e aflito. Eu queria que isso terminasse de vez. Que o Brasil fosse um país digno. E mais feliz, que as pessoas fossem mais... Não é otimistas no sentido bobo da palavra, que as pessoas só tivessem mais segurança, de ‘sim, existe um caminho, é difícil, mas a gente vai chegar lá’.
Foster: É. Bom, Marco, agradeço muito, não somente sua presença, mas também a sua mensagem de esperança, porque o brasileiro precisa de um pouco mais de esperança. Mas ainda acho um brasileiro... É uma pessoa muito feliz, mas é uma pessoa feliz sem esperança hoje em dia. Isso fica muito complicado.
Marco Antônio: E daí eu queria terminar com o verso. Importante: um poeta inglês, mas que diz o seguinte, ele fala assim: ‘vem amor, que um vento já desce das montanhas e as velas já estão prontas.’ Então um barco, com as velas prontas, porém arriadas, não é, sem vento. Então ele chama o amor dele, vem amor, que um vento já desce das montanhas e as velas já estão prontas. Então as velas dos brasileiros já estão prontas. Então eu peço pra que Deus mande um vento das montanhas pra que a gente possa zarpar em direção ao mar azul.
Foster: E amanhã a gente vai saber se esse vento se chama Haddad ou Bolsonaro, mas depois a gente fala sobre isso.
Marco Antônio: Tá ótimo.
Foster: Obrigado, Marco. A gente falou.
Marco Antônio: Grande beijo, beijo pra vocês.
Foster: Igualmente. Tchau, tchau.
Marco Antônio:
Tchau.