Listen on:
Marco Antônio: Falando de uma forma bem brasileira, a tudo isso que tá aí. É o seguinte…
Foster: É uma frase bem brasileira mesmo.
Marco Antônio: Bem brasileira... Essa frase é o seguinte: O Brasil é uma eterna fila.
Foster: Olá pessoal. Sejam bem-vindos a mais um episódio de Carioca Connection, estamos de volta, finalmente. E temos um convidado especial: o pai da Alexia, Marco Antônio. Sejam bem-vindos, Marco.
Marco Antônio: Muito obrigado. Prazer tá aqui no Carioca Connection. Muito feliz de ver aqui o trabalho do Foster e da minha filhota Alexia e... Enfim, feliz em falar com vocês, que acompanham esse Carioca Connection de uma forma bastante carinhosa, muito legal. Adorei.
Foster: É muito legal. E uma coisa que eu queria falar. Gente, eu vou sofrer muito com o meu português hoje, porque a gente está na Espanha. Então estou pensando em espanhol, traduzindo para o português, pensando em inglês, é difícil. Mas enfim, Marco. É... uma coisa antes de começar: eu preciso falar que você tem o sotaque mais bonito, pra aprender o português. O seu sotaque é tão neutro. Não é paulista, não é mineiro, não é…
Marco Antônio: Nossa, fiquei vermelho.
Foster: Marco, me conta. O que temos amanhã no Brasil.
Marco Antônio: Eleição.
Foster: Eleição.
Marco Antônio: ...para presidente do Brasil, que é a coisa mais importante que vai acontecer. Acontece de quatro em quatro anos, o sistema brasileiro é mais ou menos igual ao americano. Há cada quatro anos é eleito um presidente. Não é como nos Estados Unidos, fazer uma comparação com Estados Unidos porque todo mundo conhece o sistema americano. É a cada quatro anos, mas não existe uma eleição única, ela é dividida em dois, geralmente. Se um candidato consegue ganhar 51% dos votos, ele é eleito no primeiro turno, ou seja, de cara. Se ele não conseguir os 51%, como foi o caso, o candidato mais votado recebeu, se não me engano 49, 48%.
Foster: Quase estava ali... É.
Marco Antônio: É, quase, quase. Ele então teve de disputar um segundo turno, aonde se eliminam todos os outros candidatos, quatro, cinco que estavam com chance e os dois mais votados vão pro segundo turno. Os dois mais votados foram o Jair Bolsonaro e o Haddad. O Jair Bolsonaro de um partido que eu nem sei direito qual é um desses partidos pequenos, que não... Apenas emprestou a legenda... E o Jair Bolsonaro, candidato do PT, Partido dos Trabalhadores, que esteve no poder nos últimos 10, 12, 13 anos no Brasil.**
Foster: O Haddad, você queria falar.
Marco Antônio: O Haddad, o Haddad. O Bolsonaro representa então a oposição ao Haddad, vice-versa e a Eleição se polarizou entre esses dois candidatos. Amanhã, quem tiver mais votos, ganha. Basicamente é isso.
Foster: Tá, só pra eu ter certeza de que eu entendi certo, a primeira turna... É turna?
Marco Antônio: Turno.
Foster: Turno, então é masculino.
Marco Antônio: Sim.
Foster: No primeiro turno, basicamente é uma eleição que qualquer um pode...
Marco Antônio: Disputar, é isso?
Foster: Sim.
Marco Antônio: Sim, são mais ou menos meia dúzia de candidatos, com grandes chances, poucas chances... E todos disputam igualmente, certo? Eles são convidados para debates…
Foster: Exatamente.
Marco Antônio: Exatamente. No Brasil tem uma coisa que, acho que só no Brasil. Quase com certeza no Brasil tem, que é o horário gratuito de televisão. Que é o seguinte: o candidato tem direito, dependendo do partido, a trinta minutos, quarenta minutos, quinze minutos, dez minutos, um minuto, doze minutos, de tempo livre na televisão.
horário gratuito - public access television (for political candidates of all stripes)
Foster: Sim.
Marco Antônio: E nesses, chama Horário Eleitoral Gratuito, aonde no Brasil é uma coisa linda, tudo funciona, as pessoas são bonitas, todo mundo é amável.
Foster: Aliás, a gente tem uma coisa parecida nos Estados Unidos, que se chama Public Access TV, mas é uma coisa que quase ninguém assiste hoje em dia. Mas, esse negócio de horário aberto é bem engraçado que, pode ver, a gente estava assistindo o programa do John Oliver, ontem à noite e você tem candidatos loucos, falando qualquer coisa. É isso, né? Então, o primeiro turno já passou e temos dois candidatos.
Marco Antônio: Certo.
Foster: Jair Bolsonaro e qual é o primeiro nome?...
Marco Antônio: Haddad, eu não sei qual é o primeiro nome dele, é... Mas não é culpa minha não, é dele de não ter se…
Foster: É, ele é Haddad.
Marco Antônio: Haddad.
Foster: Então, vamos começar com Haddad, porque é um pouco menos polêmico, digamos. Haddad é do partido PT, né?
Marco Antônio: É.
Foster: E PT quer dizer o quê?
Marco Antônio: PT quer dizer Partido dos Trabalhadores.
Foster: Sim, partido do Lula.
Marco Antônio: É, partido do Lula, o Lula foi presidente do Brasil duas vezes, é um presidente muito popular. É, e depois elegeu a Dilma Roussef que também é também do PT. A Dilma também se reelegeu, ela foi muito bem votada e depois a coisa…
Foster: A primeira vez, né?
Marco Antônio: A primeira vez, depois a coisa desandou, é muita corrupção, não vou aqui dizer pra vocês... mas muita corrupção em todos os níveis. É, atingindo todos os poderes legislativos, judiciário, o poder executivo, as prefeituras, estados... É uma coisa assim, endémica.
Foster: Sim, eu acho que a maioria de nossos ouvintes já sabe mais ou menos sobre a Operação Lava Jato que é um caso, de maior corrupção quase do mundo, né? Tipo bilhões de dólares.
Marco Antônio: Eu não sei pra quem eu estou falando, mas procure entender o seguinte: só um... procure entender, o Presidente do seu país é corrupto. O Presidente do Senado do seu país é corrupto. O Presidente da Câmara é corrupto. A maior parte dos senadores são corruptos, então é uma coisa... o prefeito, o governador de estado, de província. Então é uma coisa acabou com o Lula na cadeia, o Lula foi preso por lavagem de dinheiro. Tem mais cinco ou seis processos, o primeiro processo ele foi condenado a doze anos de prisão. Tá cumprindo pena.
Foster: Só pra explicar uma coisa rapidinho, lavagem de dinheiro eu acho que em inglês seria embezzlement. Embezzlement, quando você está escondendo dinheiro, não é?
Marco Antônio: É, é isso aí. Bom, ele tá preso. Então o Lula lançou um candidato, o Haddad, pra ser... Pra ganhar a Eleição e pra que o PT continue no poder.**
Foster: Haddad foi o prefeito…
Marco Antônio: Foi prefeito de São Paulo.
Foster: Do estado?
Marco Antônio: Não, ele foi prefeito da cidade de São Paulo.
Foster: E a Doria?
Marco Antônio: O Doria é o atual.
Foster: Ah, então ele foi o antigo.
Marco Antônio: É, o Haddad disputou uma reeleição com o Doria e perdeu. É... e daí o Lula, tinha duas correntes no PT, uma que gostaria que o Ciro Gomes, que é um outro candidato, que foi candidato, teve 11% dos votos, fosse o preferido do PT, com mais chance de ganhar... Todo mundo, mas o Lula preferiu o Haddad, de uma forma eu diria assim, um pouco pensando mais nele, Lula do que no partido dele, porque... Ele, no começo, a propaganda “Lula é Haddad, Haddad é Lula”, que é uma coisa maluca. Você não sabe em quem você tá votando.**
Foster: Da minha perspectiva, tudo que estou lendo e vendo nas notícias, Haddad parece um cara normal, mas não é ele. É o Lula que você está votando. Essa é a ideia, né?
Essa é a ideia, né? That’s the idea, right?
Marco Antônio: E daí, pra desespero do Lula, a eleição se resumiu a isso. Não é o Bolsonaro contra o Haddad, é o Bolsonaro contra o Lula, ou melhor, contra o PT.
Foster: Contra a corrupção.
Marco Antônio: A corrupção. Então, nesse quesito, o Bolsonaro leva vantagem. Eu diria assim, uma opinião toda pessoal, mas já que sou eu que tô dando uma entrevista para meu amigo Foster. Meu querido amigo Foster. Eu diria o seguinte: as pessoas não estão votando tanto pelo Bolsonaro, elas estão votando mais anti-PT. Elas estão votando contra o PT e não a favor do Bolsonaro. Claro, algumas sim, mas todo mundo quer uma mudança radical. Ninguém aguenta mais o que vinha acontecendo e vem acontecendo no Brasil.**
Foster: Exatamente. Posso te fazer uma pergunta?
Marco Antônio: Yes.
Foster: O Marco está treinando inglês, ele está falando muito bem. Mas é outro assunto.
Marco Antônio: Thank you.
Foster: Bom. Quando você fala que realmente ninguém está votando pro Bolsonaro, eles estão votando contra o PT, isso me lembra tanto, tanto das Eleições nos Estados Unidos de 2016. Que ninguém estava votando pra Hillary, mas... Quer dizer, ninguém estava votando pro Trump... Claramente tinha pessoas que gostaram muito do Trump, mas o movimento foi muito mais parecido com a gente está votando anti-Obama, anti corrupção, esse negócio. Você vê esse, sei lá, esse momento com os Estados Unidos...
Marco Antônio: Sim, sim, total. Óbvio que existem, que existe o pessoal que adora o Bolsonaro, que tem ele como, que chamam ele o mito. Não sei qual seria a explicação de mito.
Foster: The myth.
Marco Antônio: É.
Foster: Capitão.
Marco Antônio: O Capitão. O jovem que veio pra salvar o Brasi... Enfim, ele é endeusado por uma parte grande do eleitorado, mas existe muito mais, minha opinião, uma forte rejeição ao PT. Uma forte rejeição à corrupção... Falando de uma forma bem brasileira, a tudo isso que tá aí. A tudo isso que tá aí. É o seguinte...
Falando de uma forma bem brasileira. Speaking in a really Brazilian way.
Foster: É uma frase bem brasileira mesmo.
Marco Antônio: Bem brasileira... Essa frase é o seguinte: O Brasil é uma eterna fila. Em eterna agonia. É fila pra tomar ônibus, é fila pra tomar o metrô. Fila pra conseguir um lugar no hospital. Fila pra ir no banco. Fila pra receber o salário, quando tem emprego. Nós somos com 14 milhões, ou 13 milhões de desempregados. A situação é muito ruim. Então essa conjunção de fatores levou a esse fenômeno Bolsonaro, que não tinha tempo na televisão gratuito, tinha pouquinho de tempo. E ele fez a campanha dele inteirinha baseada no Facebook e no WhatsApp e no telefone. E conseguiu uma quantidade fenomenal de apoio. Isso é inédito. É…
Foster:
É, é... Então os brasileiros não querem esperar na fila mais. Eles querem mudança.
Certo. That’s right.