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(Alexia voiceover) “Bate outra vez Com esperanças o meu coração Pois já vai terminando o verão enfim Volto ao jardim Com certeza que devo chorar Pois bem sei que não queres voltar Para mim Queixo-me às rosas Mas que bobagem, as rosas não falam Simplesmente as rosas exalam O perfume que rouba de ti, ai... Devias vir para ver os meus olhos tristonhos E quem sabe sonhavas os meus sonhos por fim” Cartola, As Rosas Não Falam
Foster: Olá, olá, Alexia! Tudo bem?
Alexia: Tudo e com você?
Foster: Tudo ótimo porque a gente está falando sobre um dos meus poetas, cantores…
Alexia: Sambistas…
Foster: Sambistas, é… Artistas, prediletos do mundo!
Alexia: Sim. Cartola é um dos nossos preferidos de verdade mas, para falar sobre Cartola nós temos que falar sobre a Estação Primeira de Mangueira.
Foster: Então, me fala.
Alexia: Bom, Cartola era um menino muito, muito pobre, toda a sua família muito pobre e se mudaram para o Morro da Mangueira, né?
Foster: É. E quando você fala morro, você está falando favela, né?
Alexia: Sim, que hoje em dia não se pode mais falar favela, tem que se falar comunidade.**
Foster: Sim. Mas também morro.
Alexia: Sim.
Foster: “Alvorada lá no morro, que beleza!” Este episódio inteiro eu vou cantar, desculpa gente!
Alexia: E… O apelido dele… Na verdade o nome dele é Angenor de Oliveira.
Foster: Sim. Mas, todo mundo é… Conhece ele como Cartola.
Alexia: Você sabe porque?
Foster: Porque ele sempre está usando aquele chapéu?
Alexia: Sim, mas porque quando ele trabalha como pintor, pedreiro, etc, ele usava o chapéu pra não sujar os cabelos.
Foster: Ah, é?
Alexia: É.
Foster: Sabia não! É… Cartola é um tipo de top hat. A little fancy hat that the malandros no Rio usavam naquela época.
Alexia: Sim, enfim. Então ele mudam-se para a Mangueira, né, o Morro da Mangueira, ele foi expulso de casa pelo pai com onze anos de idade… Com quatorze anos de idade, desculpa. E aí foi sozinho para a Mangueira. E lá envolveu-se com muitas mulheres, começou a beber muito cedo, aquela coisa toda bem complicada.**
Foster: Sim.
Alexia: Até que ele conheceu o amor da vida dele, Dona Deolinda, que era vizinha.
Foster: Uhum.
Alexia: E começou a se endireitar na vida.
Foster: Sim. Então ele tinha uma infância bem complicada, digamos.
Alexia: Ele teve uma infância…
Foster: Ele teve. Mas daí ele achou a música, o amor, a arte.
Alexia: Sim. E o que que acontece? No dia vinte e oito de abril de mil novecentos e vinte e oito (1928), Cartola junto com outros seis amigos, fundaram a escola de samba Estação Primeira de Mangueira.
Foster: Sim.
Alexia: A Estação Primeira de Mangueira, ela é uma das mais famosas escolas de samba do Brasil, do mundo, então todo mundo que escutou falar sobre a Verde e Rosa, que são as cores…
Foster: Uhum.
Alexia: … da escola de samba sabe que vem toda a história do Cartola e toda a história do Morro. Porque virou uma das principais fontes de renda de todas as pessoas do Morro da Mangueira. Que todo mundo começou a trabalhar para essa escola de samba.
Foster: Exatamente. Eu acho que para os cariocas, Cartola, primeiramente, é tipo sambista, né? Ele tem a ver com a Escola de Mangueira. Mas, pro Brasil, falando mais tipo… Como país, ele é conhecido mais como poeta, música. Internacional… Como, me ajuda, Alexia, por favor!
Alexia: Internacionalmente.
Foster: Internacionalmente ele é músico.
Alexia: Sim.
Foster: Né?
Alexia: Sim. Bom, um ano depois de eles terem feito a Estação Primeiro de… Meu Deus! Estou falando errado! Estação Primeira de Mangueira, em mil novecentos e vinte e nove (1929), foi quando Cartola começou a ser conhecido. Por que? Ele vendeu uma das suas canções pro Francisco Alves que era o maior cantor da época. Em mil novecentos e trinta e dois (1932), ele conheceu Noel Rosa.
Foster: Uhum.
Alexia: E aí, pronto! Estourou de vez! E aí partir de 1932 foi quando ele começou a se tornar mais e mais conhecido e teve sambas gravados por Carmen Miranda, Francisco Alves, Sílvio Caldas e esses todos eram os super tops da época.
Foster: Sim, então ele foi escritor, quer dizer… Compositor. Ele escreveu músicas pros outros mas, também, ele tinha as músicas dele, as músicas próprias dele. Que eu amo, pessoalmente.
Alexia: Sim. Uma das nossas preferidas é: “O Mundo é um Moinho”...
Foster: Sim.
Alexia: … eu me emociono toda vez que eu vejo, escuto essa música.
Foster: Sim. Como é que é, amor?
Alexia: “Ainda é cedo, amor… Mal começastes a entender a vida…”
Foster: “A conhecer a vida…”
Alexia: “E se anuncia, a cada despedida…”
Foster: É uma coisa super, super, curiosa e fascinante sobre Cartola é que o jeito que ele escreve as letras, as músicas, é poesia! É… Tem um jeito que ele está usando formas gramaticais que são incríveis. Mas ele é inalfabeto, não é?**
Alexia: Analfabeto.
Foster: Analfabeto.
Alexia: Sim. Ele… Ele só foi até a quarta série do fundamental que seria o que, em inglês?
Foster: Hum.. Sei lá.
Alexia: Tem Ensino Médio, Elementary School, right?
Foster: Sim.
Alexia: Que é abaixo do Ensino Médio.
Foster: Sim. Então, basicamente ele não sabe escrever ler ou somente o básico.
Alexia: É, ele na verdade acho que ele nunca teve uma… Educação.
Foster: É.
Alexia: Boa. Então, ele nunca… Ele não conhecia nada da vida.
Foster: É.
Alexia: E… E voltando, sempre foi muito, muito pobre. Então, pra ele começar a ser reconhecido e as pessoas darem valor a aquilo que ele fazia, foi muito difícil. Ainda mais naquela época. Então, com o surgimento das escolas de samba, Cartola começou a ter uma vida um pouco mais tranquila e mais interessante pra ele, né?
Foster: É. Então, me fala Amor. Qual é a sua música predileta dele?
Alexia: É essa: “O Mundo é um Moinho”.
Foster: Bom, além disso…
Alexia: Ahm… “Alvorada”...
Foster: “Alvorada”, como é que é? “Alvorada lá no morro que beleza!” É… E, uma coisa que eu acho que a maioria dos gringos que tem interesse no Brasil talvez já ouviram o Cartola por causa do filme Cidade de Deus, né?
Alexia: Sim.
Foster: Porque ele aparece muito, as músicas dele, aparecem muito. Ah… Como é que é? Trilha sonora?
Alexia: Trilha sonora.
Foster: Sim.
Alexia: Agora, é… Quase todas as músicas do Cartola eu sou apaixonada. Mas uma das letras que realmente eu gosto e todo brasileiro sabe é “A Sorrir”.
Foster: Sim.
Alexia: Então é: “A sorrir eu pretendo levar a vida pois chorando eu vi a mocidade perdida”. É linda!
Foster: É tão lindo. E é verdade que todo brasileiro conhece a letra. Então mais uma coisa, Alexia, que eu queria indicar pros nossos ouvintes é que tem um filme que acho que eles fizeram recentemente, como dois mil e oito (2008), alguma coisa assim…
Alexia: Dois mil e seis (2006) - o documentário, né?
Foster: Não exatamente documentário e meio tipo filme-documentário mas é muito legal. Se chama Cartola - Música pros Olhos. Eu recomendo bastante. Você já viu?
Alexia: Não!
Foster: Vale a pena.
Alexia: Eu tô pensando aqui e eu acho que eu nunca assisti.
Foster: Ah, a gente precisa assistir! Tem muita coisa legal, fala muito com o seu pai e… Nossa! É demais!
Alexia: Com o meu pai?
Foster: Com o pai dele.
Alexia: Muito bem!
Foster: Mas o seu pai aparece no filme também.
Alexia: Bom, é isso! Hoje a nossa dica é: descubram o Cartola,
entendam o Cartola, leiam…
Foster: Vocês vão amar!
Alexia: ...leiam as letras, escutem as músicas porque cada, cada letra é… É um primor! É algo assim incrível.
Foster: É, é… Bom, até a próxima!
Alexia: Tchau!