Listen on:
Alexia: Hoje o Foster vai aqui falar sobre uma coisa bem complicada!
Foster: Eu vou falar? Você está brincando?!
Alexia: Não!!
Foster: Não, a Alexia vai falar sobre uma figura ou uma personagem que é fundamental para a cultura brasileira. Quem é?
Alexia: A empregada. Empregada doméstica.
Foster: A empregada doméstica, que... bom, explica para a gente.
Alexia: Na verdade eu vou te devolver a pergunta. Como é que é nos Estados Unidos uma empregada?
Foster: Uma empregada... bom, eu acho que a maioria das casas não tem hoje em dia. E eu tenho várias teorias por quê. Mas, por exemplo, na minha casa, a gente tem uma mulher que vem uma vez ao mês, talvez duas vezes ao mês, só para limpar coisas.
hoje em dia. Nowadays.
Alexia: Mas, e limpar coisas, tipo, limpeza pesada, digamos assim, que precisa... por que ela vai duas vezes ao mês?
Foster: Basicamente porque, tipo, é uma da família que estava precisando de trabalho e...
Alexia: Então não precisaria ter, na verdade?
Foster: Não. Porque a minha mãe não trabalha.
Alexia: Uhum.
Foster: Então, a minha...
Alexia: Ela toma conta da casa?
Foster: É. Mas...
Alexia: Mas, lá é mais comum empregada ou diarista?
Foster: Diarista seria o quê?
Alexia: Por exemplo, você chama uma empregada por dia, entendeu? 'Ah, você vem na quarta-feira limpar a minha casa'. Isso é uma diarista, você paga por dia. E empregada você paga mensal.
Foster: Eu diria que até diarista é pouco comum. Tipo, eu não sei de muitas pessoas da minha geração que tenha alguém que limpa a casa.
Alexia: Mas, da nossa geração, que morem sozinhos aqui no Rio, também é muito difícil. Por exemplo, o máximo que se contrata é diarista por uma ou duas vezes na semana, no máximo, para limpar a casa em geral.
Foster: Tá, entendi. Mas, enfim, explica a empregada.
Alexia: A empregada é um... bom, eu vou falar sobre a minha experiência. Eu cresci numa família bem tradicional, né? Minha mãe vem de uma família absurdamente tradicional, que tinha copeira, empregada, passadeira, faxineira, caseiro, tudo numa casa só!
Foster: O que é copeira?
Alexia: A empregada vai cuidar mais de limpeza e arrumação dos quartos, da casa em si. A cozinheira obviamente cozinha. A copeira só lida com a louça.
Foster: Sério?
Alexia: A passadeira só vai para passar as roupas e o caseiro cuida da casa em geral.
Foster: E todo mundo morava lá?
Alexia: Então, era uma casa enorme que eles tinham e cada um tinha o seu quarto.
Foster: Mas, nossa, isso é um tipo Downtown Abbey??
Alexia: É.
Foster: Caraca!
Alexia: Era uma casa que era a minha mãe, meu tio...
Foster: Não soube disso, amor.
Alexia: É, pois é.
Foster: Não fala muito, né?!
Alexia: Bom, olha só, era uma família não rica, mas muito bem de vida, tinha o meu avô e minha avó, a minha mãe e meu tio e meus bisavós morando. Então eram seis pessoas numa casa. E era uma casa que tinha que ter café-da-manhã, tinha que ter almoço e tinha que ter jantar. Todo mundo sentado na mesa, todo mundo sendo servido e ninguém podia faltar em nenhuma das refeições.
Foster: Sério?!
Alexia: Se as crianças, quer dizer, no caso, a minha mãe e meu tio tivessem na escola, óbvio! Mas, tirando isso, todo mundo tinha que comer junto.
Foster: Nossa! Que loucura! Estou sem palavras aqui.
Alexia: Bom, e também era uma casa que tinha cachorro, então o caseiro, além de tudo, também tomava conta dos cachorros. Enfim, só que eles sempre conheceram as intimidades da família inteira, então eles faziam parte da família.
Foster: Uhum.
Alexia: E na minha casa quando era eu, meu pai e minha mãe, a gente tinha uma cozinheira, tinha uma empregada e tinha uma faxineira que vinha uma vez por mês.
Foster: Faxineira é a pessoa que limpa, né?
Alexia: Limpa.
Foster: Limpa a casa.
Alexia: A empregada limpava a casa normal. A faxineira vinha para limpar vidro, para limpar todo o jardim, para fazer o mais pesado.
Foster: Exatamente.
Alexia: A cozinheira obviamente cozinhava e virava uma grande família. Por exemplo, a minha cozinheira, eu tenho como se fosse uma segunda mãe. Ela me liga todos os dias até hoje para saber como é que eu estou, o que eu estou fazendo, me dá bronca, puxa a minha orelha.
Foster: E ela cozinha muuuito bem. Ela cozinhou para mim o strogonoff de frango. Foi o melhor strogonoff de frango que eu tomei na minha vida! Uma delícia!
Alexia: "Que eu comi".
Foster: Que eu comi! O que eu falei?
Alexia: Você falou "eu tomei".
Foster: Ah, quase tomei, quase bebi, porque estava tão gostoso!
Alexia: E ela faz parte da minha vida. Eu não conheço a minha infância e a minha adolescência sem ela fazendo parte. E a empregada que também está muito tempo com o meu pai já, ela vai no apartamento do meu pai, ajuda ele a arrumar, ele já é um senhor e tal, também faz parte. Ela já está eu acho que há uns dez anos com a gente - uma coisa assim. E a nossa empregada pontualmente é só três anos mais velha do que eu. E isso para mim me choca muito porque foram oportunidades da vida, né? Lógico que eu não estou dizendo que a Rafaela não poderia ter estudado, ter tentado ir para a faculdade, ganhar bolsa, etc. Mas, tem famílias mais humildes que a mãe é empregada, a vó foi empregada, a bisavó foi empregada, então todo mundo segue isso.
Foster: Mas, hoje em dia, a empregada ainda é considerada tipo um emprego mais humilde, né? Mais da classe baixa.
Alexia: Mais ou menos porque agora... sim, sim. Mas, agora com as novas leis trabalhistas, elas ganharam muito mais importância, digamos assim. Elas têm a carteira assinada, têm que cumprir hora e tem algumas diferenças, por exemplo, tem empregadas que são contratadas para chegar às 8h e ir embora às 19h ou tem algumas que têm que dormir. Na minha casa, que eu moro com a minha tia-avó, tem duas diaristas - elas são pagas diariamente. E elas dormem.
Foster: Posso te fazer uma pergunta? O que você acha que isso faz para a cultura brasileira? Tipo, eu acho que a empregada tem um efeito enorme na cultura brasileira. Por exemplo, vou falar do meu roommate, né?
Alexia: Do Pablo.
Foster: O meu colega de quarto ele não é a pessoa mais limpa do mundo.
Alexia: Nem um pouco!
Foster: Aqui a gente não limpa porque a gente tem uma diarista que vem duas vezes ao mês. Eu acho que, sei lá, quando você tem alguma pessoa fazendo e cozinhando para você, limpando para você, você não aprende essas coisas para ser auto...?
Alexia: Suficiente.
Foster: Suficiente. Exatamente.
Alexia: Eu concordo. E isso vem muito culturalmente, por exemplo, a minha mãe não aprendeu a cozinhar, ela não sabia fazer nada.
Foster: Sério?
Alexia: Já a minha vó sabia fazer tudo, só que a minha mãe ia para a cozinha tentar cozinhar junto com a minha avó e com a cozinheira, minha vó virava e falava: "Lugar de criança não é na cozinha!". Então já começa por aí. E a minha mãe obviamente sabia se virar, sabia fazer arroz e feijão, mas não era uma cozinheira de mão cheia. E eu não aprendi nada! Nada, nada. Gente, eu não sei fazer nada, mas por burrice também. Porque eu posso muito bem entrar na cozinha e começar a aprender. Só que... agora, eu sei passar roupa, eu sei guardar roupa, eu sei fazer cama, eu sei fazer tudo. Então, se eu morasse sozinha, a minha opção seria ter uma diarista para limpar a casa porque, gente, a gente trabalha, faz tudo, etc., e final-de-semana ainda tem que limpar a casa? É o que eu penso. Então eu não me importaria nem um pouco de pagar uma empregada a cada 15 disso ou uma diarista a cada 15 dias para limpar a casa, simplesmente isso.
Foster: Mas, eu acho que você é um pouco mais responsável do que a maioria dos brasileiros. Mas, o que o brasileiro faz quando, sei lá, quando vai para o estrangeiro?
Alexia: Aí se vira!
Foster: Quando vai para os Estados Unidos?!
Alexia: Aí aprende a lavar roupa, aprende a passar, aprende a cozinhar, aí se vira! Porque vê que não está mais na casa dos pais, entendeu?
Foster: É, mas quando eles voltam, eles...
Alexia: Amam! Porque volta a mordomia do mundo! Ah, eu não vou negar, eu adoro acordar e ter uma mesa de café-da-manhã já montada, de receber as minhas roupas passadinhas já prontas para guardar.
Foster: Óbvio!
Alexia: É uma delícia! E eu respeito muito todas as empregadas que eu conheci na minha vida porque é um trabalho muito árduo. Tem aquele filme...
Foster: Eu iria falar. "Que Horas Ela Volta?"
Alexia: "Que Horas Ela Volta?" que é um filme nacional, que é bom para vocês entenderem e até sentir.
Foster: Bem polêmica!
Alexia: Eu acho que é exagerado demais. Eu como brasileira, eu olho aquilo e vejo como exagerado, mas eu acho que para os turistas e para as pessoas entenderem como é que é a cultura brasileira, vai fazer bem. Porque é isso. A empregada deixa a sua criança em casa ou o seu bebê em casa e vai cuidar de uma outra família. Então, na verdade, você acaba vivendo a vida de uma outra família que não é a sua.
Foster: Uhum.
Alexia: E isso eu acho que acontece muito ainda.
Foster: Porque a história da empregada sempre é interessante.
Alexia: É.
Foster: Ainda vou escrever um livro das crônicas da...
Alexia: E na verdade eu acho que as empregadas deveriam escrever um livro sobre as famílias que elas cuidam, digamos assim.
Foster: É, mas não sei se elas têm as condições para escrever também.
Alexia: Claro que tem! Hoje em dia elas têm.
Foster: Tá.
Alexia: Bom, eu acho que é isso. A empregada é um papel muito importante dentro de uma família. Tem algumas empregadas que vivem a vida inteira com você, que te viram nascer e, enfim, te cuidam como filha. E tem outras que são as diaristas, que só fazem parte só por uma vez na semana da sua vida.
Foster: Então, é uma figura super importante e interessante, né?
Alexia: Por exemplo, os nossos primos, a Ana e o Marquinho, não tem, não tem nada. Tem só uma diarista que vai uma vez a cada semana limpar a casa.
Foster: É, mas eles também são bem progressistas, né?
Alexia: São. Mas é o que eu acho isso: o casal jovem não tem grana também para ficar pagando, né?
Foster: É, exatamente. Bom, mais alguma coisa?
Alexia: Não. Você tem mais alguma coisa para me perguntar?
Foster: Não. Esse foi interessante e educativo para mim.
Alexia: Tá bom. Espero que vocês tenham gostado, mandem mensagem, mandem e-mails, estamos aqui.
Foster: Tá. Valeu, gente!
Alexia: Tchaauu!
Foster: Boa noite!