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Adriana: Ai, mas é muita coisa, querida. É muita coisa, é uma vida inteira de morar fora, de voltar, depois readaptar à cultura brasileira de novo, depois ir pra fora de novo, né? Então…
Alexia: Eu imagino que isso seja a parte mais difícil, de se readaptar às culturas em geral, né? Então você morou nos Estados Unidos e aí teve que se adaptar aos Estados Unidos, depois voltou ao Brasil. Como é que foi isso?
Adriana: Então, eu acho que depende muito da sua idade também, né? Que fase de vida você está vivendo, né? Porque eu costumo dizer que eu vivi várias vidas. Eu sou igual gato, eu tenho várias vidas. Uma vida já morreu, começou outra, entendeu? Então eu sinto assim, que essa mudança cultural foi muito isso, foi começar do zero, sabe? Então quando eu fui para os Estados Unidos, foi muito diferente, porque não foi decisão minha, foi decisão dos meus pais, né?
Alexia: Uhun.
Adriana: Então eu tinha… Ai, foi um back and forth, vai e volta, né? Que começou quando eu tinha nove anos, meus pais (se) divorciaram. A família da minha mãe é americana. Bom, metade da família da minha mãe já tinha imigrado fazia muitos anos, no começo dos anos 80, sabe? E eles já tinham cidadania americana, já eram casados. Eu tenho primos americanos na Pensilvânia.
Alexia: Uhun.
Adriana: E daí minha mãe, quando (se) divorciou do meu pai, ela fez um acordo com o meu pai que ia fazer uma tentativa de morar lá com a gente, comigo e com o meu irmão, no caso. E a gente ficou só seis meses, que era só uma experiência, depois voltamos para o Brasil, ficamos mais quase dois anos, e depois voltamos novamente. Então isso foi entre meus nove e doze anos, eu estava nessa transição.
Alexia: Imagina a confusão na cabeça de uma criança, né?
Adriana: Nossa! Foi muito difícil. Foi, assim, eu não quero falar que foi um trauma, mas assim, eu acho que, psicologicamente, se eu falar para um psicólogo… “Nossa, né? Isso é uma coisa…” Então assim, eu sinto que eu cresci ali, naquele momento. Doze anos eu já era adulta, entendeu?
Alexia: Sim.
Adriana: Porque eu fui pra um lugar que não falava a língua, que era uma situação completamente diferente, que eu não tinha a casa dos meus pais, eu tava só morando com a minha mãe e a família dela. E naquela época, eu não percebia o quanto que eu sentia falta do Brasil, né? Tanto que hoje, a minha maior referência de infância, as minhas melhores lembranças de infância, é tudo no Brasil. O que eu guardo no coração da minha infância é Brasil, entendeu?
E naquela época, eu não percebia o quanto que eu sentia falta do Brasil, né? - And at that time, I didn't realize how much I missed Brazil, right?
Alexia: E quando você fala Brasil, é Minas ou São Paulo?
Adriana: Então, quando eu era criança, eu não morei em Minas, eu morei no interior de São Paulo. Então eu sou de São José dos Campos, que é a maior cidade, eu acho, entre Rio e São Paulo.
Alexia: Sim.
Adriana: Então é uma cidade excelente. Só que eu nasci lá, e depois, quando eu tinha dois anos, eu sim, mudei pro sul de Minas por um período curto. O meu pai estava com um negócio lá. E depois meu pai foi contratado pela INPE, pelo INPE. ‘Pela’ não, ‘pelo.’
Alexia: Pelo.
Adriana: Instituto Nacional de Pesquisas Especiais, né? Que ele é engenheiro. Então ele foi contratado e a gente mudou pra Lorena, que também é ali no Vale do Paraíba, perto de Aparecida do Norte?
Alexia: É tudo pertinho do outro né?
Adriana: Tudo pertinho. Tudo ali entre Rio e São Paulo, né? Que é fácil você subir pra Minas, as montanhas, a Serra da Mantiqueira, e descer pro litoral, Ubatuba e tal. Cresci subindo e descendo serra, entendeu? Então assim, foi dessa realidade para o interior da Pensilvânia, né? Que tipo, era completamente plano, só tinha plantação de milho.
Alexia: Rural, completamente rural.
Adriana: Rural, é rural. Assim, saindo de Filadélfia, sabe?
Alexia: Uhun.
Adriana: Então assim, era fora de Filadélfia, sei lá, uns 40 minutos de Filadélfia. Só que eu, naquela idade, eu não ia pra Filadélfia, né? A minha vida era ali, o meu núcleo era ali nessa cidadezinha que chama Lansdale, tenho certeza que você nunca ouviu falar.
Alexia: Não, jamais. Mas não tem problema, acabei de escutar falar agora.
Adriana: Então, porque é dividido em condados, em counties, né? Os Estados Unidos. Então é Montgomery County, na Pensilvânia. E eu mudei pra lá, mudei pra lá porque lá que estavam as minhas tias, já morando ali naquela região, né? Os maridos americanos delas eram dessa região. Então, enfim, estava ali, a gente foi lá.
Alexia: Tinha que ser. É.
Adriana: E foi um choque cultural muito grande, né? Eu acho que a parte de aprender inglês. Eu estava numa sala de aula mista com pessoas do mundo inteiro aprendendo English as a second language, né? Inglês como uma segunda língua. E eu tinha que ficar ali como se fosse esse suporte para imigrantes chegando nos Estados Unidos, né? E daí, quando eu tivesse um inglês num nível adequado, e eu iria junto com os americanos, entendeu?
Alexia: Ou seja, você aprendeu inglês na marra, praticamente.
Adriana: Foi na marra. E foi muito rápido, na verdade.
Alexia: Tem que ser.
Adriana: No futuro… Eu acho que essa experiência, de uma certa forma que me influenciou a estudar linguística, estudar pra ser professora de inglês, que eu fui por muitos anos também depois. Que impactou muito a minha identidade, né? Então quando eu cheguei lá e não sabia nada e tive que aprender, igual você falou, na marra, eu aprendi lendo livros em inglês, traduzindo palavra por palavra. Eu tive disciplina para fazer isso, né?
Alexia: Não, eu tô chocada.
Adriana: Eu não tinha amigos, não tinha amigos, né? Então entrou o verão, todo mundo foi se encontrar, e eu não tinha, né? Eu não tinha esse círculo de amizades bonitas igual eu tinha no Brasil. Então eu ficava lendo, eu lia livros, eu assistia televisão. Daí quando eu voltei no próximo ano, depois das férias de verão deles, minha professora ficou assim, “Como que você aprendeu tanto sozinha?” Foi assim, autodidata praticamente. Daí passei 6 meses só nesse suporte, depois já estava na aula normal. Então eu tinha, o que, uns treze anos?
minha professora ficou assim, “Como que você aprendeu tanto sozinha?” My professor was like, "How did you learn so much by yourself?!?"
Alexia: Pois é. Então, eu fico pensando que você ter “perdido” esse verão fez com que talvez depois você tivesse amigos, porque você já sabia inglês então você já podia ultrapassar de nível.
Adriana: Sim, sim.
Alexia: E aí foi uma…
Adriana: Então eu comecei a criar autoconfiança também, né? Eu comecei a me envolver com atividades extracurriculares, que isso, nas escolas dos Estados Unidos, é muito bom.
comecei a me envolver com atividades extracurriculares - I started to get involved with extracurricular activities
Alexia: Muito.
Adriana: Que tem esporte, teatro. Qualquer interesse que você tiver, a maioria, se for uma escola boa, que a minha graças a Deus era, eu tive essa oportunidade, né? Então eu comecei a fazer um negócio que não existe no Brasil, chama Color Guard. Já ouviu falar?
Alexia: Não. Não sei o que é isso.
Adriana: Você vê muito em, como é que fala? Em jogos de futebol americano.
Alexia: Uhun.
Adriana: Que tem aquela banda no início…
Alexia: Sim.
Adriana: Que tem aquelas meninas com as bandeiras que roda, que joga pra cima. É isso.
Alexia: Era você!
Adriana: É porque era a coisa mais próxima de dança que tinha, porque mistura dança, né? Porque tem o Outdoors Color Guard que é essa que você vê, e tem o Indoors, que é muito mais contemporâneo. É uma coisa que literalmente só existe competições e tal entre estados dos Estados Unidos e eu acho que também no Canadá tem um pouco.
Alexia: Eu jurava que fazia parte do, tipo, cheerleaders, sabe? E não era um grupo específico pra isso. Eu achava que era delas. Ai que incrível.
Adriana: Não, não é. Cheerleaders, ele tem o próprio treino delas, é outra apresentação, é outra coisa. A gente trabalhava mais com a música, com a banda que toca. Você já viu, que faz aqueles formatos na frente?
Alexia: Sim, sim.
Adriana: É isso que eu fazia, entendeu?
Alexia: Eu amo isso.
Adriana: E eu comecei a criar um círculo de amizades a partir daí, né?
Alexia: Isso com treze anos?
Adriana: Então, quando eu entrei pro Guard, eu acho que 13 para 14 anos.
Alexia: Ou seja, comecinho da adolescência que todo mundo tá querendo sair, brincar e vai pro shopping juntos, e vai almoçar juntos, etc.
Adriana: É.
Alexia: Pelo menos você conseguiu fazer esse grupinho de amizades.
Adriana: Eu consegui me inserir na cultura, né? E assim, na cidadezinha que eu morava não tinha nenhum brasileiro, eu não conhecia brasileiro. O máximo que tinha era mexicano, né? Latinos, America Latina e…
Alexia: Uhun.
Adriana: Só que eu criei amizades mesmo com americanos nessa fase, né? Porque não tinha outra nacionalidade que fazia parte dessas atividades que eu comecei a me envolver. E depois, mais pra frente, eu fiz teatro também, fui até a Branca de Neve. Fui a Branca de Neve. E fiz também vôlei. Daí até o high school eu joguei vôlei, então eu acho que isso foi a coisa que eu mais me envolvi. Porque eu já jogava vôlei no Brasil, né? Vôlei no Brasil, você começa a Educação Física com… Você é pirralho, você tem 7-8 anos de idade, então..
Alexia: Eu amava, eu amava. Não tava nem aí pro futebol, queimado, handball, tava nem aí. Amava o vôlei, amava. Aliás, as olimpíadas estão chegando, eu tô doida pra assistir o vôlei.
Adriana: Eu amo de paixão, né?
Alexia: Eu quero assistir o vôlei.
Adriana: Então assim, era o que eu encontrei, que eu era boa nesse esporte, então eu fiz, como é que fala o try out? Como é que fala em português o try out?
Alexia: Como é que se diz?
Adriana: O teste, né? Tem que fazer um teste pra ser aceita no time, avaliação. Aí tem o dia que você vai lá, tem o dia dos testes que vai lá, vê se você tem a manha, se você sabe fazer o saque, se você sabe fazer cortada, enfim. Então eu fui, e daí eles falaram, “Não, você entrou no time…” Então foi um momento muito assim, maravilhoso pra mim na época, porque daí foi mais um grupo de amizades que eu criei, mais uma atividade que me centrou, que eu me inclui, que me senti incluída. E assim, todo mundo me chamava de Brazilian beast, que é tipo o monstro brasileiro, que é tipo, a monstrinha brasileira.
Alexia: Isso que eu ia te perguntar, se as pessoas te viam como brasileira ou como assim, a americana que é brasileira, na verdade, sabe? Por causa do seu sotaque que talvez fosse neutro e não reconheciam por ser brasileira. Porque a gente fala muito sobre o sotaque brasileiro quando se fala inglês, né? Que qualquer pessoa consegue identificar na hora que é brasileiro. Eu não sei se você tinha isso ou não.
Adriana: Eu não tinha. Então, isso que é o negócio, isso é uma coisa que, quando eu aprendi linguística, eu achei super interessante, que tem o esqueleto linguístico, né? Então quando você é jovem, criança, no caso, você tem o esqueleto maleável, como se fosse uma cartilagem, que você pode dobrar ele de todas as línguas do mundo. E daí você chega nessa idade que eu estava, a partir dos 12, 13, 14 anos, se você começar a aprender uma língua nessa idade, né? A partir dessa idade, há grande probabilidade de que você vai ter um sotaque, e não tem como não ter o sotaque, né?
Alexia: Sim.
Adriana: Porque esse esqueleto linguístico tá ficando rígido, vai virar duro, né? Então eu cheguei ali, no último minuto do segundo tempo, sabe? Eu conheci a aquisição de uma língua, né? Que foi o inglês, no caso, inglês americano. E o inglês bem neutro ali da Pensilvânia, bem neutro, não tem sotaque forte igual do Texas, né?
Alexia: Sim, sim.
Adriana: E eu consegui. Então, assim, as pessoas sabiam que eu era brasileira, porque eu falava que eu era brasileira. Então assim, quando você tem tendência de quando você tá fora, de tipo, falar mais ainda que você é brasileira, né? Assim, todo mundo sabia que eu era brasileira. E quando eu estava no Brasil, quando eu vinha para o Brasil visitar e tal, depois disso, eu sempre fui americana. Assim, eu nunca era só brasileira, eu era americana, porque eu morei lá muitos anos, né? Eu morei lá, bom… Eu morei lá por 14 anos no total.
Alexia: É, e aí vem a confusão de identidade, né? Porque eu também costumo falar que, por exemplo, a minha identidade em português é completamente diferente da minha identidade em inglês, porque dependendo de quem eu to falando inglês ou eu tenho confiança ou não, sabe? É aquela coisa assim, se eu to falando com a avó do Foster, que é muito difícil de falar, ela já é muito velhinha e tal, a minha confiança é quase zero, porque eu não sei se ela vai me entender e vice-versa. Então assim, a minha personalidade pra ela é daquela quietinha, que não fala quase nada e só fala, “Hey grandma, I missed you.” Sabe? Só isso. Enquanto com os amigos dele, eu me solto. E se eu fiz erro em inglês, fiz, paciência. Pra mim, o mais importante é comunicação, sabe?
Adriana: Com certeza.
Alexia: É você estar ali presente. E aí, eu imagino pra você que isso, nessa época, tenha sido muito confuso. Da sua identidade, como é que foi?**
Adriana: Nossa! Demais, demais da conta. Eu acho que essa parte da identidade, ela pegou muito muito quando eu terminei o high school, porque daí era, assim, você tem a vida inteira que falam, “Ah, você tem que estudar, você tem que tirar boas notas...” E daí você sai pro mundo, né? Especialmente nos Estados Unidos, né? Quando você chega nos 18 anos, você está ali, “Tchau!”
Alexia: Tchau!
Adriana: E rolou muita coisa durante essa época, mas mais complexo devido a essa situação de visto da minha família, né? Nesse ponto, eu era dependente da minha mãe, só que para os Estados Unidos, quando você se torna 18 anos, você é adulta. Então você não pode mais ser dependente da sua mãe. Então eu tive que acertar a minha questão de visto, porque eu não podia depender mais da minha mãe, entendeu?
Daí o que aconteceu? No meio tempo disso tudo, acho que em 1998, eu estava no penúltimo ano do high school e meu pai foi morar nos Estados Unidos, porque a gente já estava longe há tanto tempo, né? E daí meu pai conseguiu emprego nos Estados Unidos, temporário, com um contrato de trabalho. Eu fui ao Brasil, troquei a minha dependência, fui cadastrada que era dependente do meu pai, pra eu conseguir um visto pra eu voltar pra estudar. Foi uma loucura!
Alexia: Depois falam que Portugal e Brasil que são burocráticos, né? Gente, é uma loucura.
Adriana: Não, Estados Unidos, meu Deus! Situação de imigração… E assim, e pra mim, pra uma criança que (se) adaptou e, de uma maneira positiva, a uma cultura nova. E depois, ser jogada. Falou assim “Não, você não pode legalmente morar aqui mais.” E tem um nome pra isso hoje, não sei se você já ouviu falar dos DREAMers.
Alexia: Sim, sim.
Adriana: Tem o DREAM Act. Então eu era uma dessas pessoas, entendeu? Que até hoje está aí, que não foi aprovado, que os democratas estão lutando pra conseguir, entendeu? E no final de tudo isso, eu voltei para o Brasil, porque eu não conseguia esperar mais. Eu tinha terminado a minha faculdade e eu falei assim, “Agora que terminou a faculdade, pronto. Agora eu não vou conseguir trabalho, né?”
Alexia: Gente, você passou a faculdade inteira sem saber o que ia acontecer. E a qualquer momento podiam te ligar e falar, “Olha, tchau.”
Adriana: Nesse ponto eu já tinha colocado na minha cabeça que eu ia voltar pro Brasil, porque eu não tinha esperanças mais que ia rolar, entendeu? O Obama tinha acabado de ser votado pelo primeiro turno dele, né?
Alexia: Sim.
Adriana: Mas eu falei assim, “Não vou esperar.” Sabe? “Eu tenho que cuidar da minha vida.” Eu já tinha parado e voltado a estudar várias vezes por causa dessa…
Alexia: Incerteza, né?
Adriana: Eu já tinha voltado para o Brasil várias vezes, pra depois pegar visto de estudante, pra conseguir terminar o resto da faculdade. Foi loucura, sabe? Então eu estava com esperanças de sair a tempo. E eu lembro de estar na cozinha da casa do meu amigo Richard, que é brasileiro mas o nome é Richard, né? E eu chorando, porque, meu, eu tinha que voltar, entendeu? Eu tive que tomar aquela decisão ali, que eu ia terminar a faculdade e ia voltar para o Brasil, entendeu? E eu fui trabalhando meu psicológico, fui dizendo adeus a tudo que eu gostava, fui em todos os lugares em Nova Iorque que eu amava. Porque nesse ponto, eu fui estudar, fazer a minha universidade em Nova Iorque sozinha.
Alexia: Mas imagina, você saiu da Pensilvânia e foi pra Nova Iorque que é uma cidade incrível.
Adriana: Fui. Sozinha.
Alexia: Sozinha. Que aliás, que confiança em você mesmo pra fazer isso sozinha. E aí, você faz a faculdade inteira, novos amigos, nova vida e dizer tchau.
Adriana: Nova vida, aprendizados incríveis.
Alexia: É, uma coisa. Aí você voltou pra São Paulo?
Adriana: Então quando eu voltei, eu não sabia exatamente o que ia fazer. Eu voltei pra casa da minha mãe como base, em São José dos Campos. Ela estava morando em São José, ainda mora em São José, e comecei a dar aula de inglês numa escola. E daí, eu acabei depois indo pra Minas, fui contratada como professora e coordenadora pedagógica numa escola lá de uma amigona minha que eu já tinha dado aula lá no passado. Então, entre tudo isso, entra a minha carreira, entram as minhas decisões, o que eu vou fazer da vida.
Então eu decidi assim, “Gente, eu vou trabalhar com inglês, porque é uma coisa que eu posso fazer de qualquer lugar do mundo. Se eu quiser ir pra China dar aula de inglês, eu dou.” Entendeu? Então eu precisava, sendo na natureza da minha vida, que vai e volta, não sei por onde que eu vou, uma pessoa multinacional, eu não queria uma coisa que me segurasse em um lugar, eu queria uma coisa que me desse oportunidades em qualquer lugar do mundo. Essa identidade, também falando de identidade de… Eu falo que é multiplural… Como é que fala? Pluralism of nationalities, né? Que é aquela mistura. Então assim, eu já… Eu me identifiquei, falei assim, “Eu não pertenço em um lugar. Eu pertenço em vários lugares.” E daí, quando eu decidi dar aula no Brasil, eu já tinha ido pro Brasil nessas idas e vindas, nessa escola em Minas. Daí eu dei aula lá. E daí, depois, eu tive um relacionamento com um brasileiro que não deu certo, que foi uma loucura. E daí, depois disso eu consegui o emprego no Conselho Britânico.
Alexia: Que foi quando a gente se conheceu.
Adriana: Foi quando a gente se conheceu.
Alexia: Sim. E eu estava começando o meu primeiro estágio. Assim, eu fui parar no Conselho Britânico, eu sinceramente não sei o porquê. Agora, eu não sei como é que eu achei a vaga nem nada, mas eu queria uma oportunidade do inglês. Eu falei assim, “Eu quero trabalhar em algum lugar que me dê mais experiência com o inglês.” Eu sempre gostei de estudar inglês, eu sempre gostei de estudar línguas em geral. Sempre fui apaixonada por essa parte. E aí eu falei, “Okay, no British Council eu consigo fazer isso.” E aí eu fui pra equipe Rio de Janeiro, porque a Dri estava, você estava em São Paulo, né?
Adriana: Sim.
Alexia: E eu estava no Rio, e a gente se encontrava nos eventos, que aqueles eventos eram maravilhosos, eu adorava.
Adriana: Eu adorava. Eu amava. Eu sinto muita falta, sabe? Desse emprego. Porque eu acho que é engraçado, você falou que você queria o inglês, né? Eu estava trabalhando como professora, na parte de educação. Só que eu usava a plataforma do Conselho Britânico para professores, que eram conteúdos que professores poderiam usar para dar aula e tal. Então eu já conhecia o Conselho Britânico por esse conteúdo, que era voltado para professores de inglês do mundo todo.
Alexia: Que incrível.
Adriana: Que era muito legal. E daí eu vi essa vaga, “Ah, a gente tem vagas aqui.” Daí eu cliquei lá e eu falei assim, “Cara, eu acho que tem tudo a ver comigo essa vaga aqui.” Daí eu fui lá, me candidatei e tipo, consegui, entendeu?
Alexia: E tinha tudo a ver.
Adriana: Foi bem concorrido, assim, mas eu acho que quando é pra ser, é pra ser. E eu adorava, eu promovia o Reino Unido como destino de estudo para brasileiro.
Alexia: Pois é. E pra mim, isso falou muito com o meu coração, porque eu aprendi o inglês britânico. Hoje em dia eu pouco uso pouco uso por causa do Foster, americano, entrou na minha cabeça que é o seu oposto, né? Hoje em dia você usa mais… ou não?
Adriana: Eu sou uma mistureba, amiga. Aqui falam que eu sou americana e nos Estados Unidos falam assim, “Nossa! Você está britânica!” Nem eu sei mais como meu inglês tá.
Alexia: E aí, por exemplo, um dia eu falei assim, “Ah, Foster, sei lá o que, rubber.” ‘Rubber’ pra mim é, como é que se diz? É ‘borracha.’ Aí ele olhou pra mim assim e falou, “Alexia, você está usando seu inglês britânico?" Assim mas, “Por que? Como é que você fala?” Aí ele, “Eraser.” Aí eu, “Não!” E a gente tem essas coisas…
Adriana: Mas sabe que ‘rubber’ aqui também?
Alexia: O que?
Adriana: É ‘camisinha.’
Alexia: Então, nos Estados Unidos também. Nos Estados Unidos é isso. E ele me olhou assim, “Rubber? Por que você está falando isso?” Mas é exatamente isso. E eu estudei um mês só em Swanage, no sul da Inglaterra, na Harrow House. E pra mim foi a melhor experiência.
Adriana: Aonde?
Alexia: Harrow House.
Adriana: Swanage?
Alexia: Uhun.
Adriana: Eu moro aqui, gente. Eu moro em Exeter, eu moro no sul da Inglaterra. Você sabe, né?
Alexia: Eu vi no mapa, e falei assim, “Ela tá do lado da minha melhor viagem da vida.” E foi minha primeira viagem internacional sozinha para estudar num lugar diferente, conhecer pessoas de outros lugares. E o British Council falou muito comigo por causa disso, que eu poderia trabalhar como estagiária de todas as áreas do Rio de Janeiro e participar dos eventos que iam promover o Reino Unido para os brasileiros, que era um máximo. E eu queria ter tido essa oportunidade. Então assim, eu estava muito feliz. E agora você está aí.
Adriana: Estou aqui. Estou aqui, porque conheci meu marido no Conselho Britânico. Meu marido me arrastou, né?
Alexia: Então, como é que vocês se conheceram? Eu não lembro disso. Ele era jogador de rugby ou coisa parecida.
Adriana: Olha… Ele… Sabe o projeto do Try Rugby?
Alexia: Sim.
Adriana: O projeto de esporte do Conselho Britânico que trouxe 12 treinadores de rugby pro Brasil para ajudar a implementar o rugby nas sedes do SESI de São Paulo.
Alexia: Sim.
Adriana: Mas foi um projeto piloto em São Paulo, no estado de São Paulo. E o meu marido era um desses treinadores de rugby. Então assim, teve um belo dia que eles chegaram do Reino Unido, e daí todas as menininhas, “Vamos ver esses coaches.” Tudo moleque, sabe? Tudo super jovem. E a gente coroa tipo, “Nossa! Que meninos bonitos.” O meu marido é 3 anos e meio mais novo que eu, né? Assim, não é tanta diferença assim, mas ele era um dos mais velhos. O resto é tudo mais novo ainda. Mas assim, daí entraram tudo uniformizados com coisa de rugby… “Nossa!” E assim…
Alexia: Gringo, né?
Adriana: E no primeiro dia que a gente se viu, a gente não começou a namorar imediatamente, mas a gente se viu aquele dia que ele chegou, a gente se cumprimentou e tal, levamos a galera para almoçar. E daí depois, lembra da Amanda Lima?
Alexia: Lembro, claro que sim.
Adriana: Então, ela tem uma casa na praia, em Bertioga, litoral de São Paulo. E era aniversário dela. Eles chegaram dia 12 de setembro, o aniversário dela era no final de setembro. Então algumas semanas depois desse primeiro encontro, ela convidou os treinadores. Falou, “Olha, quem quiser, se vira aí. Entra num ônibus..” Ela é louca, ela olhou pra um monte de britânico e falou, “Se vira pra encontrar um ônibus e vem pra Bertioga.” E daí os caras se viraram no 30 ali…
Alexia: E detalhe, escutei essa história lá no escritório do Rio de Janeiro. As meninas comentando, “A Amanda convidou todo mundo pra ir pra casa dela, não sei o que…” Aí eu assim, “Mas o que que aconteceu?” Eu não tava por dentro, eu não estava entendendo que elas não queriam contar pra estagiária, sabe? E aí eu só escutei a fofoca.
Adriana: Ai gente, mas foi super tranquilo, porque a casa dela tem estrutura, né? Tinha lugar pra acampar, a gente trouxe barraca, então tinha um monte de gente lá, né? Então eu estava lá nesse meio, galera do British Council também. Não era só os coachs e a gente. Era um monte de gente de família dela, irmã dela, primo dela, todo mundo. E daí foi muito legal, porque foi assim, pra eles, é uma experiência cultural incrível, né? E daí foi nesse final de semana. A gente chegou na sexta-feira à noite.
Desceu pra praia na sexta-feira à noite depois do trabalho. E daí eles encontraram a gente lá, a gente buscou eles na rodoviária, muito louco. E daí a gente ficou o final de semana e voltamos no domingo, né? Então foi literalmente um intensivão assim pra gente se conhecer. E daí só que nada rolou nesse final de semana e tal. Só que a gente manteve o contato nas redes sociais e tal. Daí quando teve um próximo evento que foi o jogo do Brasil contra o Paraguai de ruby, que foi em Campinas, que era a sede do SESI do meu marido, né?
Alexia: Ah, tá.
Adriana: Então foi todo mundo pra assistir o jogo. E depois a gente foi sair na balada, entendeu? A gente foi sair na balada e daí rolou um beijo e pronto, e daí acabou.
Alexia: Pronto. Acabou. E estão juntos até hoje.
Adriana: A gente não se separou mais depois disso. Depois a gente se conheceu mas, assim, eu não queria nada com estrangeiro. Meu, depois da experiência de migração que eu tive com os Estados Unidos eu falei, “Não, Deus me livre.” Eu falei assim, “Gente, esses caras estão aqui por 10 meses.” Né? Que é o contrato piloto de 10 meses. Eu não sabia se ia continuar, se não ia continuar. Daí eu, “O cara é mais novo. Ele tá aqui no Brasil pra farra, ele não quer nada com nada, né? Isso é a minha cabeça.” Mesma coisa que você, eu não queria nada.
Alexia: Exato.
Adriana: Eu tava só having fun, me divertindo, né?
Alexia: Exato.
Adriana: Só que não. Só que o negócio foi ficando sério, daí daqui a pouco eu estava planejando uma viagem pra Europa. Foi a minha primeira viagem sozinha também. Foi aquela coisa que marca a vida da gente. E eu já estava planejando quando eu conheci ele. E ele falou assim, “Por que você não vem conhecer minha família? Porque eu vou estar lá no Reino Unido, porque vai ser Natal e ano novo.” E daí eu fui lá conhecer a família dele e...
Alexia: E nunca mais voltou.
Adriana: Daí foi assim, né? O projeto continuou e foi indo… Eu conheci ele em 2012, daí já era 2015, a gente ainda estava no Brasil, inclusive a gente se mudou pro Rio de janeiro, porque o projeto expandiu pro Rio de Janeiro e ele estava liderando o projeto do Rio, o Try Rugby no Rio de Janeiro. E foi muito legal a experiência, muito legal. E daí infelizmente, no final de 2015, a gente não ia sair do Brasil nessa época. A gente ia sair do Brasil depois das olimpíadas, a meta era continuar com o projeto até as olimpíadas. Mas infelizmente o pai dele foi diagnosticado com câncer.
Alexia: E aí voltou.
Adriana: E daí foi aquela história que tipo, tava bem séria a situação, a gente não sabia, né? Tanto que o pai dele passou por todo o tratamento, ficou muito mal. E eu falei assim, “Não, vamos entrar no avião e vamos embora.” Porque não tem como eu pedir pra ele, seria muito injusto com ele, com a família dele a gente estar longe nesse momento, né?
Alexia: É impensável fazer isso. A partir do momento que você tem um relacionamento internacional, eu vejo isso com o Foster também, quando acontece alguma coisa com a família dele lá, é tipo, “Vai! Não pensa duas vezes. Vai e depois a gente vê o que acontece.”
Adriana: É.
Alexia: Foi o que aconteceu ano passado. Durante a pandemia o avô dele morreu de velhice, ele estava muito velhinho.
Adriana: Ah, tá bom.
Alexia: Ele já tinha 97 anos.
Adriana: Tá bom não, desculpa! Pelo menos não foi Covid, foi isso que eu queria falar.
Alexia: Não, não. Foi bem no começo do Covid, foi em março, alguma coisa assim. Aí ele foi achando que ia ficar lá duas semanas e voltar. Ele ficou 7 meses lá porque não conseguia voltar, ele ainda não tinha residência, o Covid fechou tudo. Ainda tem o travel ban pra mim pros Estados Unidos, então eu não poderia ir pra lá. Até agora eu não posso.
Adriana: É, a gente também não pode.,
Alexia: Então assim, foram 7 meses de incertezas. “O que que vai acontecer?” Ninguém conhecia o Covid, não tinha ainda vacina, ninguém sabia nada o que estava acontecendo. Foram 7 meses de incerteza. E agora está tudo bem, ele pode ir e voltar quando ele quiser.
Adriana: Ah, que bom.
Alexia: É.
Adriana: Nossa! Mas que louco isso, né? Mas assim, quando você namora ou casa com um vizinho que você conheceu a vida inteira, já tem complicações. Daí você casa com uma pessoa que tem outra cultura, e assim, porque não é só casar com a pessoa, né? Você casa com a família inteira, você casa com cachorro, papagaio, você casa com todo mundo. E assim, você tem que estar preparada pra, como é que fala? Desapegar das coisas muito rápido, eu acho. Ou você tem que fazer sacrifícios. Sacrifícios que não sacrifícios, né?
Alexia: Não…
Adriana: Acho que é uma palavra muito pesada, sacrifício.
Alexia: Eu gosto de falar de adaptação. É uma adaptação contínua e pra sempre.
Adriana: Contínua, forever.
Alexia: É isso.
Adriana: E quando você tem filho então, amiga, deixa eu te falar.
Alexia: Então… E agora, o mais engraçado, quer dizer, o mais engraçado não. Agora você está literalmente estável aí, você parou de viajar, parou de se mudar pela primeira vez na vida.
Adriana: Eu estou, eu criei raízes. Pela primeira vez desde quando eu era criança. Criei raízes, compramos uma casa, a gente se mudou agora durante a Páscoa, durante o final de semana da Páscoa. E assim, estamos aqui, né? Porque eu acho assim, quando você decide, quando você encontra um lugar que você tem uma qualidade de vida que foi aquela… Não que você sempre sonhou, talvez sonhou, mas eu não tinha esse sonho, né? Mas assim, não tem como não reconhecer que a qualidade de vida que a gente criou pra nós mesmos aqui, pra nossa família, é muito boa. É um lugar excelente pra gente criar nosso filho.
Então assim, pelo menos por enquanto… Eu falo isso porque eu me conheço, daqui a pouco eu tô criando rodinha de novo. Mas assim, aqui é o lugar que a gente escolheu pra estar nesse momento da nossa vida que o nosso filho está pequeno, ele vai entrar pra escola só ano que vem, que ele tem 3 anos, tá no pré ainda. Mas no futuro, pra mim, é muito importante a gente morar no Brasil com o nosso filho. Por que?
Alexia: Sim.
Adriana: Porque eu quero que ele conheça a cultura brasileira de verdade. Não adianta só mostrar foto, não adianta só falar no vídeo, não adianta você só visitar, não adianta só vir de mim. Eu quero que ele crie a identidade dele brasileira, porque eu conheci o pai dele no Brasil. O pai dele ama o Brasil, não é só que assim, eu cheguei aqui no Reino Unido e meu marido, o Dom, nunca foi pro Brasil.
Não adianta só mostrar foto. It's no use just showing a photo (it's not the same...)
Alexia: Sim.
Adriana: A gente tem essa família porque ele foi ao Brasil, porque ele se arriscou nessa aventura, nesse projeto incrível. Então assim, é uma história muito legal, e a gente quer que o meu filho, Lucca, tenha uma conexão própria do Brasil, não só através de nós, entendeu?
Alexia: Exatamente. E a questão da identidade de novo. É muito importante para ele entender a identidade brasileira dele. A família dele de lá, tudo de lá. A comida, o cheiro, tudo. Eu acho isso incrível, e eu morro de saudade também.
Adriana: A música, as pessoas, sim. Eu sinto muita falta disso, sabe? Assim, apesar de, assim, se for contar quantos anos eu morei fora do Brasil, né? 14 anos nos Estados Unidos, 5 anos aqui agora. 19 anos e eu tenho 38. Então, na verdade, eu morei fora mais tempo do que eu morei no Brasil. Só que, cara, não dá, sabe? Não dá pra separar, é parte de tudo misturado ali naquele caldeirão e é isso, eu tenho que aceitar. E eu quero que o meu… Assim, talvez o meu filho, ele não se identifique tanto com o Brasil, talvez ele não goste do Brasil.
caldeirão - caldron, melting pot
eu tenho que aceitar. I have to accept it.
Alexia: Tudo bem.
Adriana: Mas eu quero dar oportunidade pra ele, entendeu?
Alexia: Exato.
Adriana: Eu não quero que ele não tenha essa oportunidade. Essa que é a diferença. Eu não quero forçar, entendeu? Eu quero que seja uma coisa natural, né?
Alexia: Aqui, pelo menos pra mim, em Portugal eu tenho muito mais contatos com brasileiros do que eu poderia ter aí, porque aqui tem muito brasileiro. A gente está aqui no Porto e foi invadido por pessoal do Recife, totalmente. Mineiro, que tem em todo lugar. E assim, a gente come comida brasileira em qualquer lugar. A gente tem amigos brasileiros. Então essa parte a gente não perdeu, mas é muito diferente você estar em Portugal e estar no Brasil. Você sair e ir no barzinho da esquina que conhece todo mundo. Você conhece o garçom, chama o garçom pelo nome. Essa coisa também me faz falta. Agora, se eu for colocar, hoje em dia, agora, a qualidade de vida que eu tinha no Brasil e a qualidade de vida que eu tenho aqui, a (qualidade de vida) daqui ganha.
Adriana: É, com certeza.
Alexia: É isso. Agora nesse momento. Talvez daqui a 20 anos seja diferente, vamos ver. Tomara que sim.
Adriana: Agora a situação no Brasil está complicada, né amiga?
Alexia: Sem comentários, né?
Adriana: Sem comentários, não vamos lá. Não vamos lá, porque preciso de mais 3 horas aqui falando.
Alexia: Exato. Agora, sobre o seu filho, o Lucca, ele já sabe entender português? Como é que está a vida dele bilíngue?
Adriana: Ele fala… Não, minto. Eu tento falar com ele o máximo possível em português, né? Não é sempre que dá, porque eu acho que um detalhe, voltando à questão da língua… Quando eu conheci o Dom, ele não falava português. Eu falava inglês, então a nossa língua, entre nós dois, mesmo no Brasil, era inglês. Ao longo dos anos ele morou no Brasil, o português dele melhorou bastante. Chegou no final ele estava totalmente falando tranquilo, e agora está enferrujado, né? Assim, a gente continuou falando inglês entre nós. Então é muito difícil quando você já tem esse hábito de falar numa língua, de repente falar assim, “Ah vamos falar agora português todo dia.” É difícil, é bem difícil.
Alexia: Sim.
Adriana: Ainda mais que agora no meio que a gente vive é tudo inglês, né? Então a referência maior do português sou eu. Mas eu tenho amigos e amigas brasileiras aqui. Tenho a minha família que eu falo sempre no vídeo e tal. E ele entende tudo. O Lucca entende tudo que eu falo.
Alexia: Fofo.
Adriana: Assim, ele responde em inglês, mas eu falo em português. E vai ficar assim, eu imagino que vá ficar assim. E se não fosse a pandemia, a gente já teria ido mais duas vezes para o Brasil, pelo menos, desde 2019, né? E meu problema de saúde também. Eu tive um problema sério de saúde em 2019, né? E daí, depois disso, a pandemia, que o mundo estava com problema de saúde. Quando eu estava bem, o mundo ficou doente.
Alexia: Efeito dominó, né?
Adriana: Oi?
Alexia: Efeito dominó. Você ficou bem e assim vai, mas enfim.
Adriana: Depois que estava melhor, a pandemia fez o que fez com o mundo. Então, se não fossem essas duas coisas, eu já teria ido pro Brasil mais duas vezes desde quando ele era pequeno, né? Claro que isso teria me influenciado mais ainda, né? Porque eu acho que a imersão é importante. Por isso que eu tinha tanta paixão pelo meu trabalho no Conselho Britânico, porque eu acreditava muito na importância na vida das pessoas, dos brasileiros, jovens. Não só jovens, mas qualquer idade.
Alexia: Sim.
Adriana: De ir, fazer uma imersão de estudo no Reino Unido, no caso. Que assim, aquela imersão na língua, na cultura é muito valiosa, né? Então assim, pro meu filho, eu imaginava que, “Nossa, ele vai ter essa imersão no Brasil todo ano. Ou pelo menos um ano sim e um ano não.” Só que com tudo isso que aconteceu, nessa idade crítica que ele está aprendendo a língua e aprendendo o que que é ser um ‘ser humaninho’ que ele é, não teve o contato com o Brasil. Então assim, eu fico bem triste por isso. Por ele, né? Mas a gente vai dar um jeito.
Alexia: Chegar lá.
Adriana: Vai chegar lá, vai dar um jeito.
Alexia: Com certeza. Isso é uma coisa muito importante, porque a gente sempre fala pro pessoal que escuta a gente aqui no Carioca Connection ou no nosso outro podcast, que é o Inglês Nu e Cru Rádio. Se você tiver dinheiro ou a capacidade de poder ir pro Brasil ou pro Reino Unido ou pra Austrália, né? Dependendo da língua que você estuda. E realmente mergulhar, esquecer os brasileiros, experimentar a cultura e se virar mesmo, “Como é que pede um sanduíche? Como é que pede por ajuda? Como é que compra um remédio na farmácia?” É meio que se virar e aprender na marra, é a melhor coisa do mundo.
Adriana: Sim, total.
Alexia: Pra mim, foi o que realmente me fez, também, entender a importância do inglês quando eu fui pra Inglaterra e fiquei um mês. Um mês me ensinou isso. E assim, foi essencial pra mim. Até pro meu relacionamento hoje em dia, de entender que a cultura que o Foster nasceu na Carolina do Sul, é completamente diferente da minha, Carioca, Rio de Janeiro. E que os pais deles pensam diferente, e tudo bem, e que tá todo mundo vivendo bem, então isso foi muito importante.
Adriana: Sim, total. E eu, assim, de uma certa forma me sinto muito sortuda, porque eu realmente me tornei aquela cultura por um período muito longo. Primeiro Estados Unidos. Saindo do Brasil, Estados Unidos. Depois me readaptei ao Brasil, né? E me reconectei com o Brasil que também tem os seus desafios muito grandes. E agora, a cultura britânica, que não é igual à americana, não é igual, de jeito nenhum. Não é. Tem a língua… É igual falar que a cultura de Portugal é igual a cultura brasileira, que não é.
Alexia: É o maior erro que as pessoas cometem. “Ah, eu vou pra Portugal, vai ser fácil, gente.” Não, não mesmo. É diferente.
Adriana: Cada povo tem a sua identidade, tem as suas belezas e as suas diferenças.
Alexia: Sim.
Adriana: Eu acredito que, para ser imigrante, você tem que ter muita resiliência e ter uma cabeça aberta, né?
Alexia: É isso.
Adriana: Porque, se não, você vai sofrer.
Alexia: Muito.
Adriana: Muito.
Alexia: Muito, mas assim…
Adriana: Mas cara, não sei se tem aí em Portugal, você fala que tem bastante brasileiro aí. Nos Estados Unidos… Aqui tem lugares em Londres que tem bastante brasileiro vivendo no mesmo bairro e tal.
Alexia: Em comunidade.
Adriana: Mas nada como o que eu vi lá nos Estados Unidos. Tem a cidade de Newark, já ouviu falar de Newark? Já esteve em Newark?
Alexia: Nunca. Só estive no aeroporto, mas eu sei que só tem…
Adriana: Então, não era tão longe de onde eu morava, né? Quando eu morava em Nova Iorque, na verdade, eu morei em Newark por um tempo, pra ficar na casa de amigo e tal, quando eu estava me estabilizando. E depois que eu mudei pra Nova Iorque, né? Pra Manhattan mesmo. E depois pra Queens. Eu fui pulando as ilhas assim. Mas enfim, Newark, literalmente, eu conheci pessoas que nunca aprenderam inglês, nunca precisaram aprender inglês, porque tem tudo que eles precisam ali, naquela comunidade gigante. Tem restaurante, supermercado, banco, tudo que todo mundo fala português. Eles nunca precisaram aprender o inglês. E eles vivem nos Estados Unidos, então assim...
Alexia: Isso pra mim é uma loucura.
Adriana: Oi?
Alexia: Eu acho tão doido. Isso pra mim é tão doido, é tão doido. Isso lembra o bairro da Liberdade em São Paulo, da parte japonesa.
Adriana: É verdade, japonês.
Alexia: Só tem… Banco é em japonês, tudo em japonês. Você entra na loja, se alguém falar português, você deu sorte. Você está dando sorte. Isso me lembrou muito.
Adriana: É verdade, é. E assim, é muito legal, sabe? É muito legal, mas tem que ser estudado, sabe? E assim, a imigração é uma coisa tão forte. E é uma coisa que vai crescendo, que vai criando essa infraestrutura naturalmente, assim, o povo, né? E o que une as pessoas é a língua, né?
Alexia: Sim.
Adriana: Porque não é só… A comunidade de Newark não é só brasileiros com português do Brasil. Portugueses também. Então é uma mistureba ali de portugueses. Às vezes tem um espanhol ali do Equador e tal, mas a mais forte ali… Você sempre vê bandeiras do Brasil e Portugal, uma do lado da outra ali. Então vive naquela bolha.
Alexia: Mistura. É.
Adriana: E literalmente não precisam sair dali pra nada. Tem tudo, tem hospital, tem tudo ali perto. Então não precisa aprender inglês.
Alexia: É um little Brazil que eles criaram.
Adriana: É um little Brazil mesmo.
Alexia: É.
Adriana: Little Brazil nos Estados Unidos.
Alexia: Eu acho isso muito interessante, que em Portugal tem muitos chineses, muitos. Então eles, aqui…
Adriana: Ah, é?
Alexia: Muito, mas assim, muito, muito.
Adriana: Ah, não sabia…
Alexia: Em cada bairro, assim, em cada zona tem lojas chinesas. Que assim, é como se fosse a 25 de Março, sabe? Dentro de uma loja só.
Adriana: Sim. Bugiganga.
Alexia: Exato, tem tudo, tudo que você possa imaginar. E todos eles vivem em comunidades chinesas, todos. Então normalmente é um chinês, uma família chinesa que compra as lojas desse bairro e faz lojinhas, e contrata família para trabalhar nessas lojinhas e tal. E eles investem muito dinheiro aqui em Portugal, eles são muito ricos. E aí tem aquela velha história, né? Os portugueses olham meio estranho, mas compram sempre da loja deles. Aquela velha história de sempre. Eu costumo dizer, eu adoro quem eu sou hoje em dia, eu sou uma junção de identidades, portuguesa, espanhola, italiana, agora americana, porque eu tenho uma identidade americana quando eu vou pra lá.
Adriana: Claro.
Alexia: É óbvio, eu me adapto perfeitamente. E eu gosto de falar que eu sou muito adaptável. Então se eu tiver que me mudar para Singapura, eu não tenho o menor problema. Se eu tiver que ir pra Rússia…
Adriana: Singapura é legal.
Alexia: Eu não tenho o menor problema. Assim, qualquer lugar que me metam, eu vou ser feliz. Eu vou aprender a língua, eu vou me adaptar, vai dar tudo certo. Agora, nada tira de mim o meu brasileiro. Assim, não tira.
Adriana: Nada, não tira.
Alexia: Não tira.
Adriana: Não tira. Eu sou muito parecida com você, porque eu também tenho o Sorrente, meu sobrenome é Sorrente, eu sou italiana tanto por parte de pai quanto por parte de mãe tem italiano. Eu queria fazer aquela coisa de DNA pra saber...
Alexia: Sim.
Adriana: Eu pedi de aniversário pro meu marido, eu estou esperando.
Alexia: Me conta depois.
Adriana: Eu quero fazer muito. Mas enfim, eu sou italiana de ancestralidade, de minha família. Também tem um pouquinho de espanhol e português, porque todo brasileiro tem um pouco de português, e sei lá o que mais que tem misturado ali. Só que daí tem, com certeza, o brasileiro. Nascida e crescida lá, minhas raízes, né? Eu escrevi até um poema sobre essa identidade minha, essa saudade que eu tinha nos Estados Unidos dessa conexão que eu tinha com o Brasil. Foi publicado esse poema numa revista lá em Nova Iorque, quando eu estava morando lá.
Alexia: Que máximo.
Adriana: Eu escrevia, né? Eu fazia universidade de línguas, então eu gosto muito de escrever, né? E daí eu tenho o Brasil, tenho os Estados Unidos. Com certeza, os Estados Unidos foi onde eu virei adulta, onde eu descobri quem eu era como pessoa. Daí tem agora a britânica, porque meu marido é britânico, né? Acho que desde quando eu pisei no Conselho Britânico, comecei a trabalhar lá e comecei a criar essa conexão, mesmo que fosse profissional. Eu vim pra cá a trabalho algumas vezes também, né? Então assim, foi uma coisa muito positiva na minha vida abraçar essa cultura britânica.
Daí com o meu marido, a família dele e agora meu filho é britânico, então assim né? Eu tenho várias identidades e eu falei que nesse último final de semana que teve a Copa América, a final da Copa América, teve Brasil e Argentina. E teve Itália contra Inglaterra, eu falei assim, “Gente, eu não sei. Eu não sei quem eu quero que ganhe, né?”
Alexia: O meu pai ficou igual a você, porque a família é italiana da Sicília, então assim, super italianão. E aí, ele assim, “Pra quem que eu vou torcer?" Porque ele ama a Inglaterra, adora a Inglaterra. Ele ficou, “Eu não sei pra quem que eu torço.” Mas enfim.
Adriana: Então, essa viagem que eu mencionei que eu fiz sozinha pela primeira vez. Depois eu peguei um vôo e fui pra Inglaterra, porque é tão próximo, né? Duas horas você está… Eu pisei e estou na Inglaterra, saindo da Itália, né? E daí eu fui pra Itália, eu viajei a Itália inteira. Eu falei assim, “Não, eu quero conhecer essa parte de mim, dos meus antepassados.” Inclusive, o meu tataravô veio de Bari, que é em Puglia, fica na bota, bem na bota assim, na frente da bota. E daí eu fui e eu peguei uma lista telefônica…
Alexia: E começou a ligar?
Adriana: E eu fui procurando Sorrentis. Eu marquei no mapa todos os endereços e eu fui batendo na porta para tentar descobrir se alguém conhecia histórias de pessoas que foram para o Brasil, tipo, um bisavô, um tio-avô, alguma coisa assim. E daí a última casa que eu fui, tinha uma velhinha, muito velhinha que queria expulsar a gente. Ela estava com uma vassoura, assim. Ela ficou com medo, “Quem é essa pessoa doida batendo na minha porta?” E pelo pouco de italiano que eu falo, eu consegui explicar quem eu era, e perguntei… Ela falou, “Sim.” Ela teve um tio que foi pro Brasil. Só que ela não queria falar comigo mais, “Não, eu não tenho mais informação. Tchau, vai embora!”
bisavô - great-grandfather bisavó - great-grandmother
Alexia: Ficou com medo.
Adriana: Ela realmente achou que a gente era louco, que a gente queria pegar dinheiro dela, sei lá, que queria herança. Eu não sei o que ela pensava, mas ela não foi muito amigável. Só que eu acredito que ela seja uma prima ou alguma coisa assim. Muito louco.
Alexia: É. Gente, é muito louco. Eu sempre esqueço que a maior comunidade italiana fora da Itália tá em São Paulo, tá em São Paulo.
Adriana: São Paulo.
Alexia: Exato.
Adriana: São Paulo ou Buenos Aires? Não era Buenos Aires?
Alexia: Eu acho que é São Paulo.
Adriana: São Paulo, né? Então, meu tataravô, ele fugiu dessa cidade de Bari, da máfia, porque a minha tataravó estava prometida para um lord assim da máfia quando ela tinha 16 anos.
Alexia: Gente…
Adriana: E eles se apaixonaram. E ele falou assim, “Olha, eu tenho um irmão morando na América do Sul, vamos embora.” E eles foram fugidos da máfia. Daí quando eles chegaram em São Paulo, ele virou Maçom para se proteger da máfia. Olha só que doido.
Alexia: Que incrível.
Adriana: Que doido. E tem o nome dele lá no museu dos imigrantes em São Paulo, que fala que ele fazia parte da maçonaria.
Alexia: Gente…
Adriana: Maçonaria que fala? Maçonaria, né?
Alexia: Sim, sim. Que incrível isso. Que história.
Adriana: É, então. Muito louco. Podia ser uma novela, né? Aquela novela Terra Nostra. Como é que chama aquela atriz que fez a Juliana?
Alexia: É a… Que até deixou a Globo agora, de olhos verdes enormes, cabelo…
Adriana: É Ana…
Alexia: Ana Paula Arósio.
Adriana: Ana Paula Arósio.
Alexia: Isso.
Adriana: Então, quando eu assisti aquela novela, a minha família, “Nossa! Que história da Itália.” Então eu lembro muito. Eu era criança ainda... Você tinha o que? Uns 3 anos de idade.
Alexia: Não. Não começa. Eu tenho 31, vou fazer 32. Então a gente tá ali naquela época novelas. Sim, nós duas assistimos a mesma. Mas Dri, olha, pra finalizar, eu tenho duas perguntas. Uma, se você pudesse indicar uma cidade para visitar no Brasil, qual que você indicaria?
Adriana: No Brasil?
Alexia: É, no Brasil.
Adriana: Gente do céu. Muito difícil.
Alexia: Olha, eu já falei sobre Ibitipoca. Eu amo Ibitipoca, eu sou apaixonada por Ibitipoca.
Adriana: Uhun.
Alexia: Aí tem os clichês Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e tal. São interessantíssimos, mas são as cidades grandes. E um lugar que eu amo, sou apaixonada, é Paraty. Que se você for pra Praia do Sono, você escapar um pouco assim de Paraty, em si, pra mim é um lugar incrível. Você tem alguma dica nesse sentido?
Adriana: Olha, eu tenho, mas você sabe que meu sonho é trabalhar só com isso, né? É tipo, meu sonho é trabalhar com turismo, de levar gringo pro Brasil pros lugares que eles nunca ouviram falar.
Alexia: Então pronto, olha, você já tem uma audiência enorme.
Adriana: Então, beleza. O meu sonho é isso. Eu quero, tipo, eu sei que já tem várias agências de turismo, né? Mas assim, o Brasil é um destino que as pessoas têm um pouco de medo de viajar, porque não tem a língua. E realmente, assim, até o British Council na época fez uma pesquisa que 5% dos brasileiros falaram que falam inglês intermediário. Imagino que a maioria esteja nas grandes capitais. Então você vai pra uma cidadezinha pequenininha, que não seja turística. Ou que talvez seja turística, mas não turística internacionalmente falando, mas turística para brasileiro, sabe? Eu fui já 3 vezes pros Lençóis Maranhenses.
Alexia: Ah, eu nunca fui. Eu morro de vontade de ir, morro de vontade.
Adriana: Não é uma cidade. Mas assim, os lençóis maranhenses, eles tem três cidades-base. Uma é Barreirinhas, que é uma cidade grande até. Não grande, né? Uma cidade média. Tem uma estrutura de tudo assim, tem pousadas, tem restaurantes, tem baladinha, tem supermercados grandes, maiores. E daí você tem muitas agências de turismo que levam você até os Lençóis, porque os Lençóis são uma reserva, então você só pode ir com agências autorizadas, você não pode simplesmente ir pra lá sozinho.
Alexia: Graças a Deus, né? Ainda bem.
Adriana: Graças a Deus, Nossa Senhora! Que é um lugar.
Alexia: É.
Adriana: Olha, ao mesmo tempo que eu quero falar desse lugar, ao mesmo tempo eu não quero. Porque, às vezes, eu quero manter ele pra mim, que ele se mantenha ali, protegido com muralhas, sabe? Porque é um lugar assim que pode tirar mil fotos, pode fazer drone, vídeo de tudo quanto é tipo, que é a sensação, seus olhos não conseguem processar tanta beleza desse lugar. É um deserto, literalmente um deserto, dunas brancas com a areia mais fina. Não é quente, porque venta o tempo todo. Então você vai andando descalço pra tudo quanto é lugar.
Alexia: Uhun.
Adriana: E na época da chuva, enchem essas lagoas que mudam de ano para ano, porque as duas mudam, entendeu? Tem algumas permanentes que são as maiores, né?
Alexia: Sim.
Adriana: Mas a maioria dos Lençóis, todo ano, ele é diferente. Então é um parque de diversões que muda com o vento, olha que coisa linda, né? Então assim, tem a cidade de Barreirinhas que fica no Maranhão. Daí, tem uma cidadezinha que fica entre o Rio Preguiça, chama Rio Preguiça, com o mar, né? Porque os lençóis ficam entre esse rio e o mar. E tem uma cidadezinha que é tipo Jericoacoara, mas bem menor, e as ruas são de areia, só que tem tanto gringo morando nessa cidade. Eles tem, tipo, uma pousada ou um restaurante, é uma cidade turística, tá?
é uma cidade turística. It's a touristy city.
Alexia: Que incrível.
Adriana: Que tem tudo muito rústico, mas com qualidade. Você encontra pousadas com um super conforto, uma cama, uma rede, café da manhã, tudo bonitinho. Mas ela literalmente fica no meio do nada, então você só consegue chegar lá de barco através desse rio. Então você tem que ir pra Barreirinhas, pegar um barco pra ir pra Atins. Essa cidade chama Atins.
rústico - rustic
Alexia: Atins. Uau.
Adriana: Atins. A-T-I-N-S. Daí você fica nesse lugar, e você tem música ao vivo à noite. E você tem os Lençóis Maranhenses de um lado. O mar do outro lado…
Alexia: Eu tô arrepiada.
Adriana: E o Rio Preguiça do outro lado, entendeu? É um lugar… Daí, olha só, se não fosse o lugar dos sonhos, quando eu estava lá, o que aconteceu? “Ah, vai pra praia à noite, é legal ver a lua cheia…” A gente entrou na praia, tinha aqueles plânctons. Sabe aquele filme, ‘A Praia’, com o Leonardo DiCaprio que ficou famoso e tal?
Alexia: Sim.
Adriana: Gente, a gente entrou no mar, tinham aqueles plânctons na água. A gente mexia a água, o negócio era fluorescente assim. Que não acontece todo ano, a gente deu sorte, mas acontece muito, eles falaram, numa época do ano assim. E eu falei assim, “Gente, onde estamos? O que é isso? Isso aqui é um sonho.” Entendeu? Eu poderia ter ficado lá mais uma semana. Só que daí a gente teve que move on, seguir viagem. E daí a gente atravessou os Lençóis Maranhenses caminhando, que você pode fazer a travessia dos lençóis maranhenses com guia local. Os guias que fazem essa travessia, são pessoas que nasceram nas comunidades dentro do parque nacional, porque eles que sabem ler as dunas. Os caras tem que ler as dunas, entendeu?
Alexia: Sim.
Adriana: Então assim, você não tem como ir sem guia. E a gente contratou um guia, né? Já tinha tudo ‘coisado’ antes. E foi assim, a gente dormia em redes nas comunidades. Tem umas regiões que é tipo um oásis no meio dos Lençóis, e são acho que 70km, você cruza e você sai do outro lado, numa cidade chamada Santo Amaro. Essa cidade é uma cidadezinha, uma vilazinha que não tem tanta estrutura, mas também, desse lado do parque, eu achei as lagoas mais incríveis, porque é menos visitado que Barreirinhas. Então foi uma experiência que eu e meu marido, meu marido foi comigo, né? Foi uma experiência que eu nunca vou esquecer. Eu já tinha ido nos lençóis maranhenses em outra ocasião. A gente foi para Barreirinhas, que é onde a maioria das pessoas vão. Só que daí eu pesquisando, eu descobri que tem tudo isso e mais, entendeu?
Alexia: Gente...
Adriana: Então eu recomendo muito. A única coisa é que tem que planejar com muita antecedência, tem que ter uma agência que tem registro, que tem toda a segurança em volta, porque você não pode simplesmente chegar lá e fazer tudo isso, tem que ser muito planejado, uma viagem planejada. As pessoas não falam inglês, não falam, não falam inglês. Eu mandei os meus amigos gringos, um casal, que estavam viajando na América do Sul. E eu organizei tudo pra eles. E daí chegou num dia lá, ela torceu o pé. E ela falou assim, “Adriana, a gente tem que ir embora, como é que eu vou fazer? Eu não sei o que falar com ele, né? O guia não fala inglês.” Daí ela conseguiu sinal, eu falei no Whatsapp com o cara, expliquei a situação, e eles conseguiram ir embora. Tiveram que ir embora um dia mais cedo, mas…
Alexia: Mas tudo bem.
Adriana: Então assim, pra essas coisas de emergência, tem que ter uma pessoa… Você tem que estar preparado, né? Pra talvez pagar um plano que pega, uma… Como é que fala?
Alexia: O sinal.
Adriana: O sinal internacional. Se você estiver no Brasil, pagaria né? Pra ter certeza que tinha um celular, alguma coisa pras emergências mesmo, né? É um lugar que assim, tá começando a ter mais estrutura agora, mas Atins é uma pérola. É um lugar que você não sabe nem que existe. E tem uma escola de kitesurf lá.
Alexia: Ai que máximo, que máximo Eu não sei se teria coragem de fazer kitesurf, mas já, com certeza, quando eu voltar pro Brasil, eu pretendo ir pros lugares não comuns, né? Eu quero ir pros lugares… Porque assim, Rio de Janeiro eu já conheço. Eu quero ver meus amigos, quero ver família e etc, mas…
Adriana: Fala comigo, amiga. Eu já viajei tudo. O único lugar que eu não fui... Não, dois lugares que eu não fui, Florianópolis e Amazônia. O resto eu conheço. Nossa! Eu amo, amo. O Brasil é um lugar, assim, de belezas naturais incríveis.
Alexia: Sem igual, não tem.
Adriana: Sem igual. E tão variado, né? Muito variado.
Alexia: Pois é. Se você quiser frio, ir no inverno pro sul, vai, tá tudo certo. Atravessa e vai pro Uruguai, até. Você tem ali o Uruguai que é incrível. Eu amo aquele país. Eu amo o Uruguai.
Adriana: Com certeza.
Alexia: A minha última pergunta pra você é, se você tivesse que se descrever, quem é a Adriana de hoje em dia? Por exemplo, você foi a Adriana um pouco perdida quando na adolescência, que você não sabia quem você era e etc. Hoje em dia que você criou raízes, por enquanto, não digo pra sempre. Quem é você hoje em dia?
Adriana: Olha, eu acho que eu, de uma certa forma, eu ainda sou aquela menininha que teve que encarar o mundo e se adaptar. Eu acho assim, que a vida, ela não é estável pra sempre, né? Por mais que agora eu tenha uma casa, eu tenha uma família, virar mãe é um outro país, gente. É outra cultura, é outra coisa que você tem que aprender sobre você. Então assim, eu acho que eu sou, eu continuo sendo aquela menina curiosa, aquela menina que…
Alexia: Quer descobrir o mundo.
Adriana: Está sempre aberta a novas experiências. E eu quero muito passar tudo isso que eu vivi, essas experiências multinacionais de viagens, de identidade com outras culturas, eu quero passar para o máximo número de pessoas que eu entro em contato. Sendo isso profissionalmente, que é o que a gente fazia no Conselho Britânico, quanto pessoal também. Fazendo esse podcast com você já é uma coisa que é muito importante pra mim, entendeu? Então assim…
Alexia: Dri, olha só, a quantidade de gente que provavelmente vai me mandar e-mail pedindo o seu contato, eu tenho certeza que vai ter. Você não tem ideia, com certeza vai ter. Então…
Adriana: Estou preparada, pode mandar. Mas assim, eu acho que a vida me deu tantas oportunidades de ter essas experiências diferentes, eu quero proporcionar isso para as pessoas, né? E eu quero mostrar para as pessoas o Brasil, eu quero…. Aqui na Inglaterra, eu sempre falo do Brasil, sempre falo o quanto que é importante a diversidade, se identificar com outra cultura e ter aqueles momentos difíceis, né? De tipo, “Nossa, eu tenho que me adaptar, tenho que me sentir desconfortável.” Eu acho que isso faz você um ser humano melhor, sabe?
Alexia: Sim.
Adriana: Então as pessoas talvez não percebam. Igual você falou, quando você veio pra cá, você nem sabia as coisas que você poderia aprender além de só o inglês, né?
Alexia: Sim.
Adriana: Então eu acho que isso é a chave. Quanto mais pessoas conhecerem outra cultura e se identificarem, e respeitarem aquela cultura, vai ser um mundo melhor. Eu acho que essa é a minha meta de vida, que é aquela menina de 12 anos, que teve que (se) adaptar nos Estados Unidos e abraçar essa cultura da minha maneira, né?
Alexia: Sim.
Adriana: Então, eu acho que eu não mudei muito não. Igual eu te falei, eu cresci com 12 anos e sou a mesma.
Alexia: Ai Dri, olha, eu amei ter você aqui. Muito obrigado por ter topado.
Adriana: Eu também, muito obrigada. Só assim pra gente conversar direito.
Alexia: Sim, sim. Mas a gente tem que fazer isso mais, e eu quero muito, quanto a pandemia acabar, todo mundo estiver vacinado, eu quero muito ir na Inglaterra. Eu tenho vários amigos na Inglaterra, eu quero te ver.
Adriana: Venha, venha na minha casa.
Alexia: Sim, combinado. Combinadíssimo. E olha, a gente vai te chamar com certeza de novo pro Carioca Connection. E é isso, obrigada.
Adriana: Tudo bem, obrigada eu. Um beijão. Tchau!