Listen on:
Alexia: Oi pessoal. Mais um episódio aqui do Carioca Connection, nossa quinta temporada, uma temporada bem especial. Nós estamos falando sobre vários assuntos que o Foster sente insegurança, na verdade, com o português, que é uma coisa que a gente vai falar bastante no episódio de hoje. E claro, eu estou aqui com o nosso querido Foster Hodge. E eu sou a Alexia, brasileira, carioca, Rio de Janeiro. Tudo bem?
Foster: Olá pessoal, sejam bem-vindos à mais um episódio do Carioca Connection. E eu acho que insegurança, amor, é uma palavra muito suave para descrever as minhas preocupações com o meu português hoje em dia.
suave - soft, smooth preocupações - concerns
Alexia: Então, a primeira pergunta que eu tenho pra te fazer é, qual é a diferença do que você sente hoje com o seu português de quando você começou? Porque, por exemplo, quando você começa uma língua e você chega a um nível de conversação, você ainda se sente inseguro, porque você não sabe, principalmente, se você vai ser compreendido, e se as pessoas vão te compreender, né?
Foster: Uhun.
Alexia: É a mesma coisa agora?
Foster: Não, totalmente diferente. É uma boa pergunta. Deixa eu pensar… Esta temporada do Carioca Connection é sobre como recuperar uma língua, né?
Alexia: Uhun.
Foster: Porque meu português está sofrendo, eu estou tentando recuperar e lembrar um pouco das coisas que eu sabia no passado. Mas respondendo a sua pergunta, quando você começa uma língua do nada, do zero, você tem muita vergonha, né?
Alexia: Uhun.
Foster: A maioria das pessoas tem.
Alexia: Sim.
Foster: Mas é uma vergonha de iniciante, você está tentando aprender ou tentando fazer uma coisa que você nunca fez.
Alexia: Sim.
Foster: Então pra mim é tipo uma espécie de vergonha honesta. Deixa eu explicar...
Alexia: É, explica.
Foster: Porque agora eu tenho muita vergonha, mas é uma vergonha que dói, porque aprendi português. Eu trabalho com português, eu estou com você por quase 5 anos, tipo, agora não tenho desculpas. Não é tipo, "Ah, eu estou aprendendo. Desculpa, falei errado". Tipo, não, gente, eu estou fazendo isso por 5 anos, entendeu? Então realmente dói, é uma vergonha tipo, "Ah, eu tenho muita preguiça". Parece que eu fiz algo errado.
Alexia: Tá, então na verdade...
Foster: Faz sentido isso?
Alexia: Faz, eu acho que é a mais ou menos a mesma coisa do que eu sinto quando eu vou pros Estados Unidos e eu quero dar o meu melhor, claro. Não tanto quanto com você, mas por exemplo, com seus familiares, com seus amigos, eu quero estar lá participando de tudo e mais um pouco.
Foster: É, eu queria falar sobre isso rapidinho também. Porque quando eu falo com você em português, você quase sempre me entende, até quando eu estou falando errado.
Alexia: A mesma coisa comigo em inglês com você.
Foster: Sim, eu sei, eu conheço os seus erros, eu sei.
Alexia: Eu conheço os seus erros.
Foster: Eu conheço os seus erros. E também, a gente mistura um pouco de inglês e português, mas é diferente com outras pessoas.
Alexia: Sim. Mas eu acho que o ponto aqui é o que eu sempre falo, você já faz um esforço absurdo, né? Por estudar uma língua que é literalmente, completamente diferente de inglês. Então… E todo mundo que está nos escutando agora também faz isso. E você começou como um hobby, né? E depois virou uma necessidade, por causa de mim e por causa dos meus amigos e por causa da minha vida.
Alexia: Uhun.
Alexia: Então eu acho que se você ainda tratar o português como era antes, isso vai ficar uma coisa mais leve pra você, você não vai se cobrar tanto.
Foster: Sim, claro. É muito mais fácil falar do que fazer.
Alexia: Sim. Até porque se você virar pra mim e falar, "Ah, relaxa, o seu inglês é ótimo", eu vou falar, "Hã-hã, não, as minhas proposições são horríveis".
'Uhun' e 'hã-hã' são sons que fazemos para dizer sim e não, respectivamente.
Foster: Exatamente, mas é muito mais fácil falar isso do que fazer, né?
Alexia: Sim, até porque é a mesma coisa comigo em inglês. Você pode me falar quantas vezes forem e eu vou continuar errando as preposições, e eu acho que eu to errando a língua inteira. Então é muito difícil.
Foster: Sim, é. Então me conta, Alexia. Por exemplo, quando você está visitando minha família nos Estados Unidos, depois de sei lá, seis meses no Brasil, como é que é a primeira semana? Você fica nervosa? E também a semana antes.
Alexia: A anterior eu sinceramente não ligo, porque eu to tão focada em arrumar as coisas pra ir. Mas eu acho muito importante você tentar fazer uma preparação mental do tipo, "Ok, então eu vou encontrar tal primeira pessoa primeiro, provavelmente essa pessoa vai me fazer tais perguntas. Aí depois eu vou encontrar o pai do Foster e ele vai me fazer essas perguntas". Então meio que ter mais ou menos na sua cabeça o que que vai acontecer. E a minha primeira semana nos Estados Unidos é sempre muito exaustiva mentalmente, porque é aquilo…
Foster: Fisicamente também, cansa.
Alexia: O Foster já me conhece e ele sabe, ele me entende. Outra coisa é eu estar ajudando a mãe do Foster a fazer o almoço ou o jantar e ela estar conversando sobre mil coisas comigo, as quais eu posso estar até acostumada a falar, mas eu não to acostumada a falar com ela. E aí vem a preocupação, vem o medo de errar, vem a preocupação em acertar, sempre se questionando, "Ok, isso tá certo, isso tá errado". Então o mental, ele te agride muito nessas horas.
Foster: É, é interessante. É tipo, você está se virando criança de novo.
Alexia: Você está virando criança.
Foster: Você está virando criança ou virando iniciante de novo. Bom, o que eu estou fazendo agora, eu pretendo ir pra Portugal na semana que vem, cruzando os dedos, e eu já fiz duas aulas de português online só pra falar em português com alguém que não seja a Alexia. E depois da primeira aula, me ajudou tanto só falar, conversar, bater um papo com alguém. E depois da aula eu falei, "Nossa! Eu ainda falo português, eu sempre falava".
Alexia: Eu sempre falei.
Foster: Eu sempre falei.
Alexia: Mas eu acho que é isso, é você dar um boost de confiança, dar aquela coisa que você tá faltando. Então, no final das contas, é tudo uma questão de confiança, é tudo você conseguir se provar que você pode, que você consegue, que você fala a língua, e que tudo bem.
Foster: Exatamente. Vocês tem no Brasil uma palavra pra falar 'um boost'?
Alexia: A gente deve ter.
Foster: Empurrão?
Alexia: É um empurrão… To tentando pensar, eu vou dever essa pra vocês. Eu vou botar na show notes quando eu achar.
Foster: Tá bom, beleza. Bom, posso te contar mais duas coisas que eu estou fazendo?
Alexia: Claro.
Foster: Também eu estou recomeçando a escutar podcasts em português. Por exemplo, quando eu estou no Brasil…
Alexia: Carioca Connection.
Foster: É, não gosto de me escutar muito. Mas por exemplo, quando eu estou no Brasil, normalmente eu escuto muito rádio, muita música, muita coisa brasileira, né? Mas nos Estados Unidos, eu fico com preguiça e não faço muito disso. Então eu estou recomeçando a escutar rádio, música. E também eu estou reassistindo algumas séries que eu assisti muito no passado, só para lembrar e só para me lembrar que eu falo português, eu entendo português.
Alexia: É, porque se você para pra pensar, a cultura brasileira obviamente, ela não é, ela não entra no dia a dia dos americanos, dos Estados Unidos enquanto que a cultura americana é muito presente no Brasil. Então os filmes, as músicas, as séries, tudo isso a gente já tá acostumado a assistir em inglês, pelo menos escutar. Você tá lendo em português, né? Mas você escuta.
Foster: Uhun.
Alexia: Então essa preparação, por exemplo, de ficar escutando música e etc, pra nós já é algo muito natural. Você vai lá, coloca The Beatles e você já tá escutando em inglês, sabe?
Foster: É, você precisa procurar matéria em português.
Alexia: Exatamente.
Foster: É. Mas então, pra mim…
Alexia: Material.
Foster: Material, viu? Mas pra mim é tipo uma bola de neve. Tipo, eu fiz uma aula de português, a minha confiança começou a voltar aos poucos, daí eu queria... eu tinha vontade de escutar música e escutar podcast em português. Daí eu queria assistir uma série brasileira e daí vai.
Alexia: E daí vai. Sim, exatamente. Então eu acho que a gente pode deixar aqui pra quem tá escutando a gente, independentemente do nível, do momento que tá em relação ao português e tal, é que é tudo uma questão de confiança e acreditar em si próprio. E hoje em dia há muitos recursos na internet pra te darem isso, né? Pra que você tenha isso, que você realmente confie em si próprio. E fica tranquilo ou tranquila, porque se você falar com qualquer brasileiro, você vai ser mais do que bem-vindo falando com sotaque, sem sotaque, sem o menor problema, que o brasileiro vai lá te ajudar e vai te ensinar as gírias de cada estado sem o menor problema.
Foster: É. Uma coisa que eu amo sobre o Brasil e os brasileiros é, você vai sentir essa confiaça porque não é muito normal que um brasileiro conhece um gringo ou uma gringa que fala português.
Alexia: Conheça.
Foster: Conheça. Então qualquer brasileiro do mundo vai falar, "Nossa! O seu português é muito bom, cara".
Alexia: O primeiro é tipo, "Como assim, você fala português? Porque que você aprendeu português? Ah, você tem uma namorada, né?" Sempre é algo assim. Então é, eu acho que é isso. Não se preocupem, o Foster por exemplo, ele conseguiu contornar a situação e ele sabe que ele fala português muito bem, se não ele não estaria aqui comigo gravando um podcast em português do jeito que ele grava.
sempre - always contornar a situação - to remedy the situation, to turn the situation around
Foster: Depende do dia, gente.
Alexia: E é isso. Então…
Foster: É isso. Eu espero que na próxima… No próximo episódio… Espero que estejamos falando juntos…
Alexia: Ao vivo e a cores.
Foster: Ao vivo e as cores.
Alexia: E a cores.
Foster: Ao vivo… Ah, eu deveria ter acabado com o episódio antes de falar isso.
Alexia: Vai, ao vivo e a cores.
Foster: Ao vivo e a cores.
Alexia: Muito bem.
Foster: Bom, muito sofrimento hoje, mas consegui e tenho um pouco mais de confiança. E saudades, Alexia.
Alexia: Saudades, amor. Um beijo e até a próxima.