Transcript
Alexia: Oi, oi, pessoal e bem-vindos a mais um episódio do Carioca Connection, que está praticamente em Grey's Anatomy. Meu nome é Alexia e eu estou aqui junto com o nosso McDream Foster.
Foster: Olá, pessoal. Olá, Alexia. Você sabe que eu não vou entender todas essas referências.
Alexia: Ah, é que você entendeu, assim?
Foster: Então. Então, Alex, hoje a ideia é que a gente vai continuar com a história, falando sobre a nossa experiência com uma cirurgia muito importante, a cirurgia de coração do seu pai. Como é que você quer fazer?
Alexia: Bom, no último episódio a gente contou um pouquinho como que a gente descobriu que ia ter que fazer a cirurgia. Você, eu não sei se você, Foster, está reparando ou quem está escutando a gente está reparando, eu estou colocando tudo no plural, porque nós passamos por esse processo também. Não é só meu pai, meu pai fez a cirurgia efetivamente, foi ele que operou, mas…
Foster: Depois ele foi operado. Né? O médico que operou.
Alexia: Mas a família que está envolvida, todo mundo passa por isso. Isso é uma coisa que eu aprendi há muito tempo atrás e fui relembrada de novo esse ano, então…
Foster: Sim, que pode ser para um episódio no futuro, mas foi uma das partes mais bonitas, foi ver a comunidade que temos aqui, porque agora vivemos em Portugal, não temos, tipo, muita família.
Alexia: Não, não temos família, aperto.
Foster: Você, eu, seu pai e o Bunning, a família biológica, digamos. Mas, tem tanta gente, tantas pessoas que ajudaram e foi tão legal, aí. É. Enfim. Bom. Fala.
Alexia: Fizemos o cateterismo, saímos de lá com o nosso querido médico do cateterismo, que é querido mesmo, falando que a gente ia precisar fazer a cirurgia do coração. Não é a especialidade dele, então ele não saberia o quê, efetivamente, mas ele já poderia falar, como ele falou, que a artéria principal do meu pai estava 100% oclusa, ou seja, entupida.
Foster: Tá.
Alexia: A artéria esquerda, 70% entupida e a artéria direita, 30% entupida. Isso sem falar com as outras, é que não importam, entre aspas, muito, né? Mas as três principais estavam dessa forma.
Foster: Então, vamos lá. Só para ver se eu entendi, porque você falou muito rápido e também com um vocabulário de medicina muito complicado. Então, seu pai fez o cateterismo. Cateterismo…
Alexia: Isso.
Foster: É uma boa palavra para quem está escutando, se você quer treinar a pronúncia, se você pode falar essa palavra corretamente, está de parabéns. E, depois disso, ele falou que tem três variáveis, três opções, coisas que podem acontecer…
Alexia: E isso foi no episódio passado?
Foster: Sim, chegou na conclusão que seu pai tinha que fazer uma cirurgia e o que que você falou? A artéria principal foi oclusa.
Alexia: 100% oclusa?
Foster: Oclusa.
Alexia: Ou seja, é entupida.
Foster: Entupida, quer dizer, com bloqueio.
Alexia: É. Tá. Sim.
Foster: Eu peço desculpas, eu estou tentando, porque é uma história tão complicada e, com tanto vocabulário, que é novo para mim, depois de quase 10 anos aprendendo português. E…
Alexia: E um pouquinho sobre isso, porque quando o cateterismo terminou, eu, eu entrei na enfermaria, né? Para falar com o meu pai e falar com o médico. E aí o meu pai estava tão feliz com que o cateterismo tinha terminado e que não tinha sido bicho de sete cabeças como ele imaginava, que quando ele recebeu a notícia que ia ter que fazer uma operação no coração de peito aberto, ele virou para o médico e falou, “Vamos lá, doutor! Vamos encarar essa e tal, não sei o quê.” E eu olhando para a cara do meu pai meio que assim, “Pai, não era esse o resultado que a gente estava querendo, sabe?” Só que ele estava tão aliviado, porque obviamente ele estava tão nervoso do cateterismo, e para quem não sabe, a minha avó, a mãe dele, morreu durante um cateterismo, isso é uma outra história, que quando acabou, ele estava tão tranquilo que ele assim, “Uhul! Vamos fazer uma cirurgia!” Enfim.
Foster: Para quem já escuta podcast há muito tempo, eu acho que todo mundo já sabe que Alex e você sofre por ansiedade de antecipação. Antecipação. Antipeça, falta de novo.
Alexia: Antecipação. Te. Pi. Amor, eu estou… Calma, só inspira, expira.
Foster: Antecipação. Antecipação.
Alexia: Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação.
Foster: Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação.
Foster: Anteci… Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. Antecipação. É muito difícil, amor. A gente está contando histórias sérias, mas não esquece que é podcast para aprender português e para melhorar o meu português. Meu Deus do céu, me ajuda aqui.
Alexia: Eu estou te ajudando e é uma palavra que você nunca teve problema em falar.
Foster: Eu sempre, é por isso que eu evito.
Alexia: Ante, antecipação.
Foster: Antecipação, antecipação. Pronto. Antecipação. Enfim, você sofre de ansiedade de antecipação, e seu pai, a mesma coisa, vezes 1000. Marca então, nenhuma cara ansioso. Tipo, não é julgamento, é fardo.
Alexia: Sim. Bom, aí fomos encontrar o cirurgião, marcamos consulta com o cirurgião, que atrasou três horas a consulta dele. E durante a consulta eu só ficava olhando para a mãozinha dele, assim, para ver se as mãos tremiam enquanto eles falavam com a gente e ver o quão firmes aquelas mãos eram. E, basicamente, as…
Foster: Mãos do médico?
Alexia: Do cirurgião. É. É claro, a coisa mais importante, né? Instrumento que ele vai usar são as mãos dele para operar meu pai.
Foster: Claro. Posso fazer uma pergunta rápida? Tem cirurgia, o médico que faz cirurgia é…?
Alexia: Cirurgião.
Foster: Pode falar um pouco mais devagar? Cirurgião. Cirurgião. Cirurgião. Nossa, parece ser o nome de peixe. Sturgeon é o nome de peixe em inglês.
Alexia: Uau, surgeon.
Foster: É, bem parecido.
Alexia: E, então, o cirurgião falou que meu pai ia precisar fazer dupla coronária, ligar as artérias mamárias diretamente com o coração. E, assim, gente, só uma notinha: durante esse processo todo, desde a primeira consulta até encontrar com o cirurgião, todos os médicos que a gente passou, todos eles, foram na parte cardíaca. E todos eles falaram que era milagre o meu pai estar vivo do jeito que o coração dele estava. Porque o que o cirurgião e o médico explicaram para a gente é que meu pai, quando está sentado, sem esforço, o coração dele bate perfeitamente. Quando ele vai fazer qualquer tipo de esforço, seja levantar da cadeira, caminhar por cinco minutos ou coisa parecida, essa parte do aquecimento é quando o coração dele mais sofre. E uma observação, ele estava com personal trainer duas vezes por semana, antes disso, levantando peso, correndo, sabe? Fazendo esforço e ele não ter tido nada sério, foi milagre, foi mesmo milagre.
Foster: Sim, para um cara que tem quase 80 anos, diabetes tipo 2…
Alexia: Com as artérias completamente entupidas, é impressionante.
Foster: Sim, mas outra forma de falar o que você falou agora sobre o coração dela, porque eu entendi, para os médicos, que o coração dela está perfeito.
Alexia: Sem esforço?
Foster: Sim, mas o problema foi as artérias.
Alexia: Sim, o coração, o órgão, sim, está perfeito.
Foster: Então isso, por boas notícias.
Alexia: Exato. E aí o cirurgião falou, “Marco, é para parar com todos os exercícios, é você ficar quieto agora até o dia da cirurgia.” E nós podemos marcar para o dia 30 de março. Isso era tipo, janeiro em fevereiro, era mês de fevereiro, eram umas três semanas, mais ou menos, a cirurgia.
Foster: Eu lembro que a gente tinha mais ou menos um mês…
Alexia: É.
Foster: E pensamos, “Ah…”
Alexia: Dá tempo, perfeito.
Foster: Mês para preparar, mas não é muito tempo para ficar pensando.
Alexia: É. E aí o meu pai durante a consulta falou, “Olha, doutora, eu tenho uma questão muito importante para falar com o senhor, porque como eu sou diabético e eu tive dois cânceres de pele, a cicatrização do meu câncer de pele e a cicatrização da cirurgia de joanete que eu fiz, que foi pouquíssimo tempo atrás, foram muito duras e muito complicadas.”
Foster: Qual foi a cirurgia que ele fez há pouco tempo?
Alexia: Joanete. Eu não sei o nome disso em inglês, no pé, essa, essa parte.
Foster: Ah, sim, sim, foi no pé. Tá, entendi.
Alexia: Como é quem não sabe também. É. Então, joanete, Google. E aí o cirurgião foi e pediu para ele fazer dois outros exames, para ver como é que estava a parte de cicatrização, enfim e tal. E indicou a gente para um médico de medicina interna. E o médico de medicina interna virou e falou, “Bom, Marco, vamos fazer exame de sangue assim, completíssimo, para ver como é que está tudo, eu não imagino que vai ter nenhum problema, mas vamos assim meio que, né? É, ver se está tudo certinho.”
Foster: Sim.
Alexia: O exame de sangue voltou, e a diabetes dele estava descontrolada para a cirurgia. Isso foi assim, 10 dias antes do dia 30 de março, mais ou menos.
Foster: Então, deixa eu ver se eu entendi até o ponto, se eu puder, se, deixa eu, deixa eu ver se eu posso te explicar. Umas semanas, duas semanas antes da cirurgia, a gente já estava preparado, tipo, “Vamos embora, vamos nessa.” O exame de sangue falou que não, com a diabetes do seu pai não dá para fazer uma cirurgia agora?
Alexia: Não, porque a parte de cicatrização interna e externa iam ser muito duras. Então os médicos preferiram não fazer a cirurgia no dia 30 de março, controlar a diabetes em 15 dias e fazer a cirurgia no dia 20 de abril.
Foster: Sim, então, mais ou menos três semanas para curar uma vida inteira de diabetes.
Alexia: E aí, gente, eu vou falar o seguinte, eu fui estilo militar aqui, foi meio que…
Foster: Foi o quê?
Alexia: Estilo militar. Foi, foi, eu me senti num, num acampamento militar mesmo. A nutricionista mandou um plano de alimentação para o meu pai que, em toda a minha vida, 35 anos de vida com o meu pai, eu nunca tinha visto ele seguir tão restritamente do jeito que ele seguiu. Nós fomos para uma médica endocrinologista que é considerada deusa da diabetes e disse que ia deixar tudo correto com o meu pai.
Foster: Você falou que ela é deusa de…?
Alexia: Deusa da diabetes.
Foster: Sim, mas foi ela que falou isso, né? É. Também os outros concordam. Sim.
Alexia: E ela é, ela conseguiu. É impressionante isso.
Foster: Você pode contar essa história rapidinho quando seu pai conheceu, conheceu a médica? Quando o…
Alexia: Quando o meu pai conheceu ela… Ela, ela é, ela é muito ativa, ela é, ela é muito para cima, assim, ela vê problema e ela sabe que ela vai resolver aquele problema porque “está comigo ou está com Deus, não se preocupa”. É meio que isso que ela falou.
Foster: E seu pai é um cara muito tímido, chegando lá calmo e com muito medo. E ela perguntou: “O senhor Marco, acredita em Deus?” Que que ela…
Alexia: Falou? Como é que foi? “Você acredita em Deus?” Aí meu pai ficou, “Eu respondo, sim.” “Que bom, porque eu sou a deusa da diabetes.” Enfim, e aí, gente, conseguiram controlar a diabetes do meu pai para a cirurgia ser feita no dia 20 de abril. E foi feita no dia 20 de abril, logo depois da Páscoa, logo depois das férias dos médicos também, porque todos eles tiraram férias durante a Páscoa. Sim.
Foster: A cirurgia a gente entrou no hospital no dia da…
Alexia: Páscoa. Domingo de Páscoa, exatamente.
Foster: Seu pai internou lá, não lembro se você também dormiu lá.
Alexia: Não, não dormia lá.
Foster: Sim, mas foi uma Páscoa bem diferente.
Alexia: Foi, foi. E, e assim, deixaram meu pai nos trinques, perfeitinho para a cirurgia, colocaram o sensor da diabetes, que é o máximo isso. E para quem não conhece, que é o, é o, uma coisa assim…
Foster: É a marca.
Alexia: É, que você coloca no seu braço e é conectado ao seu celular, e você tem as glicemias, tudo ao vivo.
Foster: Sensor para monitorar diabetes.
Alexia: Monitorar.
Foster: Monitorar diabetes.
Alexia: Enfim, então, aí tem a parte emocional, que eu vou terminar com isso, o episódio, é que a gente estava prontíssimo para o dia 30 de março, aí vieram para a gente e falaram, “Não, não, não, vamos ter que adiar porque a gente tem que controlar para a gente ter o melhor resultado.” “Olha, é cirurgia durante a recuperação do seu pai, então vai ser no dia 20 de abril.” Então, toda aquela preparação que você teve não aconteceu, aí pausa tudo, aí vai praticamente três vezes por semana para os médicos até o dia 20 de abril para fazer exame, para ver se está tudo certo e acompanhar aquilo à risca mesmo, né? Foi feita dessa forma, e a cirurgia foi feita no dia 20 de abril. E o próximo episódio a gente vai contar o nosso ponto de vista, meu e do Foster, sobre a parte da cirurgia e do internamento e da, na verdade, da internação, porque internamento é português de Portugal, internação é brasileiro. E da parte da internação e da recuperação toda. E só de falar isso tudo, estou exausta de novo.
Foster: Sim, ainda estamos exaustos, é muito cansativo, mas eu só queria encerrar o episódio falando que esses meses foi um, foram. Foram uma experiência depois da outra, que basicamente a vida estava falando para mim, para você, para o seu pai, tipo, “Aqui são seus maiores medos da sua vida, você vai ter que enfrentá-las todo ao mesmo tempo.” E conseguimos.
Alexia: Conseguimos.
Foster: E muito crescimento em muito pouco tempo.
Alexia: É, e para mim, não sei, ainda é um pouco mais intenso, porque há 10 anos atrás eu estava passando pelo pior trauma da minha vida, também no hospital, aí passando por isso tudo, então foi meio que uma lembrança do meu trauma, mesmo que estava ali escondidinho por uma década, e eu tive que reviver isso tudo. Eu liguei para minha psicóloga e falei, “Vou ter que voltar uma vez por semana, não adianta mais.” Enfim, então é isso.
Foster: Muito, muito orgulho de você, amor.
Alexia: De nós todos.
Foster: Então, muito obrigada, gente. E até o próximo, e até o próximo episódio.
Alexia: Tchau.
Useful vocabulary, expressions & additional resources…📚
bicho de sete cabeças - something that's not as scary or difficult as it seems
entre aspas - in quotes/so to speak
peito aberto - open chest (surgery)
vamos encarar essa - let's face this head on
não era esse o resultado que a gente estava querendo - that wasn't the result we were hoping for
ansiedade de antecipação - anticipatory anxiety
vezes mil - times a thousand/way more intense
não é julgamento, é fato - it's not judgment, it's fact
mãozinha - little hand (diminutive form)
o quão firmes - how steady/firm
dupla coronária - double bypass
foi milagre - it was a miracle
nos trinques - in perfect condition/all set
prontíssimo - completely ready
à risca - to the letter/strictly
estilo militar - military style
para cima - upbeat/energetic
está comigo ou está com Deus - you're either with me or with God
conseguiram controlar - they managed to control
logo depois da Páscoa - right after Easter
deixaram meu pai nos trinques - they got my dad in perfect shape
que é o máximo isso - which is amazing
ao vivo - live/in real time
toda aquela preparação - all that preparation
acompanhar à risca - to follow strictly
estou exausta de novo - I'm exhausted again
internamento é português de Portugal, internação é brasileiro - "internamento" is European Portuguese, "internação" is Brazilian
foram uma experiência depois da outra - it was one experience after another
seus maiores medos - your biggest fears
você vai ter que enfrentá-las - you're going to have to face them
muito crescimento em muito pouco tempo - a lot of growth in very little time
estava ali escondidinho - was hiding there
não adianta mais - it's not enough anymore
muito orgulho de você - very proud of you
vamos embora, vamos nessa - let's go, let's do this
curar uma vida inteira - to cure a lifetime
me senti num acampamento militar - I felt like I was in military camp
deusa da diabetes - goddess of diabetes
calmo e com muito medo - calm but very scared
perfeitinho para a cirurgia - perfectly ready for surgery
pausa tudo - pause everything
três vezes por semana - three times a week
do nosso ponto de vista - from our point of view
ainda estamos exaustos - we're still exhausted
reviver isso tudo - to relive all of that
vou ter que voltar - I'm going to have to go back
uma vez por semana - once a week