Transcript
Alexia: Oi, oi, pessoal, e bem-vindos a mais um episódio do Carioca Connection. Meu nome é Alexia e eu estou aqui muito bem acompanhada do Foster. Bom dia, Foster.
Foster: Olá, Alexia. Bom dia. Literalmente, bom dia. Eu acabei de acordar. Você já está acordada há um tempo.
Alexia: Sim.
Foster: E…como que você está, Alexia?
Alexia: Eu estou bem. E você, Foster?
Foster: Eu estou bem. É a primeira vez que a gente está gravando novos episódios em mais ou menos um mês?
Alexia: Em um mês.
Foster: Em um mês?
Alexia: Sim.
Foster: Vamos explicar o porquê. Mas antes disso, Alexia, posso te fazer uma pergunta?
Alexia: Claro.
Foster: Você lembra onde você estava e o que você estava fazendo no dia 28 de abril de 2025?
Alexia: Onde você estava? E o que você estava fazendo?
Foster: Sim. De novo, acabei de acordar.
Alexia: Bom, eu estava no hospital com meu pai. Era o dia da alta dele do hospital. E é isso. Eu estava lá. E você?
Foster: Tá. Antes de eu responder, pode explicar o que quer dizer “dia da alta”?
Alexia: É quando o doente, o paciente do hospital, é liberado pra ir pra casa. Ou seja, ele não precisa mais dos cuidados do hospital para ir para casa.
Foster: Sim, quando os médicos falam: “Tá tudo bem, pode ir pra casa.” É isso. Se não me engano, eu estava aqui em casa cuidando do nosso cachorro, que também estava se recuperando, que ele estava…
Alexia: A gente tem muita coisa pra contar, na verdade. Então vamos fazer vários episódios sobre diferentes temas que são conectados uns aos outros. Mas o episódio de hoje é sobre o apagão da Península Ibérica, se eu não me engano.
Foster: Apagão. Acho que foi o pico do nosso mês... dois meses malucos. O apagão isso… simboliza isso tudo que actonteceu.
Alexia: Simboliza?
Foster: Simboliza.
Alexia: Sim.
Foster: Tudo o que aconteceu — de uma forma muito boa, né? Eu acho.
Alexia: Eu acho muito interessante falar que não foi o meu primeiro apagão. Eu já passei por vários apagões no Rio de Janeiro e no Brasil. Porque o Rio é conhecido por ter muitos apagões, principalmente na época do verão mais intenso. A cidade não consegue sustentar a quantidade de energia sendo consumida.
Foster: Uhum.
Alexia: E eu já passei por apagão do Brasil inteiro também. Então, pra mim, é meio que normal. Já passei por tantos que é super normal. Mas eu nunca tinha passado por um apagão que envolvesse mais do que um país. E principalmente com o meu pai levando alta do hospital e a gente sem saber muito o que fazer...
Foster: E foi a primeira vez no hospital.
Alexia: É. Você quer contar mais ou menos como que a gente percebeu que estava acontecendo? Quer que eu conte?
Foster: Sim. Mas antes disso, você pode explicar o que é “apagão”? “Um apagão”?
Alexia: Apagar, por exemplo, pode ser apagar as luzes, apagar vela...
Foster: Quer dizer “desligar”, mais ou menos?
Alexia: Exatamente. E aí, quando tem um apagão, significa que uma cidade, um país — uma coisa assim — fica sem eletricidade.
Foster: É. Quando a luz cai totalmente. Sem eletricidade.
Alexia: Exatamente. Então, eu tinha ido de manhã pro hospital pra estar com meu pai. O Foster ficou em casa. E eu estava lá no quarto dele, tudo certo, e eu estava olhando o meu celular. E aí eu percebi que o nome do serviço de celular tinha desaparecido do meu celular. Aí eu olhei e falei: “Ih, deve estar com algum problema na NOS” — que é o nome do nosso serviço de celular aqui em Portugal.
Foster: Sim, é a empresa de celular, Wi-Fi, etc.
Alexia: Só que aí automaticamente entrou no Wi-Fi do hospital, então eu fiquei tranquila. E, literalmente, cinco minutos depois, eu recebi uma mensagem do Foster falando: “Estamos sem luz em casa. Fiquem aí o máximo de tempo possível.” Porque, enfim, a Ana também estava sem luz em casa, e meu pai a princípio estava voltando pra casa naquele dia. Estar sem luz em casa recebendo um doente não é a melhor coisa do mundo.
Foster: Sim.
Alexia: Aí, passam literalmente mais uns 10 minutos, uma enfermeira entra no quarto do meu pai pra checar a pressão, tudo certo, e tal. E eu estava comentando com meu pai: “A gente está sem luz em casa.” Aí a enfermeira virou e falou: “É, vocês não perceberam, mas o hospital também está sem luz. Só que os geradores estão funcionando.” E eu pensei: “Ah, então é o pessoal da obra do metrô.”
Foster: Sim, tem uma obra grande de metrô na nossa região.
Alexia: Exato. Pensei: “Eles foram lá, furaram algo que não deviam, e pronto.” Mas aí a TV do quarto parou de funcionar, o Wi-Fi começou a cair, e eu comecei a perceber uma movimentação nos corredores que não era...
Foster: Condizente?
Alexia: Não era condizente com o normal.
Foster: Condizente. Palavra nova.
Alexia: Que não era o normal, exatamente.
Foster: E aí?
Alexia: A gente ainda estava conseguindo se comunicar, mas só com o seu telefone dos Estados Unidos. O telefone de Portugal não estava funcionando.
Foster: Sim. Tudo aconteceu muito rápido mas deixa eu tentar contextualizar um pouco. Eu tenho dois celulares — um português e um americano antigo — e, por alguma razão, só o número americano funcionava naquele momento.
Alexia: E aí eu comecei a ver no WhatsApp todos os grupos com portugueses falando: “Portugal inteiro está sem luz. Espanha está sem luz.” Aí eu mandei mensagem pro meu amigo na Alemanha: “Você está com luz aí?” Mandei mensagem no grupo do Carioca Connection Club perguntando quem ainda estava com luz. O pessoal da Noruega falou que tinha luz, Inglaterra tinha luz...
Foster: Mas do nada começaram boatos de que Finlândia estava sem luz, Noruega... E até falavam de ataque hacker russo.
Alexia: Que era pra atingir a França, mas na verdade atingiu a Espanha. Eu quase que não duvido, tá? Mas o fato é que foi erro de transmissão de energia. Portugal compra energia da Espanha, e na hora da transmissão teve um erro da parte da Espanha que fez a eletricidade cair na Espanha inteira, Portugal inteiro, parte da França e parte da Bélgica.
Foster: Sim. A luz caiu por volta de 11:30 da manhã, e eu diria que até umas 14h estava tudo mais ou menos tranquilo...
Alexia: Aqui, porque lá no hospital já não estava tranquilo.
Foster: Sim. E aí você começou a perceber a loucura no hospital...
Alexia: E aí eu comecei a ter problemas de me comunicar com o Foster. Porque começou a ficar, por exemplo: “Foster, meu pai vai sair hoje do hospital. Com ou sem luz? A gente precisa organizar isso.” Tipo, sem luz, a gente já não tem carro, e a gente está sem serviço de celular. Como é que ele vai voltar pra casa? Não tem Uber, não tem metrô...
Foster: Sim...
Alexia: Aí eu comecei a conversar com os médicos dentro do hospital sobre a possibilidade dele ficar mais um dia. Já que ele não estava mais precisando de oxigênio, não estava mais dependente das máquinas... Só que a gente não tinha como tirar ele do hospital, naquelas condições.
Aí eu fiquei assim: “Espera aí, Alexia, pensa. Você assistiu não sei quantas mil temporadas de Grey's Anatomy que te prepararam pra esse momento. Vai dar tudo certo, vai dar tudo tranquilo.” E eu comecei a reparar no plano de contingência do pessoal do hospital.
Foster: E do nada... O que aconteceu?
Alexia: O gerador quebrou. Falhou.
Foster: O gerador do hospital?
Alexia: Do hospital.
Foster: Isso não é legal.
Alexia: Não. E é um hospital grande. Então, o que que os médicos, enfermeiros etc. fizeram? Cancelaram todas as consultas, cancelaram todas as cirurgias — exceto as de emergência.
O nosso cirurgião, do meu pai, estava fazendo cirurgia na hora do apagão. E ainda bem que no bloco operatório tinha gerador. Estava tudo bem pra quem estava nessa parte. Mas os médicos e enfermeiros começaram a mudar os doentes de lugar — pra onde o gerador ainda estava funcionando.
Foster: Mas sem elevador, né?
Alexia: Sem elevador. O hospital tem seis andares, e meu pai estava no quarto andar. E são como se fossem dois prédios, né?
Foster: Sim. É um hospital enorme.
Alexia: E eu comecei a ver enfermeiros e médicos literalmente carregando pessoas de maca e em cadeira, pessoas que tinham acabado de sair do bloco operatório, ainda sedadas, sendo carregadas pelos corredores e escadas...
Foster: Pode explicar a palavra maca?
Alexia: É aquele negócio que te botam deitado pra te carregar.
Foster: Sim. Tipo uma cama portátil.
Alexia: É isso. Aí eu voltei pro quarto do meu pai e falei: “Pai, você tá bem?” E ele: “Tô ótimo.” Ele estava tranquilinho, sentado. Já estava começando a ficar quente porque estava sem ar-condicionado.
Aí eu falei: “Tá bom, eu vou lá embaixo ver se eu consigo comprar alguma comida pra gente.” Desci quatro andares... e lembrei: estou sem dinheiro em espécie. Não vou conseguir comprar nada. Subi quatro andares de novo. Quando eu voltei, a minha amiga que trabalha no hospital olhou pra mim e falou: “Alex, vocês precisam ir embora.”
Eu falei: “Mas eu não tenho como ir embora.”
Ela: “Eu arranjo. Você vai embora hoje.”
E eu: “Tá bom.”
Aí eu olhei pro meu pai, tudo calmo, porque senão ia ser uma loucura. Falei: “Pai, a gente vai embora hoje. Eu vou atrás do médico pra pegar os papéis da alta.” Porque, óbvio, meu pai era a última coisa que eles estavam pensando. Eles estavam desesperados, movendo quem realmente precisava.
Foster: Sim. E tua amiga — não precisamos dizer nomes — trabalha no hospital.
Alexia: Na parte da administração.
Foster: Isso ajudou muito. E também o seu pai já tinha recebido alta, não?
Alexia: Sim. Os médicos já queriam dar alta no sábado, dois dias antes do apagão. Mas eu falei: “De jeito nenhum que meu pai vai pra casa.” Mas isso fica pro próximo episódio.
Foster: Sim. A gente decidiu que ele podia ficar mais dois dias no hospital pra ter mais tempo pra se recuperar, e também pra gente ter tempo de organizar a casa pra recebê-lo.
Alexia: Aí as enfermeiras vieram, deram os papéis da alta, etc. E o médico principal virou pra mim e falou: “Me liga amanhã, porque agora eu não vou conseguir explicar tudo que tem que ser feito. Hoje o seu pai está bem. Amanhã, dando tudo certo, ou você vem aqui no hospital e pede pra falar comigo, ou me liga, se a luz tiver voltado.”
E eu: “Tá bom.”
Aí foi quando eu realizei: será que a luz vai voltar até amanhã? Ou seja, até terça-feira? Aí comecei a ficar um pouco nervosa com essa história.
Bom, recebemos os papéis da alta, meu pai se vestiu — ele tinha feito uma cirurgia no coração, de peito aberto. Ou seja, ele ainda está, até hoje, em fase de recuperação. Ele estava fazendo fisioterapia no hospital, mas era assim, 30 minutinhos caminhando devagar, uma coisa bem tranquila pra quem acabou de fazer uma mega cirurgia.
Foster: Sim. Ele estava começando a fase inicial da recuperação.
Alexia: Aí minha amiga arranjou transporte pra gente. A gente voltou de van da manutenção do hospital. Como a gente mora muito perto do hospital, eles puderam fazer isso — foram literalmente 7 minutos de carro. Foi muito fofo da parte dela de ter feito isso.
Só que meu pai tinha que descer — graças a Deus era descer, e não subir — cinco lances de escada, sem luz.
Foster: Cinco lances de escada?
Alexia: É. Então foi uma enfermeira de um lado segurando ele, eu com a lanterna na frente, e fomos descendo. Enquanto a gente estava descendo, enfermeiros e médicos estavam subindo com pacientes doentes pro outro lado do hospital que ainda tinha gerador.
Foi uma aventura. Foi Grey's Anatomy total.
Foster: Sim. E só o fato de a gente ter conseguido tirar seu pai do hospital e levar ele pra casa foi um milagre. E provavelmente isso é papo pra outro episódio, mas teve um momento que tudo virou... “Ah, isso não é normal. Isso não é legal.” Tipo quando você percebeu: “Eu não tenho dinheiro, não dá pra comprar comida.”
Daí eu pensei: “Nossa, a gente precisa de comida em casa, porque tudo vai estragar.”
Alexia: Eu já tinha virado essa chavinha lá no hospital.
Foster: Sim. E o nosso vizinho brincando, falando: “Foster, te falei pra você aprender a lutar. Eles estão vindo...”
Alexia: Sim.
Foster: Então acho que no próximo episódio a gente pode contar a parte da história em que foi muito difícil ter contato com você. E você falou: “Posso estar aqui há duas horas. Se você não receber uma mensagem minha, você vem correndo pro hospital.” E isso foi às 14h, mais ou menos?
Alexia: Sim.
Foster: E às 16h... ainda nada. Eu já saí na rua pra procurar comida. Foi uma loucura. Tudo fechado, gente correndo, tentando comprar comida, água...
Alexia: Papel higiênico. Sempre papel higiênico.
Foster: Pandemônio. Pandemônio?
Alexia: Foi pandemônio.
Foster: Total. Acho que é um bom lugar pra parar e continuar essa história maluca...
Alexia: Sim.
Foster: No próximo episódio.
Alexia: Sim, ótimo. Então o próximo episódio é a Parte 2 sobre o apagão.
Foster: É. Parte 2 continua sendo uma loucura.
Alexia: Sim. Então até o próximo episódio. Tchau!
Foster: Tchau.
Useful vocabulary, expressions & additional resources…
bem-vindos a mais um episódio – welcome to another episode
literalmente acabei de acordar – I literally just woke up
você lembra onde você estava – do you remember where you were
dia da alta – discharge day (from the hospital)
foi o pico do nosso mês – it was the peak of our month
meio que normal – kind of normal
sem saber muito o que fazer – not really knowing what to do
posso te fazer uma pergunta? – can I ask you a question?
você quer contar mais ou menos? – do you want to more or less explain?
apagão – blackout (total power outage)
o nome do nosso serviço de celular – the name of our phone provider
ih, deve estar com algum problema – uh-oh, must be having a problem
fiquem aí o máximo de tempo possível – stay there as long as possible
o hospital também está sem luz – the hospital is also without power
os geradores estão funcionando – the generators are working
o pessoal da obra do metrô – the metro construction crew
não era condizente com o normal – didn’t match what’s normal
comecei a ver uma movimentação estranha – I started to see weird activity
você percebeu que só conseguia usar seu telefone dos EUA – you noticed you could only use your US phone
mandei uma mensagem no grupo – I sent a message in the group
começamos a descobrir que era uma coisa muito maior – we started realizing it was something much bigger
era pra atingir a França mas atingiu a Espanha – it was meant to hit France but hit Spain
foi erro de transmissão de energia – it was a power transmission error
estava tudo mais ou menos tranquilo – everything was more or less calm
não tem Uber pra chamar – there’s no Uber to call
como é que ele vai voltar pra casa? – how is he going to get back home?
de jeito nenhum que meu pai vai pra casa – no way my dad is going home
espera aí, pensa – hold on, think
vai dar tudo certo – everything’s going to be okay
plano de contingência – contingency plan
cancelaram todas as consultas – they canceled all appointments
o gerador falhou – the generator failed
levando pessoas de maca – carrying people on stretchers
sem ar-condicionado – without air conditioning
sem dinheiro em espécie – without cash
te arranjo uma forma de ir embora – I’ll arrange a way for you to leave
peguei os papéis da alta – I got the discharge papers
ele estava bem tranquilinho – he was really calm
pelo menos era descendo e não subindo – at least it was going down, not up
com a lanterna na frente dele – with the flashlight in front of him
Grey’s Anatomy total – total Grey’s Anatomy moment
virar essa chavinha – flip that mental switch / change mindset
gente correndo atrás de comida, água – people running around after food, water
sempre papel higiênico – always toilet paper
foi pandemônio – it was total chaos
é um bom lugar pra parar – it's a good place to stop
parte 2 continua sendo uma loucura – part 2 is still crazy
tchau e até o próximo episódio – bye and see you next episode