Listen on:
Foster: Então, estamos gravando. Estamos de volta com o Pablo falando sobre a música. O Pablo é professor de Relações Internacionais e também a Alexia está aqui também.
Alexia: Oláá!
Foster: Então, Pablo, a gente estava falando ou pelo menos tocando o assunto do Tim Maia. E a gente viu o filme do Tim Maia, que é o máximo. Pode falar um pouquinho sobre a figura dele, que ele é uma figura grande na história brasileira.
Pablo: Eu acho que a frase do Nelson Motta define o Tim Maia de uma forma bem peculiar assim: "A alma mais livre que eu já conheci". Isso dito realmente por alguém que conheceu o Tim Maia a fundo.
Foster: Nelson Motta é um autor ou escritor.
Pablo: Escritor e músico também, crítico musical, enfim, atua em vários campos e ele que escreveu o livro que deu origem ao filme que você viu. Na verdade, o nome do Nelson Motta ator era um outro nome... o melhor amigo dele não era o Nelson, não; era um outro, eles mudaram. Mas, o Tim Maia, cara, o Tim Maia é tudo. O Tim Maia é para mim o melhor cantor da música brasileira.
Foster: Sério?
Pablo: Acho mesmo. Acho que os recursos vocais que ele tem extrapolam qualquer capacidade de entendimento.
Foster: O cara tem uma voz incrível.
Pablo: Incrível assim. Inclusive, sempre que você apresenta o Tim Maia para uma pessoa que não conhece, ele traz essa surpresa assim. Todo mundo fica muito realmente magnetizado por aquilo. É um cara realmente que é impossível você não gostar.
Foster: Exatamente. E ele fala em inglês.
Pablo: Ele tem uma ponte com o soul assim, inclusive ele é um dos caras que é o embaixador da black music no Brasil, da soul music e ele consegue fazer essa ponte de uma forma assim, ao mesmo tempo respeitando todos os ícones da música americana e ao mesmo tempo adaptando isso para a brasilidade. É uma coisa meio antropofágica, sabe, de absorver, mas criar algo bem genuíno. Por isso que eu acho que na minha opinião ele era o maior cantor mesmo.
Foster: E ele canta em inglês perfeitamente, por isso eu acho que ele é o cara mais acessível para os gringos que estão interessados na música brasileira.
Pablo: Com certeza.
Foster: Também o filme dele é super bem feito.
Pablo: O filme é bom, né? Super divertido. E ele era um cara muito louco assim de extrapolar todas as regras sociais sem o menor problema e conseguir levar a vida de um jeito muito maluco. Ninguém entendia como é que ele conseguia... ele saía no meio do show, ele xingava o público quando estava insatisfeito.
Alexia: Ele dava bronca na banda, dava bronca no público, entrava completamente drogado sempre.
Foster: Ele estava deportado dos Estados Unidos, né?
Pablo: Foi. Foi deportado, voltou e foi preso aqui.
Alexia: Foi.
Pablo: Tipo, o cara assim, tinha tudo para dar errado.
Alexia: Teve uma infância super complicada, foi para lá, ficou complicado lá, voltou para cá, foi preso, parece que nada dava certo, né?
Pablo: Nada dava certo! E se transformou nesse ícone assim. O mais impressionante é isso.
Alexia: Ele é muito o nosso Billy Paul, né? O Billy Paul morreu ontem, até.
Pablo: Ah, é?! Morreu? Caraca, nem...
Caraca. Wow. Man. Geez.
Foster: É, morreu.
Alexia: Mas, ele é o nosso Billy Paul, se você pensar.
Foster: Pode ser.
Pablo: Dá uma boa tese de doutorado isso aí!
Foster: Então, eu acho que é só isso sobre o Tim Maia. Vocês têm mais algum assunto relacionado com a música brasileira que vocês queiram...
Alexia: Não, só aproveitando, qual é a sua melhor cantora brasileira, quem você acha?
Pablo: Cantora? Eu acho a Cássia Eller. Mas, eu sei que a discussão sobre a Cássia Eller e Elis Regina, a Elis Regina vai sair na frente na maioria das pessoas.
Alexia: Mas, foram em duas épocas diferentes, né, também?
Pablo: É, mas eu gosto mais e tenho mais simpatia pela figura da Cássia Eller. É uma questão de empatia mesmo.
Alexia: Mas, vocalmente?
Pablo: Pô, vou te falar que a Elis Regina é foda mesmo! Em recursos vocais.
Alexia: A Elis Regina, não tem como.
Pablo: É a Deusa mesmo da música brasileira.
Alexia: A Cássia Eller é muito parecida com o Tim Maia nesse sentido, tipo, libertinagem total.
Pablo: Isso, isso. É um espírito livre também assim que extrapolou todas as regras e normas assim. Você conhece ou conheceu um pouco da Cássia Eller?
Foster: Conheço, conheço.
Alexia: Quem ele não conhece é a Rita Lee, que é outra cantora...
Foster: Conheço, mas um pouquinho.
Alexia: Mas, não muito.
Pablo: Pô, na época dos Mutantes, os discos dos Mutantes são os melhores discos da música brasileira. É muito bom!
Alexia: E ela está muito sumida, ela também já está bem velha.
Pablo: Ela se aposentou, né? Ela fez o último show.
Alexia: Eu não me lembro. Eu fui num show dela no Canecão.
Pablo: Ah, é? Legal. Eu nunca fui no show dela. Taí, nunca fui.
Alexia: Nossa, é o máximo o show dela.
Pablo: A Gabi é fã assim, ama de paixão. Já estamos incluindo outro personagem, né? Mas, a Rita Lee, cara, ela fez esse último show - acho que foi no Nordeste, se eu não me engano ou no norte - e aí ela como é a Rita Lee, arrumou uma quizumba danada e acabou na delegacia o show!
Foster: Sério?!
Pablo: É, não lembro a razão, não, mas foi uma confusão e era o último show da vida dela.
Alexia: Não poderia ter acabado de outra forma, né? Convenhamos!
Convenhamos! Let’s be frank. Let’s be real.
Pablo: Foi emblemático.
Foster: Mas, eu acho a cantora brasileira, é outra coisa. Tipo, uma mulher cantando em português, para mim, é sensacional.
Pablo: É muito bonito, né? Teresa Cristina, você gosta.
Alexia: Gente, a Beth Carvalho também. Eu acho a Maria Bethânia também.
Pablo: A Elza Soares tem uma coisa bem Billie Holiday assim, sabe, ela consegue fazer aquela voz rouca com uma rouquidão do jazz mesmo assim. É muito legal a Elza Soares.
Foster: Então, a última pergunta que eu queria fazer para vocês é o que vocês acham sobre a música brasileira hoje em dia? E para o futuro também? Porque tem muita história. Todo mundo sabe que a história da música popular brasileira é incrível, é muito rica. Mas, hoje em dia, pode ser um pouco mais fraca.
Alexia: Eu sinto falta de ícones hoje em dia, no sentido de a gente não ter uma nova Elis Regina, a gente não tem um novo Tim Maia. Pelo menos eu penso assim. E o pessoal que a gente tem hoje em dia que é muito bom, já são os mais velhos. Os novos, eu não conheço nenhum. Porque surge muito sertanejo universitário, muito funk, muito axé, muito isso e eu não sei de ninguém. Pelo menos...
Eu sinto falta. I miss (someone or something).
Pablo: É, eu concordo também. Eu acho que a gente passa... o Brasil reflete um pouco a crise moral do mundo, sabe? Essa escassez criativa que a gente tem na música hoje e também da ascensão de algumas músicas que são bem contestáveis em termos de qualidade assim. É claro, pode ter sertanejo bom, não estou falando que não é um ritmo legal, mas as músicas que chegam aos ouvidos lá fora, são músicas muito pobres em termos poéticos, em termos rítmicos.
Alexia: São somente comerciais.
Pablo: Músicas comerciais que são reproduzidas pelos jogadores de futebol e viram uma música totalmente fake, que não tem nada a ver com que o Brasil sempre ajudou em termos de produção musical, principalmente a partir da Bossa Nova, né? Porque a Bossa Nova foi o trampolim da música brasileira no mundo inteiro. A Bossa Nova resgata o samba e traz os recursos do jazz, ou seja, é o samba improvisado. É uma coisa que até hoje só brasileiro consegue tocar.
Alexia: É verdade.
Pablo: Músicos americanos, jazzistas muito bons não conseguem porque é uma coisa muito...
Foster: Eu tentei por anos. Eu toco violão e posso tocar várias coisas, mas Bossa Nova, os ritmos para mim são impossíveis!
Pablo: É muito acorde, né, porque o Tim Maia fala isso no filme. "Isso é muito acorde!".
Foster: É muito acorde mesmo.
Alexia: Eu acho que realmente de novos ícones, nesse sentido de grandes cantores e também compositores, eu não vejo ninguém aí.
Pablo: Tem algumas figuras mais jovens que eu acho assim que merecem um destaque como o Criolo, acho legal, o Emicida também teve uma...
Alexia: Eu não conheço tão bem o Emicida.
Pablo: Só esse CD novo que ele conseguiu fazer uma coisa um pouco mais soft. Antes era meio pesadão, eu achava muito aquele rap meio racionais assim, sabe, que não atingia todos os públicos, mas, pô, a música dele com o Caetano Veloso é muito bonita - essa que está tocando direto e tal.
Alexia: Pois é.
Foster: Bom, eu acho que agora com a crise e a política e coisas também com a mistura da tecnologia, eu acho que a música brasileira tem chance de ser sensacional de novo.
Alexia: É, vamos ver.
Foster: Essa é a minha opinião só.
Alexia: Vamos ver, tomara!
Pablo: É. Torço por isso também. Torço por isso.
Foster: Tá, só isso?
Pablo: Com iniciativas como essa sua, de repente, algumas pessoas vão valorizar o que a gente tem de bom mesmo, né?
Foster: Exatamente. Isso é o propósito. Mais alguma coisa?
Alexia: Não.
Foster: Então, obrigado pela presença e boa noite!
Alexia: Boa noite.
Pablo: Boa noite.
Foster: Boa noite, gente!