Transcription
(notes & annotations forthcoming)
Alexia: Nuno, o Bezerra só tem coisas incríveis para falar de você.
Nuno: O que é isso? Não, o Bezerra, a gente é amigo há muitos anos, a gente perde as contas até. E ele toda semana veio falar, “E aí, você já gravou o podcast?” Falei, “Cara, rolou uma parada aí meio doida que…” Cara, acho que seu marido se vacinou, não foi isso? Teve reação e tal.
Alexia: Sim, uma loucura. Ele ficou mal, tipo, uma semana. Então assim, foi muito ruim pra ele, mas tudo bem, já passou.
Nuno: Coitado. Mas eu falei com ele hoje, falei mais cedo, falei, “Então, vai rolar o podcast.” Ele, “Po, que maravilha, não sei o que.” Ele falou, “Tô animado pra assistir.”
Alexia: E ele já deve estar acordado lá, né? Indo ver algum nascer do sol ou qualquer coisa parecida.
Nuno: Eu falei pra ele, “Você está no fuso horário da Europa, você acorda no horário que o pessoal da Europa tá acordando, é muito louco isso.”
Alexia: É. E Nuno, como é que você e o Bezerra se conheceram? Foi colégio, faculdade, o que que foi?
Nuno: Então, a gente entrou junto na faculdade de Design lá na ESPM, só que o Bruno, ele só fez um período e depois foi embora. Ele foi seguir fotografia. Ele falou, “Cara, não é nada disso que eu quero.” Mas foi o suficiente pra gente ficar amigo, cara, pro resto da vida assim. É muito maneiro isso.
Alexia: Eu fiz ESPM também.
Nuno: Ah, é? Do Rio.
Alexia: Do Rio. Sim.
Nuno: Po, que legal.
Alexia: Sim, sim. Só que eu fiz aquele curso que foi mais ou menos novo pra época, que é Administração com Ênfase em Marketing e Entretenimento.
Nuno: Cara, não sabia nem que tinha isso lá. Que legal!
Alexia: Então, pois é. Foi uma coisa nova, eu tinha entrado pro IBMEC, zero a minha cara o IBMEC, e aí eu descobri esse curso, que era mais ou menos o que juntava assim de bom pra mim. E aí eu fui, então eu fui de transferência para a ESPM e amei. Amei a ESPM, do começo ao fim. Assim, eu fiquei apaixonada.
Nuno: Ah, legal.
Alexia: É. E você se formou em Design então?
Nuno: Eu me formei em Design. Fui, inclusive, da primeira turma de Design da ESPM, é muito louco isso. Na época não tinha Design, a gente não teve veterano de Design, a gente levou trote da turma de comunicação. Os professores mudaram o curso ao longo do nosso curso, um monte de coisa. Então a gente foi meio que… A gente fala que a gente foi cobaia e pioneiro ao mesmo tempo.
Alexia: E é um mixed feelings né? Disso tudo, porque assim… E também, é um super cobaia, porque o meu curso também foi o primeiro ano. Eu tinha entrado de transferência, mas a mesma coisa do que você, tipo, eu não tinha nenhum veterano, nada pra contar pra gente, sabe? O que que era, como é que era, etc. Então… Mas deu certo, deu super certo.
Nuno: Ah, que bom.
Alexia: É. Então vamos lá, me conta sobre você. Você nasceu no Rio, né?
Nuno: Sim.
Alexia: Pelo o seu sotaque, não nega, obviamente. E garoto do Rio, sempre foi e é isso?
Nuno: Cara, eu nasci no Rio tem 38 anos já. E era muito engraçado, porque eu só saí do Rio quando eu me formei na faculdade. Então, eu tinha um sotaque muito de Carioca no início da minha carreira, e eu ia pra São Paulo, eu fui pra São Paulo trabalhar, e aí o pessoal ficou “É o Carioca. Po, aqui não é essa moleza do Rio não, não sei o que. Aqui a galera trabalha, ninguém vai pra praia.” E aí, um ano depois, eu comecei a visitar o Rio de novo, todo mundo assim, “E esse sotaque de paulista, cara? Da onde tá surgindo?” Então eu perdi muito rápido o sotaque, mas ainda mantenho um pouco aqui.
Alexia: Não, você ainda tem sotaque de Carioca. Eu acho que o seu é o mesmo nível do que o meu, não é nem tão super, hiper, mega, mas tem ali o nosso S, o nosso R. Ainda tá aí, ainda existe.
Nuno: Sim. Eu falo que eu sou uma esponjinha, se eu fico conversando só com um Carioca em uma tarde, no final do dia eu tô falando igual funkeiro já. E se eu fico muito próximo de paulista, pessoal do sul ou de outras cidades, eu evito puxar o R do Carioca, sabe? É muito estranho isso, é quase que um volume do som que eu vou ajustando pra esquerda, pra direita.
Alexia: Comigo é mais o (sotaque) cantado, sabe? Então, por exemplo, se eu fico com a minha família de Minas, com os mineiros por muito tempo, eu começo a ficar cantando que nem eles, mas eu não perco o R, nem o S, eu só começo a ter entonação “a la mineiro”, sabe?
Nuno: Sim.
Alexia: E aqui em Portugal, tem algumas coisas também que eu já peguei, principalmente na escrita. Então tem isso.
Nuno: Bem legal.
Alexia: É. E aí, em Singapura, que você está aí, como é que você foi parar aí, na verdade? Como é que você chegou até aí?
Nuno: Cara, então… Eu me formei em Design, comecei a trabalhar, já tinha mais ou menos uns 3-4 anos de mercado. E aí eu entrei pra uma empresa que a filial dela é na África do Sul, né? O headquarters ficava na África do Sul. Eu já tinha visitado eles algumas vezes, passado um mês, dois meses de treinamento. E em algum momento, essa empresa decidiu abrir filial em Singapura para atender um cliente na época. E era muito engraçado, porque eu sempre quis morar fora, e na época eles tinham um escritório em Londres, era o meu sonho, “Eu quero morar em Londres, quero morar em Londres.”
Aí eles falaram um dia pra mim, falou, “Olha cara, a gente está abrindo escritório na África do Sul, a gente tem que mandar alguém lá e você já tá praticamente indo morar em outro país.” Eles estavam pra me mudar pra África do Sul. Eles falaram, “Porque você não vai para Singapura?” Daí eu, “Singapura? Como é que escreve?” Eu tive que ir no mapa, eu não sabia onde ficava. Eu abri o Google Maps na época para ver. Eu falei, “Caraca, é uma cidade da Malásia? É um país? Como assim? Que língua que fala lá?” E eu me mudei pra cá sem nunca ter vindo visitar, sabe? Foi muito louco isso.
Alexia: Eu tô imaginando você olhando no mapa e falando, “Meu Deus, pra onde que eu tô indo?” Sabe? “Como é que chega? Quanto tempo dura a viagem?”
Nuno: E o mais louco foi assim, hoje em dia você conhece muita gente que já visitou Singapura, né? Você consegue chegar nesse ponto já. Mas na época, foi em 2012 isso, a única referência de Singapura que eu tive, que eu descobri depois de falar com algumas pessoas foi, a minha irmã na época, hoje ela tá casada com ele, mas na época eles ainda namoravam, ela namorou o Bernardo que fez INSEAD aqui em Singapura, que é um curso de masters. Ele fez um módulo aqui, ele passou mais ou menos um mês ou dois aqui. Só que o Bernardo e eu, a gente não era super brother de trocar altas ideias, então eu só virei e falei, “Cara, tô sendo transferido para Singapura, o que que você acha? Você acha que eu vou curtir?” Aí ele só falou assim, “Cara, você ama tecnologia, você ama andar com câmera, laptop. Cara, já é teu lugar. Todo mundo lá anda com laptop no ônibus, no metrô, em qualquer lugar. É os Estados Unidos da Ásia.” Eles chamam ‘Ásia pra beginners.’ Aí eu, “Cara, é isso aí.” Me deu conforto, não tem erro, vamos embora.
Alexia: Que incrível. Então espera aí, antes de você morar em qualquer outro lugar fora, você foi direto pra Singapura mesmo, você nem passou na África do Sul, você foi direto pra aí?
Nuno: Então, morar morar mesmo, eu passei assim, dois meses na África do Sul, que a gente não chama nem de morar, porque eu não tinha visto pra morar, era um visto de turismo que eu ia pra fazer treinamento, atender reuniões que é possível. E aí, o primeiro visto de morar fora, foi vir pra Singapura. E até então eu ia ficar 6 meses, 8 meses assim até o final do ano. Cara, vim de mala e cuia, fiquei. Eles falaram, “Cara, quer renovar por mais um ano ou dois?” A gente foi renovando visto. Cara, na época eu tava namorando, a minha namorada veio, a gente ficou, a gente casou em Singapura, ela pegou o visto, veio morar comigo.
Eu vou acelerar, mas depois a gente para de volta. E dois anos, três anos depois morando aqui em Singapura, era importante que eu ficasse um período na África do Sul, porque a gente estava montando uma equipe lá, num projeto. E eu achei que era a melhor coisa. “Quer saber? Vamos embora, é outra experiência, vamos embora.” Aí fui com a minha mulher. Só que teve um problema, apesar de ser maravilhoso, a África do Sul, tipo, é lindo lá, tanto pra visitar quanto pra morar, a parte de visto é um pouco diferente, a minha mulher não podia trabalhar. Então o visto não permitia ela a trabalhar at all. Então o que ela fez foram coisas assim, a gente chama de trabalho informal. Nessa época ela estava começando a aprender fotografia, ela estava começando a estudar. Cara, ela colou em uma fotógrafa de casamento e tudo que ela hoje sabe, hoje ela é fotógrafa, exatamente, faz isso profissionalmente, ela aprendeu muito nessa época. Então foi bacana, foi legal.
E aí, depois de um tempo, eu acabei decidindo que eu queria voltar pra Singapura, da África do Sul. Falei com o meu chefe, falei, “Olha cara, então, dá pra eu voltar para Singapura? Você consegue me transferir de volta?” Daí ele, “Então, na verdade eu queria ver se você não quer ir pra Nova Iorque.” Daí eu, “Não, pera aí cara, não… Eu já combinei com o pessoal da equipe de Singapura, tá todo mundo okay.” Ele falou, “É então, mas...” Aí futuramente a gente descobriu o que tinha acontecido, eles iam fechar o escritório de Singapura e o escritório do Brasil, que foram os dois que eu tinha trabalhado e começado. Então eu falei, “Então ir pra Nova Iorque é quase que é isso ou é isso, né?” Aí ele falou, “É. Tem outros escritórios, o que você acha?” Aí eu falei, “Não cara, Nova Iorque, vamos embora agora! Onde é que eu assino?”
E fui pra lá, fiquei dois anos. Depois disso a gente começou a pensar se a gente queria voltar para Singapura ou não. Aí a gente saiu um pouco de Nova Iorque, deu dois anos e eu falei, “Cara, quer saber? Vamos ficar um tempo no Brasil.” Deu dois meses, meu ex-chefe que estava aqui em Singapura falou, “Cara, você não quer voltar pra cá não? A gente te ajuda a abrir a sua empresa. Eu sei que agora você está fazendo freelancer e tal. É bem mais fácil do que fazer isso em outro país.” Eu falei, “Cara, é mesmo? Será que eu consigo?” Ele, “Cara, vem.” E isso tem dois anos. Eu vim, e desde então nunca saí daqui mais, porque teve pandemia e a gente tá preso aqui tem quase três anos.
Alexia: É verdade.
Nuno: Então, total tem cinco anos de Singapura, dois de África do Sul, dois de Nova Iorque, dois e meio mais ou menos de Nova Iorque.
Alexia: E assim, Nuno, o que eu entendi é que Singapura é o lugar que realmente você realmente considera como casa, né? Assim, você vê aí como tem tudo a ver comigo, eu gosto, eu gosto das pessoas, da forma que as pessoas lidam com o dia a dia, porque… É engraçado, porque eu nunca conheci ninguém que tenha morado em Singapura. Eu conheço uma ou duas pessoas que passaram por Singapura voltando de algum lugar da Ásia, sabe? “Ah, vamos passar lá pra ver como é que é.” Mas assim, o que a gente escuta é, é um lugar incrível, mas tem muitas regras, é muito regrado. E aí eu não sei como é que você, brasileiro, que convenhamos…
Nuno: Carioca.
Alexia: É, Carioca, que a gente não está acostumado com tantas regras, principalmente governamentais, como é que foi essa adaptação pra você?
Nuno: Cara, você fez exatamente um comentário que todos os meus amigos fizeram na primeira vez que eu vim pra cá. Era assim, “Pera aí, eu consigo me ver indo para Singapura, eu não consigo te ver morando aí por mais de um mês, como é que você…” E aí começa um monte de coisa, várias leis e tudo, tolerância zero para qualquer coisa. Um exemplo bem bobo é, atravessar fora da faixa (de pedestres) aqui dá multa. Então cara, quem mora no Rio… O Rio nem tem quase sinal (de trânsito), é tipo, você torce pra… Você olha os dois lados, não está vindo carro, você atravessa.
Alexia: A gente atravessa na diagonal, a gente não atravessa na faixa, a gente atravessa na diagonal.
Nuno: Exato. E a gente veio pra cá, mas aí eu acho que cada lugar que você viaja, obviamente você absorve a cultura, mas eu acho que é como se fosse um videogame, ele dá um unlock em coisas de você que você não conhecia. E aí eu acho que comigo, o que aconteceu foi assim, não que eu goste de regras, mas quando eu tô num ambiente mais controlado, é quase um videogame.
Eu to jogando na fase, eu não consigo atravessar essa parede porque eu não tenho a chave, e é isso, eu não tenho, acabou. Eu não fico tentando atravessar aquela porta, porque eu não posso, porque eu não tenho a chave. Eu não estou no level... Então é quase que isso, eu tô aqui… Agora, por exemplo, as regras governamentais por conta da pandemia, é muito louco isso. Até agora… Mudou essa semana agora, mas até então, só podia sair em duas pessoas, que só pode sair em grupo de duas. E se você tem uma família, você tem dois filhos, você, seu marido, duas crianças, você vai num restaurante, você tem que sentar em mesas separadas.
Alexia: Meu Deus!
Nuno: Você e seu filho, seu marido e a sua filha. Não pode pedir prato para dividir entre as duas mesas. Na hora de pagar a conta, são duas contas separadas, mas você saiu do restaurante, você pode entrar num táxi e voltar para sua casa. É… Então querendo ou não, as regras são muito ainda… Eles tentam o máximo, mas ao menos todo mundo respeita, e isso eu acho bacana.
No Brasil, por mais que a gente tenha um cenário caótico em termos de, não é nem só de política, mas de constituição e tudo mais, eu acho que aqui, apesar do governo… Cara, o governo falou, todo mundo tem que fazer, é regra e é isso. Não dá pra protestar. Se você quiser protestar na rua, você tem que fazer um pedido, falar a hora e o local que você vai protestar. Tem umas regras. Cara, é tudo muito certinho. Até pra fazer bagunça, é certinho. E aí, as próprias pessoas que discordam falam, “Cara, mas é isso, mas é assim. Eu discordo disso, mas eu concordo com 90 outras coisas.” Então é um pouco isso.
Alexia: Mas eu imagino que tenha sido um choque cultural, né? Na primeira vez que você foi. E assim, porque pelo o que eu saiba, não pode nem mastigar chiclete na rua. Tipo, isso eu não entendo, eu vou ser bem sincera.
Nuno: Eu te explico.
Alexia: Isso do chiclete eu não entendo. Explica, por favor.
Nuno: Inclusive, a Dani, minha mulher, fez um blog na época, e o nome do blog era Minha Vida Sem Chiclete. Mas assim…
Alexia: É perfeito.
Nuno: É maravilhoso. O que acontece, chiclete sempre foi permitido aqui, como várias outras coisas que ainda são permitidas até que mudem. Em um certo momento, e aí você vai ver como é que o país toma decisões, isso diz muito sobre Singapura. No metrô, quando você está esperando o metrô, você está esperando, você vai, pega o chiclete.
Terminou, você olha pra estação, e você tacava, e fica ali no trilho… Você entrou no metrô, você tá comendo, no metrô não tem lixo, por exemplo, não tem lixo no metrô que é pra evitar terrorismo, alguém tacar uma bomba lá e alguma coisa do tipo. Inclusive, a palavra bomba é proibido de falar, em inglês pelo menos. Se você fala isso, as pessoas podem ouvir alguém falar a palavra e aí, enfim.
Alexia: Meu Deus! Sim.
Nuno: Aí o que aconteceu, o pessoal jogava muito chiclete, teve um momento, num horário de pico, que um trem simplesmente parou. Igual acontece no Brasil todo dia, toda hora, parou e ficou horas parado, interrompeu a principal linha que liga o centro comercial. E Singapura já estava com vários problemas em relação à sujeira, chiclete e coisas assim. E aí eles tomaram a decisão, falou assim… E aí foram ver que a porta fechou, estava presa, tinha chicletes e milhares de chicletes ali. E era um lugar que não era simples de limpar. Não sai com a vassoura, estava grudado já. E aí, nesse dia, Singapura foi lá e definiu, “Quer saber? É proibido a comercialização no país. Acabou, fechou.”
Se você está com o chiclete andando e comendo, não é proibido. Mas você entrar com o chiclete em Singapura, para uso pessoal eles até liberam. Quem tem problema, tipo, que está usando chiclete porque o médico, o dentista recomendou, aqueles de… Tudo bem, okay. Mas tem esse controle. O mesmo vai para cigarro, que é muito caro aqui a taxação em cima de cigarro. Então, se você quer entrar em Singapura com cigarro, só pode entrar com 19 cigarros, e um maço tem 20. Ou seja, você não pode entrar com um maço fechado para não revender aqui. Você tem que abrir, tirar um cigarro e jogar fora, e é isso. Você entra com um maço com 19 cigarros. E eles criam essas regras e é assim e é assim, entendeu? Da noite pro dia, vira uma lei.
cigarro - cigarette
Alexia: Eu acho isso fantástico, eu vou ser muito sincera. Porque, assim, aqui em Portugal tem mais leis, e as pessoas, elas obedecem mais o governo do que no Brasil. Então elas realmente respeitam. Não é nem obedecer, é respeitar aquilo que está sendo falado. E eu estava conversando com uma amiga minha, que ela já mora há 13 anos na Alemanha, e ela tava me contando algumas coisas de diferentes da Alemanha que, hoje em dia, ela não se vê vivendo sem.
Por exemplo, a estabilidade alemã é uma coisa que eles realmente amam. Então, por exemplo, você vai sair de um emprego, ou vão te mandar embora, você tem que avisar três meses antes. Você vai sair de um apartamento, você precisa avisar três meses antes de ir e vice-versa, se vão querer te tirar de lá. Então ela fala, “Eu não sei como a gente viveu sem isso até hoje, sabe? Essa estabilidade hoje em dia conta muito pra mim.” Você se sente da mesma forma aí, com a Singapura?
Nuno: Então, aqui eu sinto na verdade o inverso desse ponto que você acabou de falar. A lei, pelo menos do Brasil, sempre favorece o empregado do que o empregador. Aqui é extremamente o contrário. Ainda mais se você for estrangeiro, se você não for um residente permanente aqui, a empresa quer te demitir, ela pode te demitir hoje sem aviso prévio, sem explicar o porquê.
Alexia: Uau.
Nuno: Simplesmente é financeiro. Falam, “Olha, minha empresa não quer mais, não quero mais pagar o seu salário, acabou.” Obviamente cada contrato é cada contrato. O que muita gente faz, muito gringo principalmente é colocar cláusulas no contrato, que não é a cláusula básica. E ao mesmo tempo também tem essa coisa de seguro desemprego, isso tudo não existe aqui para estrangeiro.
Para local, existe, o governo ajuda quando você precisa de uma coisa ou outra, mas eu acho que, ao mesmo tempo, eu vou ser bem sincero, isso não é uma preocupação pra gente aqui, porque se você é bom no que faz e tem um emprego, tem oportunidades, é um lugar muito bom pra se estar, entendeu? Vai ter oportunidade, vai ter isso. O que eu tenho medo, na verdade, é das leis mudarem da noite pro dia, igual mudou.
Alexia: Uhun
Nuno: Vou te dar um exemplo, eu tenho a minha própria empresa, eu tenho o meu visto pela minha empresa. Enquanto a minha empresa continuar tendo trabalho, eu vou continuar tendo dinheiro para pagar o meu salário e vou continuar podendo renovar o meu visto. Até aí, tudo bem. Por eu ter um visto de trabalho, a minha esposa pode ter um visto de dependente. Até seis meses atrás mais ou menos, qualquer dependente podia trabalhar aonde quisesse.
Pode trabalhar no caixa do Starbucks, pode trabalhar numa biblioteca, pode trabalhar numa multinacional ou na área de marketing. Não importa, você aplica para a vaga, a empresa querendo você, ela assina uma carta e você passa a poder trabalhar. Por conta da pandemia, muita gente obviamente vai perdendo emprego ou então reduz salário. Teve um pouco disso aqui, nada comparado com o mundo, mas teve.
Alexia: Uhun.
Nuno: Eles mudaram a lei de um mês para o outro. Então se você tem passe de dependente, você não pode mais ter uma carta para trabalhar, você tem que arrumar um emprego e aí a regra é um pouco acima, é ter um valor mínimo de salário. Ou seja, isso impede que um gringo ou um parceiro de um gringo trabalhe em empregos que paguem menos de X dólares. Então isso muda da noite para o dia, sabe? Não tem o que fazer, é fora do controle.
Alexia: E realmente, comparado com a Alemanha, é completamente o oposto.
Nuno: Sim.
Alexia: Eu ia ficar desesperada, com certeza. Mas assim, por exemplo, você morou em Nova Iorque, né? E mora agora em Singapura. Singapura é muito internacional comparado com Nova Iorque? Porque eu vejo Nova Iorque uma cidade internacional, né? Você tem todos os tipos de pessoas e etc. Assim como Londres é extremamente internacional. Você sente que Singapura, em geral, é?
Nuno: Sim. Eu vejo as duas como grandes metrópoles, obviamente, mas a grande diferença que tem aqui é que Nova Iorque tem também muito mais turistas do que Singapura tem, e o tipo de turista. Nova Iorque tem muito turista doméstico, pessoas físicas indo viajar para passear. Então você conhece gente também que vai estudar, vai passar um período. É muito comum a pessoa ir passar três meses em Nova Iorque e se portar como morador de Nova Iorque. Então você não sabe quem tá ali e quem não tá.
Singapura é um pouco o oposto, a maioria dos visitantes que estão aqui são turistas de países vizinhos, assim, que vem com mais frequência, principalmente China, Hong Kong, Austrália, esses países aqui. Só que tem muita gente vindo a trabalho, ou tinha muito mais antigamente. É um pólo aqui, é muito comum as pessoas virem pra cá pra fazer conferência, evento. Então você conhece gente também do mundo inteiro, e também tem a separação que é, se você só fala inglês, você só vai conhecer os turistas americanos que falam inglês.
Alexia: Sim.
Nuno: Em Nova Iorque, todo turista fala inglês, é quase que… Então acho que aqui também tem um pouco disso. Eu acabo não pegando a parte que é, muito turista vem da China, muita gente vem até de outros países. E por mais que eles falem um pouco inglês, não rola uma interação, então eu não vejo tanto, mas são bem parecidas quanto a isso, de ter gente do mundo inteiro. Aqui em Singapura, 40% da população não é local, não nasceu aqui, então é um número absurdo, sabe? Chega próximo da metade.
Alexia: E como é que a população que sempre esteve aí vê isso? Eles gostam disso ou não?
Nuno: Olha, isso é muito relativo, sabe? Inclusive, é um dos maiores problemas hoje do país, como lidar com xenofobia, porque é a mesma coisa quando você fala de machismo, sexismo e etc. O problema não é naquele cara que vai… Obviamente que é um problema, o cara que vai, fala, “Seu Indiano de merda”, fala uma coisa dessa, e é preso, porque está desacatando. O problema não é esse, porque isso é um crime independente do que você falou.
Alexia: Uhun
Nuno: Você pode ter falado, “Seu maluco. Seu doido…” Independente. Só que o problema é quando isso acontece entre as entrelinhas, a forma de olhar, não oferecer vaga, não falar no desrespeito, taxista trata mal, sabe? E isso tem acontecido muito aqui, principalmente de uns cinco anos pra cá. Da vez que eu vim pela primeira vez, Singapura estava crescendo muito. Então pra eles ter turista era ótimo. Hoje, a gente já é visto por alguns como, “Ah, o cara tá roubando emprego da gente.” Então essa história que eu te contei da carta para trabalhar se você é dependente, a gente tem quase certeza, já ouvi falar em mesas de bar, falando com as pessoas, o local assumindo falou, “Cara, mas eles só fizeram isso porque é ano de eleição, é óbvio que é isso.”
Mas ninguém fala nada, vocês são tão transparentes quanto a tudo, porque não falam que é isso? Aí teve um cara que falou publicamente, falando, “Em algum momento Singapura abriu para os estrangeiros, porque a gente precisava de ajuda. E agora a gente tá num momento que a gente precisa cuidar da gente mesmo.” Então quando o momento for propício e wealthy again, a gente vai reabrir essas portas. Eles falam um pouco disso, então… Mas assim, já rolou comigo várias coisas. A gente fala que aqui é super seguro, dificilmente alguém vai meter a mão na minha cara, me roubar.
Alexia: Sim.
Nuno: Mas eu já fui, uma vez, eu estava esperando meus amigos chegarem no… É tipo uma praça de alimentação, que é onde a galera toma cerveja à noite. É tipo um barzinho onde você compra na loja e senta num lugar, todo mundo pode sentar.
Alexia: BG.
Nuno: Um BG, exato. Com mesinhas. É o BG com mesinhas. E que que rolou? Fui lá no lugar, peguei umas cervejas, e aí cheguei no lugar pra sentar e não tinha ninguém. Botei minha cerveja e aí nisso chegou um tiozinho com um cara cheio de cerveja, mais cerveja ainda, e aí ele falou assim, “Xô xô, eu tô aí, esse lugar é meu. Get out of here.” Aí eu olhei… Cara, eu sou muito de boa. Daí eu olhei, ri, falei assim, “Oi?” Ele, “This is my place, I’m sitting there.” Aí eu falei assim, “How come? I was just here, there was no one here.”
Aí o cara, sem mentira, não queria me dar satisfação e saiu sentando. Aí o cara que estava trazendo a cerveja com ele era de uma das lojas, daí ele olhou pra mim com aquela cara de, “Mano, vai procurar outro lugar, cara, não começa não.” Aí eu só virei e falei assim, “Ei, calma, você quer sentar, pode sentar, mas você não precisa rude with me. You don’t need to be rude with me.” Nossa, aí o cara falou assim, é uma frase daqui que é, “Fuck off ang moh”. ‘Fuck off’ obviamente ‘sai daqui, vaza.’ E ‘ang moh’ é um termo em chinês que significa ‘homem branco, pele branca’ uma coisa desse tipo. E não é ‘gringo’, não é igual falar “gringo”, é tipo, “Sai daqui…”
Alexia: Você não é daqui, você não pertence aqui. Então tipo, “Sai daqui.”
Nuno: Exato.
Alexia: “Não é o seu lugar.”
Nuno: E é um termo ruim. E aí quando rolou isso, cara, eu não sou também de criar barraco também. A minha mulher falaria o contrário, ela falaria, “Oi?” Mas coisa de Carioca, você fala assim, “Pera aí, agora você mexeu com quem tá quieto. Calma aí, deixa eu chamar uma PM.” Cara, eu fiz exatamente isso. Eu sentei com o cara ali, eu falei com o segurança do lugar, eu falei, “Como é que eu faço?” Aí ele, “Ah não, você vai ter que chamar uma polícia.” Aí eu, “não, não, cara, chamar a polícia não, é só uma parada séria.” Aí ele, “Não, você tem que chamar a polícia.
É a única forma que vai ter de alguém falar com ele, porque eu não posso, eu não tenho autoridade.” Ai eu falei, “Vamos testar isso daqui.” Os moleques estavam atrasados. Aí liguei pra polícia, não sei o que. Aí o cara falou, “Onde é que você tá?” “Eu to aqui no food court tal, em frente à loja tal.” “Tá, vamos mandar uma unidade aí.” Chegaram dois carinhas menores que eu, magricelinhos. A maioria deles são novinhos, assim. Provavelmente não fizeram nada o dia inteiro, estavam só indo checar o gato que subiu na árvore. Aí eu expliquei o que aconteceu. Vou só desenhar a figura pra você entender, I’ll paint the picture. O cara que fez isso comigo, ele era local, mas é um local com descendência indiana, tá?
Vamos testar isso daqui - Let's test this
Alexia: Uhun.
Nuno: E eles todos falam os termos locais que o ‘Senglish.’ E o policial, quando vieram pra cá, eram dois policiais de origem chinesa, então rola já essa treta entre eles.
Alexia: Esse embate. É isso que eu ia falar, porque o cara ser indiano, desculpa, mas você também não é dali, você é imigrante que nem...
Nuno: Então, mas no caso, porque Singapura já tem 55 anos, é capaz de ele ter nascido. Ele devia ter uns 40 mais ou menos, 40 e pouco, 45. Mas assim, baixinho, lembra até o Romário, todo assim, jogador de futevôlei, uma coisa meio assim. E ele estava com uma mulher, depois chegou e sentou com ele. Enquanto eu chamei a polícia, eu estava esperando a polícia, ele passou por mim e falou assim, “Hey man, sorry. Você quer sentar ali comigo?” Eu falei assim, “No, man. Don’t try to be nice now. I called the police.” Aí ele falou assim, “You called the police? Lucky you.”
Alexia: Oh My God!
Nuno: Aí eu, “Oh Meu Deus! Deixa a polícia chegar.” A polícia chegou, olharam, foram lá, falaram com o cara. Ficaram horas ali conversando, pegando informação dele. Aí nisso meus amigos chegaram. Eles já estavam, inclusive, lá, eu que não vi, eles estavam numa outra mesa já com cerveja também. Enfim, sentei do lado deles, contei tudo que eu te contei agora, contei pra eles. E eles, “Não… Vamos lá, vamos ver quem é o cara.” Aí eu falei, “Não, já foi feito, deixa assim.” Aí nisso o policial passou por mim e falou, “Obrigado. Tá aqui seu documento e tal. A gente conversou, a gente deu um aviso.” Só que assim, não rolou nada, porque… E perguntaram várias vezes pra mim, “Ele te tocou? Ele te agrediu?” Eu falei, “Não, mas ele falou "Fuck off ang moh." O que eu me senti agredido por não ser um cara local. Isso quer dizer o quê? Que eu não tenho o direito de estar ali?” Aí, assim que o policial foi embora, ele passou pela nossa mesa. Ele olhou e falou assim, “Loser.”
Alexia: Ai que ódio!
Nuno: Então tem isso. Porque aqui é tão seguro. No Rio, qualquer lugar que você vai… Cara, sempre vai sair porrada, não tem como.
Alexia: Sim.
Nuno: Eu acho que se eu provavelmente tivesse num outro ambiente assim, cara, eu acho que eu falaria assim, “Eu não vou sair daqui também não”. Aí o cara ia me puxar, eu ia falar “Não me toca.” Sabe? Ia dar um problema, sei lá. Mas enfim, acontece isso.
Alexia: Acontece, acontece. Infelizmente, você ser imigrante em qualquer lugar do mundo, você vai passar por isso. Mesmo eu sendo portuguesa, né? Meu sotaque não esconde, eu sou brasileira também. Então assim, eu nunca passei por uma situação dessas, porque eu acho que eu não tenho cara de brasileira, o que os portugueses esperam ser brasileira. Eu não tenho cara, eu não tenho perfil, eu não tenho corpo de brasileira, eu não tenho nada disso. Então eles me veem, “Ok, ela é mais uma.” Sabe? “Ela é portuguesa também.” Mas assim, sei de histórias e histórias e histórias tanto de um lado quanto do outro.
Como brasileiro que chega aqui achando que aqui é um mini Brasil, quanto portugueses muito rudes e muito desnecessários com brasileiros, principalmente com africanos também, né? Que também tem essa questão infelizmente histórica e que ficou hereditária para algumas pessoas até hoje. E essa seria uma outra pergunta, porque Singapura, ela é muito novinha, né? Ela não viu quase nada do que o mundo passou. Então, para você desenvolver uma cultura da Singapura, tem que ser uma junção de várias culturas juntas. E eu fico um pouco perdida para saber, porque se eles… Eu não sei se é uma questão entre ocidente e oriente, é? Ásia, não sei...
Nuno: É que Singapura se considera totalmente asiática, por mais que a cidade tenha sido uma colônia inglesa, tem ainda estátua do Raffles que era o inglês que dominou isso tudo. Eles tem um baita respeito pelo ocidente, entendeu? Principalmente por conta financeira. Eles são mais próximos dos Estados Unidos e outros países, então em caso de uma guerra, eles não vão… Eles tendem a ficar neutros ao máximo, mas acho que no final, vão ser essas alianças políticas que existem hoje. Mas você falou sobre cultura, que eles são novos, isso é uma coisa engraçada aqui. Sabe quando o Itaú comprou o Unibanco? E tem essas coisas, e durante muito tempo é Itaú Unibanco e tem essa coisa? Eu acho que o que você falou, 50 anos é muito cedo ainda, eles ainda são… O que é Singapura?
Singapura é China, Malásia, Índia. A gente fala o que? A gente fala inglês, que é tipo pra tentar normalizar tudo, inglês, chinês, tâmil e malaio. E tudo que você vai, todo transporte público, museu, passaporte, aeroporto, tudo tem quatro línguas. Eu, como designer, eu até falo isso, é estressante. Tudo que você tem que desenhar, você tem que pensar. Então tem umas revistas que é a mesma matéria em uma página aberta, página dupla, você só tem uma quina de informação. É inglês, malaio, não sei o que. Então você tá lendo, você só vai ler um pedaço da página, vai indo, é um blocão de texto. E inclusive, quando tem eventos, teve agora o National Day deles, que é o Dia da Independência, foi segunda passada… Essa segunda, é, segunda passada.
Tudo é falado nas três línguas. O hino que eles cantam, que é um hino feito para isso, é um hino comercial, tem as três línguas, né? Então tem um pouco disso. E a grande maioria, assim, eles encontraram o inglês como a forma que eles se conectam.
Alexia: Uhun.
Nuno: Então foi o que você falou um pouco, aí é que entra talvez o “Somos internacionais, somos um país, somos uma metrópole.” Falando então... Em todas as escolas que você vai, tudo a língua oficial é o inglês. Mas eles podem fazer uma escola que é inglesa com uma outra língua. Tem francesa tem outros mais. Ah, desculpe, mandarim também é obrigado nas escolas. Então toda criança aqui fala mandarim, se tá estudando aqui, então…
Mas é engraçado. O museu também tem essa coisa, tem essa mistura das culturas. Você vai em quase que em salas e áreas e zonas que cobrem tudo isso. E por Singapura, fisicamente, estar dentro da Malásia, né? Se for parar para pensar como era antes, ainda é muito predominante o heritage, a comida é muito influenciada da Malásia.
Alexia: Isso que eu ia perguntar, como é que é a comida aí? Porque ao mesmo tempo que é uma inclusão, eu vejo como uma inclusão você ter as 4-3 línguas, né? Porque está querendo colocar todo mundo confortável, como é que é a comida? É da mesma forma?
Nuno: Tem também. Só que o grande lance da comida, obviamente, tem isso isso que você falou, tem as três juntas. E por Singapura ter apenas 50 anos, ainda seria o Itaú Unibanco, né? Ainda tem essa coisa, só que eles já tem comidas tipicamente Cingapurianas, que aí vai exatamente a mistura ali. E eu acho que nisso eles são muito brothers uns dos outros. A influência que a índia teve aqui foi grande, e principalmente em curry, tudo que é ligado a pimenta, coisa apimentada.
A comida de Singapura é, tudo que você come é altamente apimentada, a grande maioria. E a comida chinesa também tem, então é o curry indiano com o chili sauce chinês e a comida da Indonésia já é apimentada e muito temporada por natureza. Desculpa, da Malásia… Então eles têm aqui algumas comidas aqui que é o chicken rice. Você pensa, “Cara, chicken rice…” O brasileiro quando vai comer o chicken rice…
Alexia: Chora.
Nuno: Dá uma raiva. Você fala, "Peraí, a comida principal de vocês é um arroz com um franguinho e é isso?” É um chicken with rice. Não, é um chicken rice. É o nome da parada. O que é um chicken rice? Aí que eu entendi, o arroz é feito no molho do frango, em tudo do frango, então tem isso. E o frango, em si, é um frango normal. Só que se você ver a comida normal, você tem que botar o ginger, o chili e o sauce e comer e eu amo. Agora eu não como mais frango, já tem dois anos, mas é a minha comida favorita, foi muito durante muito tempo.
E o louco disso é que o Singapuriano, por estar importando muita coisa da Ásia inteira, eles falam assim, “Cara, o Singapuriano vai pra Tailândia e fica puto que a comida da Tailândia não é tão boa igual a comida tailandesa que faz em Singapura.” Ótimo exemplo, assim, no Rio a gente come um bacalhau bom pra caramba. Não sei se é tão bom quanto o de Portugal. Mas, às vezes, é uma coisa dessa. Japonês em São Paulo, você vai num (restaurante) japonês em São Paulo, é muito bom.
Alexia: É só pegar feijoada que, desculpa, ninguém consegue fazer feijoada aqui, só lá no Brasil, sabe? É exatamente isso.
Nuno: Exato. Então eles são muito, o Singapuriano é muito proud da cozinha internacional deles, das misturas. E a bebida principal daqui se chama bubble tea. Chegou no Brasil tem pouco tempo, mas é, cara, é tipo uma maquininha... Aí quando fecharam, você não podia comer durante a pandemia, né? As lojas iam fechar, só ia poder fazer take away, né? E até take away, alguns lugares foram fechados por um tempo, não sei. Cara, a fila pra pegar bubble tea na noite anterior dava volta no quarteirão, as pessoas…
Alexia: Meu Deus.
Nuno: E tem uma coisa engraçada, por ser um país menor que São Paulo aqui. É muito pequeno, é menor que o Rio, na verdade. A população é quase do tamanho do Rio. A mídia social do país é muito saturada. Então, cara, acontece alguma coisa, todo mundo fica sabendo. É quase que lojinha de bairro. Aí você falou, “como é que é ser gringo aqui?” Cara, hoje a gente se sente diretamente, I feel… Como é que se fala em inglês? I feel affected... Me sinto afetado… Esqueci a palavra agora, mas é triggered. Me sinto triggered de tudo que acontece porque… Por causa das regras, rolou muita coisa doida aqui. Por exemplo, tem que andar de máscara, é obrigado a andar de máscara. Você tá sem máscara, é assim, se você tá sem máscara, todo mundo na rua vai ter uma máscara extra para te dar. “Ei, por favor, bota essa máscara. Por favor, por favor.” Teve um cara gringo…
Alexia: Óbvio.
Nuno: Que estava no metrô, se recusou a colocar a máscara, “Não vou botar.” E aí filmaram, óbvio. E aí tem um site chamado Mothership que posta tudo que acontece, é quase O Povo do Brasil. O Povo, o jornal, aquele que só tem doideira. Cara, e o cara foi condenado, tá respondendo agora. E no dia que ele foi no court, ele foi sem máscara.
Alexia: Ai Meu Deus! Mas que ponto que ele quer provar, né? Não faz o menor sentido isso.
Nuno: Não faz. E ele estava ali e, no dia que ele foi no court, lá na corte, tinham milhares de pessoas com a câmera esperando. Falou, “Eu quero ver esse cara passar, porque eu sei que é hoje.” Jornalista, tudo. Então a gente faz uma piada entre os gringos, né? Os expats. A gente aqui se chama de expats por ser expatriados. Nós somos expats aqui. Que é assim, “Galera, não dá vacilo não, porque se você for local, ninguém vai nem olhar pra tua cara. Agora, se tu for um gringo, ainda mais com essa cara de nórdico, olhinho claro. Deu um vacilo, anda sem máscara, anda com mais de duas pessoas… Cara, você fica com medo de alguém fazer um vídeo teu.” Então a gente morre de medo de cair na net basicamente, de sofrer bullying.
Alexia: Parece a época do Fotolog, né? Que vão tirar uma foto sua e colocar no Fotolog de alguém e falar, “Ih, a pessoa tava lá na festa.”
Nuno: Exato.
Alexia: Exatamente isso. Agora, sobre isso dos expats, porque eu tento, de uma certa forma, fazer amizades com a maior parte dos portugueses que eu consigo, até pra entrar na cultura deles, né? Para você realmente ter amigos. Só que o que eu sinto aqui, é que você consegue fazer muito mais amizades com os internacionais do que com os locais em si. Por que? A gente sabe o que cada um está vivendo, né? Ter saído de casa, ter saído do próprio país, ter que se adaptar a outra cultura sempre é uma questão muito grande. Cada um tem uma forma diferente de lidar.
E, às vezes, os portugueses, primeiro, não entendem, “O que que você está fazendo aqui em Portugal? Tipo, num país tão pequeno, só com 10 milhões de pessoas. Por que você veio pra cá?” E segundo, “Por que não outro lugar do tipo, por exemplo, aqui em cima, Madrid, sabe? Que é uma cidade muito mais desenvolvida na Espanha do que Portugal em si.” E a gente, por exemplo, eu tenho amigos da Turquia, eu tenho amigos que é uma portuguesa com um britânico. E é mais ou menos isso, sabe? São os internacionais. Aí você é mais amigo dos internacionais também?
Nuno: É, tem essas divisões que são os internacionais, os internacionais brasileiros e os locais. Aqui, obviamente... Singapura, no início, a primeira vez que eu vim, eu tinha muito mais amigos misturados. Tanto brasileiro quanto… É quase 30, 30, 30. E eu tinha muito amigo local, na época. Como eu contratei a empresa do zero, o meu melhor amigo daqui era Cingapuriano. Ele ainda é um grande amigo meu, agora ele teve dois filhos, a vida mudou bastante, mas enfim.
E eu acho que tem uma coisa assim, você ser expatriado faz com que eles queiram, obviamente, tem aquele prazer de te mostrar o mundo deles. “Ah, você acabou de chegar? Você é o newcomer aqui.” Ele quer fazer aquele tour do chicken rice, do chili crab, ele quer te mostrar isso tudo. Mas dificilmente você vai estar no dia a dia dele, a não ser que você more próximo ou você realmente mantenha com mais intensidade. Porque entre eles, eles também tem essa divisão, até entre quem é chinês, quem é malaio, quem é indiano. Eles tem essa mini subdivisão ali. Então a relação que você tem é muito mais ligada ao seu profissional, que é sair pra beber com o pessoal do trabalho que é local. Isso é comum.
Mas rola assim, fim de semana, a galera some. Não tem essa… E na época que eu era, obviamente, chefe de todo mundo, eu era muito social. Eu sou realmente um… pra eles, eu sou uma exceção dos expatriados. O pessoal falou, “Po, expats vem pra cá, os caras não querem sentar no food court pra tomar uma cerveja e comer. Eles querem ir em restaurante comer...” É que aqui tem muita opção bacana pra ir. Só que eu também tenho uma parada, eu sou designer. Eu falei, “Cara, eu não sou rico, não ganho pra caramba, sabe? Eu quero tomar uma cerveja de garrafa, não porque eu curto só o lugar, apesar de um curtir o lugar. Eu me recuso a pagar.” Aqui é muito caro, um chope no restaurante é 15 dólares... Um chope.
Alexia: Meu Deus!
Nuno: Nesse lugar que eu falei que o cara falou “Fuck off...” é $7 a cerveja de 600ml, a garrafa. Então assim, proporcionalmente…
Alexia: Compensa muito, é.
Nuno: Compensa muito. E a comida mais ainda. O chicken rice que eu te falei, custa 4, 5 dólares. O mais caro… Outro dia eu falei pra ele, “Po, paguei $6 num chicken rice.” Aí ele, “Não, cara, chicken rice é $3.” Só que você vai no restaurante western comer um fish & chips inglês, você vai pagar 15 a 20 dólares.
Alexia: É muito caro.
Nuno: Então é muito mais caro. Mas enfim, o que que eu quis dizer disso, né? Como é que você se mistura e tudo mais. Por isso que você acaba muito… Se você trabalha com essas pessoas, é muito normal você sair, você ter uma... A cultura do happy hour aqui… Eu to falando também época do pré-covid, mas era muito grande, de você sair e fazer uma coisa ou outra. E fim de semana é cada nacionalidade no seu lado. Inclusive, os franceses aqui são próximos uns dos outros. Os brasileiros são muito próximos.
Tem tipo, lugares que você vê que é onde mora a maioria dos brasileiros. O pessoal que eu trabalho, tem muita gente quem, às vezes, é o braslieiro. Cara, todo mundo mora na mesma rua. Tudo bem que é uma rua grande, mas... Aí o pessoal, “Ah não, é a área dos expats e a maioria é brasileiro, francês, alemão.” Obviamente tem um bairro Holland Village. Não tem nada necessariamente ligado a quem é holandês e quem não é, mas tem um clube lá que é um clube onde muitos holandeses frequentam. Então tem essa coisa também de qual clube você vai. E eles tem essa coisa do… Na Little India é onde estão todos os indianos, locais ou não. Então tem meio que essa divisão, sabe?
Alexia: É muito interessante isso. Que é uma coisa que você não vê nos outros lugares muito internacionais assim. Você vê mais, por exemplo, nos Estados Unidos, infelizmente tem a questão dos negros e dos brancos, então realmente vai ter essa separação. Aí também tem os judeus, né? Que tem o bairro judaico. E aí tem um bairro árabe e etc. Mas especificamente dessa forma, tipo, Brasil, com holandês e etc, eu, pelo menos lá, onde o Foster mora, eu não vejo muito essa separação. Claramente tem em outros lugares, mas em South Carolina, na Carolina do Sul, não tem isso.
Nuno: Não tem.
Alexia: Não tem, não. Lá é muito mais uma questão de pele do que de onde você é, especificamente. E como é que é seu sotaque, né? Se o seu sotaque for muito latino, já te olham assim, “Da onde você é? É mais uma mexicana ou não?” É mais ou menos isso.
Nuno: E eu acho que, culturalmente, também tem uma coisa não só sobre o local que você mora, mas o tipo de moradia. Tem umas coisas assim, por exemplo, eles têm aqui três formas. Eu tô excluindo casa, porque casa é casa. Tem os condos que são os condomínios, igual um condomínio no Brasil, etc, no Rio, Ipanema, etc. E tem o que eles chamam de HDB, que são os prédios, sabe aquelas campanhas que o governo faz, cria várias casas iguais e a população mais pobre consegue comprar? Singapura fez isso há alguns anos, eles criaram um programa que é, todo cingapuriano até tal ano vai ser milionário, eles criaram essa coisa.
Como assim, vai ser milionário? Falou, “Todo mundo vai poder comprar um apartamento do governo...” E você financia de uma forma muito diferente da gente, eu vou explicar, e ele acredita que isso vai valer um milhão de dólares, então todo cingapuriano vai ser milionário. É o claim que ele quer fazer. E eu, por ser gringo, olha que doideira, se você comprou um HDB, você é cingapuriana, vou te falar como é que você compra. Você e Foster namoram, tá? Vocês não são casados ainda, vocês já estão namorando há 5 anos e vocês pensam em casar, mas vocês não casaram ainda.
Alexia: É exatamente a minha vida, tá? Nesse momento.
Nuno: Ah é? Então tô aqui lendo seu tarô, sua carta, mas enfim.
Alexia: Exato.
Nuno: Antes mesmo de você botar um anel, um botar um anel no dedo do outro, vocês vão assinar um contrato e fazer um pedido pra comprar um HDB enquanto namorando. E esse pedido é uma loteria, vai ficar lá no governo, pode demorar 2 meses, 5 anos. Um certo dia, você vai receber uma carta, uma ligação do governo falando assim, “Ei Alexia e Foster, vocês foram sorteados. Vocês tem até data tal pra trazer os documentos.” E os documentos que vocês têm que trazer é a certidão de casado.
Alexia: De casamento…
Nuno: É, você tem uma certa data. Então assim, a galera corre pra tipo, “Não... Beleza, vai.” Então é muito comum, a ordem é, compra uma casa, peço em casamento, depois casa, sei lá, às vezes demora, às vezes não, depende. E aí tem uma coisa muito louca, essa casa, quando você ganha um sorteio, não é uma casa que existe e você vai morar daqui a 2 meses.
Alexia: Ainda vai ser construída.
Nuno: É uma casa que vai ficar pronta daqui a dois anos. Então você fica namorando, casada com o papel, casada no civil por mais dois anos, nesse período. E nesse tempo, pagando as prestações já, vocês já começam. Você foi sorteada, mas está na frente. Em algum momento você vai casar, e depois que você casar que você vai morar no HDB ou não. Só que é muito comum as pessoas casarem, o apartamento não tá pronto, e a família aqui é muito, “Você casou, você tem que morar junto.” Então você tem que morar na casa da família e o cara mora com os pais ainda, então você tem que morar lá. Cara, então assim, é uma confusão.
Mas de resumo, vocês dois casaram finalmente, estão morando no apartamento, vocês são Cingapurianos e tem três quartos, tá? Legal. Ai vocês vão morar nos Estados Unidos por algum motivo. “Ah, vou passar dois anos nos Estados Unidos. Vamos alugar o nosso HDB?” “Vamos.” Eu não posso, de novo, você não comprou esse HDB, você tem ele por 100 anos, by the way, é muito louco. Que é o quanto você vai viver, a expectativa de vida. Só que não passa pros filhos, sei lá quem vai ficar com aquilo, mas enfim.
Alexia: É isso que eu ia falar, tudo bem que eu não vou viver até os 100, mas e os filhos, sabe? E a família.
Nuno: Eles te compram o HDB deles, é nesse ponto. Aí o lance todo entra, eu quero alugar de você, eu sou brasileiro. Legal. “Eu quero alugar o seu HDB.” “Ah legal, é um apartamento aqui de 2 quartos e pouco.” Você fala, “Mas peraí, não são 3 quartos?” “Não, são dois.” Porque um dos quartos você não pode alugar, porque esse apartamento não é seu, então você não pode alugar ele pra mim. Você mora lá ainda, você pode alugar todos os quartos, menos um dos quartos.” Então se eu quiser morar num HDB, eu vou morar num apartamento, você não vai estar lá, obviamente, mas um dos quartos eu não vou ter a chave, ele vai simplesmente estar fechado durante o tempo inteiro. Então...
Alexia: Mas assim, quem é que fiscaliza se aquele quarto está realmente fechado ou não?
Nuno: Tem fiscal…
Alexia: Ah, sério?
Nuno: Tem. E tipo, tem disso toda hora, então eles sabem e vizinhos sabem. Ou seja, é praticamente impossível você ver um expat morando num HDB.
Alexia: Então…
Nuno: Por N razões.
Alexia: Você, por exemplo, não mora num HDB.
Nuno: Não moro num HDB. Adoraria, são ótimos, as plantas são maravilhosas. Eu poderia morar lá se eu dividisse apartamento com um amigo Cingapuriano, mas… Então é umas coisas muito doidas, sabe? Por exemplo, o condomínio que eu moro é bem simples, mas tem uma piscina pequena e tem uma academia pequena. HDB nenhum tem piscina ou academia, então é um prédio, não tem nem porteiro, na verdade. É aberto, qualquer um anda, qualquer um chega na porta da tua casa e bate.
Aqui tem um porteiro, então o valor do condo é sempre um pouco a mais. Ai vai uma outra coisa curiosa, você provavelmente vai achar graça, tem a ver com isso também. No Brasil, se você vira pro teu pai e fala, “Pai, quanto é que você ganha?” Ele vai falar, “Não te interessa.” Você pergunta pro teu melhor amigo que você conhece há 20 anos de idade, você pergunta, “E aí, quanto é que tu ganha no Itaú Unibanco?” “Como assim? Não sei. Eu ganho bem.” Ninguém fala o salário pra ninguém, né? Tá.
Você chega em Singapura, primeira semana minha aqui, trabalhando aqui, tinha contratado já uns locais para trabalhar com a gente e tal. Amigão meu, “Vamos dar uma volta?” “Vamos.” “Legal. Onde é que você está morando?” “Ah, tô morando na River Valley” “Tá, vamos se encontrar em tal lugar.” Aí ele falou, “Ah, você veio como?” Falei, “Peguei o ônibus aqui legal” Aí ele, “Ué, você veio de ônibus?” “É.” “Ah, sei lá, achei que você ia pegar táxi, os expats adoram pegar táxi." Eu falei, “Não velho, não vou pegar táxi, tá maluco?” Ele falou, “Ah, você mora na River Valley.” Eu, “Qual o problema?” Aí ele, “Ué, River Valley você paga…” Eles sabem os valores dos aluguéis, né? Ele falou, “Ah, paga isso.” Eu falei, “É, isso aqui.” Aí ele falou assim, “Mas o seu salário é bom, né?” Aí eu falei, “Ah, é okay.” Aí ele falou, “Quanto é que eles tão te pagando?” Eu era o gerente dele. Aí eu, “Porra, Alan, eu fico bem desconfortável de te falar isso, você trabalha comigo e tal.” Aí ele, “Ah, beleza.”
Aí foi a primeira coisa. Quando você vai conversando com todo mundo, todo mundo vai falando que é muito normal. E muita mulher pergunta pra outro quanto o seu marido ganha. Ah Dani falou, “Nuno, todo mundo fala, ‘How much does your husband make a month? How much to pay the rent? How much to pay for this?’” Você tá com uma bolsa, “Quanto é que você pagou nessa bolsa?” Então é um país completamente transparente em relação à grana. E eu era gerente dessa galera toda, e eu me liguei, eu falei, “Cara, todos eles querem um plano de carreira, querem saber.” Eu falei, “Vamos fazer então, vamos desenhar, todos vocês ganham, vocês estão no mesmo nível. Tá aqui, é de tanto a tanto.”
Tive que desenhar uma linha do tempo. “Ah, em quanto tempo eu vou estar ganhando o que você ganha?” Aí eu falei, “Mermão, se você chegar no ponto e tiver uma vaga de gerente e acima e tiver conta para justificar dois gerentes, quem sabe? Ou então, eu vou morar em outro país e você toma. Mas uma pessoa vai conseguir, não tem como... Vocês quatro não vão ser quatro gerentes em quatro anos.” Aí ele fica, “Ah, entendi.” Então Cingapuriano é muito pensado em resultado, desde criança. Eles são treinados a… Você vê que assim, Singapura não ganhou nenhuma medalha esse ano nas olimpíadas. E no Rio, eles ganharam a primeira medalha da história, e foi uma medalha de ouro na natação. Ganharam do Phelps, o cara foi sucesso. Então as expectativas nesse cara esse ano foram absurdas.
Alexia: Coitado.
Nuno: E ele não passou da fase… Então assim, ele não passou, a equipe do ping-pong não passou, o cara do salto triplo chegou na final, mas não ganhou nada. Então assim, o jornal teve que fazer matéria explicando, “Gente…” Porque a mídia social estava caindo em cima do cara, de todo mundo. E o pessoal teve que explicar, “Olha, não se faz isso, calma aí. Não é porque não ganhou medalha...” O país tem muita dificuldade, sabe?
Alexia: Isso é engraçado, porque eu vejo muito a cultura americana nessa forma também. Por exemplo, entre os amigos do Foster... Amigos, né? Não pessoas que você não conhece, todo mundo pergunta, “Quanto você faz por ano? Quanto você ganha? Como é que está seu trabalho?” E etc.. E é mais pra entender a qualidade de vida que a outra pessoa está tendo em relação, por exemplo, à ser produtivo ou não, a trazer resultados ou não. É mais uma curiosidade do que trazer resultados. Mas eu entendo Singapura ser mais ou menos assim porque, de novo, é um lugar muito novo e precisa, né?
Nuno: Precisa.
Alexia: Preciso disso. Agora, Nuno, eu tenho uma pergunta… Duas perguntas, na verdade, para fazer pra você pra gente começar a encerrar a nossa conversa. A primeira é, Singapura é casa, Brasil é só pra visitar?
Nuno: Por enquanto, sim.
Alexia: Tá. É igual a mim.
Nuno: É muito difícil responder, mas por enquanto sim.
Alexia: Sim, igual a mim. Eu, por enquanto, vejo Portugal como a minha casa e o Rio de Janeiro, Brasil, para visitar a família e amigos. E eu tô super tranquila com isso, não tem problema algum.
Nuno: Sim.
Alexia: É. E a minha segunda pergunta é, eu tô perguntando pra todo mundo aqui, um lugar no Brasil que não seja clichê, por exemplo, Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Salvador e etc, pras pessoas visitarem. Então, por exemplo, já tive aqui Lençóis Maranhenses, já tive Ibitipoca, eu já tive Chapada Diamantina, já tive vários lugares assim que nós, brasileiros, sabemos, né? Escutamos falar, mas não necessariamente é muito famoso na comunidade internacional. Você tem um ou dois lugares que você gostaria de indicar para as pessoas?
Nuno: Cara, é uma… Não é pra qualquer ouvinte a minha dica, mas assim, quase todo turista que vai pro Brasil, vai visitar o Rio e vai visitar São Paulo, né? Isso é muito comum. Ou pousou em São Paulo e vai até o Rio. Tem um lugar que eu sou apaixonado assim, que é Mauá, que fica... Visconde de Mauá, na verdade, que fica entre Rio e São Paulo, ali naquela divisória.
Só que a recomendação não é só ir pra Mauá, é fazer a trip toda, que é conhecer um pouco de Penedo, conhecer ali aquela área talvez até Itatiaia, não necessariamente mas Maromba e Visconde de Mauá, porque eu acho que é… Porque não se chega de avião, acho que muito turista tem dificuldade, às vezes, de chegar lá, e eu acho que é muito legal, dependendo da tua fase. Se tu vai com muita criança, talvez não tanto, mas casal mais jovem, assim, grupo de amigos, eu super recomendo Visconde de Mauá e arredores.
Alexia: Eu costumo falar que, se os Finlandeses conseguirem chegar até Penedo, qualquer pessoa consegue. Então assim, vai, só vai.
Nuno: Sim. Eu lembro a primeira vez que eu indiquei um amigo do Rio pra ir lá, ele nunca tinha ido. Eu falei, “Cara, vai lá. E melhor, deixa pra ir no inverno, tu vai ter um lugar chamado Vila do Papai Noel.” Aí ele, “Como assim, cara?” Aí eu, “Não vou te dar spoiler não, só vai.” E ele foi e tal, estava com a namorada, né? Porque ele falou, “Cara, programa mais romântico que tem é ir pra Penedo no inverno, cara. Por que eu nunca fiz isso antes?” Eu falei, “Cara, pra mim é muito melhor que Campos do Jordão, essas paradas assim.”
Alexia: Eu amo Penedo, adoro.
Nuno: É muito bom.
Alexia: A vó da minha melhor amiga mora lá, então a gente sempre vai, tanto no verão quanto no inverno. Verão para aproveitar as cachoeiras e etc. Fábrica de chocolate.
Nuno: É muito bom.
Alexia: E aí, inverno era pra comer fondue, ir visitar o Papai Noel e etc. É muito gostoso, eu adoro.
Nuno: É muito bom.
Alexia: É. E outra dica, ou tá tudo bem?
Nuno: Cara, outra dica acho que de lugar talvez é… E aí entra mais assim, o nordeste em geral. Eu tenho muita família lá, e quando eu era criança eu ia muito pra Maceió visitar meus primos, né? De novo, não é só ir pra Maceió e ficar ali. É pegar o carro e subir pras praias, Barra Bonita, esses picos todos ao redor de Maceió. Eu lembro que eu era criança, e a gente uma vez passava de carro e aí meus primos, “Ali é casa de PC Farias. PC Farias morava ali.” A gente ria pra caramba. O cara, coitado, morreu e tudo. Mas a gente passava assim ali e as praias lá eram muito legais, assim, a maioria desertas, lindas e muito pouco exploradas por turistas. Hoje em dia talvez tenha mais, mas muito bom.
Alexia: É, eu acho que depende da época que você vai. Se for no verão, verãozão, vai ser mais complicado. Mas tipo, como no Brasil é verão o ano inteiro, você não precisa ir especificamente quando todo mundo tá indo, então dá pra aproveitar. Nuno, olha, muito obrigado por você ter vindo. Espero que você tenha gostado. E com certeza a gente se fala futuramente, porque pós-pandemia vai ser um mundo completamente diferente e eu imagino que a Singapura vai ter muita mudança mesmo. Eu espero que dê tudo certo pra vocês e obrigada.
Nuno: É eu que agradeço. Obrigado pelo convite, e assim que puder visitar Portugal, sem dúvida, eu te dou uma ligada ai.
Alexia: Sim.
Nuno: E quando vier para a Ásia e arredores, dá um toque.
Alexia: Eu sou doida pra conhecer Singapura, sou muito curiosa. Então com certeza a gente vai comer o…
Nuno: Chicken rice.
Alexia: O chicken rice. Exatamente. Obrigada!
Nuno: Tchau tchau!