Transcription
(notes & annotations forthcoming)
Alexia: Nuno, o Bezerra sĂł tem coisas incrĂveis para falar de vocĂȘ.
Nuno: O que Ă© isso? NĂŁo, o Bezerra, a gente Ă© amigo hĂĄ muitos anos, a gente perde as contas atĂ©. E ele toda semana veio falar, âE aĂ, vocĂȘ jĂĄ gravou o podcast?â Falei, âCara, rolou uma parada aĂ meio doida queâŠâ Cara, acho que seu marido se vacinou, nĂŁo foi isso? Teve reação e tal.
Alexia: Sim, uma loucura. Ele ficou mal, tipo, uma semana. EntĂŁo assim, foi muito ruim pra ele, mas tudo bem, jĂĄ passou.
Nuno: Coitado. Mas eu falei com ele hoje, falei mais cedo, falei, âEntĂŁo, vai rolar o podcast.â Ele, âPo, que maravilha, nĂŁo sei o que.â Ele falou, âTĂŽ animado pra assistir.â
Alexia: E ele jå deve estar acordado lå, né? Indo ver algum nascer do sol ou qualquer coisa parecida.
Nuno: Eu falei pra ele, âVocĂȘ estĂĄ no fuso horĂĄrio da Europa, vocĂȘ acorda no horĂĄrio que o pessoal da Europa tĂĄ acordando, Ă© muito louco isso.â
Alexia: Ă. E Nuno, como Ă© que vocĂȘ e o Bezerra se conheceram? Foi colĂ©gio, faculdade, o que que foi?
Nuno: EntĂŁo, a gente entrou junto na faculdade de Design lĂĄ na ESPM, sĂł que o Bruno, ele sĂł fez um perĂodo e depois foi embora. Ele foi seguir fotografia. Ele falou, âCara, nĂŁo Ă© nada disso que eu quero.â Mas foi o suficiente pra gente ficar amigo, cara, pro resto da vida assim. Ă muito maneiro isso.
Alexia: Eu fiz ESPM também.
Nuno: Ah, Ă©? Do Rio.
Alexia: Do Rio. Sim.
Nuno: Po, que legal.
Alexia: Sim, sim. SĂł que eu fiz aquele curso que foi mais ou menos novo pra Ă©poca, que Ă© Administração com Ănfase em Marketing e Entretenimento.
Nuno: Cara, nĂŁo sabia nem que tinha isso lĂĄ. Que legal!
Alexia: EntĂŁo, pois Ă©. Foi uma coisa nova, eu tinha entrado pro IBMEC, zero a minha cara o IBMEC, e aĂ eu descobri esse curso, que era mais ou menos o que juntava assim de bom pra mim. E aĂ eu fui, entĂŁo eu fui de transferĂȘncia para a ESPM e amei. Amei a ESPM, do começo ao fim. Assim, eu fiquei apaixonada.
Nuno: Ah, legal.
Alexia: Ă. E vocĂȘ se formou em Design entĂŁo?
Nuno: Eu me formei em Design. Fui, inclusive, da primeira turma de Design da ESPM, é muito louco isso. Na época não tinha Design, a gente não teve veterano de Design, a gente levou trote da turma de comunicação. Os professores mudaram o curso ao longo do nosso curso, um monte de coisa. Então a gente foi meio que⊠A gente fala que a gente foi cobaia e pioneiro ao mesmo tempo.
pioneiro - pioneer
Alexia: E Ă© um mixed feelings nĂ©? Disso tudo, porque assim⊠E tambĂ©m, Ă© um super cobaia, porque o meu curso tambĂ©m foi o primeiro ano. Eu tinha entrado de transferĂȘncia, mas a mesma coisa do que vocĂȘ, tipo, eu nĂŁo tinha nenhum veterano, nada pra contar pra gente, sabe? O que que era, como Ă© que era, etc. EntĂŁo⊠Mas deu certo, deu super certo.
Nuno: Ah, que bom.
Alexia: Ă. EntĂŁo vamos lĂĄ, me conta sobre vocĂȘ. VocĂȘ nasceu no Rio, nĂ©?
Nuno: Sim.
Alexia: Pelo o seu sotaque, nĂŁo nega, obviamente. E garoto do Rio, sempre foi e Ă© isso?
Nuno: Cara, eu nasci no Rio tem 38 anos jĂĄ. E era muito engraçado, porque eu sĂł saĂ do Rio quando eu me formei na faculdade. EntĂŁo, eu tinha um sotaque muito de Carioca no inĂcio da minha carreira, e eu ia pra SĂŁo Paulo, eu fui pra SĂŁo Paulo trabalhar, e aĂ o pessoal ficou âĂ o Carioca. Po, aqui nĂŁo Ă© essa moleza do Rio nĂŁo, nĂŁo sei o que. Aqui a galera trabalha, ninguĂ©m vai pra praia.â E aĂ, um ano depois, eu comecei a visitar o Rio de novo, todo mundo assim, âE esse sotaque de paulista, cara? Da onde tĂĄ surgindo?â EntĂŁo eu perdi muito rĂĄpido o sotaque, mas ainda mantenho um pouco aqui.
mantenho - keep
Alexia: NĂŁo, vocĂȘ ainda tem sotaque de Carioca. Eu acho que o seu Ă© o mesmo nĂvel do que o meu, nĂŁo Ă© nem tĂŁo super, hiper, mega, mas tem ali o nosso S, o nosso R. Ainda tĂĄ aĂ, ainda existe.
Nuno: Sim. Eu falo que eu sou uma esponjinha, se eu fico conversando sĂł com um Carioca em uma tarde, no final do dia eu tĂŽ falando igual funkeiro jĂĄ. E se eu fico muito prĂłximo de paulista, pessoal do sul ou de outras cidades, eu evito puxar o R do Carioca, sabe? Ă muito estranho isso, Ă© quase que um volume do som que eu vou ajustando pra esquerda, pra direita.
funkeiro - someone who sings Brazilian Funk Music
Alexia: Comigo Ă© mais o (sotaque) cantado, sabe? EntĂŁo, por exemplo, se eu fico com a minha famĂlia de Minas, com os mineiros por muito tempo, eu começo a ficar cantando que nem eles, mas eu nĂŁo perco o R, nem o S, eu sĂł começo a ter entonação âa la mineiroâ, sabe?
Nuno: Sim.
Alexia: E aqui em Portugal, tem algumas coisas também que eu jå peguei, principalmente na escrita. Então tem isso.
Nuno: Bem legal.
Alexia: Ă. E aĂ, em Singapura, que vocĂȘ estĂĄ aĂ, como Ă© que vocĂȘ foi parar aĂ, na verdade? Como Ă© que vocĂȘ chegou atĂ© aĂ?
Nuno: Cara, entĂŁo⊠Eu me formei em Design, comecei a trabalhar, jĂĄ tinha mais ou menos uns 3-4 anos de mercado. E aĂ eu entrei pra uma empresa que a filial dela Ă© na Ăfrica do Sul, nĂ©? O headquarters ficava na Ăfrica do Sul. Eu jĂĄ tinha visitado eles algumas vezes, passado um mĂȘs, dois meses de treinamento. E em algum momento, essa empresa decidiu abrir filial em Singapura para atender um cliente na Ă©poca. E era muito engraçado, porque eu sempre quis morar fora, e na Ă©poca eles tinham um escritĂłrio em Londres, era o meu sonho, âEu quero morar em Londres, quero morar em Londres.â
Eu me formei em Design - I graduated in Design
AĂ eles falaram um dia pra mim, falou, âOlha cara, a gente estĂĄ abrindo escritĂłrio na Ăfrica do Sul, a gente tem que mandar alguĂ©m lĂĄ e vocĂȘ jĂĄ tĂĄ praticamente indo morar em outro paĂs.â Eles estavam pra me mudar pra Ăfrica do Sul. Eles falaram, âPorque vocĂȘ nĂŁo vai para Singapura?â DaĂ eu, âSingapura? Como Ă© que escreve?â Eu tive que ir no mapa, eu nĂŁo sabia onde ficava. Eu abri o Google Maps na Ă©poca para ver. Eu falei, âCaraca, Ă© uma cidade da MalĂĄsia? Ă um paĂs? Como assim? Que lĂngua que fala lĂĄ?â E eu me mudei pra cĂĄ sem nunca ter vindo visitar, sabe? Foi muito louco isso.
Alexia: Eu tĂŽ imaginando vocĂȘ olhando no mapa e falando, âMeu Deus, pra onde que eu tĂŽ indo?â Sabe? âComo Ă© que chega? Quanto tempo dura a viagem?â
Nuno: E o mais louco foi assim, hoje em dia vocĂȘ conhece muita gente que jĂĄ visitou Singapura, nĂ©? VocĂȘ consegue chegar nesse ponto jĂĄ. Mas na Ă©poca, foi em 2012 isso, a Ășnica referĂȘncia de Singapura que eu tive, que eu descobri depois de falar com algumas pessoas foi, a minha irmĂŁ na Ă©poca, hoje ela tĂĄ casada com ele, mas na Ă©poca eles ainda namoravam, ela namorou o Bernardo que fez INSEAD aqui em Singapura, que Ă© um curso de masters. Ele fez um mĂłdulo aqui, ele passou mais ou menos um mĂȘs ou dois aqui. SĂł que o Bernardo e eu, a gente nĂŁo era super brother de trocar altas ideias, entĂŁo eu sĂł virei e falei, âCara, tĂŽ sendo transferido para Singapura, o que que vocĂȘ acha? VocĂȘ acha que eu vou curtir?â AĂ ele sĂł falou assim, âCara, vocĂȘ ama tecnologia, vocĂȘ ama andar com cĂąmera, laptop. Cara, jĂĄ Ă© teu lugar. Todo mundo lĂĄ anda com laptop no ĂŽnibus, no metrĂŽ, em qualquer lugar. Ă os Estados Unidos da Ăsia.â Eles chamam âĂsia pra beginners.â AĂ eu, âCara, Ă© isso aĂ.â Me deu conforto, nĂŁo tem erro, vamos embora.
Alexia: Que incrĂvel. EntĂŁo espera aĂ, antes de vocĂȘ morar em qualquer outro lugar fora, vocĂȘ foi direto pra Singapura mesmo, vocĂȘ nem passou na Ăfrica do Sul, vocĂȘ foi direto pra aĂ?
Nuno: EntĂŁo, morar morar mesmo, eu passei assim, dois meses na Ăfrica do Sul, que a gente nĂŁo chama nem de morar, porque eu nĂŁo tinha visto pra morar, era um visto de turismo que eu ia pra fazer treinamento, atender reuniĂ”es que Ă© possĂvel. E aĂ, o primeiro visto de morar fora, foi vir pra Singapura. E atĂ© entĂŁo eu ia ficar 6 meses, 8 meses assim atĂ© o final do ano. Cara, vim de mala e cuia, fiquei. Eles falaram, âCara, quer renovar por mais um ano ou dois?â A gente foi renovando visto. Cara, na Ă©poca eu tava namorando, a minha namorada veio, a gente ficou, a gente casou em Singapura, ela pegou o visto, veio morar comigo.
Eu vou acelerar, mas depois a gente para de volta. E dois anos, trĂȘs anos depois morando aqui em Singapura, era importante que eu ficasse um perĂodo na Ăfrica do Sul, porque a gente estava montando uma equipe lĂĄ, num projeto. E eu achei que era a melhor coisa. âQuer saber? Vamos embora, Ă© outra experiĂȘncia, vamos embora.â AĂ fui com a minha mulher. SĂł que teve um problema, apesar de ser maravilhoso, a Ăfrica do Sul, tipo, Ă© lindo lĂĄ, tanto pra visitar quanto pra morar, a parte de visto Ă© um pouco diferente, a minha mulher nĂŁo podia trabalhar. EntĂŁo o visto nĂŁo permitia ela a trabalhar at all. EntĂŁo o que ela fez foram coisas assim, a gente chama de trabalho informal. Nessa Ă©poca ela estava começando a aprender fotografia, ela estava começando a estudar. Cara, ela colou em uma fotĂłgrafa de casamento e tudo que ela hoje sabe, hoje ela Ă© fotĂłgrafa, exatamente, faz isso profissionalmente, ela aprendeu muito nessa Ă©poca. EntĂŁo foi bacana, foi legal.
E aĂ, depois de um tempo, eu acabei decidindo que eu queria voltar pra Singapura, da Ăfrica do Sul. Falei com o meu chefe, falei, âOlha cara, entĂŁo, dĂĄ pra eu voltar para Singapura? VocĂȘ consegue me transferir de volta?â DaĂ ele, âEntĂŁo, na verdade eu queria ver se vocĂȘ nĂŁo quer ir pra Nova Iorque.â DaĂ eu, âNĂŁo, pera aĂ cara, nĂŁo⊠Eu jĂĄ combinei com o pessoal da equipe de Singapura, tĂĄ todo mundo okay.â Ele falou, âĂ entĂŁo, mas...â AĂ futuramente a gente descobriu o que tinha acontecido, eles iam fechar o escritĂłrio de Singapura e o escritĂłrio do Brasil, que foram os dois que eu tinha trabalhado e começado. EntĂŁo eu falei, âEntĂŁo ir pra Nova Iorque Ă© quase que Ă© isso ou Ă© isso, nĂ©?â AĂ ele falou, âĂ. Tem outros escritĂłrios, o que vocĂȘ acha?â AĂ eu falei, âNĂŁo cara, Nova Iorque, vamos embora agora! Onde Ă© que eu assino?â
E fui pra lĂĄ, fiquei dois anos. Depois disso a gente começou a pensar se a gente queria voltar para Singapura ou nĂŁo. AĂ a gente saiu um pouco de Nova Iorque, deu dois anos e eu falei, âCara, quer saber? Vamos ficar um tempo no Brasil.â Deu dois meses, meu ex-chefe que estava aqui em Singapura falou, âCara, vocĂȘ nĂŁo quer voltar pra cĂĄ nĂŁo? A gente te ajuda a abrir a sua empresa. Eu sei que agora vocĂȘ estĂĄ fazendo freelancer e tal. Ă bem mais fĂĄcil do que fazer isso em outro paĂs.â Eu falei, âCara, Ă© mesmo? SerĂĄ que eu consigo?â Ele, âCara, vem.â E isso tem dois anos. Eu vim, e desde entĂŁo nunca saĂ daqui mais, porque teve pandemia e a gente tĂĄ preso aqui tem quase trĂȘs anos.
Alexia: Ă verdade.
Nuno: EntĂŁo, total tem cinco anos de Singapura, dois de Ăfrica do Sul, dois de Nova Iorque, dois e meio mais ou menos de Nova Iorque.
Alexia: E assim, Nuno, o que eu entendi Ă© que Singapura Ă© o lugar que realmente vocĂȘ realmente considera como casa, nĂ©? Assim, vocĂȘ vĂȘ aĂ como tem tudo a ver comigo, eu gosto, eu gosto das pessoas, da forma que as pessoas lidam com o dia a dia, porque⊠à engraçado, porque eu nunca conheci ninguĂ©m que tenha morado em Singapura. Eu conheço uma ou duas pessoas que passaram por Singapura voltando de algum lugar da Ăsia, sabe? âAh, vamos passar lĂĄ pra ver como Ă© que Ă©.â Mas assim, o que a gente escuta Ă©, Ă© um lugar incrĂvel, mas tem muitas regras, Ă© muito regrado. E aĂ eu nĂŁo sei como Ă© que vocĂȘ, brasileiro, que convenhamosâŠ
Nuno: Carioca.
Alexia: Ă, Carioca, que a gente nĂŁo estĂĄ acostumado com tantas regras, principalmente governamentais, como Ă© que foi essa adaptação pra vocĂȘ?
Nuno: Cara, vocĂȘ fez exatamente um comentĂĄrio que todos os meus amigos fizeram na primeira vez que eu vim pra cĂĄ. Era assim, âPera aĂ, eu consigo me ver indo para Singapura, eu nĂŁo consigo te ver morando aĂ por mais de um mĂȘs, como Ă© que vocĂȘâŠâ E aĂ começa um monte de coisa, vĂĄrias leis e tudo, tolerĂąncia zero para qualquer coisa. Um exemplo bem bobo Ă©, atravessar fora da faixa (de pedestres) aqui dĂĄ multa. EntĂŁo cara, quem mora no Rio⊠O Rio nem tem quase sinal (de trĂąnsito), Ă© tipo, vocĂȘ torce pra⊠VocĂȘ olha os dois lados, nĂŁo estĂĄ vindo carro, vocĂȘ atravessa.
Alexia: A gente atravessa na diagonal, a gente nĂŁo atravessa na faixa, a gente atravessa na diagonal.
Nuno: Exato. E a gente veio pra cĂĄ, mas aĂ eu acho que cada lugar que vocĂȘ viaja, obviamente vocĂȘ absorve a cultura, mas eu acho que Ă© como se fosse um videogame, ele dĂĄ um unlock em coisas de vocĂȘ que vocĂȘ nĂŁo conhecia. E aĂ eu acho que comigo, o que aconteceu foi assim, nĂŁo que eu goste de regras, mas quando eu tĂŽ num ambiente mais controlado, Ă© quase um videogame.
Eu to jogando na fase, eu nĂŁo consigo atravessar essa parede porque eu nĂŁo tenho a chave, e Ă© isso, eu nĂŁo tenho, acabou. Eu nĂŁo fico tentando atravessar aquela porta, porque eu nĂŁo posso, porque eu nĂŁo tenho a chave. Eu nĂŁo estou no level... EntĂŁo Ă© quase que isso, eu tĂŽ aqui⊠Agora, por exemplo, as regras governamentais por conta da pandemia, Ă© muito louco isso. AtĂ© agora⊠Mudou essa semana agora, mas atĂ© entĂŁo, sĂł podia sair em duas pessoas, que sĂł pode sair em grupo de duas. E se vocĂȘ tem uma famĂlia, vocĂȘ tem dois filhos, vocĂȘ, seu marido, duas crianças, vocĂȘ vai num restaurante, vocĂȘ tem que sentar em mesas separadas.
Alexia: Meu Deus!
Nuno: VocĂȘ e seu filho, seu marido e a sua filha. NĂŁo pode pedir prato para dividir entre as duas mesas. Na hora de pagar a conta, sĂŁo duas contas separadas, mas vocĂȘ saiu do restaurante, vocĂȘ pode entrar num tĂĄxi e voltar para sua casa. Ă⊠EntĂŁo querendo ou nĂŁo, as regras sĂŁo muito ainda⊠Eles tentam o mĂĄximo, mas ao menos todo mundo respeita, e isso eu acho bacana.
No Brasil, por mais que a gente tenha um cenĂĄrio caĂłtico em termos de, nĂŁo Ă© nem sĂł de polĂtica, mas de constituição e tudo mais, eu acho que aqui, apesar do governo⊠Cara, o governo falou, todo mundo tem que fazer, Ă© regra e Ă© isso. NĂŁo dĂĄ pra protestar. Se vocĂȘ quiser protestar na rua, vocĂȘ tem que fazer um pedido, falar a hora e o local que vocĂȘ vai protestar. Tem umas regras. Cara, Ă© tudo muito certinho. AtĂ© pra fazer bagunça, Ă© certinho. E aĂ, as prĂłprias pessoas que discordam falam, âCara, mas Ă© isso, mas Ă© assim. Eu discordo disso, mas eu concordo com 90 outras coisas.â EntĂŁo Ă© um pouco isso.
Alexia: Mas eu imagino que tenha sido um choque cultural, nĂ©? Na primeira vez que vocĂȘ foi. E assim, porque pelo o que eu saiba, nĂŁo pode nem mastigar chiclete na rua. Tipo, isso eu nĂŁo entendo, eu vou ser bem sincera.
mastigar - to chew
Nuno: Eu te explico.
Alexia: Isso do chiclete eu nĂŁo entendo. Explica, por favor.
Nuno: Inclusive, a Dani, minha mulher, fez um blog na Ă©poca, e o nome do blog era Minha Vida Sem Chiclete. Mas assimâŠ
Alexia: Ă perfeito.
Nuno: Ă maravilhoso. O que acontece, chiclete sempre foi permitido aqui, como vĂĄrias outras coisas que ainda sĂŁo permitidas atĂ© que mudem. Em um certo momento, e aĂ vocĂȘ vai ver como Ă© que o paĂs toma decisĂ”es, isso diz muito sobre Singapura. No metrĂŽ, quando vocĂȘ estĂĄ esperando o metrĂŽ, vocĂȘ estĂĄ esperando, vocĂȘ vai, pega o chiclete.
Terminou, vocĂȘ olha pra estação, e vocĂȘ tacava, e fica ali no trilho⊠VocĂȘ entrou no metrĂŽ, vocĂȘ tĂĄ comendo, no metrĂŽ nĂŁo tem lixo, por exemplo, nĂŁo tem lixo no metrĂŽ que Ă© pra evitar terrorismo, alguĂ©m tacar uma bomba lĂĄ e alguma coisa do tipo. Inclusive, a palavra bomba Ă© proibido de falar, em inglĂȘs pelo menos. Se vocĂȘ fala isso, as pessoas podem ouvir alguĂ©m falar a palavra e aĂ, enfim.
Alexia: Meu Deus! Sim.
Nuno: AĂ o que aconteceu, o pessoal jogava muito chiclete, teve um momento, num horĂĄrio de pico, que um trem simplesmente parou. Igual acontece no Brasil todo dia, toda hora, parou e ficou horas parado, interrompeu a principal linha que liga o centro comercial. E Singapura jĂĄ estava com vĂĄrios problemas em relação Ă sujeira, chiclete e coisas assim. E aĂ eles tomaram a decisĂŁo, falou assim⊠E aĂ foram ver que a porta fechou, estava presa, tinha chicletes e milhares de chicletes ali. E era um lugar que nĂŁo era simples de limpar. NĂŁo sai com a vassoura, estava grudado jĂĄ. E aĂ, nesse dia, Singapura foi lĂĄ e definiu, âQuer saber? Ă proibido a comercialização no paĂs. Acabou, fechou.â
Se vocĂȘ estĂĄ com o chiclete andando e comendo, nĂŁo Ă© proibido. Mas vocĂȘ entrar com o chiclete em Singapura, para uso pessoal eles atĂ© liberam. Quem tem problema, tipo, que estĂĄ usando chiclete porque o mĂ©dico, o dentista recomendou, aqueles de⊠Tudo bem, okay. Mas tem esse controle. O mesmo vai para cigarro, que Ă© muito caro aqui a taxação em cima de cigarro. EntĂŁo, se vocĂȘ quer entrar em Singapura com cigarro, sĂł pode entrar com 19 cigarros, e um maço tem 20. Ou seja, vocĂȘ nĂŁo pode entrar com um maço fechado para nĂŁo revender aqui. VocĂȘ tem que abrir, tirar um cigarro e jogar fora, e Ă© isso. VocĂȘ entra com um maço com 19 cigarros. E eles criam essas regras e Ă© assim e Ă© assim, entendeu? Da noite pro dia, vira uma lei.
Alexia: Eu acho isso fantĂĄstico, eu vou ser muito sincera. Porque, assim, aqui em Portugal tem mais leis, e as pessoas, elas obedecem mais o governo do que no Brasil. EntĂŁo elas realmente respeitam. NĂŁo Ă© nem obedecer, Ă© respeitar aquilo que estĂĄ sendo falado. E eu estava conversando com uma amiga minha, que ela jĂĄ mora hĂĄ 13 anos na Alemanha, e ela tava me contando algumas coisas de diferentes da Alemanha que, hoje em dia, ela nĂŁo se vĂȘ vivendo sem.
Por exemplo, a estabilidade alemĂŁ Ă© uma coisa que eles realmente amam. EntĂŁo, por exemplo, vocĂȘ vai sair de um emprego, ou vĂŁo te mandar embora, vocĂȘ tem que avisar trĂȘs meses antes. VocĂȘ vai sair de um apartamento, vocĂȘ precisa avisar trĂȘs meses antes de ir e vice-versa, se vĂŁo querer te tirar de lĂĄ. EntĂŁo ela fala, âEu nĂŁo sei como a gente viveu sem isso atĂ© hoje, sabe? Essa estabilidade hoje em dia conta muito pra mim.â VocĂȘ se sente da mesma forma aĂ, com a Singapura?
Nuno: EntĂŁo, aqui eu sinto na verdade o inverso desse ponto que vocĂȘ acabou de falar. A lei, pelo menos do Brasil, sempre favorece o empregado do que o empregador. Aqui Ă© extremamente o contrĂĄrio. Ainda mais se vocĂȘ for estrangeiro, se vocĂȘ nĂŁo for um residente permanente aqui, a empresa quer te demitir, ela pode te demitir hoje sem aviso prĂ©vio, sem explicar o porquĂȘ.
Alexia: Uau.
Nuno: Simplesmente Ă© financeiro. Falam, âOlha, minha empresa nĂŁo quer mais, nĂŁo quero mais pagar o seu salĂĄrio, acabou.â Obviamente cada contrato Ă© cada contrato. O que muita gente faz, muito gringo principalmente Ă© colocar clĂĄusulas no contrato, que nĂŁo Ă© a clĂĄusula bĂĄsica. E ao mesmo tempo tambĂ©m tem essa coisa de seguro desemprego, isso tudo nĂŁo existe aqui para estrangeiro.
Para local, existe, o governo ajuda quando vocĂȘ precisa de uma coisa ou outra, mas eu acho que, ao mesmo tempo, eu vou ser bem sincero, isso nĂŁo Ă© uma preocupação pra gente aqui, porque se vocĂȘ Ă© bom no que faz e tem um emprego, tem oportunidades, Ă© um lugar muito bom pra se estar, entendeu? Vai ter oportunidade, vai ter isso. O que eu tenho medo, na verdade, Ă© das leis mudarem da noite pro dia, igual mudou.
Alexia: Uhun
Nuno: Vou te dar um exemplo, eu tenho a minha prĂłpria empresa, eu tenho o meu visto pela minha empresa. Enquanto a minha empresa continuar tendo trabalho, eu vou continuar tendo dinheiro para pagar o meu salĂĄrio e vou continuar podendo renovar o meu visto. AtĂ© aĂ, tudo bem. Por eu ter um visto de trabalho, a minha esposa pode ter um visto de dependente. AtĂ© seis meses atrĂĄs mais ou menos, qualquer dependente podia trabalhar aonde quisesse.
Pode trabalhar no caixa do Starbucks, pode trabalhar numa biblioteca, pode trabalhar numa multinacional ou na ĂĄrea de marketing. NĂŁo importa, vocĂȘ aplica para a vaga, a empresa querendo vocĂȘ, ela assina uma carta e vocĂȘ passa a poder trabalhar. Por conta da pandemia, muita gente obviamente vai perdendo emprego ou entĂŁo reduz salĂĄrio. Teve um pouco disso aqui, nada comparado com o mundo, mas teve.
Alexia: Uhun.
Nuno: Eles mudaram a lei de um mĂȘs para o outro. EntĂŁo se vocĂȘ tem passe de dependente, vocĂȘ nĂŁo pode mais ter uma carta para trabalhar, vocĂȘ tem que arrumar um emprego e aĂ a regra Ă© um pouco acima, Ă© ter um valor mĂnimo de salĂĄrio. Ou seja, isso impede que um gringo ou um parceiro de um gringo trabalhe em empregos que paguem menos de X dĂłlares. EntĂŁo isso muda da noite para o dia, sabe? NĂŁo tem o que fazer, Ă© fora do controle.
Alexia: E realmente, comparado com a Alemanha, Ă© completamente o oposto.
Nuno: Sim.
Alexia: Eu ia ficar desesperada, com certeza. Mas assim, por exemplo, vocĂȘ morou em Nova Iorque, nĂ©? E mora agora em Singapura. Singapura Ă© muito internacional comparado com Nova Iorque? Porque eu vejo Nova Iorque uma cidade internacional, nĂ©? VocĂȘ tem todos os tipos de pessoas e etc. Assim como Londres Ă© extremamente internacional. VocĂȘ sente que Singapura, em geral, Ă©?
Nuno: Sim. Eu vejo as duas como grandes metrĂłpoles, obviamente, mas a grande diferença que tem aqui Ă© que Nova Iorque tem tambĂ©m muito mais turistas do que Singapura tem, e o tipo de turista. Nova Iorque tem muito turista domĂ©stico, pessoas fĂsicas indo viajar para passear. EntĂŁo vocĂȘ conhece gente tambĂ©m que vai estudar, vai passar um perĂodo. Ă muito comum a pessoa ir passar trĂȘs meses em Nova Iorque e se portar como morador de Nova Iorque. EntĂŁo vocĂȘ nĂŁo sabe quem tĂĄ ali e quem nĂŁo tĂĄ.
Singapura Ă© um pouco o oposto, a maioria dos visitantes que estĂŁo aqui sĂŁo turistas de paĂses vizinhos, assim, que vem com mais frequĂȘncia, principalmente China, Hong Kong, AustrĂĄlia, esses paĂses aqui. SĂł que tem muita gente vindo a trabalho, ou tinha muito mais antigamente. Ă um pĂłlo aqui, Ă© muito comum as pessoas virem pra cĂĄ pra fazer conferĂȘncia, evento. EntĂŁo vocĂȘ conhece gente tambĂ©m do mundo inteiro, e tambĂ©m tem a separação que Ă©, se vocĂȘ sĂł fala inglĂȘs, vocĂȘ sĂł vai conhecer os turistas americanos que falam inglĂȘs.
Alexia: Sim.
Nuno: Em Nova Iorque, todo turista fala inglĂȘs, Ă© quase que⊠EntĂŁo acho que aqui tambĂ©m tem um pouco disso. Eu acabo nĂŁo pegando a parte que Ă©, muito turista vem da China, muita gente vem atĂ© de outros paĂses. E por mais que eles falem um pouco inglĂȘs, nĂŁo rola uma interação, entĂŁo eu nĂŁo vejo tanto, mas sĂŁo bem parecidas quanto a isso, de ter gente do mundo inteiro. Aqui em Singapura, 40% da população nĂŁo Ă© local, nĂŁo nasceu aqui, entĂŁo Ă© um nĂșmero absurdo, sabe? Chega prĂłximo da metade.
Alexia: E como Ă© que a população que sempre esteve aĂ vĂȘ isso? Eles gostam disso ou nĂŁo?
Nuno: Olha, isso Ă© muito relativo, sabe? Inclusive, Ă© um dos maiores problemas hoje do paĂs, como lidar com xenofobia, porque Ă© a mesma coisa quando vocĂȘ fala de machismo, sexismo e etc. O problema nĂŁo Ă© naquele cara que vai⊠Obviamente que Ă© um problema, o cara que vai, fala, âSeu Indiano de merdaâ, fala uma coisa dessa, e Ă© preso, porque estĂĄ desacatando. O problema nĂŁo Ă© esse, porque isso Ă© um crime independente do que vocĂȘ falou.
Alexia: Uhun
Nuno: VocĂȘ pode ter falado, âSeu maluco. Seu doidoâŠâ Independente. SĂł que o problema Ă© quando isso acontece entre as entrelinhas, a forma de olhar, nĂŁo oferecer vaga, nĂŁo falar no desrespeito, taxista trata mal, sabe? E isso tem acontecido muito aqui, principalmente de uns cinco anos pra cĂĄ. Da vez que eu vim pela primeira vez, Singapura estava crescendo muito. EntĂŁo pra eles ter turista era Ăłtimo. Hoje, a gente jĂĄ Ă© visto por alguns como, âAh, o cara tĂĄ roubando emprego da gente.â EntĂŁo essa histĂłria que eu te contei da carta para trabalhar se vocĂȘ Ă© dependente, a gente tem quase certeza, jĂĄ ouvi falar em mesas de bar, falando com as pessoas, o local assumindo falou, âCara, mas eles sĂł fizeram isso porque Ă© ano de eleição, Ă© Ăłbvio que Ă© isso.â
Mas ninguĂ©m fala nada, vocĂȘs sĂŁo tĂŁo transparentes quanto a tudo, porque nĂŁo falam que Ă© isso? AĂ teve um cara que falou publicamente, falando, âEm algum momento Singapura abriu para os estrangeiros, porque a gente precisava de ajuda. E agora a gente tĂĄ num momento que a gente precisa cuidar da gente mesmo.â EntĂŁo quando o momento for propĂcio e wealthy again, a gente vai reabrir essas portas. Eles falam um pouco disso, entĂŁo⊠Mas assim, jĂĄ rolou comigo vĂĄrias coisas. A gente fala que aqui Ă© super seguro, dificilmente alguĂ©m vai meter a mĂŁo na minha cara, me roubar.
Alexia: Sim.
Nuno: Mas eu jĂĄ fui, uma vez, eu estava esperando meus amigos chegarem no⊠à tipo uma praça de alimentação, que Ă© onde a galera toma cerveja Ă noite. Ă tipo um barzinho onde vocĂȘ compra na loja e senta num lugar, todo mundo pode sentar.
Alexia: BG.
Nuno: Um BG, exato. Com mesinhas. Ă o BG com mesinhas. E que que rolou? Fui lĂĄ no lugar, peguei umas cervejas, e aĂ cheguei no lugar pra sentar e nĂŁo tinha ninguĂ©m. Botei minha cerveja e aĂ nisso chegou um tiozinho com um cara cheio de cerveja, mais cerveja ainda, e aĂ ele falou assim, âXĂŽ xĂŽ, eu tĂŽ aĂ, esse lugar Ă© meu. Get out of here.â AĂ eu olhei⊠Cara, eu sou muito de boa. DaĂ eu olhei, ri, falei assim, âOi?â Ele, âThis is my place, Iâm sitting there.â AĂ eu falei assim, âHow come? I was just here, there was no one here.â
AĂ o cara, sem mentira, nĂŁo queria me dar satisfação e saiu sentando. AĂ o cara que estava trazendo a cerveja com ele era de uma das lojas, daĂ ele olhou pra mim com aquela cara de, âMano, vai procurar outro lugar, cara, nĂŁo começa nĂŁo.â AĂ eu sĂł virei e falei assim, âEi, calma, vocĂȘ quer sentar, pode sentar, mas vocĂȘ nĂŁo precisa rude with me. You donât need to be rude with me.â Nossa, aĂ o cara falou assim, Ă© uma frase daqui que Ă©, âFuck off ang mohâ. âFuck offâ obviamente âsai daqui, vaza.â E âang mohâ Ă© um termo em chinĂȘs que significa âhomem branco, pele brancaâ uma coisa desse tipo. E nĂŁo Ă© âgringoâ, nĂŁo Ă© igual falar âgringoâ, Ă© tipo, âSai daquiâŠâ
Alexia: VocĂȘ nĂŁo Ă© daqui, vocĂȘ nĂŁo pertence aqui. EntĂŁo tipo, âSai daqui.â
Nuno: Exato.
Alexia: âNĂŁo Ă© o seu lugar.â
Nuno: E Ă© um termo ruim. E aĂ quando rolou isso, cara, eu nĂŁo sou tambĂ©m de criar barraco tambĂ©m. A minha mulher falaria o contrĂĄrio, ela falaria, âOi?â Mas coisa de Carioca, vocĂȘ fala assim, âPera aĂ, agora vocĂȘ mexeu com quem tĂĄ quieto. Calma aĂ, deixa eu chamar uma PM.â Cara, eu fiz exatamente isso. Eu sentei com o cara ali, eu falei com o segurança do lugar, eu falei, âComo Ă© que eu faço?â AĂ ele, âAh nĂŁo, vocĂȘ vai ter que chamar uma polĂcia.â AĂ eu, ânĂŁo, nĂŁo, cara, chamar a polĂcia nĂŁo, Ă© sĂł uma parada sĂ©ria.â AĂ ele, âNĂŁo, vocĂȘ tem que chamar a polĂcia.
Ă a Ășnica forma que vai ter de alguĂ©m falar com ele, porque eu nĂŁo posso, eu nĂŁo tenho autoridade.â Ai eu falei, âVamos testar isso daqui.â Os moleques estavam atrasados. AĂ liguei pra polĂcia, nĂŁo sei o que. AĂ o cara falou, âOnde Ă© que vocĂȘ tĂĄ?â âEu to aqui no food court tal, em frente Ă loja tal.â âTĂĄ, vamos mandar uma unidade aĂ.â Chegaram dois carinhas menores que eu, magricelinhos. A maioria deles sĂŁo novinhos, assim. Provavelmente nĂŁo fizeram nada o dia inteiro, estavam sĂł indo checar o gato que subiu na ĂĄrvore. AĂ eu expliquei o que aconteceu. Vou sĂł desenhar a figura pra vocĂȘ entender, Iâll paint the picture. O cara que fez isso comigo, ele era local, mas Ă© um local com descendĂȘncia indiana, tĂĄ?
Alexia: Uhun.
Nuno: E eles todos falam os termos locais que o âSenglish.â E o policial, quando vieram pra cĂĄ, eram dois policiais de origem chinesa, entĂŁo rola jĂĄ essa treta entre eles.
Alexia: Esse embate. Ă isso que eu ia falar, porque o cara ser indiano, desculpa, mas vocĂȘ tambĂ©m nĂŁo Ă© dali, vocĂȘ Ă© imigrante que nem...
Nuno: EntĂŁo, mas no caso, porque Singapura jĂĄ tem 55 anos, Ă© capaz de ele ter nascido. Ele devia ter uns 40 mais ou menos, 40 e pouco, 45. Mas assim, baixinho, lembra atĂ© o RomĂĄrio, todo assim, jogador de futevĂŽlei, uma coisa meio assim. E ele estava com uma mulher, depois chegou e sentou com ele. Enquanto eu chamei a polĂcia, eu estava esperando a polĂcia, ele passou por mim e falou assim, âHey man, sorry. VocĂȘ quer sentar ali comigo?â Eu falei assim, âNo, man. Donât try to be nice now. I called the police.â AĂ ele falou assim, âYou called the police? Lucky you.â
Alexia: Oh My God!
Nuno: AĂ eu, âOh Meu Deus! Deixa a polĂcia chegar.â A polĂcia chegou, olharam, foram lĂĄ, falaram com o cara. Ficaram horas ali conversando, pegando informação dele. AĂ nisso meus amigos chegaram. Eles jĂĄ estavam, inclusive, lĂĄ, eu que nĂŁo vi, eles estavam numa outra mesa jĂĄ com cerveja tambĂ©m. Enfim, sentei do lado deles, contei tudo que eu te contei agora, contei pra eles. E eles, âNĂŁo⊠Vamos lĂĄ, vamos ver quem Ă© o cara.â AĂ eu falei, âNĂŁo, jĂĄ foi feito, deixa assim.â AĂ nisso o policial passou por mim e falou, âObrigado. TĂĄ aqui seu documento e tal. A gente conversou, a gente deu um aviso.â SĂł que assim, nĂŁo rolou nada, porque⊠E perguntaram vĂĄrias vezes pra mim, âEle te tocou? Ele te agrediu?â Eu falei, âNĂŁo, mas ele falou "Fuck off ang moh." O que eu me senti agredido por nĂŁo ser um cara local. Isso quer dizer o quĂȘ? Que eu nĂŁo tenho o direito de estar ali?â AĂ, assim que o policial foi embora, ele passou pela nossa mesa. Ele olhou e falou assim, âLoser.â
Alexia: Ai que Ăłdio!
Nuno: EntĂŁo tem isso. Porque aqui Ă© tĂŁo seguro. No Rio, qualquer lugar que vocĂȘ vai⊠Cara, sempre vai sair porrada, nĂŁo tem como.
Alexia: Sim.
Nuno: Eu acho que se eu provavelmente tivesse num outro ambiente assim, cara, eu acho que eu falaria assim, âEu nĂŁo vou sair daqui tambĂ©m nĂŁoâ. AĂ o cara ia me puxar, eu ia falar âNĂŁo me toca.â Sabe? Ia dar um problema, sei lĂĄ. Mas enfim, acontece isso.
Alexia: Acontece, acontece. Infelizmente, vocĂȘ ser imigrante em qualquer lugar do mundo, vocĂȘ vai passar por isso. Mesmo eu sendo portuguesa, nĂ©? Meu sotaque nĂŁo esconde, eu sou brasileira tambĂ©m. EntĂŁo assim, eu nunca passei por uma situação dessas, porque eu acho que eu nĂŁo tenho cara de brasileira, o que os portugueses esperam ser brasileira. Eu nĂŁo tenho cara, eu nĂŁo tenho perfil, eu nĂŁo tenho corpo de brasileira, eu nĂŁo tenho nada disso. EntĂŁo eles me veem, âOk, ela Ă© mais uma.â Sabe? âEla Ă© portuguesa tambĂ©m.â Mas assim, sei de histĂłrias e histĂłrias e histĂłrias tanto de um lado quanto do outro.
Como brasileiro que chega aqui achando que aqui Ă© um mini Brasil, quanto portugueses muito rudes e muito desnecessĂĄrios com brasileiros, principalmente com africanos tambĂ©m, nĂ©? Que tambĂ©m tem essa questĂŁo infelizmente histĂłrica e que ficou hereditĂĄria para algumas pessoas atĂ© hoje. E essa seria uma outra pergunta, porque Singapura, ela Ă© muito novinha, nĂ©? Ela nĂŁo viu quase nada do que o mundo passou. EntĂŁo, para vocĂȘ desenvolver uma cultura da Singapura, tem que ser uma junção de vĂĄrias culturas juntas. E eu fico um pouco perdida para saber, porque se eles⊠Eu nĂŁo sei se Ă© uma questĂŁo entre ocidente e oriente, Ă©? Ăsia, nĂŁo sei...
Nuno: Ă que Singapura se considera totalmente asiĂĄtica, por mais que a cidade tenha sido uma colĂŽnia inglesa, tem ainda estĂĄtua do Raffles que era o inglĂȘs que dominou isso tudo. Eles tem um baita respeito pelo ocidente, entendeu? Principalmente por conta financeira. Eles sĂŁo mais prĂłximos dos Estados Unidos e outros paĂses, entĂŁo em caso de uma guerra, eles nĂŁo vĂŁo⊠Eles tendem a ficar neutros ao mĂĄximo, mas acho que no final, vĂŁo ser essas alianças polĂticas que existem hoje. Mas vocĂȘ falou sobre cultura, que eles sĂŁo novos, isso Ă© uma coisa engraçada aqui. Sabe quando o ItaĂș comprou o Unibanco? E tem essas coisas, e durante muito tempo Ă© ItaĂș Unibanco e tem essa coisa? Eu acho que o que vocĂȘ falou, 50 anos Ă© muito cedo ainda, eles ainda sĂŁo⊠O que Ă© Singapura?
Singapura Ă© China, MalĂĄsia, Ăndia. A gente fala o que? A gente fala inglĂȘs, que Ă© tipo pra tentar normalizar tudo, inglĂȘs, chinĂȘs, tĂąmil e malaio. E tudo que vocĂȘ vai, todo transporte pĂșblico, museu, passaporte, aeroporto, tudo tem quatro lĂnguas. Eu, como designer, eu atĂ© falo isso, Ă© estressante. Tudo que vocĂȘ tem que desenhar, vocĂȘ tem que pensar. EntĂŁo tem umas revistas que Ă© a mesma matĂ©ria em uma pĂĄgina aberta, pĂĄgina dupla, vocĂȘ sĂł tem uma quina de informação. Ă inglĂȘs, malaio, nĂŁo sei o que. EntĂŁo vocĂȘ tĂĄ lendo, vocĂȘ sĂł vai ler um pedaço da pĂĄgina, vai indo, Ă© um blocĂŁo de texto. E inclusive, quando tem eventos, teve agora o National Day deles, que Ă© o Dia da IndependĂȘncia, foi segunda passada⊠Essa segunda, Ă©, segunda passada.
Tudo Ă© falado nas trĂȘs lĂnguas. O hino que eles cantam, que Ă© um hino feito para isso, Ă© um hino comercial, tem as trĂȘs lĂnguas, nĂ©? EntĂŁo tem um pouco disso. E a grande maioria, assim, eles encontraram o inglĂȘs como a forma que eles se conectam.
Alexia: Uhun.
Nuno: EntĂŁo foi o que vocĂȘ falou um pouco, aĂ Ă© que entra talvez o âSomos internacionais, somos um paĂs, somos uma metrĂłpole.â Falando entĂŁo... Em todas as escolas que vocĂȘ vai, tudo a lĂngua oficial Ă© o inglĂȘs. Mas eles podem fazer uma escola que Ă© inglesa com uma outra lĂngua. Tem francesa tem outros mais. Ah, desculpe, mandarim tambĂ©m Ă© obrigado nas escolas. EntĂŁo toda criança aqui fala mandarim, se tĂĄ estudando aqui, entĂŁoâŠ
Mas Ă© engraçado. O museu tambĂ©m tem essa coisa, tem essa mistura das culturas. VocĂȘ vai em quase que em salas e ĂĄreas e zonas que cobrem tudo isso. E por Singapura, fisicamente, estar dentro da MalĂĄsia, nĂ©? Se for parar para pensar como era antes, ainda Ă© muito predominante o heritage, a comida Ă© muito influenciada da MalĂĄsia.
Alexia: Isso que eu ia perguntar, como Ă© que Ă© a comida aĂ? Porque ao mesmo tempo que Ă© uma inclusĂŁo, eu vejo como uma inclusĂŁo vocĂȘ ter as 4-3 lĂnguas, nĂ©? Porque estĂĄ querendo colocar todo mundo confortĂĄvel, como Ă© que Ă© a comida? Ă da mesma forma?
Nuno: Tem tambĂ©m. SĂł que o grande lance da comida, obviamente, tem isso isso que vocĂȘ falou, tem as trĂȘs juntas. E por Singapura ter apenas 50 anos, ainda seria o ItaĂș Unibanco, nĂ©? Ainda tem essa coisa, sĂł que eles jĂĄ tem comidas tipicamente Cingapurianas, que aĂ vai exatamente a mistura ali. E eu acho que nisso eles sĂŁo muito brothers uns dos outros. A influĂȘncia que a Ăndia teve aqui foi grande, e principalmente em curry, tudo que Ă© ligado a pimenta, coisa apimentada.
lance - thing
A comida de Singapura Ă©, tudo que vocĂȘ come Ă© altamente apimentada, a grande maioria. E a comida chinesa tambĂ©m tem, entĂŁo Ă© o curry indiano com o chili sauce chinĂȘs e a comida da IndonĂ©sia jĂĄ Ă© apimentada e muito temporada por natureza. Desculpa, da MalĂĄsia⊠EntĂŁo eles tĂȘm aqui algumas comidas aqui que Ă© o chicken rice. VocĂȘ pensa, âCara, chicken riceâŠâ O brasileiro quando vai comer o chicken riceâŠ
Alexia: Chora.
Nuno: DĂĄ uma raiva. VocĂȘ fala, "PeraĂ, a comida principal de vocĂȘs Ă© um arroz com um franguinho e Ă© isso?â Ă um chicken with rice. NĂŁo, Ă© um chicken rice. Ă o nome da parada. O que Ă© um chicken rice? AĂ que eu entendi, o arroz Ă© feito no molho do frango, em tudo do frango, entĂŁo tem isso. E o frango, em si, Ă© um frango normal. SĂł que se vocĂȘ ver a comida normal, vocĂȘ tem que botar o ginger, o chili e o sauce e comer e eu amo. Agora eu nĂŁo como mais frango, jĂĄ tem dois anos, mas Ă© a minha comida favorita, foi muito durante muito tempo.
E o louco disso Ă© que o Singapuriano, por estar importando muita coisa da Ăsia inteira, eles falam assim, âCara, o Singapuriano vai pra TailĂąndia e fica puto que a comida da TailĂąndia nĂŁo Ă© tĂŁo boa igual a comida tailandesa que faz em Singapura.â Ătimo exemplo, assim, no Rio a gente come um bacalhau bom pra caramba. NĂŁo sei se Ă© tĂŁo bom quanto o de Portugal. Mas, Ă s vezes, Ă© uma coisa dessa. JaponĂȘs em SĂŁo Paulo, vocĂȘ vai num (restaurante) japonĂȘs em SĂŁo Paulo, Ă© muito bom.
Alexia: à só pegar feijoada que, desculpa, ninguém consegue fazer feijoada aqui, só lå no Brasil, sabe? à exatamente isso.
Nuno: Exato. EntĂŁo eles sĂŁo muito, o Singapuriano Ă© muito proud da cozinha internacional deles, das misturas. E a bebida principal daqui se chama bubble tea. Chegou no Brasil tem pouco tempo, mas Ă©, cara, Ă© tipo uma maquininha... AĂ quando fecharam, vocĂȘ nĂŁo podia comer durante a pandemia, nĂ©? As lojas iam fechar, sĂł ia poder fazer take away, nĂ©? E atĂ© take away, alguns lugares foram fechados por um tempo, nĂŁo sei. Cara, a fila pra pegar bubble tea na noite anterior dava volta no quarteirĂŁo, as pessoasâŠ
Alexia: Meu Deus.
Nuno: E tem uma coisa engraçada, por ser um paĂs menor que SĂŁo Paulo aqui. Ă muito pequeno, Ă© menor que o Rio, na verdade. A população Ă© quase do tamanho do Rio. A mĂdia social do paĂs Ă© muito saturada. EntĂŁo, cara, acontece alguma coisa, todo mundo fica sabendo. Ă quase que lojinha de bairro. AĂ vocĂȘ falou, âcomo Ă© que Ă© ser gringo aqui?â Cara, hoje a gente se sente diretamente, I feel⊠Como Ă© que se fala em inglĂȘs? I feel affected... Me sinto afetado⊠Esqueci a palavra agora, mas Ă© triggered. Me sinto triggered de tudo que acontece porque⊠Por causa das regras, rolou muita coisa doida aqui. Por exemplo, tem que andar de mĂĄscara, Ă© obrigado a andar de mĂĄscara. VocĂȘ tĂĄ sem mĂĄscara, Ă© assim, se vocĂȘ tĂĄ sem mĂĄscara, todo mundo na rua vai ter uma mĂĄscara extra para te dar. âEi, por favor, bota essa mĂĄscara. Por favor, por favor.â Teve um cara gringoâŠ
Alexia: Ăbvio.
Nuno: Que estava no metrĂŽ, se recusou a colocar a mĂĄscara, âNĂŁo vou botar.â E aĂ filmaram, Ăłbvio. E aĂ tem um site chamado Mothership que posta tudo que acontece, Ă© quase O Povo do Brasil. O Povo, o jornal, aquele que sĂł tem doideira. Cara, e o cara foi condenado, tĂĄ respondendo agora. E no dia que ele foi no court, ele foi sem mĂĄscara.
Alexia: Ai Meu Deus! Mas que ponto que ele quer provar, né? Não faz o menor sentido isso.
Nuno: NĂŁo faz. E ele estava ali e, no dia que ele foi no court, lĂĄ na corte, tinham milhares de pessoas com a cĂąmera esperando. Falou, âEu quero ver esse cara passar, porque eu sei que Ă© hoje.â Jornalista, tudo. EntĂŁo a gente faz uma piada entre os gringos, nĂ©? Os expats. A gente aqui se chama de expats por ser expatriados. NĂłs somos expats aqui. Que Ă© assim, âGalera, nĂŁo dĂĄ vacilo nĂŁo, porque se vocĂȘ for local, ninguĂ©m vai nem olhar pra tua cara. Agora, se tu for um gringo, ainda mais com essa cara de nĂłrdico, olhinho claro. Deu um vacilo, anda sem mĂĄscara, anda com mais de duas pessoas⊠Cara, vocĂȘ fica com medo de alguĂ©m fazer um vĂdeo teu.â EntĂŁo a gente morre de medo de cair na net basicamente, de sofrer bullying.
Alexia: Parece a Ă©poca do Fotolog, nĂ©? Que vĂŁo tirar uma foto sua e colocar no Fotolog de alguĂ©m e falar, âIh, a pessoa tava lĂĄ na festa.â
Nuno: Exato.
Alexia: Exatamente isso. Agora, sobre isso dos expats, porque eu tento, de uma certa forma, fazer amizades com a maior parte dos portugueses que eu consigo, atĂ© pra entrar na cultura deles, nĂ©? Para vocĂȘ realmente ter amigos. SĂł que o que eu sinto aqui, Ă© que vocĂȘ consegue fazer muito mais amizades com os internacionais do que com os locais em si. Por que? A gente sabe o que cada um estĂĄ vivendo, nĂ©? Ter saĂdo de casa, ter saĂdo do prĂłprio paĂs, ter que se adaptar a outra cultura sempre Ă© uma questĂŁo muito grande. Cada um tem uma forma diferente de lidar.
E, Ă s vezes, os portugueses, primeiro, nĂŁo entendem, âO que que vocĂȘ estĂĄ fazendo aqui em Portugal? Tipo, num paĂs tĂŁo pequeno, sĂł com 10 milhĂ”es de pessoas. Por que vocĂȘ veio pra cĂĄ?â E segundo, âPor que nĂŁo outro lugar do tipo, por exemplo, aqui em cima, Madrid, sabe? Que Ă© uma cidade muito mais desenvolvida na Espanha do que Portugal em si.â E a gente, por exemplo, eu tenho amigos da Turquia, eu tenho amigos que Ă© uma portuguesa com um britĂąnico. E Ă© mais ou menos isso, sabe? SĂŁo os internacionais. AĂ vocĂȘ Ă© mais amigo dos internacionais tambĂ©m?
Nuno: Ă, tem essas divisĂ”es que sĂŁo os internacionais, os internacionais brasileiros e os locais. Aqui, obviamente... Singapura, no inĂcio, a primeira vez que eu vim, eu tinha muito mais amigos misturados. Tanto brasileiro quanto⊠à quase 30, 30, 30. E eu tinha muito amigo local, na Ă©poca. Como eu contratei a empresa do zero, o meu melhor amigo daqui era Cingapuriano. Ele ainda Ă© um grande amigo meu, agora ele teve dois filhos, a vida mudou bastante, mas enfim.
E eu acho que tem uma coisa assim, vocĂȘ ser expatriado faz com que eles queiram, obviamente, tem aquele prazer de te mostrar o mundo deles. âAh, vocĂȘ acabou de chegar? VocĂȘ Ă© o newcomer aqui.â Ele quer fazer aquele tour do chicken rice, do chili crab, ele quer te mostrar isso tudo. Mas dificilmente vocĂȘ vai estar no dia a dia dele, a nĂŁo ser que vocĂȘ more prĂłximo ou vocĂȘ realmente mantenha com mais intensidade. Porque entre eles, eles tambĂ©m tem essa divisĂŁo, atĂ© entre quem Ă© chinĂȘs, quem Ă© malaio, quem Ă© indiano. Eles tem essa mini subdivisĂŁo ali. EntĂŁo a relação que vocĂȘ tem Ă© muito mais ligada ao seu profissional, que Ă© sair pra beber com o pessoal do trabalho que Ă© local. Isso Ă© comum.
Mas rola assim, fim de semana, a galera some. NĂŁo tem essa⊠E na Ă©poca que eu era, obviamente, chefe de todo mundo, eu era muito social. Eu sou realmente um⊠pra eles, eu sou uma exceção dos expatriados. O pessoal falou, âPo, expats vem pra cĂĄ, os caras nĂŁo querem sentar no food court pra tomar uma cerveja e comer. Eles querem ir em restaurante comer...â Ă que aqui tem muita opção bacana pra ir. SĂł que eu tambĂ©m tenho uma parada, eu sou designer. Eu falei, âCara, eu nĂŁo sou rico, nĂŁo ganho pra caramba, sabe? Eu quero tomar uma cerveja de garrafa, nĂŁo porque eu curto sĂł o lugar, apesar de um curtir o lugar. Eu me recuso a pagar.â Aqui Ă© muito caro, um chope no restaurante Ă© 15 dĂłlares... Um chope.
Alexia: Meu Deus!
Nuno: Nesse lugar que eu falei que o cara falou âFuck off...â Ă© $7 a cerveja de 600ml, a garrafa. EntĂŁo assim, proporcionalmenteâŠ
Alexia: Compensa muito, Ă©.
Nuno: Compensa muito. E a comida mais ainda. O chicken rice que eu te falei, custa 4, 5 dĂłlares. O mais caro⊠Outro dia eu falei pra ele, âPo, paguei $6 num chicken rice.â AĂ ele, âNĂŁo, cara, chicken rice Ă© $3.â SĂł que vocĂȘ vai no restaurante western comer um fish & chips inglĂȘs, vocĂȘ vai pagar 15 a 20 dĂłlares.
Alexia: Ă muito caro.
Nuno: EntĂŁo Ă© muito mais caro. Mas enfim, o que que eu quis dizer disso, nĂ©? Como Ă© que vocĂȘ se mistura e tudo mais. Por isso que vocĂȘ acaba muito⊠Se vocĂȘ trabalha com essas pessoas, Ă© muito normal vocĂȘ sair, vocĂȘ ter uma... A cultura do happy hour aqui⊠Eu to falando tambĂ©m Ă©poca do prĂ©-covid, mas era muito grande, de vocĂȘ sair e fazer uma coisa ou outra. E fim de semana Ă© cada nacionalidade no seu lado. Inclusive, os franceses aqui sĂŁo prĂłximos uns dos outros. Os brasileiros sĂŁo muito prĂłximos.
Tem tipo, lugares que vocĂȘ vĂȘ que Ă© onde mora a maioria dos brasileiros. O pessoal que eu trabalho, tem muita gente quem, Ă s vezes, Ă© o braslieiro. Cara, todo mundo mora na mesma rua. Tudo bem que Ă© uma rua grande, mas... AĂ o pessoal, âAh nĂŁo, Ă© a ĂĄrea dos expats e a maioria Ă© brasileiro, francĂȘs, alemĂŁo.â Obviamente tem um bairro Holland Village. NĂŁo tem nada necessariamente ligado a quem Ă© holandĂȘs e quem nĂŁo Ă©, mas tem um clube lĂĄ que Ă© um clube onde muitos holandeses frequentam. EntĂŁo tem essa coisa tambĂ©m de qual clube vocĂȘ vai. E eles tem essa coisa do⊠Na Little India Ă© onde estĂŁo todos os indianos, locais ou nĂŁo. EntĂŁo tem meio que essa divisĂŁo, sabe?
Alexia: Ă muito interessante isso. Que Ă© uma coisa que vocĂȘ nĂŁo vĂȘ nos outros lugares muito internacionais assim. VocĂȘ vĂȘ mais, por exemplo, nos Estados Unidos, infelizmente tem a questĂŁo dos negros e dos brancos, entĂŁo realmente vai ter essa separação. AĂ tambĂ©m tem os judeus, nĂ©? Que tem o bairro judaico. E aĂ tem um bairro ĂĄrabe e etc. Mas especificamente dessa forma, tipo, Brasil, com holandĂȘs e etc, eu, pelo menos lĂĄ, onde o Foster mora, eu nĂŁo vejo muito essa separação. Claramente tem em outros lugares, mas em South Carolina, na Carolina do Sul, nĂŁo tem isso.
Nuno: NĂŁo tem.
Alexia: NĂŁo tem, nĂŁo. LĂĄ Ă© muito mais uma questĂŁo de pele do que de onde vocĂȘ Ă©, especificamente. E como Ă© que Ă© seu sotaque, nĂ©? Se o seu sotaque for muito latino, jĂĄ te olham assim, âDa onde vocĂȘ Ă©? Ă mais uma mexicana ou nĂŁo?â Ă mais ou menos isso.
Nuno: E eu acho que, culturalmente, tambĂ©m tem uma coisa nĂŁo sĂł sobre o local que vocĂȘ mora, mas o tipo de moradia. Tem umas coisas assim, por exemplo, eles tĂȘm aqui trĂȘs formas. Eu tĂŽ excluindo casa, porque casa Ă© casa. Tem os condos que sĂŁo os condomĂnios, igual um condomĂnio no Brasil, etc, no Rio, Ipanema, etc. E tem o que eles chamam de HDB, que sĂŁo os prĂ©dios, sabe aquelas campanhas que o governo faz, cria vĂĄrias casas iguais e a população mais pobre consegue comprar? Singapura fez isso hĂĄ alguns anos, eles criaram um programa que Ă©, todo cingapuriano atĂ© tal ano vai ser milionĂĄrio, eles criaram essa coisa.
Como assim, vai ser milionĂĄrio? Falou, âTodo mundo vai poder comprar um apartamento do governo...â E vocĂȘ financia de uma forma muito diferente da gente, eu vou explicar, e ele acredita que isso vai valer um milhĂŁo de dĂłlares, entĂŁo todo cingapuriano vai ser milionĂĄrio. Ă o claim que ele quer fazer. E eu, por ser gringo, olha que doideira, se vocĂȘ comprou um HDB, vocĂȘ Ă© cingapuriana, vou te falar como Ă© que vocĂȘ compra. VocĂȘ e Foster namoram, tĂĄ? VocĂȘs nĂŁo sĂŁo casados ainda, vocĂȘs jĂĄ estĂŁo namorando hĂĄ 5 anos e vocĂȘs pensam em casar, mas vocĂȘs nĂŁo casaram ainda.
Alexia: Ă exatamente a minha vida, tĂĄ? Nesse momento.
Nuno: Ah Ă©? EntĂŁo tĂŽ aqui lendo seu tarĂŽ, sua carta, mas enfim.
Alexia: Exato.
Nuno: Antes mesmo de vocĂȘ botar um anel, um botar um anel no dedo do outro, vocĂȘs vĂŁo assinar um contrato e fazer um pedido pra comprar um HDB enquanto namorando. E esse pedido Ă© uma loteria, vai ficar lĂĄ no governo, pode demorar 2 meses, 5 anos. Um certo dia, vocĂȘ vai receber uma carta, uma ligação do governo falando assim, âEi Alexia e Foster, vocĂȘs foram sorteados. VocĂȘs tem atĂ© data tal pra trazer os documentos.â E os documentos que vocĂȘs tĂȘm que trazer Ă© a certidĂŁo de casado.
Alexia: De casamentoâŠ
Nuno: Ă, vocĂȘ tem uma certa data. EntĂŁo assim, a galera corre pra tipo, âNĂŁo... Beleza, vai.â EntĂŁo Ă© muito comum, a ordem Ă©, compra uma casa, peço em casamento, depois casa, sei lĂĄ, Ă s vezes demora, Ă s vezes nĂŁo, depende. E aĂ tem uma coisa muito louca, essa casa, quando vocĂȘ ganha um sorteio, nĂŁo Ă© uma casa que existe e vocĂȘ vai morar daqui a 2 meses.
Alexia: Ainda vai ser construĂda.
Nuno: Ă uma casa que vai ficar pronta daqui a dois anos. EntĂŁo vocĂȘ fica namorando, casada com o papel, casada no civil por mais dois anos, nesse perĂodo. E nesse tempo, pagando as prestaçÔes jĂĄ, vocĂȘs jĂĄ começam. VocĂȘ foi sorteada, mas estĂĄ na frente. Em algum momento vocĂȘ vai casar, e depois que vocĂȘ casar que vocĂȘ vai morar no HDB ou nĂŁo. SĂł que Ă© muito comum as pessoas casarem, o apartamento nĂŁo tĂĄ pronto, e a famĂlia aqui Ă© muito, âVocĂȘ casou, vocĂȘ tem que morar junto.â EntĂŁo vocĂȘ tem que morar na casa da famĂlia e o cara mora com os pais ainda, entĂŁo vocĂȘ tem que morar lĂĄ. Cara, entĂŁo assim, Ă© uma confusĂŁo.
Mas de resumo, vocĂȘs dois casaram finalmente, estĂŁo morando no apartamento, vocĂȘs sĂŁo Cingapurianos e tem trĂȘs quartos, tĂĄ? Legal. Ai vocĂȘs vĂŁo morar nos Estados Unidos por algum motivo. âAh, vou passar dois anos nos Estados Unidos. Vamos alugar o nosso HDB?â âVamos.â Eu nĂŁo posso, de novo, vocĂȘ nĂŁo comprou esse HDB, vocĂȘ tem ele por 100 anos, by the way, Ă© muito louco. Que Ă© o quanto vocĂȘ vai viver, a expectativa de vida. SĂł que nĂŁo passa pros filhos, sei lĂĄ quem vai ficar com aquilo, mas enfim.
Alexia: Ă isso que eu ia falar, tudo bem que eu nĂŁo vou viver atĂ© os 100, mas e os filhos, sabe? E a famĂlia.
Nuno: Eles te compram o HDB deles, Ă© nesse ponto. AĂ o lance todo entra, eu quero alugar de vocĂȘ, eu sou brasileiro. Legal. âEu quero alugar o seu HDB.â âAh legal, Ă© um apartamento aqui de 2 quartos e pouco.â VocĂȘ fala, âMas peraĂ, nĂŁo sĂŁo 3 quartos?â âNĂŁo, sĂŁo dois.â Porque um dos quartos vocĂȘ nĂŁo pode alugar, porque esse apartamento nĂŁo Ă© seu, entĂŁo vocĂȘ nĂŁo pode alugar ele pra mim. VocĂȘ mora lĂĄ ainda, vocĂȘ pode alugar todos os quartos, menos um dos quartos.â EntĂŁo se eu quiser morar num HDB, eu vou morar num apartamento, vocĂȘ nĂŁo vai estar lĂĄ, obviamente, mas um dos quartos eu nĂŁo vou ter a chave, ele vai simplesmente estar fechado durante o tempo inteiro. EntĂŁo...
Alexia: Mas assim, quem Ă© que fiscaliza se aquele quarto estĂĄ realmente fechado ou nĂŁo?
Nuno: Tem fiscalâŠ
Alexia: Ah, sério?
Nuno: Tem. E tipo, tem disso toda hora, entĂŁo eles sabem e vizinhos sabem. Ou seja, Ă© praticamente impossĂvel vocĂȘ ver um expat morando num HDB.
Alexia: EntĂŁoâŠ
Nuno: Por N razÔes.
Alexia: VocĂȘ, por exemplo, nĂŁo mora num HDB.
Nuno: NĂŁo moro num HDB. Adoraria, sĂŁo Ăłtimos, as plantas sĂŁo maravilhosas. Eu poderia morar lĂĄ se eu dividisse apartamento com um amigo Cingapuriano, mas⊠EntĂŁo Ă© umas coisas muito doidas, sabe? Por exemplo, o condomĂnio que eu moro Ă© bem simples, mas tem uma piscina pequena e tem uma academia pequena. HDB nenhum tem piscina ou academia, entĂŁo Ă© um prĂ©dio, nĂŁo tem nem porteiro, na verdade. Ă aberto, qualquer um anda, qualquer um chega na porta da tua casa e bate.
Aqui tem um porteiro, entĂŁo o valor do condo Ă© sempre um pouco a mais. Ai vai uma outra coisa curiosa, vocĂȘ provavelmente vai achar graça, tem a ver com isso tambĂ©m. No Brasil, se vocĂȘ vira pro teu pai e fala, âPai, quanto Ă© que vocĂȘ ganha?â Ele vai falar, âNĂŁo te interessa.â VocĂȘ pergunta pro teu melhor amigo que vocĂȘ conhece hĂĄ 20 anos de idade, vocĂȘ pergunta, âE aĂ, quanto Ă© que tu ganha no ItaĂș Unibanco?â âComo assim? NĂŁo sei. Eu ganho bem.â NinguĂ©m fala o salĂĄrio pra ninguĂ©m, nĂ©? TĂĄ.
VocĂȘ chega em Singapura, primeira semana minha aqui, trabalhando aqui, tinha contratado jĂĄ uns locais para trabalhar com a gente e tal. AmigĂŁo meu, âVamos dar uma volta?â âVamos.â âLegal. Onde Ă© que vocĂȘ estĂĄ morando?â âAh, tĂŽ morando na River Valleyâ âTĂĄ, vamos se encontrar em tal lugar.â AĂ ele falou, âAh, vocĂȘ veio como?â Falei, âPeguei o ĂŽnibus aqui legalâ AĂ ele, âUĂ©, vocĂȘ veio de ĂŽnibus?â âĂ.â âAh, sei lĂĄ, achei que vocĂȘ ia pegar tĂĄxi, os expats adoram pegar tĂĄxi." Eu falei, âNĂŁo velho, nĂŁo vou pegar tĂĄxi, tĂĄ maluco?â Ele falou, âAh, vocĂȘ mora na River Valley.â Eu, âQual o problema?â AĂ ele, âUĂ©, River Valley vocĂȘ pagaâŠâ Eles sabem os valores dos aluguĂ©is, nĂ©? Ele falou, âAh, paga isso.â Eu falei, âĂ, isso aqui.â AĂ ele falou assim, âMas o seu salĂĄrio Ă© bom, nĂ©?â AĂ eu falei, âAh, Ă© okay.â AĂ ele falou, âQuanto Ă© que eles tĂŁo te pagando?â Eu era o gerente dele. AĂ eu, âPorra, Alan, eu fico bem desconfortĂĄvel de te falar isso, vocĂȘ trabalha comigo e tal.â AĂ ele, âAh, beleza.â
AĂ foi a primeira coisa. Quando vocĂȘ vai conversando com todo mundo, todo mundo vai falando que Ă© muito normal. E muita mulher pergunta pra outro quanto o seu marido ganha. Ah Dani falou, âNuno, todo mundo fala, âHow much does your husband make a month? How much to pay the rent? How much to pay for this?ââ VocĂȘ tĂĄ com uma bolsa, âQuanto Ă© que vocĂȘ pagou nessa bolsa?â EntĂŁo Ă© um paĂs completamente transparente em relação Ă grana. E eu era gerente dessa galera toda, e eu me liguei, eu falei, âCara, todos eles querem um plano de carreira, querem saber.â Eu falei, âVamos fazer entĂŁo, vamos desenhar, todos vocĂȘs ganham, vocĂȘs estĂŁo no mesmo nĂvel. TĂĄ aqui, Ă© de tanto a tanto.â
Tive que desenhar uma linha do tempo. âAh, em quanto tempo eu vou estar ganhando o que vocĂȘ ganha?â AĂ eu falei, âMermĂŁo, se vocĂȘ chegar no ponto e tiver uma vaga de gerente e acima e tiver conta para justificar dois gerentes, quem sabe? Ou entĂŁo, eu vou morar em outro paĂs e vocĂȘ toma. Mas uma pessoa vai conseguir, nĂŁo tem como... VocĂȘs quatro nĂŁo vĂŁo ser quatro gerentes em quatro anos.â AĂ ele fica, âAh, entendi.â EntĂŁo Cingapuriano Ă© muito pensado em resultado, desde criança. Eles sĂŁo treinados a⊠VocĂȘ vĂȘ que assim, Singapura nĂŁo ganhou nenhuma medalha esse ano nas olimpĂadas. E no Rio, eles ganharam a primeira medalha da histĂłria, e foi uma medalha de ouro na natação. Ganharam do Phelps, o cara foi sucesso. EntĂŁo as expectativas nesse cara esse ano foram absurdas.
Alexia: Coitado.
Nuno: E ele nĂŁo passou da fase⊠EntĂŁo assim, ele nĂŁo passou, a equipe do ping-pong nĂŁo passou, o cara do salto triplo chegou na final, mas nĂŁo ganhou nada. EntĂŁo assim, o jornal teve que fazer matĂ©ria explicando, âGenteâŠâ Porque a mĂdia social estava caindo em cima do cara, de todo mundo. E o pessoal teve que explicar, âOlha, nĂŁo se faz isso, calma aĂ. NĂŁo Ă© porque nĂŁo ganhou medalha...â O paĂs tem muita dificuldade, sabe?
Alexia: Isso Ă© engraçado, porque eu vejo muito a cultura americana nessa forma tambĂ©m. Por exemplo, entre os amigos do Foster... Amigos, nĂ©? NĂŁo pessoas que vocĂȘ nĂŁo conhece, todo mundo pergunta, âQuanto vocĂȘ faz por ano? Quanto vocĂȘ ganha? Como Ă© que estĂĄ seu trabalho?â E etc.. E Ă© mais pra entender a qualidade de vida que a outra pessoa estĂĄ tendo em relação, por exemplo, Ă ser produtivo ou nĂŁo, a trazer resultados ou nĂŁo. Ă mais uma curiosidade do que trazer resultados. Mas eu entendo Singapura ser mais ou menos assim porque, de novo, Ă© um lugar muito novo e precisa, nĂ©?
Nuno: Precisa.
Alexia: Preciso disso. Agora, Nuno, eu tenho uma pergunta⊠Duas perguntas, na verdade, para fazer pra vocĂȘ pra gente começar a encerrar a nossa conversa. A primeira Ă©, Singapura Ă© casa, Brasil Ă© sĂł pra visitar?
Nuno: Por enquanto, sim.
Alexia: TĂĄ. Ă igual a mim.
Nuno: Ă muito difĂcil responder, mas por enquanto sim.
Alexia: Sim, igual a mim. Eu, por enquanto, vejo Portugal como a minha casa e o Rio de Janeiro, Brasil, para visitar a famĂlia e amigos. E eu tĂŽ super tranquila com isso, nĂŁo tem problema algum.
Nuno: Sim.
Alexia: Ă. E a minha segunda pergunta Ă©, eu tĂŽ perguntando pra todo mundo aqui, um lugar no Brasil que nĂŁo seja clichĂȘ, por exemplo, Rio de Janeiro, SĂŁo Paulo, FlorianĂłpolis, Salvador e etc, pras pessoas visitarem. EntĂŁo, por exemplo, jĂĄ tive aqui Lençóis Maranhenses, jĂĄ tive Ibitipoca, eu jĂĄ tive Chapada Diamantina, jĂĄ tive vĂĄrios lugares assim que nĂłs, brasileiros, sabemos, nĂ©? Escutamos falar, mas nĂŁo necessariamente Ă© muito famoso na comunidade internacional. VocĂȘ tem um ou dois lugares que vocĂȘ gostaria de indicar para as pessoas?
Nuno: Cara, é uma⊠Não é pra qualquer ouvinte a minha dica, mas assim, quase todo turista que vai pro Brasil, vai visitar o Rio e vai visitar São Paulo, né? Isso é muito comum. Ou pousou em São Paulo e vai até o Rio. Tem um lugar que eu sou apaixonado assim, que é Mauå, que fica... Visconde de Mauå, na verdade, que fica entre Rio e São Paulo, ali naquela divisória.
Só que a recomendação não é só ir pra Mauå, é fazer a trip toda, que é conhecer um pouco de Penedo, conhecer ali aquela årea talvez até Itatiaia, não necessariamente mas Maromba e Visconde de Mauå, porque eu acho que é⊠Porque não se chega de avião, acho que muito turista tem dificuldade, às vezes, de chegar lå, e eu acho que é muito legal, dependendo da tua fase. Se tu vai com muita criança, talvez não tanto, mas casal mais jovem, assim, grupo de amigos, eu super recomendo Visconde de Mauå e arredores.
Alexia: Eu costumo falar que, se os Finlandeses conseguirem chegar até Penedo, qualquer pessoa consegue. Então assim, vai, só vai.
Nuno: Sim. Eu lembro a primeira vez que eu indiquei um amigo do Rio pra ir lĂĄ, ele nunca tinha ido. Eu falei, âCara, vai lĂĄ. E melhor, deixa pra ir no inverno, tu vai ter um lugar chamado Vila do Papai Noel.â AĂ ele, âComo assim, cara?â AĂ eu, âNĂŁo vou te dar spoiler nĂŁo, sĂł vai.â E ele foi e tal, estava com a namorada, nĂ©? Porque ele falou, âCara, programa mais romĂąntico que tem Ă© ir pra Penedo no inverno, cara. Por que eu nunca fiz isso antes?â Eu falei, âCara, pra mim Ă© muito melhor que Campos do JordĂŁo, essas paradas assim.â
Alexia: Eu amo Penedo, adoro.
Nuno: Ă muito bom.
Alexia: A vĂł da minha melhor amiga mora lĂĄ, entĂŁo a gente sempre vai, tanto no verĂŁo quanto no inverno. VerĂŁo para aproveitar as cachoeiras e etc. FĂĄbrica de chocolate.
Nuno: Ă muito bom.
Alexia: E aĂ, inverno era pra comer fondue, ir visitar o Papai Noel e etc. Ă muito gostoso, eu adoro.
Nuno: Ă muito bom.
Alexia: Ă. E outra dica, ou tĂĄ tudo bem?
Nuno: Cara, outra dica acho que de lugar talvez é⊠E aĂ entra mais assim, o nordeste em geral. Eu tenho muita famĂlia lĂĄ, e quando eu era criança eu ia muito pra MaceiĂł visitar meus primos, nĂ©? De novo, nĂŁo Ă© sĂł ir pra MaceiĂł e ficar ali. Ă pegar o carro e subir pras praias, Barra Bonita, esses picos todos ao redor de MaceiĂł. Eu lembro que eu era criança, e a gente uma vez passava de carro e aĂ meus primos, âAli Ă© casa de PC Farias. PC Farias morava ali.â A gente ria pra caramba. O cara, coitado, morreu e tudo. Mas a gente passava assim ali e as praias lĂĄ eram muito legais, assim, a maioria desertas, lindas e muito pouco exploradas por turistas. Hoje em dia talvez tenha mais, mas muito bom.
Alexia: Ă, eu acho que depende da Ă©poca que vocĂȘ vai. Se for no verĂŁo, verĂŁozĂŁo, vai ser mais complicado. Mas tipo, como no Brasil Ă© verĂŁo o ano inteiro, vocĂȘ nĂŁo precisa ir especificamente quando todo mundo tĂĄ indo, entĂŁo dĂĄ pra aproveitar. Nuno, olha, muito obrigado por vocĂȘ ter vindo. Espero que vocĂȘ tenha gostado. E com certeza a gente se fala futuramente, porque pĂłs-pandemia vai ser um mundo completamente diferente e eu imagino que a Singapura vai ter muita mudança mesmo. Eu espero que dĂȘ tudo certo pra vocĂȘs e obrigada.
Nuno: Ă eu que agradeço. Obrigado pelo convite, e assim que puder visitar Portugal, sem dĂșvida, eu te dou uma ligada ai.
Alexia: Sim.
Nuno: E quando vier para a Ăsia e arredores, dĂĄ um toque.
Alexia: Eu sou doida pra conhecer Singapura, sou muito curiosa. EntĂŁo com certeza a gente vai comer oâŠ
Nuno: Chicken rice.
Alexia: O chicken rice. Exatamente. Obrigada!
Nuno: Tchau tchau!
Useful vocabulary, expressions & additional resourcesâŠđ
a gente perde as contas até - we lose count of (the time)
rolou uma parada aĂ meio doida - there was a crazy thing
quando eu me formei na faculdade - when I graduated from college
moleza - easy, laid-back lifestyle
esponjinha - little sponge (referring to being easily influenced)
funkeiro - someone who sings Brazilian Funk music
entonação - intonation
como Ă© que vocĂȘ foi parar aĂ, na verdade? - how did you end up there, actually?
filial - branch office
VocĂȘ consegue chegar nesse ponto jĂĄ - You can get to that point now
mĂłdulo - module
super brother - very close friends
conforto - comfort
de mala e cuia - completely, lock, stock and barrel (moving permanently)
montando - assembling, setting up
Quer saber? - You know what?
bacana - cool, nice
colou - became someone's shadow, stuck close to
Ă© isso ou Ă© isso - you don't have a choice (take it or leave it)
Onde Ă© que eu assino? - Where do I sign?
tolerĂąncia zero - zero tolerance
multa - fine, penalty
atravessar - to cross
faixa de pedestres - crosswalk
sinal de trĂąnsito - traffic light
fazer bagunça - to fool around, make trouble
mastigar - to chew
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horĂĄrio de pico - rush hour
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interrompeu - interrupted, cut off
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Meu sotaque não esconde, eu sou brasileira também - My accent doesn't hide it, I'm Brazilian too
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