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Alexia: Oi pessoal, bem vindo a mais um episódio do Carioca Connection e hoje ainda temos a continuação do episódio com o Felipe, da conversa que eu tive com o Felipe. E uma curiosidade antes de vocês começarem, é a primeira vez que ele gravou um episódio de podcast na vida, então ele tava super nervoso, mas deu tudo certo. Espero que vocês estejam gostando e agora, on with the show.
Alexia: E bom, aí Felipe, você foi, morou em São Paulo 8 meses e largou tudo.
Felipe: Mais ou menos, sim.
Alexia: É. E como é que foi essa… Você decidiu “largar tudo e viajar”?
Felipe: Sim, sim. Na verdade isso começou um pouco com esse intercâmbio que eu fiz nos Estados Unidos. Então lá, um pouco diferente do Brasil, lá as pessoas acabam fazendo coisas diferentes, então um cara que não sabia o que queria ainda ou que ia trabalhar com arte, sei lá, como músico, era aceitável, enquanto aqui é um negócio meio “puts, você tem certeza?” Sabe?
Alexia: “Isso não dá dinheiro, você tem certeza que você vai fazer isso?”
Felipe: Exato, exato. E isso acendeu uma luzinha, eu falei “po, legal.” Isso deu uma certa desencarrilhada na vida, porque eu tava sempre “po, legal, terminei o colégio, faculdade, faculdade, trabalho” e fui fazendo tudo conforme mandava o figurino. E aí desde que eu voltei eu sempre ficava “po, mas to aqui dentro dessa empresa, 12 horas por dia, tal.” E eu ficava falando pros meus amigos, como se aquele negócio de… Se você convencer alguém, você tá um pouquinho mais certo, sabe?
Alexia: Uhun.
Felipe: E eu fiquei enchendo o saco dos outros assim, e eu tinha conversas incríveis com os amigos assim, mas eu entendi que tem muita gente que tem circunstâncias diferentes. E era fácil pra eu falar “ah cara, ficar aqui dentro por, sei lá, 8 horas, 10 horas por dia, todos os dias da sua vida tal, tal, tal,” mas o cara tinha uma família, tinha um filho, enfim. E sabe, demorou um pouquinho pra eu entender que pessoas, circunstâncias diferentes, enfim. E aí um dia eu falei “po, se eu falo tanto, porque que eu não faço né?” E não é de uma hora pra outra assim, demorou uns 3, 4 anos pra eu entender isso daí. E aí, quando eu fui morar em São Paulo foi meio que essa gota d’água no sentido de… Po, eu cheguei, em termos de trabalho, de carreira assim, no centro né, no centro industrial, no centro comercial do Brasil. São Paulo e Rio ali né.
Alexia: Sim, é onde tem o dinheiro. São Paulo é onde tem o dinheiro. Eu tenho muitos amigos que saíram do Rio, foram pra São Paulo e não saem mais de lá, porque é lá onde tem o dinheiro, é lá onde consegue se trabalhar.
Felipe: Sim, exato. E eu conversava bastante com os dois opostos, eu tinha amigos que saíram junto comigo, mas eu acabei voltando assim pra esse mundo e eu conversava “e aí, como é que tá? Como é que você tá se sentindo?.” E eu também conversava com pessoas que eu deveria me espelhar dentro da empresa, ou de outras empresas que eu sabia que, cara, tava crescendo como um foguete dentro da empresa assim. E aí eu falei “po, legal, eu não acho que de um lado esse negócio de largar tudo e tentar alguma coisa mais alternativa não funciona pra mim, porque eu sou meio ansioso, por outro lado, eu não me espelho nessa galera que ta crescendo muito e vivendo pela empresa.”
Alexia: Sim.
Felipe: Não faz sentido pra mim agora.
Alexia: Sim.
Felipe: E aí eu falei “po, legal, juntei um dinheiro trabalhando, vou viajar um tempo.” E aí sim, em dezembro do ano passado eu saí do meu trabalho, conversei com todo mundo, deixei muito bem explicado e fui fazer um mochilão na América do Sul.
Alexia: E também a importância do portas abertas né? Olha gente, eu to saindo não é por causa de vocês, é por causa de mim. Porque é um término de relacionamento.
término de relacionamento - breakup
Felipe: Sem dúvida.
Alexia: De qualquer forma né?
Felipe: Sem dúvida, sem dúvida.
Alexia: Tem que tomar muito cuidado.
Felipe: E é o clichezão do “não é você, sou eu” né, o problema. Mas sim, eu com o meu chefe na época, a gente conversou muito abertamente. Eu falei “olha, eu entendo isso, eu sei o que eu tenho que fazer e eu sei aonde que eu chegaria fazendo isso, eu só não vou ser totalmente honesto, 100% honesto aqui, eu vou chegar meio já desmotivado, meio pensando em ir embora e não funciona assim. Eu sou um pouco intenso, ou eu to lá sempre ou não to lá nunca e foi bem legal, assim, a conversa foi bem honesta.
Alexia: Ah que bom. Bom, aí você foi pro mochilão pela América do Sul, você começou por onde e acabou aonde?
Felipe: Tá. A minha ideia, ideia de sonhador, era fazer um mochilão de 1 ano pela América inteira. Então, eu saí do Brasil, primeiro eu fui pra Manaus, Amazonas, polêmica aí.
Alexia: Olha aí… Gente, não vamos entrar nesse assunto nesse momento. Em algum momento a gente vai falar sobre isso aqui, mas não hoje, que não tem como.
Felipe: Não tem, tá difícil. Então eu fui, um amigo meu tava se formando e juntou né. Então po, eu cruzei o Brasil, fui prestigiar ele na formatura de medicina e voltei e comecei pelo sul. Então eu peguei um voo pra Porto Alegre e comecei a fazer todo o contorno né, contornar o Brasil por baixo assim, então... O Brasil não, a América, então eu comecei pelo Uruguai, aí eu fiz Uruguai, aí eu cruzei de ferry, que eles chamam lá, do Uruguai pra Argentina.
Alexia: Foi o que a gente fez também.
Felipe: E voei pra Ushuaia. Ah é? E voei pra Ushuaia, então… E Ushuaia eu achei “po cara, eu to muito perto da Antártica aqui” e tudo mais, achei bem legal isso. E aí eu falei “ah beleza, agora é hora de começar a subir.” Então a minha ideia era, vou bater em Ushuaia e depois eu vou bater em Alasca, no Alasca, em Fairbanks, porque era sonho assim, eu falei “ah, vou cruzar esse negócio.” E aí todo mundo, “ahhh, você assistiu aquele filme né, Na Natureza Selvagem, o Into the Wild.” Eu falei “não, não tem nada ver cara, eu ainda gosto de dinheiro, eu não vou queimar o único dinheiro que eu tenho aqui pra sair vivendo…”
Alexia: Não, é coisa de maluco se você tivesse feito isso. Com certeza.
Felipe: Não, não. E ainda falava “não quero viver… Eu gosto de gente.” E o cara do filme, é o oposto, ele tá tentando mostrar que ele não precisa, enfim, sem spoiler. E aí eu comecei a subir, aí eu fiz todos os pontos turísticos ali né, que tem El Calafate, El Chaltén, Bariloche, todos os pontos turísticos e parei em Pucón.
Alexia: Uhun.
Felipe: Porque eu falei “po, to viajando muito rápido, assim meio turistão, sabe, fica 3 dias, vai, 3 dias, vai.” E isso cansa um pouco. Aí eu parei em Pucón e fui fazer um voluntário lá.
Alexia: Uhun.
Felipe: Então imagina, menos de 2 meses eu saí de uma consultoria em São Paulo pra trocar dinheiro por moradia no Chile, no interior do Chile, e era muito engraçado falar com meus amigos.
Alexia: Não, é, e eu imagino porque nós fomos pro Chile também, só que a gente ficou em Santiago, Valparaíso e Viña del Mar. E todos meus amigos chilenos falaram que Pucón é o lugar pra ir pro Chile, que é a coisa mais linda de se ver, porque o Chile é muito interessante, né? É uma linha, literalmente, que tem um deserto e tem a natureza do sul que é o oposto, é literalmente o oposto.
Felipe: Exato, exato. E eu não conhecia muito assim, que você conhece quando você chega e mora, e conversa com a galera e eles falam coisas específicas assim do lugar. Pucón fica ainda na Patagônia, que é uma região climática que eles chamam ali do sul do Chile e da Argentina, e por isso é caro pra caramba, que a Patagônia é muito famosa principalmente pra Europeu. E aí eu falei “po, legal, to voluntariando vai ficar um pouquinho mais barato.” E aí eu tava vivendo uma vida muito bacana assim, muito mais tranquila que durou talvez 2 dias. To brincando, durou talvez um mês e isso já começou a me cutucar assim “e aí, tá legal, mas e aí, tá faltando alguma coisa.” Só que nesse meio tempo, eu cheguei lá, fazia talvez 1,2… não, 1 mês e alguma coisinha que eu tava viajando, no meu terceiro dia me roubaram tudo.
Alexia: O que que é o tudo, é o seu computador…
Felipe: Não é porque assim, eu tinha uma mochila grande e uma mochila pequena. E juvenil pra caramba na mochila grande só roupa, e na mochila pequena todo o resto.
Alexia: Pera aí que essa expressão “juvenil pra caramba” é uma coisa que eu nunca uso, mas é muito engraçada. É muito engraçada, é uma coisa de jovem né? De não ter maturidade, é juvenil pra caramba.
Felipe: Exato, é eu acho que é até usado de um jeito pejorativo nessa situação, mas é de que jovem sem maturidade de viagem nessa situação. E nessa mochilazinha tinha tudo, de... Cara, Kindle, passaporte, Macbook que eu tinha, celular, porque nesse dia meu celular tava sem bateria e eu deixei carregando com o carregador externo. Eu falei “não vou deixar em cima da cama né, vou colocar na mochila.” E aí levaram, e roubaram uma amiga minha também, enfim, maldade assim, alguém entrou, pegou e saiu, mas não foi a galera do hostel.
Alexia: Foi furto né, na verdade.
Felipe: Sim, sim, e era uma situação muito específica que a eletricidade da cidade tava indo e voltando e eu acho que alguém se aproveitou disso e ninguém viu assim, não foi… Depois eu conversei com a galera, pode ter sido alguém do hostel, pode, mas eu tenho quase certeza que não, eu acho que alguém se aproveitou da situação, entrou, saiu e ninguém viu, porque uma coisa que você aprende viajando é que, cara, viajante roubar viajante, assim não faz sentido sabe, tipo, tá todo mundo no mesmo barco ali, sabe?
Alexia: É, claro que existem pessoas malvadas em qualquer situação, né?
Felipe: Sim, sim.
Alexia: Pessoas de má índole, mas por exemplo, quando a gente tava em Buenos Aires, a gente tinha acabado de chegar do Chile, entramos num taxi... Não, mentira, a gente pegou tipo um shuttle do aeroporto...
Felipe: Uhun, sei.
Alexia: Que é muito mais barato do que taxi lá, do aeroporto de Buenos Aires. E aí o Foster tava com a mala e a mochilinha do computador né, aquela que é de lado.
Felipe: Sei.
Alexia: Tipo messenger bag. E aí a gente saiu do carro, chegamos no apartamento, tudo certo. Ele sobe e cadê o computador? Ele tinha esquecido a mochilinha embaixo do banco do shuttle, porque ele arrumou tudo e botou a mochila tipo embaixo da perna, do banco, e ficou lá.
Felipe: Nossa.
Alexia: E aí, a gente teve que ligar pra empresa, aí o Foster super nervoso e quando você tá nervoso não fala nem português, nem inglês, nem espanhol, você não fala nada.
Felipe: Nada.
Alexia: Eu não sei falar espanhol direito nessa situação.
Felipe: Sim, claro.
Alexia: Então, não tinha como. Ele saiu correndo, literalmente, pra empresa e eles assim “não, não vi nada, mas o motorista teria avisado.” Aí o motorista chegou depois de terminar tudo e falou “não, tá aqui sim,” mas os caras da empresa não iam devolver se fosse por eles.
Felipe: Caramba.
Alexia: É.
Felipe: Pois é. E é muito complicado esse negócio e assim, qualquer lugar turístico principalmente… Po, a gente é do Brasil e a gente conhece, você tem que ser um pouquinho mais cuidadoso, trancar suas coisas, eu não tinha trancado, não tenho nem como culpar, tava num quarto, enfim. Passou.
Alexia: Tem que ser sagaz, tem que ser sagaz.
Felipe: Exato.
Alexia: Porque isso existe em qualquer lugar do mundo, não adianta, não é o chileno. Não, não é, sabe?
Felipe: Não, não tem como culpar uma nacionalidade baseado em um cara. E aí eu entrei numa onda meio esotérica assim de tipo, óbvio que eu fiquei muito chateado. Eu não tinha dinheiro nenhum, que eu tinha preguiça de sacar, mas eu fiquei lá com um montão de roupa… um montão, uma mochila de roupa e um cartão de crédito que eu tinha. E eu falei “po, talvez isso aconteceu, porque lá pra cima, se nada disso tivesse acontecido, alguém ia me machucar pra roubar minhas coisas, enfim.” Entrei nessa onda e ficou tudo bem assim, eu fiquei até surpreso, que eu achei que, falei “ah não, isso não é mais não, sabia, tá vendo, é um sinal pra eu voltar..” eu falei “não, vamos continuar.” Aí eu continuei, subindo, subindo até que eu cheguei no Atacama, que foi bem legal também e fiz uma parte da Bolívia. Só que eu cheguei na Bolívia eu tava muito cansado já, já fazia 6 meses que eu tava, não, um pouco menos, 5 meses. Cara, esse negócio de viajar cansa assim sabe?
Alexia: Muito. As pessoas ficam falando “ah, vida de nômade é a melhor coisa que existe.” Não, não é. Cansa muito.
Felipe: Sim, sim, exato. E aí eu pensei, “po, to cansado desse negócio de continuar sempre, ah pra onde eu vou agora, ter que me planejar muito,” e aquele negócio que eu falei “ah, durou um mês essa tranquilidade,” foi de que, eu tive um… Me chegou uma ideia, eu ia falar tive uma realização. Me chegou uma ideia que, eu falei “po, legal, to sentindo falta de fazer alguma coisa, no sentido de criar, de ta sendo produtivo.” E não produtivo de “ah cara, tenho 9 horas pra fazer tudo isso, tal, tal, tal.” Não era um negócio mais que foi, eu quero ta fazendo alguma coisa, eu sentia falta disso, talvez alguma coisa que pode não me dar grana nesse momento, talvez no futuro, nem isso, mas eu não me sentia muito legal só fazendo aquele negócio, “ah beleza, você vai ficar aqui numa recepção, você pode ficar aqui e tal,” pra mim parecia pouco, eu queria mais. E aí eu senti que tudo que eu coloquei culpa em empresa e não, não era feliz esse negócio, era mais eu assim, e eu gosto de fazer coisas e só queria direcionar o tempo da forma correta.
Alexia: É, mas é um bom autoconhecimento né?
Felipe: Sem dúvida.
Alexia: As pessoas falam, é muito engraçado, as pessoas… uma amiga minha fala que quando você tá num relacionamento, começando um relacionamento, a melhor forma de conhecer o outro é viajar, passar um final de semana os dois 48 horas sozinhos pra ver se é aquilo mesmo e o mesmo acontece com a gente né? Um autoconhecimento de viajar com nós mesmos, de sair, encaram esse tipo de situação, você acaba falando “ok, não era a empresa, era eu, era eu que tava precisando de uma mudança e que eu preciso entender minhas prioridades e saber que que eu preciso fazer daqui pra frente.” Então é ótimo isso.
Felipe: Sim, exato. E po, eu tava cansado, sentindo falta de fazer algo que me preenchesse de uma forma que eu me sentia bem, eu não sabia o que era ainda. Então, cansado, queria algo que fizesse sentido e eu não tinha mais o passaporte com os vistos, ou seja, tava numa encruzilhada aí. E eu falei “ah legal, vou voltar, mas eu não vou voltar…” E isso já fazia 3, 4 meses que eu tinha sido roubado, “eu não vou voltar direto, eu vou voltar devagarzinho.” E aí, foi que eu entendi que andar de ônibus assim, os ônibus de 1 hora que eu reclamava, 2 horas não é tanto assim. E aí eu fui pra Salta na Argentina, então eu voltei né, contornei tudo, eu voltei, um ônibus de 24 horas até Foz.
Alexia: Meu Deus.
Felipe: Pra conhecer, porque nossa, todo mundo falava dessas Cataratas, po, de fato incrível e depois o outro…
Alexia: Pera aí, calma. “Dessas cataratas,” a gente tá falando aqui com pessoas que talvez nunca tenham ido.
Felipe: Ahh! Mas olha, na minha experiência de viagem, todo mundo que eu conheci já tinha ido pras Cataratas, menos os brasileiros, que acho que a gente fala “tá aqui eu posso ir qualquer hora.” Sabe?
Alexia: Mas é verdade, porque a gente tem isso né, a gente conhece a América do Sul, menos o Brasil.
Felipe: Pois é.
Alexia: A gente não conhece o Brasil, é impressionante.
Felipe: Verdade, então eu fui direito pra Foz, onde tem as Cataratas do Iguaçu e depois fui pra Floripa, pra subir… Sabe aquele negócio que você vai chupando o sorvete devagar assim pra demorar pra acabar? Mais ou menos isso. Aí Floripa, Curitiba e São Paulo, aí eu voltei. Isso faz 2 meses.