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Alexia: Olá pessoal, bem vindos a mais um episódio do Carioca Connection. Hoje eu to conversando com uma pessoa super especial pra gente que é o Felipe Arcaro. E é uma grande novidade, porque ele está trabalhando conosco aqui no Carioca Connection. E a melhor forma de vocês conhecerem ele é gravando episódio com ele e se apresentando aqui no Carioca Connection pra vocês. Então vamos lá, hoje é o primeiro episódio com ele, com o Felipe, e agora vamos lá pro episódio.
Alexia: Oi Felipe.
Felipe: Oi, tudo bem?
Alexia: Tudo! Bom, só pra dar, só pra dar um resuminho, nós estamos hoje com o Felipe Arcaro, que é mais um membro da nossa equipe, aqui do Carioca Connection e do Inglês Nu e Cru, que muitos de vocês já sabem, que a gente também trabalha com outro projeto nosso, temos um outro podcast, e hoje estamos apresentando ele pra vocês. E o Felipe tem uma história muito bacana, porque ele é de São Paulo, do interior de São Paulo e é uma vida completamente diferente da minha, então Felipe, se apresente, quem é você?
Felipe: Tá. Meu nome é Felipe Arcaro, eu sou do interior de São Paulo, de uma cidade chamada Limeira. Fica a mais ou menos 1 hora e meia de São Paulo e…
Alexia: Fica perto de Campinas?
Felipe: Sim, sim. Fica meia hora de Campinas, muito pertinho de Campinas. Nasci e cresci nessa cidadezinha e vivi lá durante talvez uns 21 anos da minha vida. Porque eu fiz universidade lá também, lá tem uma UNICAMP nova, relativamente nova.
Alexia: Ah UNICAMP.
Felipe: Uhun. E eu entrei no segundo ano que a universidade tava funcionando. Então é a universidade entrou em funcionamento em 2009 e em 2010 eu entrei no curso de Engenharia de Manufatura lá.
Alexia: Eu não sabia que UNICAMP era tão nova. Não fazia ideia.
Felipe: Ah não, a UNICAMP em si é muito antiga, mas esse campus em Limeira é relativamente novo, mas a UNICAMP de Campinas mesmo e algumas outras que tem espalhadas por São Paulo, já é um pouco mais antiga.
Alexia: E pera aí, você foi fazer Engenharia de…?
Felipe: Manufatura.
Alexia: Que seria?
Felipe: Ah, isso uma discussão eterna que a gente tinha. Tinha dois cursos de engenharia, né, nessa UNICAMP, no campus de Limeira, Produção e Manufatura. Enquanto Produção é a engenharia mais tradicional que todo mundo conhece, a Manufatura, ela tinha bastante matérias, ou bastante créditos voltados pra Engenharia dos Materiais.
Alexia: Uhun.
Felipe: Então a gente… Enquanto Produção focava bastante em processos, a parte mais gerencial de uma empresa, a Engenharia de Manufatura em si focava bastante em materiais e toda a parte mais industrial. Inclusive, quando eu fui procurar qual que é a equivalência dessa engenharia nos Estados Unidos, eles chamavam de Engenharia Industrial.
Alexia: E não é muito né? Na verdade, é uma equivalência, mas não é muito perto da realidade ou é?
Felipe: Ah, na verdade não muito, muda bastante, muda bastante, mas quando eu fui fazer as matérias lá, eu tive que escolher alguma coisa que fazia sentido, então era ou Mecânica ou Industrial. Fazia mais sentido.
Alexia: Mecânica… É engraçado que Engenharia Mecânica, quer dizer, o mundo da engenharia é muito longe do meu, que eu me formei em Administração voltada pro Marketing.
Felipe: Uhun.
Alexia: E Entretenimento na ESPM, que foi mais ou menos pra onde você foi né, no final das contas, ou não?
Felipe: Sim, mais ou menos, sim. Sim.
Alexia: A gente tem mania de falar que engenheiro pode fazer tudo, depois que se forma.
Felipe: Pois é, essa era minha grande ideia, assim, quando eu tava decidindo o que eu ia estudar, porque pra ser bem honesto, no segundo ano do colegial eu não sabia e eu sempre me dei bem com exatas. E aí é aquele negócio né, “você quer ser médico?” “Não, não quero ser médico.” “Você quer ser advogado?” “Não.” “Então engenharia.”
Alexia: Claro. Óbvio.
Felipe: E eu não tinha certeza, mas assim abriu muitas portas, até porque enquanto eu fazia engenharia teve aquele programa do Ciências Sem Fronteiras, e apesar de ter... Esse programa funcionar pra vários cursos, era muito mais fácil se você fizesse um curso de exatas.
Alexia: Sim.
Felipe: Então eu gosto de falar que abriu muitas portas.
Alexia: Sim, bom, pra quem tá escutando a gente, com certeza já reparou que o meu sotaque é o oposto do seu. E claro, vice-versa né? Enquanto eu puxo o “r” pra garganta o seu é “porta,” mas não é tanto assim, é um pouco mais neutro, não é um “porrrta porta.”
Felipe: Sim.
Alexia: Isso é porque você morou em São Paulo capital muito tempo ou não, é de Limeira mesmo?
Felipe: Não, de Limeira e Piracicaba ali do lado é bem puxado mesmo, é bem “porta.” Mas eu, quando eu estudei na universidade, e depois disso, eu estudava ou vivia muito com o pessoal de São Paulo. Então óbvio, além das brincadeiras com o meu sotaque, enfim, você acaba pegando né, quando você vive muito com um grupo de pessoas você acaba pegando. Então teve até uma passagem engraçada, eu tava vivendo, morando junto com essa galera e aí eu fui falar com meus pais no Skype e aí eles falaram “quem que é esse cara aqui que ta falando diferente?” Então é um negócio que muda bastante, depende muito do dia, se eu to cansado ou não to, não sei, eu não controlo muito.
Alexia: É engraçado você falar isso, porque o Foster com o inglês dele que é do sul, ele não tem sotaque do sul comigo, no podcast, nada. Agora quando ele tá lá, é sulista total. É muito engraçado ver isso.
Felipe: Sim, acho muito interessante assim. E a gente não escolhe, não escolhe mesmo. Parece que você… Eu acho que tem muito a ver com empatia, depende com quem você tá falando assim, sabe?
Alexia: Sim.
Felipe: É muito muito interessante.
Alexia: E também depende de como é que a pessoa te entende, por exemplo, com os meus alunos, quando eu to dando aula de português, com algumas pessoas eu posso puxar muito o meu “s” e “x.”
Felipe: Uhun.
Alexia: Eu falo muito carregado. E com outros não, eu já falo um pouco mais devagar e não puxando tanto o “s.” E você também é professor né, no italki.
Felipe: Sim, sim, sim. E eu acho que isso te deixa um pouquinho maluco com línguas assim, porque eu gosto bastante, aprendi inglês, agora eu to estudando alemão, já estudei um pouco de francês e agora às vezes eu vou falar com um amigo, talvez até com meus pais, e aí eu falo e já é natural eu pensar “será que da forma que eu to falando eles vão entender?” É óbvio que eles vão entender porque eles são nativos, mas isso é um mecanismo que eu criei eu acho, pra tentar traduzir em 2, 3 línguas pra falar “tá, isso daqui tá certo” entendeu? É uma gramática certa, não é o meu sotaque aqui. É muito doido isso.
Alexia: É, eu to sofrendo a mesma coisa aqui em Portugal. Toda vez que eu abro a boca pra falar alguma coisa, assim, “será que eles vão me entender ou será que eu não vou conseguir entender a resposta?” E assim vai, é uma loucura esse país.
Felipe: Sim, mas você já tá treinada né, porque com os alunos é mais ou menos assim, você tem que falar de uma forma que se ele traduzir exatamente, talvez pra inglês que é a língua mais comum, ele vai entender e aí segue o barco, sim.
Alexia: É. Bom então vamos lá, você nasceu em Limeira, ficou em Limeira até 20 anos e depois foi pra São Paulo e aí em São Paulo você ficou quanto tempo, morando na capital?
Felipe: Tá. Então na verdade eu não fui direto pra São Paulo, e na verdade eu nem tinha vontade de sair muito de Limeira, mas eu conheci muitas pessoas de São Paulo e eu comecei a visitar, visitar essa galera e achei muito legal. Falei “po, legal a cidade, principalmente de final de semana.”
Alexia: Ah claro.
Felipe: E isso plantou uma sementinha na minha cabeça. E aí eu não fui direto pra São Paulo, eu fiz o intercâmbio, depois que eu voltei do intercâmbio eu consegui um estágio em Jaguariúna, na Ambev.
Alexia: Nossa, aí… Ah bom, tá. Jaguariúna eu não ia saber onde que fica mesmo.
Felipe: Sim, fica a 15 minutos de Campinas na verdade.
Alexia: Ah tá, tá bom.
Felipe: Bem pertinho, tudo perto aqui. E aí eu vim morar em Jaguariúna, depois de um tempo eu achei que a cidade era um pouco pequena, ainda no mesmo trabalho, eu fui morar em Campinas. E aí em Campinas eu morei por um ano e meio, dois anos e tal. E aí surgiu essa oportunidade de ir morar em São Paulo, pra trabalhar numa consultoria. E aí daquela sementinha que eu falei, eu falei “po, acho que agora é legal ter essa oportunidade de trabalhar em São Paulo, porque eu só conheço São Paulo de final de semana.” Dizem que São Paulo é uma coisa durante semana e São Paulo é outra coisa de final de semana.
Alexia: E é?
Felipe: Sem dúvida nenhuma, sem dúvida nenhuma. E o que eu ouvia bastante é que um dos luxos, considerado luxo em São Paulo, é morar perto do trabalho, porque o trânsito é um negócio de maluco assim, e essa era minha prioridade, morar perto do trabalho. E eu consegui, eu trabalhava na Berrini, e aí eu encontrei uma galera que também trabalhava na Berrini, a gente fechou um apartamento lá e eu morei em São Paulo por 7, 8 meses, alguma coisa assim. E foi interessante.
Alexia: Ah, eu pensei que era mais.
Felipe: Não, não, não.
Alexia: Eu pensei que era mais.
Felipe: São Paulo capital… Eu ia bastante pra lá, porque muitas empresas, inclusive essa que eu trabalhei em Jaguariúna e a outra que eu trabalhei em Campinas, eles tem sede em São Paulo, tem lá uma filial ou a sede né. Então muitas vezes eram, apesar de eu morar aqui, eram 2 dias aqui, 3 dias em São Paulo, e ficava nessa ida e vinda assim né. E às vezes eu ficava por lá e às vezes era ônibus todo dia, ônibus da empresa mesmo, e cansa bastante.
Alexia: Meu deus do céu. Não, pelo amor de Deus. Não, mas é engraçado porque essa mentalidade de morar perto do trabalho já chegou no Rio de Janeiro também.
Felipe: Hmmm.
Alexia: Porque o trânsito de lá não é tão ruim quanto São Paulo, mas é muito ruim. Já virou muito ruim, mesmo com o metrô agora funcionando melhor, com a linha um pouco maior. Essa história assim, por exemplo, se a pessoa trabalha em Botafogo e mora na Barra, é um inferno. Então você pelo menos tem que morar um pouco mais perto, se não em Botafogo que é o melhor dos mundos. E isso já chegou também lá.
Felipe: Ah sim. É muito interessante isso, eu tenho amigos que trabalhavam comigo, que moram… Nasceram e cresceram em São Paulo, mas num lugar diferente e demoravam um pouco mais do que 2 horas cada trajeto, ou seja 4 horas “perdidas,” porque você pode fazer um monte de coisa no metrô, mas era barra.
mas era barra - but it was difficult A tradução exata de “barra” é “bar,” mas usamos como gíria para dizer “hard, difficult.” Eu comi uma barra de chocolate → I ate a chocolate bar Meu trabalho é barra → My job is hard
Alexia: Não, pra mim é perdido, pra mim é perdido. Não existe, ainda mais voltando pra casa. Indo você até consegue ser um pouco produtivo assim.
Felipe: Sim, pois é.
Alexia: Mas voltando não, nem um pouco. Agora..
Felipe: Pode falar.
Alexia: Pode falar, pode falar.
Felipe: Ah, mas uma coisa que você aprende em São Paulo também, é que assim, no interior normalmente o transporte público, ele é um pouco problemático. Talvez não problemático, mas não é muito frequente, então você tem que se programar, porque o ônibus passa, sei lá, de 1 em 1 hora, de 2 em 2 horas, mas em São Paulo, eu lembro que quando eu tava pensando em me mudar, ou ia pra lá de carro, eu me recusava um pouco assim a usar o transporte público, porque eu falava “não, não faz sentido,” por causa da minha experiência. Eu falava “carro bom, transporte público ruim.” Sabe?
Alexia: E é o oposto.
Felipe: E é o oposto. Aí eu comecei a pegar e sabe aquele negócio que você fala “hmmm, pode ser que eu tava errado.” E sim, é muito… funciona muito bem.
Alexia: É, na verdade você tava tendo a vivência de uma pessoa de cidade grande.
Felipe: Exato.
Alexia: Porque existe essa grande diferença, entre a vivência de cidade pequena de interior, em qualquer lugar do mundo, e quando você vai pra uma megalópole tipo São Paulo.
Felipe: Exato.
Alexia: Que eu não sei andar em São Paulo mesmo. Não tenho o mar pra me direcionar se eu me perder, sabe?
Felipe: Ah é verdade.
Alexia: Se eu me perder eu vou pro mar, não existe isso.
Felipe: É verdade, é verdade. Não, é bem… Tá, São Paulo é muito grande, mas normalmente quando você trabalha e vive lá, você tá no centro né, nas bolhas assim. Não no centro de São Paulo, mas nos centros comerciais, então você vive numa bolha. Se você mora na Berrini ou na Vila Olímpia, que são os mais bairros mais famosos pra quem trabalha lá normalmente, você come, se diverte, trabalha, dorme.
Alexia: Você faz tudo lá.
Felipe: Tudo nesta bolha, então eu não sei nem se é justo eu falar que eu conheço, que eu morei em São Paulo. Eu morei na Berrini ali.
Alexia: Você conhece todos os bares de lá, mas…
Felipe: Sim, lá era sempre assim, Berrini, Vila Olímpia e Pinheiros.
Alexia: Se você tivesse que escolher entre morar agora em São Paulo ou aí no interior, você continuaria no interior?
Felipe: Então, isso é bem complicado porque, tá, tem esse traumazinho de São Paulo né, muita gente, muita coisa acontecendo. Inclusive foi um dos motivos que eu saí de lá, porque é muito, eu não tenho nem o que falar é muito o que, é muito. E por outro lado o interior é muito pacato né, então é um coração dividido assim, é difícil.
Alexia: Existe alguma cidade meio termo aí em São Paulo qual você fala “ok, essa talvez seria bom”?
Felipe: Ah, eu gostava muito de Campinas quando eu morava lá, porque é uma miniatura de São Paulo assim, tem bastante coisa pra fazer, tem… o trânsito não é tão intenso quanto São Paulo, mas de novo, aí você chega em Campinas e você fala “hmmm, não tem aquele negócio que tem em São Paulo,” sabe? E aí fica aquele coração dividido.
Alexia: Sei, mas pelo menos em Campinas tem até o aeroporto né?
Felipe: Sim, sim.
Alexia: Então seria uma ótima, na verdade.
Felipe: Sim, sim.
Alexia: É, é engraçado isso.